Sete jogos depois
Há pelo menos dois anos e meio que não víamos o Sporting jogar tão bem.
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Há pelo menos dois anos e meio que não víamos o Sporting jogar tão bem.
Esta noite acompanhei na televisão a magnífica exibição do veterano Casillas, que defendeu um penálti aos 10', enchendo de confiança o onze portista, que a partir daí embalou para uma vitória folgada (por 3-1) frente ao Lokomotiv em Moscovo. Arrecadando 2,7 milhões de euros e qualificando-se praticamente para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
Enquanto via o jogo ia reflectindo na importância crucial de um guarda-redes na edificação de uma equipa com aspirações a títulos e troféus. E dei por mim a pensar que, embora tenhamos hoje quatro jogadores disponíveis para ocupar essa posição, todos somados não compensam a ausência de Rui Patrício.
As coisas são o que são. Não adianta iludi-las.
Nas últimas nove temporadas - sob as presidências de José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho - o Sporting ficou sempre atrás do Benfica no campeonato português de futebol.
A última vez que ficámos à frente do velho rival foi na Liga 2008/09, quando o presidente leonino era Filipe Soares Franco.
As coisas são o que são.
Leio com espanto, na blogosfera leonina e na própria imprensa, que o Sporting ficou "afastado do título" anteontem à noite. Não é verdade. O Sporting disse adeus ao sonho de reconquistar o campeonato nacional de futebol há dois meses, a 2 de Fevereiro, quando foi perder ao Estoril, com o último classificado da Liga 2017/18.
Chegou lá em primeiro, saiu em terceiro. Despedindo-se não apenas do título mas da hipótese, ainda que remota, de aceder à Liga dos Campeões.
As coisas são o que são, não adianta varrer os assuntos incómodos para debaixo do tapete. Manda a mais elementar honestidade intelectual reconhecer estes factos. E apontar os responsáveis em vez de, bem à portuguesa, empurrarmos os problemas com a barriga.
Aqui há um responsável principal: é o treinador mais bem pago de sempre do futebol nacional, Jorge Jesus.
Por mim, estou farto. E não é de agora.
Cristiano Ronaldo já marcou mais golos (44) nas últimas 48 partidas que disputou pela selecção nacional do que Eusébio (41) nos 64 jogos totalizados ao serviço da equipa das quinas.
O Sporting está no restrito lote das seis equipas europeias que ainda disputam todas as competições.
O nosso percurso europeu nesta temporada já rendeu mais de 20 milhões de euros aos cofres leoninos.
Aconteça o que acontecer, bateremos o recorde de número de jogos disputados por uma equipa portuguesa numa só época: já vamos em 48 - vinte dos quais realizados em 2018.
Bruno de Carvalho deu ao treinador todas as condições para ele atacar o título que prometeu aos sportinguistas. Todas. Não se poupou a esforços financeiros para satisfazer os pedidos - e até alguns caprichos - de Jorge Jesus.
Convém reconhecer, portanto: não é por culpa do presidente que o Sporting deixa de ser candidato ao título a nove jornadas do fim do campeonato. Após perder com Porto e Estoril. Após empatar com Porto, Benfica, Braga, Moreirense e V. Setúbal. Após vitórias tangenciais, quase por milagre, e prestações medíocres frente a essas potências futebolísticas chamadas Rio Ave, Belenenses, Tondela e Moreirense.
Há que prestar-lhe esta elementar justiça.
São jogos como este que nos fazem perder campeonatos. Falhando muito à frente, tirando o pedal do acelerador antes do tempo, "defendendo" o magro 1-0 e cometendo uma grande penalidade ao cair do pano.
Foi o que sucedeu esta noite no Bonfim: quase nada esteve verdadeiramente bem. E quando quase nada está bem encurta-se muito a distância para quase tudo ficar mal.
Jorge Jesus não pode queixar-se de nada. Tem tudo para conquistar o campeonato. Como nunca nenhum treinador teve antes no Sporting.
Com Jorge Jesus, em 2011:
Benfica é o 8.º melhor de sempre na Liga dos Campeões
Com Rui Vitória, em 2017:
Benfica em risco de se tornar a pior equipa portuguesa de sempre na Champions
O Talisca, sozinho, pelo Besiktas contra o FCP marcou tanto como a equipa inteira do Benfica em cinco jogos da Champions.
«O Sporting dispõe da melhor equipa actualmente em competição em Portugal.»
Miguel Sousa Tavares, ontem, no jornal A Bola
Há uma diferença enorme entre falar muito e comunicar bem.
Vamos em primeiro.
Um dia grande para o desporto português e para a cidade de Lisboa, um dia inapagável na história do Sporting. O dia de hoje, com a inauguração do Pavilhão João Rocha. Um sonho antigo da nação leonina tornado realidade pelo presidente Bruno de Carvalho, com o apoio firme de milhares de sócios e adeptos que não ficaram esquecidos neste empreendimento.
Há que dar o mérito a quem é capaz de passar das intenções aos actos neste país onde sobram palavras e escasseiam obras. Agora que venham as enchentes. E as vitórias.
Enquanto uns trabalham para a estatística do futebol interno, o Sporting afirma-se como a única verdadeira potência desportiva nacional que pede meças em número e qualidade e ecletismo de troféus aos maiores clubes da Europa.
É inútil prometer títulos enquanto a equipa joga tão pouco.
Não podemos chamar sucesso ao fracasso.
Portugal é campeão europeu de futebol. Com um treinador português.
Esta é a maior prova de competência dos jogadores portugueses e dos treinadores portugueses.
Há cinco anos que nenhum árbitro português está na alta roda do futebol internacional. Desde que Pedro Proença apitou os jogos dos títulos europeus de clubes e selecções - proeza inédita que o elevou ao patamar supremo da sua categoria profissional.
De então para cá, com outros protagonistas, tem sido sempre a descer. No Euro 2016 não houve nenhum português a apitar.
Daqui se conclui que o sector da arbitragem se tornou, em termos qualitativos, o elo mais fraco do futebol nacional. Os árbitros não podem portanto comportar-se como se fossem o elo mais forte. Porque não são.
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