Uma quadra (lá está, o "brasileirismo" para o recinto onde se disputa um jogo de futsal, podemos considerar que o basquetebol, também, se disputa na quadra) que fala no meu fruto, o fruto da oliveira, a azeitona.
A equipa de basquetebol iniciou a década de 80 como campeã. No ano seguinte voltaria a vencer até que a secção de basket seria extinta, não iniciando a época de 82/83, pelo que é caso para dizer que até ao lavar dos cestos houve vindima...
O nosso "cinco base" nesse período era formado por Augusto Baganha (eu sei, eu sei, o do IPDJ), o extraordinário e certeiro Carlos Lisboa (e ainda não haviam "triplos"), o lendário Rui Pinheiro, Israel (selecção do Brasil e vice-campeão mundial de juniores) e um americano (John Fultz ou Mike Carter). Os treinadores foram Adriano Baganha (irmão mais velho de Augusto, na primeira época) e Mário Albuquerque (na segunda época), ambos ex-jogadores de um clube que conquistou 4 títulos nacionais em 7 anos.
Lembro-me muito bem de os vêr jogar no Pavilhão de Alvalade, nomeadamente do jogo da consagração contra o Benfica em que Carter, na comemoração do título, subiu à tabela e foi cortar as redes que envolviam o cesto.
Baganha era o organizador do jogo, o base. Lisboa era extremo, mas muitas vezes recuava para fazer de segundo base, constituindo-se como o faról da equipa, além de manter uma média superior a 20 pontos por jogo. Juntamente com Rui Pinheiro e Mário Albuquerque formava o trio de jogadores proveniente de Moçambique. Rui era um extremo com uma média de pontos sempre consistentemente acima de 10 por jogo. Israel e Carter formavam a eficiente dupla de postes, destacando-se pelos pontos marcados e pelos ressaltos conquistados.
Carter (média de 20.6 pontos), Fultz (30.8) e Mark Crow (33.9, não foi campeão por um lance livre na época 79/80) constituiram o lote de americanos nessa época dourada do basquetebol leonino.
Desses tempos, recordo com saudade um jogo entre o Sporting e o todo-poderoso Barcelona, proveniente de uma liga muito mais competitiva (o Real Madrid seria campeão europeu nesse ano, o próprio Barcelona seria finalista vencido da Taça das Taças, no ano seguinte). Decorria o Torneio Utilmóvel (penso que era este o nome do certame) e num esforço de divulgação dos jogos e da modalidade, os promotores deslocaram-se às escolas e distrubuiram convites. Assim foi também nos Salesianos e pude ir vêr uma partida brilhantemente vencida pelo Sporting, por 83-71, com 37 pontos marcados por Crow. Épico!
Um amigo meu, adepto do clube rival, perguntou-me durante um almoço qual a razão de na página oficial do meu clube não estarem identificados os títulos obtidos no Voleibol e no Basquetebol.
Fui ver e... na página oficial do clube, no link do principal palmarés, não há qualquer alusão aos oito campeonatos nacionais ganhos em qualquer das duas modalidades.
Uma instituição partidária do eclectismo não pode descurar estas situções, deve respeitar as modalidades e o esforço dos profissionais que "lutaram" para levar o nosso emblema ao topo.
Tenho imensa pena de que o Sporting já não tenha basquetebol. Desde muito novo, talvez desde os 10 anos, este é o meu desporto preferido. Lembro-me de o primeiro livro de não ficção que pedi ao meu pai, por volta dessa idade, ter sido sobre basquetebol, já não sei o título, mas recordo-me bem de ser uma edição brasileira e o seu autor Moacyr Daiuto. Não sei de onde nasceu a paixão, mas provavelmente terá resultado de alguma influência das aulas de educação física no Pedro Nunes, liceu que frequentei até ao 5º ano, hoje 9º. Um pouco mais tarde, já no 7º ano, o liceu que eu frequentava, o Salvador Correia, em Luanda, organizou uma viagem de finalistas a Moçambique. No dia da chegada à então Lourenço Marques, alguém me informou de que, nessa noite, se jogaria um Sporting-Académica, ambos desta cidade. Lembro-me de, até à hora do jogo, entre duas das melhores equipas portuguesas desse tempo, mesmo ansioso por explorar uma cidade desconhecida e tão atraente, eu não ter pensado em mais nada. Fui ao jogo, na companhia de conhecimentos locais, e lembro-me de ter assistido a um grande espectáculo, em que, por azar, o Sporting de Lourenço Marques, por que vibrei como se se tratasse da casa mãe, perdeu.
Nesses tempos, o Sporting chegou a ter excelentes equipas de basquetebol, tendo sido no final dos anos 60 campeão nacional, com jogadores, se não estou enganado, como Sobreiro, meu contemporâneo, embora muito mais velho, no Pedro Nunes e excelente jogador de andebol no Passos Manuel, Encarnação, José Mário, José Augusto, Guimarães e outros de quem lamento não me lembrar neste momento. Além, naturalmente, do Prof. Hermínio Barreto, nome muito grande entre todos os técnicos, de todas as modalidades, que alguma vez honraram o clube com os seus conhecimentos e o seu comportamento desportivo. Mais tarde, apareceram jogadores como Kit Jones, um americano excepcional que deixou grandes saudades, o seu irmão Jim, Carlos Sousa, Nelson Serra, Mário Albuquerque, Rui Pinheiro, Quim Neves, Carlos Lisboa, talvez o melhor jogador português de sempre, Augusto Baganha, Tomané e tantos outros que é impossível estar agora a enumerar.
Bem sei que os tempos são outros, que a capacidade financeira para nos aventurarmos em cometimentos que não há muitos anos se nos apresentavam como naturais é bastante reduzida, mas, de qualquer maneira, interrogo-me sobre a real impossibilidade de regressar a uma modalidade tão espectacular, cada vez mais popular e que tantas glórias e boas recordações nos legou. Será possível sonhar com projectos de formação,para o basquetebol e para outras modalidades que também o merecem, inspirados, com as necessárias adaptações, no modelo criado para o futebol?
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