Às vezes os melhores reforços estão no próprio clube. Carlos Mané foi demonstrando isto ao longo de todo o ano de 2014, tornando-se desde já uma das mais sólidas promessas do futebol leonino. Poderá até, como alguns vaticinam, tornar-se um novo Nani: basta-lhe aperfeiçoar as qualidades que evidencia, trabalhar cada vez mais e nunca perder aquele fundo de humildade que costuma caracterizar os verdadeiros campeões.
Produto integral da formação do Sporting, este jovem extremo - nascido há 20 anos em Portugal, de origem guineense - chegou a capitão da nossa equipa de juniores, onde já dava nas vistas pela inegável destreza técnica, grande velocidade e boa leitura de jogo. A lembrar outros talentos oriundos da academia de Alcochete, como Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma.
A 6 de Outubro de 2013, Leonardo Jardim lançou-o pela primeira vez na equipa principal, frente ao Vitória de Setúbal: jogou apenas nove minutos e causou logo boa impressão junto daqueles que só então o viram actuar.
Ainda na temporada 2013/14 e já depois, com Marco Silva, Carlos Mané foi mantendo presença regular no primeiro escalão. A estreia como titular ocorreu da melhor maneira, a 14 de Janeiro de 2014, com um golo marcado ao Marítimo. Perto do fim do ano, a 26 de Novembro, outro registo a ter em conta: o primeiro golo que marcou numa competição europeia, na partida em casa contra o Maribor.
Etapas de uma carreira em crescendo que todos esperamos ver coroada com títulos no Sporting. Carlos Mané tem qualidades mais do que suficientes para concretizar o sonho de ser campeão. E goza do raro privilégio de estar num clube que sabe aproveitar os valores que forma.
Nesta jornada aconteceu um feito inédito que passou despercebido.
Os três grandes venceram com a particularidade dos golos terem sido apontados por portugueses.
Ricardo Quaresma e Carlos Mané, produtos da escola de avançados do Sporting Clube de Portugal, marcaram para as respectivas equipas e João Capela, produto da escola de avençados do clube da freguesia (ao lado) de Carnide, apontou, também, um bonito golo... falso mas bonito.
Da vitória. A primeira neste campeonato, à segunda jornada. Uma vitória mais que merecida da única equipa que procurou o triunfo do primeiro ao último minuto de jogo.
De Carlos Mané. Mal Marco Silva o mandou entrar em campo, substituindo Rosell mas situando-se nas costas do ponta de lança, a equipa tornou-se ainda mais acutilante. O benjamim do Sporting hoje em Alvalade voltou a empolgar as bancadas com excelentes dribles, mudanças súbitas de velocidade pelos flancos e clara intenção atacante. Mostrou que também sabe ser um homem de área na recarga que deu origem ao nosso golo da vitória, já no segundo minuto de prolongamento final. É claramente o homem do jogo.
Do regresso de Nani.Respirou-se hoje um ambiente de euforia ainda maior do que é hábito nos jogos do nosso estádio com o regresso a casa de um dos melhores jogadores da Europa, formado em Alcochete. Nani fez tudo para corresponder aos calorosos aplausos que recebeu: foi dele que partiram os lances de ataque mais perigosos, numa evidente demonstração de que mantém intactas as qualidades que bem lhe conhecemos. Falta-lhe ainda um pouco mais de entrosamento: nada mais natural pois só teve tempo de fazer dois treinos com esta equipa. Merecia ter marcado o penálti que o guarda-redes do Arouca defendeu, aos 63', mas acabou por ser vítima de um certo deslumbramento ao fazer a "paradinha" em busca de nota artística. Fica-lhe a lição: nunca devemos complicar aquilo que pode ser resolvido de forma simples. Foi bem substituído, 13 minutos depois: já tinha um cartão amarelo e Marco Silva não podia arriscar a presença do Sporting na Luz sem Nani no onze.
De Adrien. Voltou a ser um dos melhores em campo. É o pulmão da equipa. E também o cérebro do onze leonino, capaz de inventar linhas de passe que ninguém mais vislumbra. Além disso tem uma entrega ao jogo digna de rasgado elogio.
De Jefferson. Novamente muito acutilante nas suas subidas pelo corredor esquerdo. E sempre inconformado. Montero desperdiçou no primeiro quarto de hora dois cruzamentos milimétricos que partiram dos seus pés. Voltou a partir dele o centro que deu origem ao golo do Sporting, tal como já tinha acontecido há uma semana em Coimbra. Um cruzamento perfeito, felizmente bem sucedido.
De Esgaio. Rendeu Cédric, lesionado, nesta estreia como titular na equipa principal. E mostrou que tem valor para jogar nela. Muito dinâmico, veloz e com precisão de passe, como ocorreu aos 86' com um cruzamento milimétrico que Capel desperdiçou com uma cabeçada tão frouxa que mais parecia um passe para o guarda-redes do Arouca, Goicoechea. Fica a sensação que chegou para ficar na equipa A.
De Sarr. Segundo jogo a titular, segunda exibição sólida e segura. Muito concentrado, eficaz no corte. É um defesa central de qualidade: parece-me ter o lugar garantido. E poderá fazer esquecer Rojo a curto prazo.
De Tanaka. Entrou em campo aos 76', substituindo Nani. Um quarto de hora depois, revelando sempre grande mobilidade dentro da área, rematou ao poste. Deste lance nasceu a recarga de Carlos Mané transformada em golo.
Da aposta na formação. O Sporting chegou hoje a jogar, em largos minutos do desafio, com seis jogadores formados na nossa academia (Rui Patrício, Esgaio, Adrien, André Martins, Nani e Carlos Mané). Um exemplo para outras equipas que desprezam os talentos portugueses.
Da pressão atacante. Tivemos dois terços de posse de bola. E nunca desistimos, nunca descremos da vitória. O Sporting é assim.
Do apoio do público. Foi constante, do princípio ao fim. Esta equipa merece os adeptos que tem. E os adeptos merecem a equipa que Marco Silva treina.
Da homenagem a Carlos Lopes. O nosso grande campeão, primeira medalha olímpica portuguesa, foi ovacionado em Alvalade. Nunca é em excesso o aplauso que tributamos ao Homem da Maratona, herói de Portugal.
Não gostei
Que a vitória fosse tão sofrida.É certo que Goicoechea fez uma excelente exibição, defendendo três remates que levavam carimbo de golo mais a grande penalidade (mal) marcada por Nani. Mas é excessivo esperar 92 minutos pelo golo que nos garantiu os três pontos neste jogo inaugural em casa da Liga 2014/15.
Que Montero tivesse ficado novamente em branco.E desta vez ninguém pode dizer que foi por falta de oportunidades. Após quase nove meses sem marcar é tempo de o colombiano fazer uma "cura de banco" e dar lugar a outro titular na frente do nosso ataque.
Que não tivesse sido Adrien a marcar o penálti. O nosso médio criativo não costuma falhar uma grande penalidade. Mas Nani insistiu em marcar. Fez mal.
Que não houvesse goleada.Há um ano, também em Alvalade, vencemos o Arouca por 5-1.
Da ausência de William Carvalho, por castigo.Faz sempre falta. Ainda por cima o substituto, Rosell, esteve hoje muito apagado, sem dinâmica atacante. Foi bem substituído ao intervalo.
Do "autocarro" do Arouca estacionado defronte da baliza. A equipa treinada por Pedro Emanuel, que só fez um remate na primeira parte, chegou a ter onze jogadores a defender. Assim é difícil garantir níveis mínimos de qualidade no campeonato português.
Do excesso de cartões amarelos. O árbitro Nuno Almeida exagerou, mostrando oito (quatro para jogadores do Sporting: Nani, Adrien, Jefferson e Carlos Mané). Não havia necessidade.
Muito se gozou com as "queixinhas" sportinguistas na altura dos pré-convocados e convocados para a selecção. Mas o jeitinho que não dava agora, em lugar das caranguejolas que se arrastaram no outro dia contra a Alemanha (Veloso, Meireles, Moutinho), pôr em jogo o meio-campo do Sporting, o que podia ser feito literalmente de um dia para o outro e "chave na mão", com automatismos e tudo. Para domingo, era só pôr William, Adrien e Mané em campo, quase sem necessidade de os treinar. Olha, agora é tarde...
O que dissemos aqui, durante a temporada, sobre CARLOS MANÉ:
- Luís de Aguiar Fernandes: «Foi [ontem] uma noite de estreia para o Carlos Mané, um rapaz que às vezes parece que quer correr mais do que a bola. Com mais maturidade e calma em campo, a sua velocidade pode ser muito importante para desbloquear uns joguitos nos próximos anos.» (6 de Outubro)
- Leonardo Ralha: «Carlos Mané já provou pertencer a uma especial casta de futebolista, como os antecessores Bruma, Nani, Cristiano Ronaldo ou Ricardo Quaresma.» (1 de Dezembro)
- Rui Cerdeira Branco: «Mané vai fazendo o seu caminho com uma boa primeira parte.» (15 de Fevereiro)
- Eu: «Aparece Carlos Mané, livre de marcações mas já em desequilíbrio, com excelente técnica e apurada visão de jogo num extraordinário remate à meia volta, concretizado no momento exacto sem qualquer hipótese para Ederson.» (24 de Fevereiro)
Não sei se tiveram oportunidade de ver o jogo do nosso Sporting na Madeira mas se viram talvez tenham tido a oportunidade de reparar num moço alto e com cara de menino que joga no meio-campo da equipa verde e branca. Um rapaz que não só limpa todos os lances na sua zona de influência, distribui jogo à direita, à esquerda e em lançamento de profundidade como pega ainda na bola e a conduz como um panzer delicado. Ontem, ainda marcou um golo! Se não viram mas querem ver, aproveitem o próximo sábado no jogo contra o Guimarães que se joga no Estádio de Alvalade. É aproveitar porque para o ano é capaz de ficar bem mais caro para o ver jogar ao vivo. Bilhetes de avião, hotel e ainda os bilhetes para entrar em alguns estádios europeus é coisa para custar, tudo junto, o mesmo que uma box em Alvalade.
Quanto ao resto: o habitual. Grande Adrien, grande Jefferson, grande Mané e um treinador que merecerá, um destes dias, um texto a agradecer tudo o que tem feito pelo nosso clube.
Destaque ainda para dois homens da equipa verde-rubra: Danilo (excelente jogador) e Derley (grande avançado). Para mim, era assegurar já a contratação destes dois tipos.
Alguns futebolistas nascem para lançar pânico entre os defesas. E não necessariamente no instante antes de desviarem a bola para as redes, dando uso à cabeça, ou ao pé 'que tinham mais à mão'. Quando se é um extremo capaz de causar esse tipo de pânico, os laterais começam a tremer longe da baliza, logo no instante em que alguém se lembra de fazer o passe para quem os irá desinquietar dentro de instantes, valendo-se de rapidez e habilidade para os reduzir a versões de carne e osso dos pinos usados nos treinos.
Carlos Mané já provou pertencer a tão especial casta de futebolista, como os antecessores Bruma, Nani, Cristiano Ronaldo ou Ricardo Quaresma. De todos estes, o jovem que Leonardo Jardim tem feito debutar na equipa principal parece sobretudo uma versão de Bruma com melhor coordenação de movimentos e capacidade de luta, mesmo quando em confronto com defesas que têm mais um palmo de altura do que o franzino luso-guineense.
Falta-lhe ainda descobrir o caminho terrestre para a baliza adversária e a confiança para apostar no um-contra-um à entrada da grande área. Quando isso acontecer, Carlos Mané será a flecha do futuro, capaz de provocar explosões de alegria nas bancadas.
De mais uma goleada em Alvalade. Foi a terceira, em sete jogos. Desta vez contra o Vitória de Setúbal, por 4-0. Depois do Arouca em casa (5-1) e da Académica fora (4-0).
Que sejamos a equipa mais goleadora.Dezanove golos marcados. À média de quase três por jogo.
Da atitude competitiva da equipa. Já ganhava por quatro golos de diferença e ainda procurava marcar mais. Como se estivesse a começar, com inegável frescura física e uma motivação digna de elogio.
Da exibição de Adrien. Para mim, o melhor em campo. É o patrão da equipa leonina, senhor absoluto do meio-campo, o maior construtor de jogadas ofensivas, sempre à procura de linhas de passe. Excelente executante de mais uma grande penalidade. E ainda fez a assistência para o segundo golo e esteve na origem do terceiro. Um enorme jogador.
De William Carvalho. Um baluarte enquanto médio defensivo, hoje também integrado com total eficácia na primeira construção de lances ofensivos - sobretudo no segundo tempo, quando a equipa melhorou globalmente de rendimento. Desarma adversários com pormenores de notável execução técnica, sem necessidade de fazer falta.
De Montero. Mais dois golos para a sua contabilidade pessoal: e vão nove. Não é apenas o melhor marcador do futebol português: é já um dos melhores no conjunto dos campeonatos europeus.
Do golo de Carrillo. Foi, sem dúvida, o melhor jogo do peruano nesta temporada. Já tinha sido dele o primeiro sinal de perigo, logo aos 6', quando a bola rematada por ele roçou o poste da baliza setubalense.
Da dupla de centrais. Maurício e Rojo não cometeram um erro. Não vale a pena inventar: esta dupla exibe segurança defensiva. Merece ser titular.
Da estreia do paraguaio Piris. Mais preso em terrenos recuados do que Jefferson, que hoje substituiu como lateral esquerdo por lesão do brasileiro, foi-se soltando no segundo tempo e chegou a fazer uma assistência para golo (o terceiro, segundo de Montero).
Da oportunidade dada a Carlos Mané. Jogou poucos minutos nesta estreia na equipa principal do Sporting, mas a sua entrada confirma que Leonardo Jardim aposta nele. Mais um jovem formado na nossa academia.
Do público. Quase 33 mil pessoas estiveram hoje em Alvalade. Dá gosto ver o estádio com tanta gente, que não regateou aplausos à equipa.
De ver novamente o Sporting no topo da classificação. Isto sim, é ser leão.
Não gostei
Do desempenho medíocre dos jogadores setubalenses. Praticamente não deram réplica. Talvez por jogarem com aquele insólito equipamento alternativo, que mais parece o dos coletes reflectores da brigada de trânsito da GNR.
Dos cânticos obscenos a dada altura entoados na bancada sul. Não havia necessidade: injuriar equipas nossas rivais é um sinal de menoridade indigno da grandeza do Sporting.
Foto minha, esta noite, durante o jogo
{ Blogue fundado em 2012. }
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