Sofrer o golo do costume logo ao terceiro minuto, da primeira vez em que o Boavista se acercou da sua baliza e sem responsabilidade no funesto acontecimento, retirou ao guarda-redes brasileiro a habitual pressão da inevitabilidade dessa ocorrência. Mais solto e mais seguro, fez frente aos adversários no resto do jogo, concedendo-lhes escassas veleidades, ao ponto de na segunda parte pouco mais fazer além de umas saídas a cruzamentos.
Ristovski (2,5)
Responsável moral em primeiro grau da desvantagem madrugadora, sendo tragicamente incapaz de afastar a bola semeada pelo abominável Luiz Phellype, nunca mais teve influência preponderante no relvado. Até porque Raphinha tende a ser um “one man show” na ala direita.
Coates (3,5)
Começou a celebrar o jogo 150 de verde e branco na Liga NOS, meta que dificilmente tão cedo será atingida por um futebolista do Sporting, da pior forma: uma escorregadela impediu-o de chegar a tempo à bola oferecida por Luiz Phellype ao jogador do Boavista que assistiu o colega para o 1-0. Em vez de correr atrás do prejuízo, o uruguaio fez com que outros corressem, apostando em passes longos tão bem calibrados quanto desaproveitados. Também mostrou ser o melhor cabeceador do actual Sporting, fazendo a bola passar a centímetros do poste direito - na segunda parte, para desenjoar, fez a bola passar a centímetros do poste esquerdo -, antes de perceber que teria de ser ele a salvar a equipa. Tantas e tão boas foram as incursões pelo meio-campo adversário que Coates liderou o ranking de dribles (seis), sucedendo-se slalons como aquele em que serviu Raphinha para um remate contra um adversário que permitiu a Bruno Fernandes tentar marcar de bicicleta. Ninguém mais do que Coates, um capitão sem braçadeira que já voltou a ser o ponta de lança de recurso em que se tornara no ocaso de Jorge Jesus, merecia os três pontos literalmente caídos do céu.
Mathieu (3,0)
É muito possível que esteja de saída, regressando à terra natal para terminar a carreira, mas enquanto não chega essa funesto dia o francês tratou de recordar os sportinguistas que ainda ali está. Tanto a cortar o pouco perigo que o Boavista causou depois do golo como a lançar colegas no ataque.
Borja (2,5)
Muitas vezes cruzou para a grande área do Boavista, sem particulares consequências, pois Luiz Phellype foi quase tão ausente quanto Bas Dost, demonstrando uma capacidade de desmarcação ainda assim menos impressionante do que as suas deficiências no jogo de cabeça, pelo que qualquer tentativa de alívio tanto pode ir parar à linha lateral como aos pés de um adversário. Saiu de campo quando Marcel Keizer acordou e percebeu que os três pontos nunca mais apareciam.
Gudelj (2,5)
Os adeptos mais cínicos esfregaram as mãos quando o sérvio chocou de cabeça com um adversário, mas o rápido regresso ao relvado só permitiu um suspiro quando João Pinheiro foi buscar ao bolso o cartão amarelo muitas vezes esquecido nas “entradas viris” dos jogadores do Boavista, afastando Gudelj da recepção ao Santa Clara. Ao longo de noventa e tal minutos pouco fez de muito grave, ainda que uma rara tentativa de acelerar o jogo o tenha motivado a executar uma trivela directa para a linha lateral.
Wendel (2,5)
Ninguém consegue convencer o treinador de que o jovem brasileiro está cansado e necessita de alguma gestão de esforço. Mas não se pode culpar Wendel disso, pois não disfarçou as dificuldades em manter um ritmo elevado, para alegria dos boavisteiros que tão cedo se viram em vantagem. Não por acaso, o meio-campo leonino ficou a carburar melhor após a sua saída.
Bruno Fernandes (3,5)
Começou por dar menos nas vistas do que é habitual, vendo-se obrigado a compensar a falta de fulgor dos colegas de meio-campo. Mesmo assim fez alguns passes longos extraordinários e mostrou-se disposto a ajudar tanto a defesa quanto o ataque. Depois do intervalo assumiu a responsabilidade que lhe pesa nos ombros, rematando sempre que teve oportunidades e preparando o guarda-redes do Boavista para o que lhe estava reservado. Bem tentou Bracalli evitar que o Sporting saísse dali com três pontos, defendendo mesmo o notável pontapé de bicicleta com que Bruno Fernandes quase fez o 13.° golo nesta edição da Liga NOS. Para o capitão dos leões, cujo rosto inquieto espelha o momento da equipa, coube a responsabilidade de cobrar o pénalti assaz duvidoso que valeu a vitória, três pontos e a manutenção da luta pelo terceiro lugar.
Raphinha (3,0)
Melhor jogador leonino no um contra um, o extremo brasileiro fez o que quis dos adversários no lance do 1-1, terminado com um cruzamento que Edu Machado desviou para o fundo das redes. Velocidade e capacidade de drible para dar e vender poderiam ser compensadas com maior frieza na hora de alvejar a baliza e critério nos cruzamentos. Mas o certo é que, por motivos que só João Pinheiro e o VAR podem explicar, foi-lhe concedida a grande penalidade fora do tempo regulamentar que permitiu ao Sporting conquistar três pontos merecidos.
Acuña (3,5)
Edu Machado roubou-lhe o “golo de m...” com que se aprestava a empatar o jogo, aparecendo à ponta de lança na pequena área. Seria um prémio adequado para o argentino, desta vez posicionado como extremo-esquerdo, mais uma vez um oásis de engenho e empenho entre a rapaziada ouçam lá o que eu vos digo. Não só urdiu inúmeras jogadas na esquerda, mesmo depois de recuar para lateral, na sequência da saída de Borja, como demonstrou várias vezes que é quase impossível tirar-lhe a posse de bola sem recurso a falta. E nesses casos provou que mudou o “chip”, sofrendo múltiplos atentados à sua integridade física sem responder na mesma letra aos perpetradores ou invectivar o árbitro que a tudo dizia “siga”.
Luiz Phellype (1,5)
O festival começou bem cedo, com um desvio de cabeça destrambelhado que só é menos responsável pelo golo do Boavista do que o seu posicionamento ainda mais destrambelhado no interior da pequena área, permitindo que o autor do tento ficasse em posição legal. Pior do que isso só mesmo a prestação ofensiva do substituto de Bas Dost, oscilando entre o alheamento e o escandaloso. Assim foi o cabeceamento ao poste, a dois metros da baliza e com Bracalli batido, acorrendo ao desvio de Raphinha. Na segunda parte esteve mais discreto, sendo sobretudo autor de faltas atacantes que só João Pinheiro conseguiu percepcionar, recorrendo ao mesmo sexto sentido que lhe permitiu marcar aquela grande penalidade. Se Luiz Phellype não consegue fazer melhor do que isto quando substitui Bas Dost será melhor o Sporting começar a entrar em campo com dez jogadores.
Idrissa Doumbia (2,5)
Entrou para acelerar o meio-campo e só não cumpriu melhor o objectivo porque Diaby se recusou terminantemente a combinar com ele. Na sexta-feira receberá a titularidade, a não ser que Keizer leve a sua predilecção por Gudelj ao extremo e prefira perder na secretaria a prescindir do seu fetiche balcânico.
Diaby (1,5)
Conseguiu ser tão trapalhão em 15 minutos quanto Luiz Phellype no jogo inteiro. Mas ainda poderia ser sido o herói do jogo num universo em que a sua execução não fosse lenta o suficiente para que dois - atente-se no detalhe de ter sido mais do que um - adversários desviassem para canto uma oportunidade de golo.
Marcel Keizer (2,5)
Fez um “mind game” a si próprio, convocando quatro centrais sem aparente intenção de adoptar o sistema de três centrais. Cometida a surpresa do 4-3-3, desfeita pela desvantagem logo aos três minutos, tendo apenas um português no onze inicial e nenhum da formação que supostamente chegou para estimular, o holandês observou placidamente como os seus jogadores ganharam natural ascendente e desperdiçaram uma quantidade de oportunidades que também começa a ser natural. Deixando as substituições para o último quarto de hora, apesar de Gudelj e Wendel parecerem substituíveis desde o início do jogo, Keizer recebeu o brinde de uma grande penalidade para lá de questionável, mantendo-se a três pontos do terceiro lugar e ampliando para dez a vantagem para o quinto. Quase desfez a mancha de não ter nenhum “made in Alcochete” em campo, mas João Pinheiro apitou para os balneários antes de Jovane Cabral poder tirar proveito do meio minuto que lhe estava reservado.
Reencontrou o adversário que lhe permitiu conquistar a titularidade, naquela terrível algarvia em que a cabeça de Salin embateu no poste e as bolas rematadas pelos adversários tendiam a embater no fundo das redes. Voltou a ter muito trabalho na primeira parte, apesar de o Portimonense já não contar com Nakajima, Manafá e (nesse caso por castigo) Jackson Martínez. Depois de um primeiro quarto de hora inicial magnífico, que deixou o Sporting a vencer por 2-0, coube ao brasileiro salvar a equipa de si mesma. Chegando a fazer duas grandes defesas na mesma jogada, só nada conseguiu fazer no lance do golo da equipa visitante, merecendo a sorte de ver a barra devolver a bola ao relvado do lado certo da linha de golo e a relativa acalmia ao longo da segunda parte.
Ristovski (2,5)
Aquele cruzamento que deu origem ao pénalti sobre Bruno Fernandes foi a melhor forma de terminar uma exibição pouco conseguida do macedónio, incapaz de fazer a diferença no ataque (para o que contribuiu a costumeira violência dos adversários, sob o contemplativo beneplácito do árbitro João Capela) e muitas vezes ultrapassado nas missões defensivas.
Tiago Ilori (2,0)
Mais do que aquilo que não conseguiu fazer no lance do golo do Portimonense, o que mais sobressai da exibição do ”made in Alcochete” é a quantidade de bolas que passou directamente para os pés dos avançados algarvios. Nenhum desses lances teve consequências gravosas, mas o filho pródigo tarda em justificar o regresso.
Mathieu (3,0)
Voltou em boa hora, recuperado de mais uma lesão, e substituiu o ausente Coates enquanto patrão da defesa leonina. Ao longo da sufocante primeira parte fez cortes preciosos e deu literalmente o corpo à bola para evitar um golo, embora não tenha sido imune ao disparate, permitindo um contra-ataque perigoso ao hesitar se deveria ser ele ou Acuña a afastar uma bola. Na segunda parte fez por acalmar a equipa e ainda se integrou no ataque, sendo avistado a fazer cruzamentos junto à bandeirola de canto, o que contrasta com a aparência física de quem já atingiu a idade da “retraite”.
Acuña (3,5)
Partes houve deste jogo em que muitos dos vinte e poucos mil que estavam nas bancadas de Alvalade se ofereceriam de bom grado como testemunhas do argentino se ele quisesse processar os colegas pela disparidade de empenho demonstrado. Relegado a lateral-esquerdo com o regresso do 4-3-3, trabalhou muito e bem no corredor, revelando-se um muro intransponível para os adversários e um artífice capaz de aproveitar meio metro quadrado de relvado para ganhar o espaço de que necessita para fazer cruzamentos como aquele Bruno Fernandes desperdiçou, adiando o sossego do Sporting até ao final do tempo regulamentar.
Gudelj (2,0)
Está ligado ao lance do golo do Portimonense, tanto pela perda de bola (que recebeu “à queima” e quis controlar, em vez de chutar com o pé que tinha mais à mão) como pelo mau posicionamento. E também voltou a emperrar a fase de construção do futebol leonino, sobrecarregando Wendel e Bruno Fernandes com uma ineficácia novamente premiada por Marcel Keizer com a permanência em campo até ao apito final.
Wendel (3,0)
Muito lutou o jovem brasileiro, incansável acelerador do meio-campo do Sporting, mas o maior impacto que teve na ficha de jogo foi o cartão amarelo mostrado por João Cajuda, numa dualidade montypythoniana de critério que nada fez por sossegar a equipa da casa. Saiu na segunda parte, exausto e claramente necessitado de descanso.
Bruno Fernandes (3,5)
Fez duas assistências para golo, marcou o pénalti que fez o resultado final, punindo falta cometida sobre ele próprio, e ultrapassou António Oliveira como o meio-campista do Sporting que mais golos marcou numa só época. Será, por tudo isto, muito injusto escrever que não esteve na sua noite mais inspirada? Retraído em algumas fases do jogo, falhou um golo feito com um cabeceamento desastroso e nem tentou marcar de livre directo. Mas também é verdade que, além das assistências e do pénalti, pertenceu-lhe a melhor jogada do Sporting na segunda parte, defendida “in extremis”, pelo que o estatuto de “ele e mais dez” está cada vez mais consolidado.
Raphinha (3,0)
Começou muitíssimo bem e quando fez aquele imparável remate para o 2-0, tirando doce fruto de um passe extraordinário de Bruno Fernandes, já tinha ficado perto de inaugurar o marcador numa jogada semelhante. Ainda assistiu Bas Dost, que reencaminhou a assistência para Diaby, mas depois começou a perder protagonismo e desapareceu do jogo bem antes do embate que forçou a sua substituição.
Diaby (2,5)
Inaugurou o marcador com um excelente golo de cabeça que só o maliano poderá confirmar se nasceu de um cabeceamento deficiente. Certo é que esgotou nessa jogada o seu engenho e sorte, mostrando-se igualmente incapaz de tirar partido da velocidade para causar problemas aos adversários. Para a história da sua passagem por Alvalade fica o lance em que a simulação de Bas Dost o deixou com a bola controlada, dentro da grande área, mas conseguiu demorar tanto a decidir que permitiu o desvio num defesa. Menos escandalosa, mas ainda assim sintomática, foi a oportunidade desperdiçada na segunda parte, cabeceando mal e porcamente (e desta vez sem sorte) uma bola oferecida por Acuña.
Bas Dost (2,0)
Mesmo antes do intervalo isolou-se, a passe de Bruno Fernandes, e viu-se cara a cara com o guarda-redes. E o que fez o avançado holandês? Um passe curto para o lado, onde a olho nu ninguém se discernia, talvez destinado a fazer uma abnegada assistência para o golo que esperava ver concretizado pelo fantasma de Peyroteo. Ainda ficou em campo um quarto de hora na segunda parte, cada vez mais afastado das ocorrências, até que o compatriota decidiu poupá-lo a mais 30 minutos de demonstração de irrelevância. Na primeira parte fez uma única coisa certa, numa simulação destinada a permitir que Diaby fizesse o 3-1, o que teria sucedido em condições normais, e muitas tremendamente erradas. Um cabeceamento mais apropriado ao râguebi e a incapacidade de esticar a cabeça para um cruzamento de Raphinha foram as provas de vida. Má vida, neste caso.
Luiz Phellype (1,5)
Teve meia hora para demonstrar que é capaz de ser ainda mais irrelevante do que o actual Bas Dost. Membro do clube dos amarelados por Capela, deixou novamente a impressão de que se trata de um Castaignos lusófono com um passe mais barato e que recebe menos.
Idrissa Doumbia (2,5)
Muito mais mexido do que Gudelj, tirou o meio-campo do Sporting do ponto morto. Caso estivesse inspirado no passe poderia ter deixado marca.
Francisco Geraldes (2,0)
Entrou para os seis minutos de tempo de compensação, o que bastou para ser amarelado e fazer um ou dois toques do tipo de classe que merecia ser vista antes do minuto 90.
Marcel Keizer (2,5)
Ele próprio admite que o Sporting esteve mal a partir dos 15 minutos de jogo, faltando-lhe confessar que também a segunda parte não foi flor que se cheire. Expulso no jogo anterior devido ao desabafo “this shit is a joke”, levou a que os escassos adeptos que aceitaram deslocar-se a Alvalade saíssem a pensar o mesmo. Com o Sporting de Braga a três pontos, e um calendário razoavelmente simpático até à última jornada, urge que deixe de confiar tanto no génio de Bruno Fernandes e na raça de Acuña, melhorando os processos defensivos e encontrando solução (ou, vá lá, remendo) para o fraquíssimo desempenho dos recorrentes titulares nas posições 6 e 9. Curiosos números esses, como diria Mota Amaral...
Da vitória. Dois golos num minuto, a antever uma goleada que afinal não aconteceu, chegaram a aquecer a modorra instalada nos momentos iniciais no nosso estádio. Primeiro Diaby, num cabeceamento defeituoso mas com muita sorte à mistura, na sequência de um canto bem apontado por Bruno Fernandes. Depois Raphinha, numa jogada muito rápida e muito bem concluída pelo corredor direito. Estavam decorridos 11 minutos, parecia que iríamos ter uma noite de muitos golos e bom espectáculo em Alvalade. Pura ilusão: vencemos 3-1, mas poderíamos ter sofrido um empate. Ou até perdido.
De Bruno Fernandes. Marcou o terceiro golo, de grande penalidade. O golo que enfim tranquilizou os adeptos, aos 90'+1, numa altura em que já largas centenas de pessoas tinham abandonado o estádio, insatisfeitas com a produção da equipa. Com um pontapé de canto, já tinha ajudado a fabricar o primeiro e endossou a Raphinha a bola que o brasileiro, de forma espectacular, conduziu largos metros adiante até a meter na baliza. Não foi uma das melhores prestações do nosso capitão, que se mostrou mais fatigado do que é hábito, mas o n.º 8 voltou a ser muito útil, sobretudo ao nível dos passes longos e das mudanças de flanco na construção ofensiva.
De Raphinha. Para mim, o melhor em campo. Sobretudo pelo que fez na primeira parte, conduzindo três jogadas muito perigosas nos primeiros 11 minutos - a última das quais concluída com êxito por ele próprio, num belo golo (com o pé direito) que fez levantar o estádio. Aos 34', centrou muito bem - Dost e Diaby desperdiçaram a oferta. Aos 37, novo cruzamento - e novo desperdício do holandês. O brasileiro, que havia sido preterido na jornada anterior, frente ao Marítimo, foi desta vez titular e mereceu a aposta. Saiu aos 72', muito desgastado fisicamente e provavelmente até lesionado.
Do regresso de Mathieu. Nem parecia que vinha de uma lesão prolongada: o francês foi claramente o patrão da nossa defesa e, exceptuando um desentendimento pontual com Acuña, teve uma actuação irrepreensível, cortando tudo quanto havia para cortar - incluindo um golo quase feito. E ainda foi várias vezes à frente, conduzindo a bola com velocidade e perícia técnica. Numa dessas ocasiões, aos 80', cruzou da ala esquerda, como se fosse um extremo, com conta e medida para a grande área, com Diaby a falhar escandalosamente.
De Acuña. Exibição muito positiva do argentino, que nunca desistiu de disputar a bola, criou constantes desequilíbrios e ganhou quase sempre os confrontos individuais. É um desperdício tê-lo como lateral esquerdo, à semelhança do que hoje sucedeu. A equipa ganhou quando avançou com mais ousadia no terreno, após a entrada de Idrissa Doumbia, passando a projectar-se sistematicamente no ataque. Destacou-se com um lance aos 75', servindo Wendel lá à frente, numa jogada que Bruno Fernandes concluiu mal. Foi sempre um dos mais inconformados. E é um dos que merecem esta vitória, bastante mais sofrida do que o resultado deixa antever.
De Renan. Uma vez mais, foi decisivo. Com três grandes intervenções, todas na primeira parte (21', 45', 45'), impediu o Portimonense de empatar a partida e até de poder levar os três pontos de Alvalade. A baliza do Sporting está muito bem defendida, digam o que disserem os fanáticos que desde a primeira jornada do campeonato mostram uma alergia visceral ao guardião brasileiro.
Da pequena conquista aritmética. Iniciámos a 24.ª jornada com menos 24 pontos do que o conjunto das três equipas que se encontram à nossa frente na classificação. Esta distância reduziu-se agora para 21: ganhámos três pontos ao FC Porto, graças ao Benfica, que foi vencer ao Dragão.
Não gostei
Da atitude da equipa a partir dos 2-0. Estranhamente, os nossos jogadores pareceram atemorizar-se ao ganharem por dois golos de diferença a partir do minuto 11. Recuaram muito no terreno, passaram boa parte do tempo a trocar bolas no reduto defensivo, sem progressão nem construção de lances atacantes, o que deu motivação ao Portimonense. Aos 29', a equipa algarvia reduziu a vantagem. E esteve a um pequeno passo de marcar, ao fazer a bola embater com estrondo no travessão da nossa baliza, no tempo extra da primeira parte. Desta vez tivemos sorte.
De Bas Dost. Confirma-se: o holandês está num péssimo momento de forma. Não física, mas psicológica. Nada lhe sai bem. Pior que isso: parece que ganhou fobia à baliza. Isso ficou evidente, nesta partida, ao falhar três possíveis lances de golo - um dos quais, mesmo ao terminar a primeira parte, gerou reacções de incredulidade nas bancadas de Alvalade. Percebe-se mal que não haja acompanhamento psicológico dos jogadores - ou, se há, no caso de Bas Dost é como se não houvesse. Keizer, que parece não saber gerir bem esta situação com o seu compatriota, mandou enfim retirá-lo de campo aos 59'. O avançado saiu de cabeça baixa, frustradíssimo, provocando divisão entre os adeptos: uns aplaudiram-no (foi o meu caso), outros assobiaram-no.
De Gudelj. Exibição medíocre, mais uma. Parece sempre desposicionado, perde inúmeros lances, mostra-se incapaz de fazer um passe certeiro para além de dez metros e pouco mais faz do que lateralizar. De uma perda de boa sua, aos 29', nasceu o golo do Portimonense. É um dos mistérios deste Sporting 2018/2019: o que faz o técnico holandês apostar com tanta insistência, de jogo para jogo, neste sérvio sem atributos nem predicados?
De Luiz Phellype. Outra nulidade. Substituiu Bas Dost aos 59', mas voltou a ficar muito aquém daquilo que se exige de um avançado numa equipa como a do Sporting. Continua sem marcar um só golo, suscitando dúvidas crescentes sobre o mérito da sua contratação como "reforço de Inverno". Mas pior que isso: não protagonizou sequer um lance de possível perigo para as redes do Portimonense. Conclusão: cerca de 35 minutos em campo para nada.
De Ilori. Actuação muito deficiente do nosso central, que desta vez procurou preencher a posição de Coates, ausente por acumulação de cartões, mas nem por um momento fez esquecer o internacional uruguaio. Praticamente nada lhe saiu bem - nem a articulação com o regressado Mathieu, seu parceiro no eixo da defesa, nem as dobras a Ristovski na ala direita do nosso corredor defensivo, nem os passes. Aos 7' e aos 15' foi facilmente ultrapassado, colocando em perigo a nossa baliza. Aos 45', falhou uma intercepção em zona proibida, valendo Renan para evitar o golo. Muito abaixo das expectativas geradas pelo seu recente regresso a Alvalade.
Da entrada de Francisco Geraldes só aos 90'. Procurando aparentemente defender a magra vantagem por 2-1 em casa, frente ao Portimonense, Keizer apostou num segundo médio defensivo, fazendo entrar Idrissa Doumbia aos 72' para o lugar de Raphinha. Impunha-se outra dinâmica no terreno, até para compensar a nula eficácia de Gudelj, mas o técnico holandês mostrou receio. Só aos 90' fez enfim entrar Geraldes, sob um clamor de aplausos. Não serviu para nada. Ou antes: serviu apenas para o nosso médio criativo receber um cartão amarelo. Outra oportunidade desperdiçada, por responsabilidade exclusiva do treinador.
Da deserção dos adeptos. Desta vez, numa noite amena de quase fim de Inverno, só havia 24.907 espectadores em Alvalade. É certo que o jogo começou às 20 horas de domingo e que muita gente saiu de Lisboa por estes dias, aproveitando a tolerância de ponto do Carnaval. Mas não serve de desculpa ou de atenuante para tão fraca adesão de público.
Do balanço sofrível da nossa prestação no campeonato. Só conseguimos vencer cinco dos últimos dez jogos da Liga 2018/2019. Dá que pensar.
Tão raras vezes foi chamado a intervir que conseguiu não sofrer nenhum golo. Coube-lhe fazer uma defesa incompleta no único lance de verdadeiro perigo que o Marítimo conseguiu construir e observou atentamente enquanto ninguém aparecia para empurrar a bola para dentro da baliza. Tal como controlou a saída da bola ao lado do poste num livre directo e agarrou algo semelhante a um remate de fora da área e que também poderia ter sido defendido por Roosevelt em 1943.
Ristovski (3,0)
É o elemento da linha defensiva leonina que mais beneficia com a opção pelos três centrais, mas a inconstância táctica demonstrada por Marcel Keizer na Madeira não impediu o macedónio de dar tudo por tudo, combinando bastante bem com Raphinha na segunda parte. Quase tão bem quanto as chuteiras dos adversários combinaram com as suas pernas.
Coates (2,0)
Era um dos muitos sportinguistas à mercê dos cartões amarelos de Tiago Martins e é de elementar justiça reconhecer o quanto fez por merecer a suspensão que o afastará (pelo menos) do próximo jogo em Alvalade. Já tinha permitido o lance de maior perigo do Marítimo quando fez uma falta mesmo à entrada da grande área sobre outro adversário que se preparava para o ultrapassar. Viu um primeiro cartão que poderia muito bem ser de outra cor, recebendo o segundo já em tempo de descontos, quando já tinha recebido a frequente equivalência de ponta de lança, ao empurrar o guarda-redes adversário, grande responsável por a excursão à pérola do Atlântico não render mais do que um mísero ponto. Seria impossível um desfecho mais apropriado para um jogo do uruguaio em que as incursões pelo meio-campo contrário nem a ele o convenceram e em que um defesa desviou o remate em zona frontal que poderia tê-lo transformado em herói da noite.
Tiago Ilori (3,0)
Pese embora a tradicional dificuldade em acertar nos passes, e alguns alívios mal calibrados, o único representante da Academia de Alcochete no onze (e no 14) teve um desempenho mais positivo do que tem sido habitual. Calha bem, pois no próximo jogo não haverá Coates mesmo que haja Mathieu.
Borja (2,5)
Viu um amarelo por alegada simulação ao cair na grande área contrária e já não regressou após o intervalo. Até então lograra surpreender os adversários graças às suas trocas de posição no corredor esquerdo com Acuña.
Acuña (3,0)
Classe é o seu nome do meio, sobretudo quando não perde demasiado tempo a gritar com os enviados pelo Conselho de Arbitragem. Nem o facto de ter jogado mais recuado ainda antes da saída de Borja obstou a que fizesse um passe de morte para Bas Dost logo no início do jogo e a que realizasse variados toques de elevadíssima nota artística junto à linha.
Gudelj (2,0)
Nem sequer entrou mal no jogo, mas à medida que a primeira parte avançava foi perdendo concentração e posicionamento. O cúmulo foi o lance em que se atirou literalmente para as costas de um adversário, vendo o cartão amarelo, numa falta grosseira ao ponto de não poder ser ignorada pelo árbitro mesmo que o sérvio envergasse uma camisola encarnada em pleno Estádio da Luz. Também saiu ao intervalo, pelo que pode dizer que o resto da ocorrência não foi culpa sua.
Wendel (2,5)
Passou os últimos minutos no banco de suplentes, notoriamente nervoso com a falta do golo que permitiria encurtar a desvantagem em relação ao Sporting de Braga para apenas um ponto. Pena é que nos quase 80 minutos anteriores pouco tenha conseguido fazer para garantir melhor destino à equipa. Muito cansado pela sucessão de jogos, raramente ou nunca conseguiu desequilibrar.
Bruno Fernandes (3,0)
Quando avançou para a cobrança de um livre directo em posição frontal todos os sportinguistas deram por certo o festejo de mais um golo. Mas a bola saiu ligeiramente ao lado, tal como o desvio ao ver-se isolado frente ao guarda-redes dentro da grande área saiu-lhe ligeiramente baixo. Foi o autor do primeiro lance de perigo, num potente remate de longe que foi ligeiramente à figura de Charles e fez um cruzamento perfeito para a cabeça de Raphinha que só não levou a festejos leoninos porque o guarda-redes brasileiro resolveu ser um enorme desmancha-prazeres. Mas ter sido o melhor que o Sporting teve para oferecer ao longo dos noventa e poucos minutos (é compreensível que Tiago Martins não tenha compensado o tempo perdido por Charles, assistido diversas vezes ao longo do jogo, pois havia outro jogo logo a seguir e podia ser que houvesse BTV no balneário dos árbitros) não esconde o facto de ter acumulado uma quantidade insólita de passes falhados e perdas de bola.
Diaby (2,5)
Se o Sporting fosse uma jangada lá estaria o maliano a remar vigorosamente para tentar levar o resto dos náufragos a um ponto qualquer do oceano. Voltou a pegar na bola, desta vez com melhor critério do que noutras ocasiões, e fez por servir os colegas. Também tentou visar a baliza defendida por Charles, obtendo os mesmos resultados que todos os colegas.
Bas Dost (2,0)
Estava o jogo a acabar quando houve um lance em que Charles deixou cair a bola no relvado mesmo à sua frente, mas sem que disso adviesse qualquer perigo, pois o holandês fechou literalmente os olhos com a frustração de mais um jogada mal resolvida. Um bom exemplo daquilo que foi mais um jogo desinspirado do holandês, incapaz de emendar um excelente passe de Acuña, incapaz de rematar ao receber um excelente passe de Bruno Fernandes - preferiu passar a bola a Diaby, que estava em pior posição - e incapaz de fazer uma assistência de calcanhar em condições no lance que acabaria por culminar num remate de Coates. Uma parte nada ligeira da crise leonina - que tem agora o Braga a três pontos, mas já vê o Mo-rei-ren-se a apenas quatro - está directamente relacionada com o fraco desempenho do avançado que não foi para a liga norte-americana.
Idrissa Doumbia (3,0)
Supera Gudelj em velocidade, posse de bola, visão de jogo, eficácia de passe é tudo aquilo que não implique remates disparatados. Entrou ao intervalo, com aproximadamente 45 minutos de atraso.
Raphinha (3,0)
Chegou na segunda parte para mudar o mundo leonino e dinamizou a ala direita com velocidade e dribles que perturbaram os adversários - Ruben Ferreira agarrou-lhe o pé mesmo à entrada da área após levar um nó cego –, mas faltou-lhe alguma sorte no lance em que desviou de cabeça um cruzamento de ouro de Bruno Fernandes.
Luiz Phellype (1,5)
Talvez seja uma boa altura para, no melhor registo “muro das lamentações“, recordar que se a última visita do Sporting ao Marítimo não tivesse resultado no ataque a Alcochete talvez fosse Rafael Leão a saltar do banco de suplentes.
Marcel Keizer (2,5)
Pareceu hesitar entre sistemas tácticos, mas a falta de resultados práticos na primeira parte levou-o a repensar tudo após o intervalo. Tendo mérito ao retirar do relvado os dois jogadores que já tinham sido amarelados por Tiago Martins, o que demonstra que Keizer já percebe umas coisas acerca do funcionamento do futebol nacional, assistiu com fleumática impotência ao desacerto dos seus jogadores, cedendo ao vício de pensamento de lançar Luiz Phellype em vez de refrescar o meio-campo com Francisco Geraldes para descansar o esgotado Wendel. Ainda viu o seu terceiro ponta de lança Coates receber ordem de expulsão no final do jogo, seguindo-lhe o exemplo. Mas sendo Portugal três sílabas apenas, o mais provável é que no domingo esteja firme e hirto no banco, talvez com o Moreirense (que joga na véspera) a apenas um ponto de distância.
De termos perdido mais dois pontos. Empate a zero no Funchal: há 33 anos que não se registava este desfecho num Marítimo-Sporting para o campeonato. Um resultado decepcionante que nos coloca novamente 11 pontos abaixo do FC Porto, líder da Liga. Nas últimas quatro épocas, temos saído sempre do estádio dos Barreiros sem a vitória: é algo que dá que pensar.
Das oportunidades desperdiçadas. Contei pelo menos seis. Duas na primeira parte, protagonizadas por Bruno Fernandes (5') e Bas Dost (23'). E quatro na segunda, protagonizadas por Diaby (47'), Bas Dost (72'), Raphinha (76') e Bruno Fernandes (79'). De nada nos valeu termos esmagadora superioridade na chamada "posse de bola" (77%) se continuamos incapazes de transformar oportunidades em golos.
De Gudelj. Nulidade absoluta durante o tempo que esteve em campo - ou seja, durante toda a primeira parte. Já amarelado, desde os 39', foi remetido ao balneário pelo treinador, que mandou entrar Idrissa Doumbia para o seu lugar - reforçando assim a dinâmica da equipa. Não consigo entender o que leva o técnico holandês em apostar teimosamente no médio sérvio.
De Bas Dost. O holandês continua divorciado dos golos. Atravessa uma notória crise de confiança: parece que a bola o queima quando lhe vai à cabeça ou aos pés. Chega ao fim de mais um jogo com a folha em branco. E desta vez não foi por falta de assistência dos colegas, como ficou bem patente aos 47': com a bola em seu poder, de frente para a baliza, optou por lateralizá-la para Diaby, muito menos bem posicionado. O lance perdeu-se.
De Luiz Phellype. Jogo após jogo, continua sem demonstrar o mérito da sua contratação, está quase a fazer dois meses. Hoje esteve mais um quarto de hora em campo, sem qualquer proveito para a equipa. Um goleador sem golos de verde e branco.
Da brunodependência. Bruno Fernandes, talvez por cansaço após a eliminatória europeia, esteve vários pontos abaixo do habitual. Nem nos lances de bola parada foi capaz de fazer a diferença. Isto desequilibrou a equipa, que tem demonstrado excessiva dependência face ao capitão leonino. Na primeira parte, sobretudo, os colegas optavam quase sempre por lhe endossar a bola, desperdiçando oportunidades de construir jogo por vias alternativas. Nenhum homem, por mais atributos que possua, pode sobrepor-se ou substituir-se a uma equipa.
Que Geraldes não tivesse saído do banco. Desta vez Keizer incluiu o nosso médio criativo, formado em Alcochete, na convocatória da jornada. Mas Francisco voltou a não sair do banco. Apetece perguntar porquê.
Da expulsão de Coates. O uruguaio ficará fora da próxima partida, frente ao Portimonense. E pode já antecipar-se que irá fazer-nos muita falta.
Da péssima arbitragem de Tiago Martins. Há quem o considere o melhor árbitro português do momento. Hoje ninguém de boa fé pode subscrever esta frase. O apitador de Lisboa estragou o espectáculo ao assumir o protagonismo com um critério disciplinar absurdo, culminando na ordem de expulsão que deu segundos antes do fim do jogo a Marcel Keizer, o mais pacífico e pacato dos treinadores que têm passado pelo futebol português.
Da nossa triste mediania longe de Alvalade. Nesta Liga 2018/2019 apenas conseguimos vencer quatro vezes fora de casa. Justifica reflexão urgente. E muito séria.
Gostei
Da comparação com a época passada. Na Liga 2017/2018, ainda com Jorge Jesus ao leme da equipa, fomos ao Funchal perder por 2-1, neste mesmo estádio. Desta vez trazemos de lá um pontinho. É pouco, mas apesar de tudo é menos mau.
De termos conseguido encurtar a distância face ao Braga. A progressão foi mínima, mas nas contas finais pode tornar-se relevante para apurar quem preencherá o último lugar do pódio. Perante a inesperada derrota dos braguistas em casa, frente ao Belenenses, o nosso empate na Madeira permitiu-nos aproximar do terceiro posto. Diminuindo a diferença face ao Braga de quatro pontos para três.
Das substituições ao intervalo. Desta vez Keizer não hesitou nem adiou: aproveitou o intervalo para tirar dois jogadores já amarelados, Gudelj e Borja, substituindo-os (com vantagem para a equipa) por Idrissa e Raphinha. Este último, em particular, alterou o cariz do jogo, tornando a nossa equipa mais acutilante e determinada nos lances ofensivos. Foi dele a jogada mais perigosa do encontro, travada in extremis, aos 76', por uma excelente intervenção do guarda-redes Charles, naquela que foi a defesa da noite. Voto no brasileiro como o melhor dos nossos: o Sporting beneficiou muito com ele em campo. Apetece perguntar por que motivo Raphinha não jogou de início.
Do primeiro quarto de hora da segunda parte. Domínio total do Sporting nesta fase do jogo. Infelizmente, um domínio não traduzido em golos.
De termos mantido as nossas redes invioladas. Vinte e duas jornadas depois, enfim, voltamos a não sofrer golos fora de casa.
Há dias em que um guarda-redes não devia sair do banco de suplentes, terá pensado o francês ao ir buscar a bola dentro da baliza logo no início do jogo. No resto do tempo teve escassas ocasiões para ser bom, desviando para canto um remate com selo de golo, ou mau, saindo-se de forma tão despassarada a um cruzamento que a eliminatória poderia ter ficado logo resolvida. Já nos últimos minutos de compensações salvou o Sporting do segundo golo ao correr para fora da grande área ainda a tempo de controlar com o peito uma bola perigosa.
Bruno Gaspar (2,0)
Nada estava a fazer de particularmente bom ou de tragicamente mau quando uma tentativa de desmarcação terminou consigo agarrado à perna. Espera-se que o infortúnio pessoal do lateral-direito, provavelmente afastado dos relvados por umas semanas sem necessidade de adeptos mais exasperados recorrerem a uma acção judicial com esse fim, contribua para fixar Thierry Correia no plantel principal.
Coates (3,5)
Parcialmente culpado pelo golo do Villarreal, pois amorteceu com o peito a bola anteriormente desviada por André Pinto para a entrada da grande área leonina, o central uruguaio passou o resto da noite qual protagonista de romance épico que tudo faz para se redimir de uma falha. Mais alguns cortes providenciais se juntam à galeria de obras valorosas, mas o mais impressionante foi o modo como se integrou no ataque, demonstrando uma crença capaz de comover mesmo quem tenha pêlos no coração. Aquela jogada individual aos 58 minutos, em que avança no seu estilo determinado-desengonçado, enfrenta quatro adversários e faz um cruzamento-remate que provocou calafrios ao guarda-redes do Villarreal, merecia por si só uma estátua equestre à entrada do estádio.
André Pinto (2,5)
Sejamos francos: tirando o segundo degrau que ocupa no pódio das culpas no golo espanhol, não cometeu erros gravosos e esteve bastante atento às movimentações dos avançados adversários. Faria Tiago Ilori melhor?
Acuña (2,0)
Aos três minutos já deixara escapar o extremo do Villarreal que cruzou para o 0-1 e aos seis minutos já tinha visto o cartão amarelo por protestar a gritante dualidade de critérios do árbitro francês com que a UEFA assolou Alvalade da mesma forma que uma divindade sacana poderia ter lançado uma praga de gafanhotos sobre Dresden em 1945. Tão impressionantes credenciais não impediram o argentino de lutar tanto quanto sempre luta e de tirar proveito da técnica que é sua, mas a pouca inspiração de Jovane e de Raphinha prejudicou as suas incursões. Borrou ainda mais a pintura ao deixar a equipa com dez nos últimos 20 minutos, recebendo o vermelho por acumulação devido a uma “entrada impetuosa” que valeria um cartão alaranjado.
Petrovic (2,0)
Demonstrou que Gudelj não precisa de ser titular para o Sporting circular a bola mal e porcamente. Além de um provável recorde de passes para as linhas laterais, pouco fez para que as bancadas esquecessem que não teria sido má ideia incluir Idrissa Doumbia na lista de jogadores da Liga Europa e foi substituído sem deixar obra ou saudades. Apesar de ser difícil não reparar que um cavalheiro de elevada estatura deambulou pelo relvado, nem que seja pela máscara que lhe protege o nariz e pelo cabeceamento desastrado que, ainda assim, foi do menos distante da baliza adversária que o Sporting conseguiu na primeira parte.
Miguel Luís (2,5)
Voltou a ser titular, após uma longa travessia do keizererto, procurando ser o médio de transição que desse liberdade a Bruno Fernandes. Não brilhou, fosse por falta de ritmo ou de inspiração, ficando a noite aziaga de Alvalade como mera prova de vida.
Bruno Fernandes (3,0)
Nenhuma imagem traduz de forma tão verdadeira o actual estado do futebol leonino quanto a tragédia estampada no rosto do capitão do Sporting, ainda assim sempre disposto a avançar contra moinhos de vento. Menos inspirado do que em alguns jogos em que conseguiu rebocar a equipa para o triunfo, não parou por um instante de combater o desconsolo que cansou de conhecer. Foi seu o primeiro remate, com pouca força e pouca pontaria, tal como mostrou qualidades de velocista ao percorrer todo o campo para evitar que o artífice do primeiro golo aproveitasse o adiantamento de Acuña para repetir a desgraça. Ainda ficou a centímetros de amealhar uma assistência para golo, mas nem os postes querem nada com o Sporting.
Raphinha (3,0)
A prova acabada de que poderia ter saltado do banco a meio da segunda parte foram os seus primeiros 45 minutos, grande parte dos quais passados caído na relva, reclamando com a cegueira do francês do apito. Infeliz nas iniciativas individuais e quase sempre descoordenado com os colegas, acordou para a vida após o intervalo. Não só desviou um canto de Bruno Fernandes para o poste, antecipando-se à defesa espanhola, como fez um momento de magia junto à linha de fundo que lhe permitiu servir Bas Dost para o que, infelizmente, ficou como a defesa da noite. Forçado a recuar no terreno após a expulsão de Acuña, é uma das raras esperanças para a segunda mão e, antes disso, para a recepção ao Sporting de Braga, marcada para a noite de domingo naquele edifício lisboeta que 2019 transformou no teatro dos pesadelos sportinguistas.
Jovane Cabral (2,5)
Tão desinspirado quanto Raphinha na primeira parte, destacou-se pela capacidade de avançar pelo centro do terreno e a triste verdade é que foi dos que mais procuraram reverter o resultado. Mas convém deixar um anúncio dos perdidos e achados para ver se alguém encontra o toque de Midas com que o extremo adiou tantas vezes a ejecção de José Peseiro.
Bas Dost (2,5)
“Faz qualquer coisa de ponta de lança!”, pede o Nanni (Moretti, bem entendido) dentro de cada adepto. E o holandês lá fez, aplicando um toque declasse à assistência de Raphinha. Teria chegado para o miserável empate numa conjuntura em que as nuvens negras não tivessem chegado para ficar, mas mesmo assim foi o melhor sinal de que o encantamento que tolda Bas Dost poderá ser quebrado mais depressa do que será recuperada a visão do árbitro de baliza que conseguiu não ver o avançado a ser agarrado por um defesa na grande área do Villarreal.
Ristovski (2,5)
Entrou logo na primeira parte, substituindo o lesionado Bruno Gaspar, e trouxe alguma dinâmica e critério ao corredor direito. Mas nada que chegasse para alterar os tristes velhos factos que num álbum de retratos o Sporting teima em coleccionar, só não agravados porque Salin resolveu a má abordagem do macedónio a um cruzamento na segunda parte.
Luiz Phellype (1,5)
Diz a profecia que o avançado brasileiro justificará a contratação, tal como Gudelj acabará por ver um daqueles remates de longe alojar-se nas redes, mas tal não aconteceu nos 20 minutos passados no relvado. Também não ajudou que tenha ficado tocado logo no primeiro lance que disputou.
Wendel (2,0)
Entrou tarde e logo a seguir o Sporting ficou com menos um em campo, o que desviou Bruno Fernandes para o flanco esquerdo. Pouco mais fez do que recordar os adeptos de que é bom de bola.
Marcel Keizer (1,5)
Pior do que o resultado, mesmo sendo uma derrota caseira com uma equipa tão desabituada de triunfar que a alcunha “submarino amarelo” já lembrava mais o Kursk do que o álbum dos Beatles, e ainda pior do que a lenta reacção ao descalabro em curso, foi a atitude corporal, circunspecta e derrotada, do treinador holandês. Bem que ele avisou, naquele distante tempo do vinho, das rosas e das vitórias por 5-2, para os dias maus que inevitavelmente chegariam, mas talvez seja hora de fazer qualquer coisa para pôr fim ao futebol depressivo de que é o maior responsável. Tem dois testes nos próximos dias, e qualquer cenário em que o Moreirense passe a estar a quatro pontos de distância e em que o ranking na UEFA não tenha hipóteses de ser melhorado deve ter consequências mais concretas do que lenços brancos.
Sofreu dois golos, um dos quais com elevadíssima nota artística, mas a triste e amarga realidade é que o brasileiro fez três defesas que evitaram uma vergonha ainda maior ao Sporting.
Bruno Gaspar (1,5)
Novamente fraco a atacar e não raras vezes contemplativo a defender, como se viu no lance do primeiro golo, voltou àquilo que, infelizmente, aparenta ser o normal.
Coates (2,0)
Contribuiu de forma decisiva para o único e insuficiente golo leonino, tal como na época passada conquistara os três pontos em Tondela, quase ao 100.º minuto, num dos momentos mais felizes da doença senil do jorgejesuísmo chamada central a ponta de lança. Dito isto, esteve aquém do seu melhor a defender antes de ser cooptado para substituto de Bas Dost pelo desespero de Marcel Keizer. E também não se portou muito melhor enquanto ponta de lança.
Mathieu (2,0)
Poderia ter sido uma noite ainda pior se o golo que roubou a Montero fosse anulado por fora de jogo. À falta de um azar desse tamanho restaram-lhe uma série de maus cortes (numa jogada conseguiu fazer dois consecutivos que a olho nu pareciam assistências para o Tondela) e demonstrou uma notória incapacidade de travar os endiabrados avançados beirões.
Acuña (2,0)
Poderia ter sido uma noite ainda melhor se não tivesse conseguido ver o amarelo que o afasta da recepção ao FC Porto quando faltavam dois minutos para o apito final e a noite já estava pior do que estragada. Até então tentara cruzar, sem grande sucesso, ficando marcado pela forma como se limitou a testemunhar o primeiro golo do Tondela.
Gudelj (2,0)
Sacrificado logo ao intervalo, o sérvio teve como principal mérito não ter visto o cartão amarelo que o afastaria da recepção ao FC Porto.
Wendel (2,5)
Alguns bons passes e cruzamentos não chegam para tornar positiva uma exibição em que nem a vantagem numérica permitiu maior desafogo nas operações no meio-campo.
Bruno Fernandes (2,5)
Faltou-lhe pontaria nos remates para furar a muralha defensiva e não foi tão esclarecido quanto habitual na condução do jogo, abusando de passes errados. Mesmo assim fez uma assistênciaprimorosa, a dezenas de metros de distância, que teria valido o empate se fosse recebida por alguém mais talentoso.
Nani (2,5)
Toques de classe sem consequências práticas foram o melhor resumo de uma exibição em que o momento mais relevante foi aquele em que contribuiu para que o Sporting tivesse mais um em campo durante 40 minutos, pois foi abalroado por Jaquité, expulso por acumulação de amarelos.
Raphinha (3,0)
Encarregou-se de ser a maior ameaça a Cláudio Ramos, forçando o guarda-redes a aplicar-se num trio de boas ocasiões. A ter havido conquista de pontos na Beira Alta certamente se deveria a ele.
Diaby (0,5)
Dizer que fica a dever três golos ao Sporting implica esquecer que não possui a técnica necessária para dominar o passe teleguiado de Bruno Fernandes. Mas nas outras duas ocasiões - uma bola que foi parar aos seus pés no coração da área, chutando-a para onde estava virado (infelizmente estava virado para o lado errado do poste mais distante...), e um cabeceamento calamitoso a um cruzamento tão perfeito que ainda assim deu para acertar nos ferros - veio ao de cima o défice de qualidade do avançado maliano, em má hora chamado a substituir Bas Dost.
Montero (2,5)
Entrou ao intervalo, regressado de lesão, e esteve a um passo de marcar numa tentativa de recarga a um grande remate de Raphinha. Acabou por conseguir dirigir a bola para a baliza num lance posterior, com um remate tão fraco quanto oportuno, que só não entra na sua contabilidade porque Mathieu entendeu por bem espoliá-lo.
André Pinto (-)
Foi colocado em campo num momento de desnorte em que o treinador achou boa ideia ter três defesas centrais na grande área contrária.
Marcel Keizer (1,0)
A derrota em Tondela começou logo na convocatória, pois sem Bas Dost e Jovane Cabral disponíveis impunha-se ter pelo menos mais uma opção de ataque, nomeadamente o reforço Luiz Phellype. Acabou por nem esgotar as substituições, o que se torna compreensível olhando para o banco, num jogo que o Sporting começou praticamente a perder e nunca converteu posse de bola em domínio, mesmo estando quase metade do tempo em superioridade numérica. Ai Jesus que lá se foi a lua de mel do treinador holandês com os adeptos e uma derrota no próximo sábado colocará o FC Porto a 11 pontos de distância do clube agora relegado para a quarta posição.
Nem do resultado nem da exibição. Perdemos com o Tondela por 2-1, com o nosso golo solitário resultando de uma jogada às três pancadas já no minuto 76', quando jogávamos contra dez desde os 51', por expulsão de um defesa da equipa beirã. A superioridade numérica de pouco ou nada nos valeu: grande parte do segundo tempo decorreu com a equipa desorganizada nos últimos 35 metros, sem finalizadores de classe, com várias ocasiões desperdiçadas e perante o receio permanente de que o Tondela ampliasse a vantagem numa jogada rápida de contra-ataque, semelhante à que originou o golo da vitória. Terminámos a partida com dois centrais como pontas-de-lança (Coates e Mathieu, marcador do nosso golo), mas o caudal ofensivo nunca se traduziu em qualidade de passe ou decisões correctas no momento de rematar à baliza.
Da ausência de Bas Dost. O holandês ficou de fora, aparentemente, por algum excesso de precaução física já a pensar no desafio do próximo sábado, em Alvalade, quando recebermos o FC Porto. Raras vezes, porém, ele fez tanta falta como nesta noite em Tondela: Diaby, o seu substituto, é fraco cabeceador, define mal junto à baliza e não tem cultura táctica que lhe permita arrastar defesas, possibilitando a intromissão de companheiros dentro da área. Após vermos fugir estes três pontos, o clássico de sábado torna-se muito menos decisivo: o título ficou praticamente a uma distância intransponível. Dost teria feito mais falta agora.
Da ausência de Jovane. Nem entrou no lote dos convocados. Súbita doença? Alguma medida disciplinar? Faltando informação, resta o lamento por não termos visto sequer rasto do irrequieto caboverdiano que várias vezes já serviu de talismã à nossa equipa.
Da ausência de Miguel Luís. Foi o melhor em campo na jornada anterior, contra o falso Belenenses, e até marcou um golo nesse jogo. Desta vez permaneceu no banco e de lá não saiu. Custa-me entender porquê.
Do amarelo exibido a Acuña. O argentino estava à queima, com quatro cartões acumulados, e faltou-lhe o discernimento para evitar nova punição. Foi alvo dela já no tempo extra, quando estávamos só a dois minutos do apito final, e numa zona do terreno que não justificava qualquer falta. Conclusão: Marcel Keizer não poderá contar com ele no clássico de sábado. Uma baixa de relevo.
De Bruno Gaspar. É cada vez mais evidente que não tem categoria para ser titular da equipa do Sporting. Aos 5', o tondelense Xavier fez dele o que quis, driblando-o à vontade e cruzando para o golo inicial da equipa da casa. Desastrado a defender, inofensivo a atacar: na ala dele, os centros perigos partiram dos pés de Raphinha e Bruno Fernandes. Só.
De Gudelj. Uma nulidade no primeiro tempo, em que foi incapaz de dar dinâmicas de transição à equipa nem soube controlar a parcela defensiva do nosso meio-campo, desdobrando-se em passes lateralizados ou à retaguarda. Já não regressou do intervalo, o que não surpreendeu ninguém.
De Montero. A perder por 0-1 no final do primeiro tempo, Keizer procurou mexer na equipa. Deixou de fora Gudelj e apostou numa espécie de 4-2-4, com um meio-campo ocupado apenas por Wendel e Bruno Fernandes. Para substituir o sérvio, entrou o colombiano, que alguns gostariam de ter visto jogar logo de início. Percebe-se agora por que motivo isso não aconteceu: Montero passou praticamente ao lado do desafio. Sem ritmo competitivo, muito apático, deixando-se condicionar pelas marcações, nunca foi o avançado irreverente de que o Sporting necessitava. Interveio na confusa jogada do golo leonino, é certo, mas até nesse momento pareceu com falta de convicção.
Do enorme número de jogos fora de casa em que sofremos golos. Há vinte jornadas, correspondentes a um ano e três meses, que o Sporting deixa a bola entrar pelo menos uma vez nas suas redes em partidas disputadas longe de Alvalade. Há muito a corrigir nos processos defensivos - incluindo já nesta era Keizer: sofremos golos em dez dos onze desafios disputados com o técnico holandês no comando da equipa.
Da nossa incapacidade de superarmos obstáculos aparentemente menos difíceis. Reitero o que já escrevi várias vezes: os campeonatos perdem-se no confronto com equipa consideradas menores. Há três anos, uma derrota contra o modestíssimo União da Madeira contribuiu para nos pôr fora de combate. Na época passada, ainda com Jorge Jesus no comando técnico, saímos derrotados no campo do Estoril, que acabaria por baixar de divisão. A derrota de hoje é bem capaz de deixar um traço negativo semelhante a qualquer destes que mencionei.
Da queda do Sporting na classificação. Em 24 horas, descemos do segundo posto ao quarto lugar, na sequência desta derrota e das vitórias de Benfica e Braga. É um filme que já vimos muitas vezes, demasiadas vezes, ao longo destes quase 17 anos de penoso jejum.
Gostei
De Raphinha. Foi o melhor do Sporting. Excelente cruzamento, logo aos 8', servindo Bruno Fernandes, que falhou o golo. Aos 37', inverteram-se os papéis: Bruno serviu-o da ala direita e o brasileiro cabeceou com muita colocação para o ângulo superior da baliza, com o guarda-redes Cláudio Ramos a impedir-lhe in extremis o golo fazendo a defesa da noite.
De Renan. Sem culpa nos golos sofridos, evitou que a vantagem do Tondela se avolumasse ao protagonizar grandes defesas aos 35', 49' e 59'. Em síntese, merece elogio por ter evitado três golos. No final, já na fase do desespero, só lhe faltou abandonar a baliza e ir ele também pontapear lá para a frente.
Só duas saídas em falso a cruzamentos, uma na primeira parte e a outra no último lance do jogo, retiraram brilho ao regresso do francês à baliza leonina. Muito atento às movimentações do adversário, avançando no terreno para adiantar-se a desmarcações, defendeu tudo o que havia para defender. Tirando o pénalti, claro está, mas não por falta de esforço.
Ristovski (2,5)
O melhor da sua exibição poderá muito bem ter sido a movimentação que distraiu a defesa e ajudou Raphinha a inaugurar o marcador. Com a bola nos pés sentiu maiores dificuldades, pelo que a posição de lateral-direito parece cada vez mais a principal lacuna do Sporting,
Coates (3,5)
A assistência magnífica que fez para Bruno Fernandes representou metade de um grande golo. No resto do jogo foi o central virtuoso que demonstra ser em praticamente todos os jogos.
Mathieu (3,5)
Viu reconhecida pelo treinador a importância do corte providencial que fez no início da segunda parte, impedindo que um contra-ataque chegasse a dois adversários bem posicionados para empatar o jogo. Voltou a marcar um livre directo que levou perigo à baliza do Feirense.
Acuña (3,0)
Combativo como só ele sabe ser, distinguiu-se nas missões defensivas, mas na hora de atacar viu-se prejudicado pela má noite de Diaby. Saliente-se a relativa contenção com que lidou com uma entrada assassina que o árbitro puniu com um cartão mais desbotado do que se exigia.
Petrovic (3,0)
Teria sido uma noite bastante positiva para o médio sérvio não fosse a grande penalidade escusada que cometeu quando o Sporting embalava para a goleada. Eficaz a destruir jogo, serviu-se da altura para aumentar o domínio aéreo e ficou bem perto de fazer o 1-5 num cabeceamento à entrada da área.
Miguel Luís (3,0)
Estava a ter uma noite de formiga incansável no meio-campo até que decidiu fazer de cigarra, entrou pela grande área e forçou um defesa a fazer autogolo para evitar que a bola chegasse a Bas Dost. Ainda tentou inscrever o nome na lista de marcadores com um remate de longe.
Bruno Fernandes (4,0)
A execução do chapéu ao guarda-redes e a sincronia com o passe feito de muito longe por Coates fazem do seu golo mais um marco na carreira de um dos melhores médios de sempre a ter o leão ao peito. Ficou perto de bisar num cabeceamento à ponta de lança e num livre directo, fez a equipa carburar num jogo em que poderia ser preciso marcar muitos golos para chegar à fase final da Taça da Liga e criou tantas oportunidades para os colegas que o seu nome do meio deveria ser “passe de ruptura”.
Raphinha (3,5)
Inaugurou o marcador cedo e a boas horas com um remate notável e tentou sempre agitar a ala direita. Começa a ganhar o ritmo de que a equipa necessitará nas próximas semanas, mas ainda se nota o cansaço que levou à substituição.
Diaby (2,0)
Rendeu pouco à esquerda e foi particularmente perdulário nas oportunidades de golo que teve. Quando isolado frente ao guarda-redes permitiu a defesa e perante a baliza aberta, na recarga ao excelente remate do recém-entrado Jovane, rematou muito acima da barra. Quando Nani regressar fica sem espaço caso não consiga fazer melhor.
Bas Dost (3,0)
Tremendamente eficaz no lance do pénalti, tanto a ganhar posição como a sofrer a falta e a marcar o golo, o holandês falhou a emenda ao cruzamento de Jovane de forma tão inacreditável que se penitenciou de joelhos. Espera-se que guarde alguns golos para o difícil mês de Janeiro, assegurando um Inverno do contentamento para os sportinguistas.
Jovane Cabral (3,0)
Entrou muito mexido e merecia o golo numa jogada individual que fez a bola embater no poste. Não esmoreceu e procurou sempre o golo que procurou oferecer a Bas Dost.
Bruno Gaspar (2,0)
Substituiu Ristovski com o jogo a caminho do fim e ainda ficou à beira de marcar graças a uma desmarcação com a assinatura de Bruno Fernandes.
Jefferson (-)
Cinco minutos em campo para dar prova de vida.
Marcel Keizer (3,0)
Cumpriu o objectivo de manter o Sporting na luta pela revalidação da Taça da Liga, desfazendo o nó que José Peseiro apertou em torno do seu pescoço ao perder em casa com o Estoril. Ultrapassado o embate do desaire em Guimarães pôs uma equipa em campo empenhada em jogar bom futebol e conseguiu-o, não obstante a incerteza decorrente do golo do Feirense e da boa entrada da equipa da casa após o intervalo. Mas o próprio Keizer sabe que os testes mais importantes ainda vêm a caminho.
Poderia muito bem ter sido uma noite memorável para o brasileiro, convertido no gato de Schrodinger dos guarda-redes, na medida em que viu o cartão vermelho e não viu o cartão vermelho no mesmo lance. Expulso por derrubar um adversário que seguia isolado, valeu-lhe o videoárbitro, que detectou um fora de jogo no início da jogada, para continuar a tentar evitar o inevitável: o primeiro desaire do Sporting na era de Marcel Keizer. Teve uma exibição que só ficou aquém da perfeição devido a uma abordagem deficiente a um cruzamento perigoso e à incapacidade de evitar o único golo do jogo, acumulando excelentes defesas, tanto a mísseis disparados de longe quanto a remates disparados de perto. O Sporting voltou de Guimarães com zero pontos apesar de Renan e bastaria que mais alguns dos outros 13 que jogaram estivessem ao seu nível para evitar o pesadelo antes do Natal.
Bruno Gaspar (2,0)
Mal vão as coisas quando o lateral-direito contratado à Florentina não é o elo mais fraco da equipa leonina. Longe de ter sido muito mais eficaz do que costuma, apesar das ligeiras melhoras na hora de atacar, não foi o principal culpado e ainda se pode queixar de ter sido amarelado cedo e sem motivo.
André Pinto (2,0)
Costuma ser um bom suplente de Mathieu, tanto quanto Bruce Wayne pode ser bom suplente de Batman. Algo que talvez explique as maiores dificuldades sentidas a substituir Coates, com quem costuma formar uma dupla de centrais menos propensa a deixar escapar tantos adversários na direcção da baliza.
Mathieu (2,5)
É bem verdade que fica ligado ao resultado final, pois o remate de Tozé alterou a trajectória ao embater no seu pé, mas o francês deu o corpo à bala num lance em que Renan Ribeiro dificilmente poderia evitar o 2-0 e integrou-se várias vezes no esforço ofensivo dos leões.
Acuña (2,5)
Nem sempre a pessoa mais esperta na sala leva a sua avante e nem sempre o melhor lateral do Sporting deixa a sua marca. Algo limitado no um contra um (ou contra dois, ou contra três), o argentino também ficou aquém do que sabe nos cruzamentos e viu os colegas desperdiçarem aquilo que criou com o suor do seu rosto. Do ponto de vista defensivo destacou-se uma ocasião na primeira parte em que só lhe faltou estender uma passadeira vermelha para que um adversário entrasse na grande área do Sporting.
Gudelj (2,0)
Ouviu das boas de Renan numa das jogadas em que permitiu incursões vimaranenses junto à baliza do Sporting e foi um dos maiores responsáveis pelo domínio que os da casa exerceram. Teria sido um herói caso Bruno Fernandes tivesse começado a correr um segundo antes para o passe longo que o sérvio fez, logo no início do jogo, para a entrada da grande área do Guimarães.
Miguel Luís (1,5)
Entre a macieza na cobertura das movimentações dos adversários e a desinspiração nas trocas de bola com os colegas andou a noite aziaga da nova coqueluche de Alcochete. A melhor memória que pode guardar é o passe muito longo a servir o recém-entrado Raphinha.
Bruno Fernandes (2,0)
Rematou muito, como quase sempre, mas o melhor que conseguiu foi acertar na cara de um defesa. Também os passes raramente lhe saíram bem e até conseguiu, mesmo ao cair do pano, ver um amarelo por protestos que o retira da equação na próxima jornada da Liga NOS, já em 2019, frente ao Belenenses. Espera-se que Francisco Geraldes volte cheio de energia do exílio que lhe terá permitido aprimorar o estudo da Escola de Frankfurt.
Diaby (3,0)
Fez o único remate digno desse nome que o Sporting conseguiu na primeira parte, e depois do intervalo serviu Raphinha antes de tentar novamente o golo, sem grande pontaria. Ainda provocou um autogolo, num lance anulado por flagrante fora de jogo, e é pena que isto baste para se destacar dos demais.
Jovane Cabral (2,5)
Sofreu uma carga logo no início da partida, quando acabara de recuperar a posse de bola com o guarda-redes adversário a tentar recuar para a baliza. A falta não mereceu amarelo, sabe-se lá porquê, tal como as incursões do jovem extremo pela esquerda não mereceram seguimento dos colegas. Não voltou para o relvado na segunda parte, reconhecidamente o seu melhor habitat.
Bas Dost (2,0)
Dois remates de cabeça, um muito torto e outro directo para as mãos do guarda-redes, constituíram o fraco pecúlio do goleador holandês, ligeiramente mais útil a fazer combinações com os colegas.
Raphinha (3,0)
Regressou de lesão num jogo em que voltou ao estádio do antigo clube e, tendo entrado após o intervalo, protagonizou a fase menos má dos leões. Excelente a dominar a bola lançada por Miguel Luís, livrou-se de um adversário antes de rematar quase à figura, tal como noutra ocasião para dar início à reviravolta perdida ficou a centímetros do poste. Tê-lo pronto a jogar é uma das poucas boas notícias que o Sporting recebeu nesta noite.
Carlos Mané (2,0)
Entrou para servir de segundo avançado e o melhor que conseguiu foi amortecer o cruzamento de Mathieu para um remate disparatado de Diaby a poucos metros da baliza.
Petrovic (1,5)
Cumpriu os últimos minutos de jogo na posição de Gudelj e não conseguiu reverter a má situação.
Marcel Keizer (2,0)
Bem avisou que este dia chegaria e no final do jogo ainda agradeceu a Renan pela contida dimensão da vitória da equipa da casa. Nada disto desculpa a incapacidade de levar os seus jogadores a reconquistarem o meio-campo perdido, mas também é verdade que a vaga de lesões limitou as opções que tinha no banco. Caído dos céus para uma realidade complexa, trazendo do Minho os mesmos zero pontos que José Peseiro, cabe-lhe tentar o milagre da qualificação para a fase final da Taça da Liga e a preparação das duas primeiras jornadas da Liga disputadas em 2019. Tudo o que for chegar ao Sporting-FC Porto com cinco ou mais pontos de desvantagem soa a missão impossível.
Nada pôde fazer no lance do golo madrugador que deu vantagem aos ucranianos até aos 90 minutos, e cedo percebeu que não se podia fiar no quarteto à sua frente. Evitou o 2-0 apressando-se a desarmadilhar um atraso que prometia ser a segunda assistência para golo alheio de jogadores do Sporting. Depois disso teve tempo para recordar outros franceses que não se deram bem no Leste, pois o único remate enquadrado do Vorskla já fizera os estragos que tinha de fazer.
Bruno Gaspar (2,0)
Saltou para a titularidade da mesma forma que alguns estados falhados saltaram para a independência. Permeável a defender e emperrado a atacar, aumentou as legítimas esperanças de quem espera ver Thierry Correia a concorrer ao lugar de Ristovski no decorrer desta temporada.
André Pinto (2,5)
Fica marcado pelo ‘ammorti’ que permitiu manter a tradição leonina de não regressar a Portugal sem pelo menos um golo nas redes. Tão perfeita foi a disponibilização da bola para o remate que, havendo justiça, ser-lhe-ia reconhecida a assistência. No resto do jogo mostrou aquela competência interina que o torna invisível. Até aos olhos do selecionador nacional.
Coates (3,0)
Atormentado pela desvantagem madrugadora, para a qual pouco ou nada contribuiu, dedicou-se a ganhar duelos aéreos nas duas grandes áreas. Como é tradição, não se furtou a duas incursões (como sempre mal sucedidas) com a bola nos pés naquela fase da segunda parte em que a viagem de regresso a Lisboa prometia ser ainda mais longa e silenciosa. No universo alternativo em que já existe videoárbitro na Liga Europa sofreu um pénalti quando o resultado ainda estava 1-0.
Jefferson (3,5)
Mais insólito do que o equipamento branco que a UEFA forçou os leões a envergar só o facto de o brasileiro ter sido o melhor da defesa. Regressado à titularidade, o lateral-esquerdo arrancou o jogo com cruzamentos displicentes que chegavam a parecer combinados com os adversários. Sucede, porém, que no final da primeira parte calibrou as chuteiras, oferecendo um golo a Nani que a haver justiça contaria como assistência, fartou-se de ganhar espaço no corredor que tinha a seu cargo e municiou o ataque com bolas nem sempre bem compreendidas. Até ao momento em que Montero recebeu um cruzamento longo no peito e...
Petrovic (3,0)
Enquanto não há Battaglia continua a ir à guerra. Começou mal, reagindo tarde e a más horas à oferta de André Pinto aos anfitriões, mas cedo conquistou espaço no meio-campo com o estilo forte, feio e formal que as suas limitações aconselham. Assim se manteve, muitas vezes tomado pela angústia do futebolista no momento em que tem a bola nos pés, até ser devolvido ao banco de suplentes.
Acuña (3,5)
Voltou para o meio-campo com o ímpeto de quem já estava a ser avisado pelo árbitro ao quarto de hora de jogo. Foi o sportinguista mais focado na primeira parte, depois do intervalo fez um remate em arco que merecia ser desviado para a ‘gaveta’ da baliza por um fenómeno meteorológico e iniciou o contra-ataque que selou a reviravolta. Nem o amarelo que acabou por levar, tão natural quanto a própria sede, retira mérito ao argentino.
Bruno Fernandes (3,0)
Abriu as hostilidades com um passe de 30 metros para Diaby e empenhou-se sempre na batalha do meio-campo, testando o remate de longa distância em mais do que uma ocasião e com mais do que um defeito de execução. Mesmo no final esteve à beira de marcar o golo que valeu os três pontos, cedendo a honra ao suspeito do costume.
Nani (2,5)
Recuperou a titularidade, a braçadeira de capitão e a tendência para desacelerar os ataques. Particularmente infeliz na finalização, teve a baliza contrária a seus pés no final da primeira parte, perdendo uma excelente oportunidade de causar uma boa primeira impressão nas redes. Ficou até ao fim em campo, o que terá contribuído para uma quebra nos rendimentos dos especialistas em leituras de lábios que prestam serviços aos canais de televisão.
Carlos Mané (2,0)
Mais uma novidade na deslocação à Ucrânia, após um minuto inteiro no relvado de Alvalade. Alternando entre a faixa e o miolo do terreno, pecou pela falta de pragmatismo (e por ter feito um remate com a canela) apesar de ter demonstrado, numa ou noutra jogada, que ainda sabe ludibriar quem lhe vem tentar tirar a bola. Mas quando saiu para dar lugar a Montero houve a leve impressão de que já ia tarde.
Diaby (2,0)
Desta vez já conseguiu demonstrar as qualidades de velocista, ficando a faltar outro tanto no que diz respeito à arte de marcar golos. Teve boa oportunidade logo a abrir o jogo, mas chutou tão mal quanto combinou com os colegas nas jogadas de ataque em que se envolveu. Saiu aos 70 minutos para dar lugar a quem, até ver, resolve.
Montero (4,0)
Saltou para o relvado com a convicção de que iria salvar a equipa de um traumatismo ucraniano. E se de início manteve a tendência de criar jogo longe da zona de perigo, quase sem se dar por isso fez um belo pontapé de bicicleta que poderia ter valido o empate. Redimiu-se logo a seguir, com uma sequência de decisões correctas que permitiram festejar o empate e transformaram os cinco minutos de compensação numa auto-estrada para a reviravolta.
Raphinha (3,5)
Assumiu o jogo ofensivo do Sporting desde o instante em que entrou em campo. Entre muitas intervenções preciosas destaca-se o passe para Bruno Fernandes que, por linhas tortas, permitiu que houvesse festa no final de tarde.
Jovane Cabral (3,5)
Ser talismã tem destas coisas. Demora-se mais a entrar no jogo do que o colega da direita, vai-se ganhando confiança e está-se à hora certa no lugar certo. Assim se fez o golo da vitória e começa a ser difícil acreditar que todas estas intervenções decisivas não passam de uma sucessão de coincidências.
José Peseiro (3,0)
Descansou uns quantos titulares, o que se torna compreensível devido à deslocação à Portimão na noite de domingo. Mas recebeu pouco em troca da confiança depositada em Bruno Gaspar, Carlos Mané e Diaby, viu uma falha tremenda da defesa adiantar o Vorskla, e até ao último minuto do tempo regulamentar viu-se metido em grandes sarilhos. Que por uma vez o universo tenha conspirado a favor do Sporting deve-se em grande parte às substituições acertadas que fez no decorrer da segunda parte, ciente de que, para mal dos seus pecados e do departamento médico, o plantel que orienta não se dá assim tão bem com poupanças.
Perdeu uma excelente oportunidade para reler clássicos da literatura gaulesa, ou para aliviar a caixa de correio electrónico, tão pouco foi o trabalho que o ataque do Marítimo lhe deu. Ainda assim poderia ter sofrido um golo mesmo antes do intervalo, mas teve a felicidade de um certo argentino ter sido adaptado a lateral-esquerdo.
Ristovski (2,5)
Diga-se, em sua justiça, que qualquer um se arrisca a parecer um Robin se tiver um Batman ao lado. Muito solicitado por Raphinha, que criou espaço à direita suficiente para mais três novos partidos como o de Santana Lopes, o macedónio executou todo o género de cruzamentos para a grande área adversária tirando os cruzamentos eficazes. A defender também esteve algo permeável, devendo-se-lhe a melhor ocasião do Marítimo em toda a noite, mas foi salvo pelo colega da esquerda. Na segunda parte, enquanto o colectivo colapsava, melhorou na travagem das ofensivas madeirenses e aindatentou o golo com um remate forte o suficiente para criar aflições.
Coates (3,0)
Voltou a perder a bola para um adversário na zona de perigo, tendo o mérito de resolver a sua malfeitoria com um corte arriscado. Mas no resto do jogo foi o muro que ajuda a manter a equipa na corrida, sendo que a habitual arrancada pelo meio-campo contrário teve desta vez consequências de somenos: um contra-ataque facilmente resolvido pelos colegas da linha defensiva menos obcecados em subir na vida.
André Pinto (3,0)
Tal como sucede com os árbitros, acaba por ser meritório que não se dê muito pela presença do substituto de Mathieu. Tanto assim foi que se fez notar pela primeira vez ao ser-lhe mostrado o cartão amarelo, pois agarrou um adversário que o deixara mal ao fazer passar a bola por cima de si. Desse momento em diante regressou para um estado de invisível eficiência que é a sua imagem de marca.
Acuña (3,5)
O corte providencial que impediu o Marítimo de reduzir para 2-1 foi a cereja no topo do bolo constituído por mais uma exibição repleta de raça nas bolas divididas (e nas bolas confiscadas), de clarividência no lançamento do contra-ataque e de brilho no posicionamento. Talvez fosse boa ideia fazer um clone para precaver lesões ou castigos internos por insultar o treinador.
Petrovic (3,0)
Recebeu audíveis aplausos das bancadas ao fazer a versão adriática da roleta marselhesa para salvaguardar a posse de bola perante a cobiça de dois fulanos vindos da pérola do Atlântico. Titular devido à gripe de Battaglia, superou as baixas expectativas dos adeptos, sem nunca comprometer a segurança da baliza leonina. Ainda se aventurou em lances de ataque, mas a sua técnica muito particular de ganhar lances (avançar a bola e atirar-se para cima do adversário) ainda carece de ser aprimorada.
Gudelj (2,5)
Viu o cartão amarelo muito cedo, o que poderá muito bem explicar que tenha estado ligeiramente mais calmo. Na segunda parte foi parte integrante da perda gradual do meio-campo, chegando-se ao paradoxo de o Sporting ter menos posse de bola num jogo que pareceu controlar desde o início.
Raphinha (3,5)
Sofreu a falta para grande penalidade tirando partido da velocidade com que se desmarca e marcou o livre que permitiu a Montero fazer o resultado final. No resto do jogo combinou (bem) com Bruno Fernandes e (nem por isso) com Ristovski, quase conseguiu oferecer o 3-0 ao capitão e reforçou a ideia de que aqueles 6,5 milhões de euros irão multiplicar-se mais tarde ou mais cedo.
Jovane Cabral (3,0)
Eis os factos: o ainda apenas cabo-verdiano fez o passe de ruptura para Raphinha que originou o pénalti do 1-0 e sofreu a falta junto à linha lateral que abriu caminho para o 2-0. Mas tal como Narciso se deixou enfeitiçar pela sua imagem reflectida na água, também Jovane está demasiado apaixonado pela capacidade de driblar, sucedendo-se jogadas em que enfrentou um trio de adversários, perdendo invariavelmente a bola para o terceiro. Se o olhar de Acuña pudesse matar estariam os sportinguistas de luto pela funesta consequência da segunda tentativa de penetração na grande área que o habitual suplente culminou deixando sair o esférico pela linha de fundo...
Bruno Fernandes (3,5)
Capitão de equipa devido ao castigo imposto a Nani, poupou-se às discussões com homens do apito que lhe têm valido a maioria dos recorrentes cartões amarelos que recebe. Preferiu gastar energias na construção de jogadas e mesmo que os remates de longe insistam em não sair, o certo é que voltou a marcar, de pénalti, sem apelo nem agravo. Eleito homem do jogo, teve atitude de capitão e ofereceu o troféu ao regressado Carlos Mané.
Montero (3,5)
Pôs termo ao seu pequeno jejum (desde a aziaga final da Taça de Portugal) com um toque pleno de oportunidade, a mesma que demonstrou ao roubar uma bola logo no início do jogo, forçando o espoliado do esférico a agarrá-lo antes que fugisse para a baliza. Lutador incansável, rematou muito e só não teve grande taxa de sucesso nos duelos aéreos com os defesas.
Misic (2,0)
Entrou aos 77 minutos para o lugar de Jovane, numa substituição que colocou três médios defensivos oriundos de países balcânicos no relvado em simultâneo - e isto sem contar com o macedónio Ristovski ou com o argentino Acuña, que facilmente obteria cidadania honorária de um desses países. E o certo é que o Marítimo não marcou.
Diaby (=)
Mais cinco minutos em campo. Mas a acreditar nos jornais a culpa é da selecção do Mali, cuja convocatória atrasou a integração no grupo.
Carlos Mané (-)
Um dos raros representantes da Academia de Alcochete no actual plantel regressou a Alvalade e aos relvados após prolongada ausência por lesão e empréstimos decididos por Jorge Jesus. Merecia mais do que um mísero minuto.
José Peseiro (2,5)
Tinha tudo para ser uma noite relaxada. Mesmo com Nani na bancada, e apenas três titulares da época passada no onze titular, viu-se a vencer cedo, recebeu o golo da tranquilidade antes do intervalo e... deixou-se adormecer. O Marítimo ganhou espaço e bola, vários jogadores estavam esgotados (Jovane ficou a dever uns bons 20 minutos ao banco de suplentes) e mesmo assim esperou aos 77 minutos para mexer na equipa, acrescentando mais um médio defensivo aos dois já existentes. Será que o treinador do Sporting protelou as substituições com medo de que mais algum substituído o mandasse para um lugar desagradável?
Raphinha - Dos raros jogadores leoninos que não pareceram ressentir-se com a importância do jogo na Pedreira. Mesmo sem o conveniente apoio de Ristovski, quando jogou na ala direita, fez boas movimentações, sempre de olhos fitos na baliza. O primeiro sinal de perigo foi levado por ele, aos 16'. Remates a rasar o poste (73' e 82'). Cruzamento perfeito para Coates, que falhou o cabeceamento (76'). Merecia o golo: foi o melhor do Sporting.
Jovane - Desta vez não foi o talismã de que a equipa precisava, nem ninguém pode exigir-lhe isso - sobretudo quando fica fora do onze titular e só é lançado, quase em desespero, para render um Nani que andava exausto havia uma quarto de hora. Mesmo assim, protagonizou o melhor momento do jogo leonino, aos 88', num belo lance individual em que deixou três defesas fora do caminho e rematou cruzado, para grande defesa do guardião bracarense.
Nota 6
Salin - Quando era preciso, estava lá. Travando João Novais com uma excelente defesa (66') e retardando o golo de Dyego Sousa (57'). Sem culpa no descalabro defensivo de que resultaram os três pontos para o Braga, também por Dyego. Só precisa de melhorar no capítulo da reposição da bola em jogo com os pés.
André Pinto - Muito assobiado do princípio ao fim, cada vez que tocava na bola, o central não pareceu afectado por este desagrado do público afecto à sua ex-equipa. Combinou bem com Acuña: no primeiro tempo, sobretudo, foi pela ala esquerda que saiu sempre o nosso jogo ofensivo. Falhou a cobertura a Dyego Sousa no golo bracarense, mas a principal falha neste lance crucial surgiu dos colegas incapazes de impedir o cruzamento.
Acuña - Actuou pelo segundo jogo consecutivo como lateral esquerdo, voltando a merecer nota positiva tanto no capítulo técnico como no compromisso táctico, sobretudo nas acções defensivas. Não desiste de um lance, o que lhe confere utilidade suplementar num onze muito irregular neste domínio.
Nota 5
Coates - No golo do Braga, acorreu à dobra de Ristovski, mas este seu desposicionamento foi fatal: o eixo da defesa ficou desguarnecido, o que facilitou a penetração de Dyego Sousa. No jogo aéreo, lá à frente, também não esteve feliz: continua sem fazer a diferença. Compensou com bons cortes aos 12', 42' e 48'.
Battaglia - Batalhador, a fazer jus ao apelido de origem italiana, mas sem o discernimento que já revelou noutros desafios. Continua a falhar passes promissores e a confundir progressão ofensiva com transporte de bola. Mas no capítulo da recuperação esteve melhor do que Gudelj, que parece pouco talhado para a posição de médio defensivo.
Nani - Falta-lhe fulgor físico - e isso notou-se em excesso neste jogo. Parece fazer pouco sentido mantê-lo numa ala quando temos Jovane e Raphinha - sem esquecer o ausente Carlos Mané. Rende certamente mais nas costas do ponta-de-lança. Mesmo assim, o momento mais perigoso foi dele - um excelente cabeceamento com selo de golo aos 35', proporcionando a Tiago Sá a defesa da noite.
Nota 4
Gudelj - O sérvio abusou do jogo físico e arriscou mesmo um cartão "alaranjado" ao dar uma cotovelada na face de Wilson Eduardo que o árbitro Soares Dias não viu. Talvez para compensar as dificuldades que foi enfrentando como médio mais recuado, lugar para o qual parece pouco vocacionado. Desposicionou-se com frequência, comprometendo o equilíbrio do corredor central leonino.
Bruno Fernandes - O rei dos passes errados, chegando a fazer entregas comprometedoras de bola ao adversário. Corre muito, gesticula bastante, protesta em excesso com o árbitro. Mas na hora da decisão tomou quase sempre más opções, como quando preferiu o remate, aos 65', quando tinha Raphinha em melhor posição. Tarda em voltar à boa forma da época anterior.
Montero - Faz as vezes de ponta-de-lança, mas desta vez mal se deu por ele na área. Abusa das incursões atrás para entregar a bola supostamente a alguém que devia ser... ele próprio. Passou em larga medida ao lado do jogo, excepto num bom centro que Bruno Fernandes desperdiçou aos 65'. Muito pouco para alguém com os pergaminhos deste colombiano que se mantém divorciado dos golos.
Nota 3
Ristovski - Porque estaria tão nervoso? Foi sempre um dos elementos mais intranquilos do onze leonino. Défice na progressão atacante e no apoio a Raphinha, parecendo preso às missões defensivas, o que não impediu que o golo do Braga começasse a ser desenhado pelo seu flanco: nem o auxílio de Coates lhe serviu.
Nota 2
Castaignos - Entrou aos 79', por troca com Montero, e revelou-se igual a si próprio: é um avançado que nunca marcou pelo Sporting. Manteve-se fiel à tradição que sempre demonstrou em Alvalade desde os tempos de Jorge Jesus: evidencia insuperáveis problemas no capítulo técnico. Quando a bola lhe chega, não sabe o que fazer com ela.
Sem nota
Diaby - Em desvantagem desde o minuto 67', precisávamos de reforçar a frente atacante. Mas Peseiro optou por manter no banco o reforço do Mali contratado para marcar golos. Quando entrou, aos 85', por troca com o extenuado Gudelj, já pouco lhe restava para fazer. E não fez mesmo.
Consciente de que a sua titularidade está indexada às vitórias em todos os outros jogos e empates em casa de adversários directos, o guarda-redes que não custou três milhões de euros, não foi uma aposta da comissão de gestão para substituir esse último e não é uma das maiores promessas de Alcochete fez tudo o que estava ao alcance para garantir pelo menos o segundo objectivo. Se no próximo jogo ficar sentado no banco a recordar os tempos passados no mesmo local, empenhado em mediar a comunicação entre Jorge Jesus e Doumbia, poderá agradecê-lo a Dyego Sousa, inclemente no desvio de bola que deu golo. Até então, e depois disso, Salin mostrou-se à altura das exibições anteriores, com boas defesas e ainda maior eficácia a desviar uma bola rematada por João Novais, logo na primeira parte, recorrendo apenas ao poder da mente.
Ristovski (2,5)
A frequência com que os ataques bracarenses se desenrolaram literalmente nas suas costas e a falta de coordenação com Coates contribuíram para que a noite lhe fosse menos memorável do que para Jefferson, que não só ficou isento de culpas, na condição de suplente não-utilizado, como ainda reviu os amigos que fez no ano em que foi emprestado aos minhotos.
Coates (2,5)
Terminou o jogo plantado no ataque, à espera de um milagre, como aquando da fase terminal de Jesus no Sporting, mas não estava escrito que um golpe de cabeça certeiro traria a redenção por permitir o cruzamento que resultou no único golo do jogo. Tirando isso voltou a ser imperial nos duelos aéreos com os avançados e, mantendo a tradição, incorreu numa arrancada pelo meio-campo adversário, cuja única consequência foi um lançamento de linha lateral a beneficiar a equipa da casa.
André Pinto (3,0)
Assobiado por milhares sempre que tocava na bola, o central português portou-se maravilhosamente bem para quem é o ‘understudy’ de Mathieu. Seguro em quase toda a partida, tirando a ocasião em que Dyego Sousa passou por si, entrou na grande área e rematou para as mãos de Salin, não merecia sair derrotado de Braga após um enxovalho público tão atroz que o árbitro Artur Soares Dias se apiedou e limitou o tempo de compensação a apenas três minutos. Como escreveu o italiano Cesare Pavese, nada é mais inabitável do que um estádio de onde saímos após recusar a renovação de contrato e sem render um cêntimo ao clube que nos empregava.
Acuña (3,0)
Voltou a desempenhar funções de lateral-esquerdo, empenhando-se nessa missão com a costumeira garra, acompanhada desta vez por alguns erros de posicionamento e cortes deficientes. Manteve, no entanto, a vantagem de saber o que fazer com a bola e ser o melhor do plantel a fazer passes longos agora que William Carvalho vive em Sevilha e Mathieu recebe demasiadas visitas de médico.
Gudelj (2,0)
O facto de o aguerrido sérvio só ter sido amarelado aos 83 minutos, não obstante a constante prática de artes marciais mistas na disputa de bola, pode fazer com que alguns questionem a razão de ser da interminável guerra entre o Sporting e os árbitros portugueses. Quando saiu de campo, para a entrada de Diaby, ninguém teria ficado demasiado surpreendido se um escolta militar o tivesse levado para o Tribunal Penal Internacional de Haia.
Battaglia (2,5)
Regressou a Braga com a vontade de transformar o caos em cosmos que lhe é reconhecida, mas não era noite para isso. Lutou como um leão depois do intervalo, sem evitar o progressivo domínio da equipa da casa, e terá percebido mais depressa do que muitos que amanhã seria um novo dia. Assinala-se a forma como pediu desculpa a Dyego Sousa, no lance em que viu o cartão amarelo, na senda de outro latino-americano, também natural da Argentina, para quem também era importante ser um duro sem nunca perder a ternura.
Bruno Fernandes (2,5)
Na peugada da luta pela introdução do videoárbitro, levada a cabo pela anterior gerência, urge que os actuais dirigentes leoninos pugnem pela alteração nas regras do jogo que permita a equivalência a golo a todos os remates dirigidos ao ponto imaginário, mesmo ao lado do poste direito, para onde Bruno Fernandes esteve a fazer pontaria toda a noite. Talvez a culpa seja das chuteiras descalibradas.
Nani (2,5)
Desviou de cabeça um livre superiormente cobrado por Bruno Fernandes, no que foi a principal ocasião de perigo do Sporting na primeira parte. Pena é que o lance só tenha servido para a afirmação do jovem guarda-redes Tiago Sá, a quem caiu a titularidade ao colo no Braga pelos mesmos motivos (lesão do titular e desânimo do suplente) que poderão ainda fazer de Luís Maximiano o próximo Rui Patrício... Mesmo antes do intervalo distinguiu-se no modo como travou um contra-ataque leonino, contemplando o defesa que tinha pela frente como se estivessem num filme europeu, pelo menos até ao momento em que decidiu por um atraso e deu ensejo a Soares Dias para apontar o caminho para os balneários. E o pior é que isso foi um prenúncio do que seria a sua intervenção no relvado até ceder o lugar a Jovane Cabral.
Raphinha (3,0)
Rematou muito, construiu muitas jogadas, ganhou muitos duelos graças à velocidade e ao jeito natural para a coisa. Mas os remates teimaram em sair ligeiramente desenquadrados, quase sempre acima da barra, pelo que à luz da exibição em Braga estará mais próximo de ser convocado para a selecção brasileira de râguebi do que para a de futebol.
Montero (3,0)
O remate, de muito longe e muito à figura de Tiago Sá, executado pelo colombiano no final da primeira parte, fez lembrar os convites para jantares e saídas nocturnas que alguns homens ainda trancados no interior de móveis do Ikea fazem a mulheres. É possível que Montero tente disfarçar o desinteresse em procurar o golo, mesmo sendo certo que faz tudo o que está ao alcance para ajudar os colegas a agitarem as redes. Assim fez na segunda parte, protagonizando uma arrancada épica pela direita, na qual ultrapassou uns quantos adversários até conseguir cruzar, com conta, peso e medida, para Bruno Fernandes. Coube a este, em vez de passar ao também isolado Raphinha, culminar o lance com um remate para o ponto imaginário mesmo ao lado do poste direito - e a recompensa que Montero recebeu pelo esforço, dedicação e devoção inglória consistiu em ser substituído por Castaignos.
Jovane Cabral (3,0)
O talismã do Sporting entrou em campo com a equipa em desvantagem, mas como o jogo só ia no minuto 72 havia tempo mais do que suficiente para a reviravolta, talvez mesmo para a goleada. Assim pensaram os adeptos ao vê-lo tomar a bola nos pés, ultrapassar meia-dúzia de adversários tomados pelo pânico, ganhar posição na grande área bracarense e fazer um magnífico remate. Só que o inopinado Tiago Sá resolveu evitar o que seria o golo do empate, e os colegas de Jovane, muitos dos quais cristãos devotos ao ponto de temerem falsos ídolos, evitaram passar-lhe o esférico durante os minutos que faltavam para o apito final. E da vez em que voltou a conseguir apossar-se da bola, ludibriando os outros 21 jogadores em campo, fez um daqueles seus remates para a bancada que até agora compensavam as intervenções decisivas.
Castaignos (1,5)
Chamado a jogo com a missão de garantir a presença de um avançado mais fixo, assim como aquele seu compatriota mais velho, mais alto e mais marcador de golos, falhou miseravelmente. Teme-se que um segredo ultra-secreto de Fátima, ainda por revelar, seja a verdadeira razão para Castaignos ter ficado no plantel do Sporting enquanto Gelson Dala e Leonardo Ruiz partiam para novos empréstimos.
Diaby (1,5)
Teve direito a menos de dez minutos para demonstrar o faro para o golo e a velocidade estonteante que justificaram a sua contratação por mais do que meia-dúzia de tostões. Talvez consiga demonstrar uma e a outra numa próxima ocasião.
José Peseiro (2,0)
Mathieu impediu-o de repetir o mesmo onze que apresentou contra a Qarabag e o Sporting de Braga impediu-o de obter o mesmo resultado que conseguiu na quinta-feira passada. Muito solicitado no regresso a um estádio que talvez lhe seja habitável por não ter sido especialmente feliz no Minho, reagiu tarde e a más horas às alterações tácticas feitas por Abel na segunda parte. Quando resolveu reagir estava em desvantagem, tinha pela frente vários jogadores esgotados e opções algo duvidosas no banco. Perdeu a liderança e a única compensação é que não fez pior na Pedreira do que o antecessor, então longe de imaginar que seria o novo Lawrence das Arábias, na época transacta.
O fim-de-semana havia sido marcado por épicos regressos à ribalta:
Milhares de pessoas percorreram o "green" atrás de Tiger Woods, após este vencer o Tour Championship (80ª vitória da carreira), cinco anos depois do seu último triunfo;
Old Trafford aplaudiu de pé o regresso de Sir Alex Ferguson, felizmente já recuperado de um AVC quase fatal;
"Spiderman" Ruesga voltou ao estrelato (campeão mundial em 2013), após um golo decisivo pelo Sporting que só se julgava ser possível de ver no Cartoon Network.
Com estes exemplos bem presentes, desenvolvi uma fézada de que o homem dado como dispensável, acabado, finito diria Tomislav Ivic, destruiria o sonho adolescente do jovem treinador Abel. Bastas vezes acusado de se desligar do jogo, de ser demasiado frio e relaxado, nesse transe pensei que o "Cool Dude" Montero daria lugar ao impiedoso assassino Fred(d)y Krueger, protagonizando o Pesadelo na Pedreira. Mas por mais que este adepto possa viver realidades paralelas, o que o jogo mostrou foi algo completamente diferente.
Montero nunca conseguiu ser influente na área. Também, é difícil sê-lo quando a bola lá não chega. Apesar disso, logrou duas penetrações pela direita, uma em cada parte, ambas concluidas com perigosos centros para o segundo poste. Na segunda, Bruno Fernandes foi egoísta (tinha Raphinha isolado no meio) e rematou a rasar o poste, repetindo a pontaria de um anterior tiro de longa distância. Foi o momento do jogo. Como quem não mata morre, pouco depois sofremos o golo. Numa transição rápida, o recém entrado Eduardo centrou junto à linha de fundo - a bola passou por debaixo das pernas de Coates - , Ristovski preocupou-se mais em esconder os braços do que em reagir com os pés e assim, ao contrário de Duarte de Almeida, o Decepado, estendeu o nosso estandarte ao adversário, no caso Dyego Sousa, que começou a sentenciar a batalha.
Em sequência, Peseiro mexeu. Positivamente, quando lançou (tarde?) Jovane , embora tivesse saído Nani, o qual tinha protagonizado a jogada de maior perigo da primeira parte (cabeceamento para fantástica defesa de Tiago Sá); negativamente, ao trocar Montero por...Castaignos. Oh Diaby, não se compreende tanto enfoque na compra de um ponta-de-lança (pretendeu-se dois) para depois o maliano entrar apenas a 5 minutos do fim, preterido na ordem de entrada pelo holandês. Eventualmente, melhor teria sido efectuar apenas uma substituição, trocando Gudelj por Jovane, recuando Bruno Fernandes para o lugar do sérvio e assumindo Nani a posição "10".
Os últimos 15 minutos ficaram marcados pela falta de eficácia de ambas as equipas. Com o Sporting a falhar mais. Raphinha esteve em excelente plano (uma vez mais) e tentou visar a baliza bracarense por inúmeras vezes, ficando sempre a escassos centímetros de ser feliz. Adicionalmente, o jovem Cabral sacou um coelho da cartola (que porém não entrou na "gaiola"): "matou" no peito, evitando a carga de dois defesas que chocaram entre si (momento "Candid Camera"), e depois foi driblando todos os adversários (3) que lhe apareceram pela frente, até se decidir por um remate parado com muita dificuldade e alguma sorte por Tiago Sá. Um momento mágico na Pedreira. Do outro lado, Salin continuou irrepreensível, defendendo tudo o que tinha hipótese de ser parado.
O Sporting não foi feliz - afinal o Bom Jesus, ou o "bom Jesus" (Abel), está em Braga - e perdeu um jogo que até podia ter ganho, mas isso não nos inibe de reconhecer algumas deficiências. Individualmente, a maior delas todas será Ristovski. Esforçado, mas com péssimo domínio de bola e bastas vezes vidrado no esférico, ignorando assim o espaço circundante (remember João Félix?), o macedónio é o elo mais fraco da equipa, agora que "Muttley" Acuña estabilizou a ala esquerda da defesa, substituindo Jefferson. Para ter um jogador assim, com tantas dificuldades com e sem bola, mais vale apostar já em Thierry Correia, jovem da nossa Formação e português. Ou então, avance o Gaspar: sempre podíamos esperar um presente no Natal. (Se bem que, mais do que um Rei Mago, precisavamos era de um Rei Magos, audacioso, assim ao jeito de Allison.) Imaginem o que seria Raphinha se tivesse por trás alguém que efectivamente o ajudasse...Colectivamente, o Sporting causa mais perigo quando tem, simultaneamente, o ex-vimaranense e Jovane em campo. Com estes alas, o jogo é mais rápido, imprevisível e objectivo e as equipas adversárias sofrem mais, pois não andamos a fazer pastéis de massa tenra a meio campo. Concomitantemente, precisamos de mais presença nas imediações da área adversária, pois a falta de concretização deve-se mais ao modelo de jogo do que propriamente a Montero, que tem muito pouco apoio frontal. (Os alas jogam invertidos, supostamente para promoverem o jogo interior, mas a maioria dos seus movimentos visam remates à baliza e não tabelinhas com o ponta-de-lança.) Para isso, temos de abandonar o duplo-pivô e jogarmos num 4-3-3 com os médios a jogarem de perfil, à semelhança do Porto de Mourinho (Costinha, Maniche, Deco). Em Alvalade, na maioria dos jogos, os 3 do meio poderiam ser Battaglia, Bruno Fernandes e Nani. Fora, Battaglia, Gudelj (Wendel) e Bruno Fernandes. Caso contrário, iremos continuar a perder mais pontos e a ouvir a ladainha da falta de concretização.
Ontem, em Braga, vimos o primeiro lugar por um canudo. Um jogo que pode (ou não) ser alegórico da nossa luta pelo campeonato. Um caso de pé frio, mas também de falta de mão nas substituições. Para além das tácticas conservadoras. Uma equipa que se quer campeã não fica à espera que a sorte lhe venha bater à porta, precipita os acontecimentos. É dos livros e os sportinguistas têm memória de elefante: cada vez que deixamos correr o marfim, acabamos a ficar de trombas. Se Peseiro nada mudar, ficaremos assim a modos como a atirar a rasar ao título. Aonde é que eu já vi isto???
Da derrota em Braga. Tal como no ano passado, quando perdemos na Pedreira, repetimos hoje ali o resultado negativo, pelos mesmos números: 0-1. Um resultado que se adequa às expectativas: infelizmente, com o plantel curto que temos esta época e as lesões que vão afectando jogadores nucleares, não seria de aguardar muito melhor.
Das ausências de Bas Dost e Mathieu. Ficou ainda mais evidente, neste confronto com o Braga, como nos falta um avançado posicional na área. Sem o internacional holandês perdemos claramente poder ofensivo: Montero nem de perto se assemelha ao nosso ponta-de-lança titular, que permanece afastado por lesão. Também o ex-Barcelona é um elemento nuclear: a equipa ressente-se com a ausência dele. Aparentemente, estará fora das convocatórias durante um mês.
Da meia hora inicial. Nem um remate enquadrado com a baliza. Muita posse de bola, mas quase sempre inconsequente. Faltou poder de fogo, faltou capacidade de fazer rolar a bola com mais intensidade: a equipa bracarense entrou claramente melhor.
Da perda do combate no meio-campo. A partir dos 60', o treinador do Braga reforçou o miolo do terreno, alcançando supremacia sobre o Sporting. Mexeu mais cedo e mexeu melhor do que o técnico leonino. Com reflexos no resultado.
Do golo sofrido. Tinhamos superioridade na ala (dois contra um) e na grande área (quatro contra três). Mesmo assim, deixámos Eduardo e Dyego Sousa fazerem o que quiseram. Descalabro colectivo no lance que decidiu a partida.
De Montero. Muitos dos nossos leitores vaticinaram que ele marcaria hoje na Pedreira. Pecaram todos por excesso de optimismo. A verdade é que o colombiano nem andou lá perto. Ainda tentou um remate de meia distância, no tempo extra da primeira parte, mas saiu-lhe frouxo, sem perigo algum. Andaremos muito mal se precisamos dele para conseguir vitórias.
De Castaignos. Aos 72', José Peseiro trocou Montero pelo avançado holandês. Que, para não variar, foi uma nulidade: continua totalmente divorciado dos golos e parece jogar com tijolos no lugar das chuteiras.
Da entrada tardia de Jovane. Vai-me custando perceber por que motivo o jovem extremo caboverdiano permanece arredado do onze titular. Hoje entrou apenas aos 72': ficou a impressão de que o Sporting beneficiaria se tivesse contado com ele mais cedo. Não por acaso, Jovane protagonizou o melhor momento do desafio, aos 88', numa jogada individual em que vai fazendo sucessivas simulações, afastando três adversários do caminho, e remata para defesa apertada do guarda-redes Tiago Sá.
Da entrada tardia de Diaby. Pisou o relvado só a partir dos 85', substituindo o irregular Gudelj, quando Castaignos já estava havia 13 minutos em campo. Caso para nos questionarmos se não devia ter sido ele o primeiro avançado a sair do banco para mostrar enfim o que vale de verde e branco.
De ver ex-sportinguistas participarem na nossa derrota. Desde Abel Ferreira - um dos melhores técnicos da Liga portuguesa, afastado de Alvalade há dois anos por motivos nunca explicados - até jogadores como Esgaio e Wilson Eduardo: temos uma tendência incontrolável para pormos profissionais competentes à distância.
De ver o Sporting ultrapassado na classificação. Benfica, FC Porto e o próprio Braga já estão à nossa frente no campeonato.
Gostei
De Raphinha. Hoje não marcou, mas esteve muito próximo. Com dois disparos que rasaram o poste, aos 73' e aos 82'. Fez um excelente cruzamento aos 76' que Coates desperdiçou. E poderia ter marcado mesmo se Bruno Fernandes, em vez de ter optado por fazer tudo sozinho, lhe tivesse endossado a bola aos 75': Raphinha estava em posição frontal para a baliza e dificilmente falharia.
Do grande remate de Nani. Cabeceamento perfeito do nosso capitão, na sequência de um livre apontado por Bruno Fernandes, aos 35'. A bola foi para o ângulo mais difícil, mas o guarda-redes, em voo, conseguiu desviá-la in extremis. Esteve quase a ocorrer um daqueles golos capazes de fazer levantar um estádio.
De Acuña. Adaptado a lateral esquerdo, em benefício da equipa, torna-se uma mais-valia. Não apenas na manobra ofensiva, onde mantém intactas as qualidades que já lhe conhecíamos, como sobretudo em missões defensivas, onde participa nas acções de cobertura com mais eficácia do que Jefferson - desde logo porque nunca desiste de um lance e tem um compromisso com a equipa claramente superior ao brasileiro.
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