Não idolatro treinador algum. Nem sequer Rúben Amorim. Nem Pep Guardiola.
Mas recuso ler uma vitória por 3-0 contra a Hungria da mesma forma que uma derrota por 2-4 contra Alemanha. Usando exactamente as mesmas palavras e os mesmos argumentos. Só porque não ou só porque sim.
Também recuso recorrer a chavões, próprios das conversas de café.
Alguns exemplos:
- "Ah e tal, eu não apoio a selecção porque não estão lá a jogar os jogadores do Sporting." Mas se estivessem, quem fala assim já apoiava. São princípios de geometria muito variável. Não são os meus. Desde logo porque não confundo Clube com selecção.
- "Ah e tal, eu detesto a selecção porque é a do Mendes e não é de Portugal." Mas quando esta "selecção do Mendes" venceu o título europeu em 2016, maior proeza de sempre do nosso futebol, muitos dos que falam assim andaram a exibir bandeiras e a cantar o hino. Até neste blogue isso ficou patente, designadamente nas caixas de comentários.
- "Ah e tal, quando Portugal ganha é sempre com sorte." Levando este raciocínio à letra, concluímos então que não perdemos por erros próprios frente à Alemanha: só perdemos porque tivemos azar. O que não explica coisa nenhuma. E deixa o debate no grau zero.
Só para concluir, sem rodeios: eu apoio sempre a selecção.
Seja quem for o seleccionador.
Haja ou não jogadores do Sporting no onze titular.
No fim, aplaudo ou critico. Mas antes e durante estou sempre a apoiar.
Era assim com António Oliveira, com Humberto Coelho. Foi assim com Scolari, continuou a ser assim com Paulo Bento. É assim com Fernando Santos.
Será assim com o próximo seleccionador, chame-se ele como se chamar.
Até pode chamar-se Jorge Jesus, como alguns parecem desejar cada vez mais.
«Até ao jogo de terça-feira, em Budapeste, contra a Hungria, a selecção nacional só tinha vencido na estreia da prova por duas vezes: Inglaterra, por 3-2, no Euro 2000; Turquia, por 2-0, no Euro 2008. Desta vez, no Euro 2020, num duelo em que teve muito a desfavor - ambiente hostil e uma equipa superfensiva -, Portugal mostrou uma maturidade pouco habitual e o plano de jogo definido por Fernando Santos funcionou quase na perfeição.»
«Convém referir que, até defrontar os campeões europeus com quase 60 mil fervorosos adeptos no Puskás Arena, a Hungria somava 11 jogos consecutivos sem perder. (...) Não cedeu contra adversários da classe média-alta do futebol europeu: Rússia, Sérvia, Turquia, Islândia e Polónia.»
«Durante quase uma hora, Portugal dominou por completo a Hungria, que nunca conseguiu fazer mais do que meia dúzia de passes consecutivos. Até aos 50 minutos, quando Szalai começou a arriscar remates fora da área, Rui Patrício foi mais um espectador. Até então, Portugal teve uma mão-cheia de ocasiões de golo claras.»
«Contra uma equipa que nunca correu riscos e defendeu, quase sempre, com os 11 jogadores nos primeiros 40 metros à frente da baliza, Portugal mostrou maturidade ao ser paciente na procura do momento certo de encontrar os desequilíbrios que permitissem criar oportunidades. E conseguiu-o.»
«Olhando para as estatísticas da primeira jornada de todos os grupos do Euro 2020, apenas a Espanha (75%), que jogou em casa, conseguiu ter mais posse de bola do que Portugal (65%), mas, em Sevilha, a Suécia criou um par de oportunidades claras de golo, algo que a Hungria nunca conseguiu em Budapeste.»
Excertos de um artigo intitulado "O que correu bem na estreia de Portugal? Quase tudo". De David Andrade, no Público
Embora este texto seja escrito depois de almoço, já por várias vezes alertei para isto; o Benfica é de São Domingos de Benfica, acho bem que seja recebido na junta ou na câmara da cidade da qual essa junta faz parte, o Porto é do Porto que seja recebido na câmara respectiva, quando os presidentes da câmara não sabem fugir à futebolândia, o Sporting (vou mudar de parágrafo, isto é importante).
O Sporting é de Portugal.
Querem homenagear o Sporting, ok.
No palácio que a república roubou aos monges beneditinos (Assembleia da República, para os mais distraídos).
A equipa do Sporting no primeiro patamar.
Os deputados que representam a nação, Portugal, nos degraus mais abaixo, todos a bater palmas e a gritar viva o Sporting.
Isso sim, seria o menos importante a homenagear o mais importante.
Ainda estamos a tempo.
(uma das imagens representa o Belenenses Verdadeiro, um dos clubes de Lisboa, nestes dias, parente pobre da tal câmara).
Moussa Marega, com um gesto veemente, fez agitar o pântano. Atingiu o limite da paciência, encheu o saco e disse "basta". As imagens que o mostram a abandonar o Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, estão a dar justamente a volta ao mundo. Num grito de revolta contra o racismo. E contra a violência no futebol, que começa por ser violência verbal antes de resvalar para a violência física.
Que sirva de exemplo para muitos outros - tenham a cor de pele que tiverem. Inclusive para aqueles que, em certos estádios e em certos pavilhões, imitam o som do very light que matou um adepto de futebol numa bancada do Estádio Nacional, com o filho menor - então com nove anos - a presenciar tão macabra cena, em plena final da Taça de Portugal.
Jamais esqueceremos a data: 18 de Maio de 1996. Chamava-se Rui Mendes, esse malogrado adepto de futebol. Que era também adepto do Sporting.
Vergonhosamente, a tal final continuou a disputar-se como se nada fosse, sem que o jogo fosse interrompido.
Vergonhosamente, o som desse very light continua a ser replicado por irmãos de emblema do assassino. O que é outra forma de continuar a matar Rui Mendes, quase um quarto de século depois.
Sem que ninguém rasgue as vestes. Sem que nenhuma alma sensível solte um brado de indignação.
Oitenta a noventa por cento dos jogos dos três grandes são contra equipas galhardas, manhosas e de contra-ataque, que se atiram para o chão aos 70 minutos quando se apanham a ganhar. É uma estratégia e também não é criticável (à luz dos seus interesses). Os ditos grandes não fazem outra coisa a não ser disputar jogos de solteiros e casados e não jogos como o Sporting-PSV, o Young Boys-Porto ou o Leipzig-Benfica. Pouco importa quem ganhou. Vi os três jogos, corridos, disputados, sem manhosice e chico-espertice, além da adulta, própria do futebol de alto nível, bem filmado, vivo. Como espetáculo desportivo, a nossa bola é televisivamente deplorável. Estádios quase todos horrendos, mal iluminados, com ervados indiscritíveis, com cornetas e bombos em cima do comentário, público que vaia o árbitro por tudo e por nada, que quer ganhar de preferência com golos com a mão, dão ao nosso futebol uma atmosfera de tasca que não se compara com as ligas inglesa, espanhola, francesa, holandesa até a grega (do que vi). É curioso que o brilho de Ronaldo tenha diminuído na Liga que tem das piores imagens televisivas destas todas, a italiana. Dois ou três jogos por ano assim teriam graça, como tem graça comer em roulottes nos festivais, mas ser quase sempre assim puxa a nossa Liga muito lá para baixo. Acabamos por ver os jogos à espera que o nosso clube vença e o rival perca, não para ver e fruir futebol. Porque hoje lá estaremos em Barcelos para mais um solteiros e casados
O futebol tem destas coisas. Durante a semana, todos os especialistas advertiam para o perigo das bolas paradas uruguaias, mas acabámos por ser nós a marcar, após um canto marcado à maneira curta. Os mesmos teóricos perspectivavam um duelo entre os dois poderosos avançados sul americanos e os nossos centrais Pepe e Fonte. Acontece que Cavani foi decisivo, mas apenas quando entrou alternadamente nos espaços ocupados por Raphael e Ricardo, dois laterais.
Na primeira parte, a Portugal, o que faltou em profundidade sobrou em lateralização. Assim, sem comprimento e só com largura, aos lusos faltou área, mais concretamente, grande área. Tal como uma equipa de rugby, os portugueses chegavam às imediações do último reduto uruguaio mas depois passavam a bola, uns aos outros, sempre para trás. Dispostos num 4-4-2 com os avançados muito abertos, os nossos só faziam cócegas à defesa adversária. Guedes foi igual a si próprio - uma nulidade neste Mundial -, João Mário mostrou a incapacidade habitual de queimar linhas e jogar para a frente e Bernardo, na primeira parte colocado na ala direita, continuava a sentir a falta dos movimentos específicos criados pelos seus colegas do Manchester City para o libertar.
Na segunda parte, finalmente Fernando Santos - três jogos e meio depois - colocou Bernardo a ver o jogo de frente para a baliza contrária. Com isso, a nossa equipa melhorou bastante, passando a ter um jogador capaz de perfurar pelo centro e de dar critério ao jogo ofensivo, com as costas protegidas por um William imponente e batalhador na sua zona de acção. O problema é que nos continuou a faltar espontaneidade na cercania da área uruguaia. Fernando Santos ainda tentou alterar este status-quo colocando em campo Quaresma, mas infelizmente retirou Adrien em vez de João Mário, este último transformado num insuportável burocrata do passe curto e rodriguinho inconsequente.
Servidos por Bernardo, Quaresma e Ricardo centravam com perigo mas Godin e Gimenez eram Adamastores apostados em nos retirar a (boa) esperança. Do outro lado, Raphael, Guedes e João Mário mastigavam o jogo, perdendo sucessivas oportunidades de cruzamento.
Fernando Santos substituiu Guedes por André Silva e, mais tarde, João Mário por Manuel Fernandes. Este, em apenas 10 minutos, fez mais remates e passes para a frente que o jogador do West Ham no jogo todo, mas já não foi a tempo de alterar o fado português.
Um dia marcante para o futebol mundial, assim a modos de um render da guarda de Bolas de Ouro, com Cristiano Ronaldo e Leonel Messi a estenderem a passadeira aos seus sucessores. O mundo esperava um duelo Messi-Ronaldo mas vai ter de se contentar com um despique Mbappé-Cavani. E Neymar está à espreita...
Há aquela velha anedota do homem que reiteradamente se queixava a Deus da falta de sorte, por nunca ganhar o Euromilhões. Um dia, o Senhor, cansado, respondeu-lhe, pedindo-lhe para jogar. É que sem jogar, não se pode ganhar. Mesmo jogando pouco, ainda assim Portugal ganhou o Euro(milhões). Hoje, mesmo com mais posse de bola, faltaram soluções de jogo interior, combinações e apoios frontais e Deus premiou um homem e o seu sofrimento: Oscar Tabarez. Fez-se justiça.
A partida disputava-se em Saransk, na Mordóvia, região russa que Gerard Depardieu escolheu para residir, trocando o imposto para ricos em França (75%) por uns meros 13%.
Fernando Santos é um homem justo, um meritocrata e, por isso, lançou Quaresma e André Silva de início, em detrimento de Bernardo e Guedes que têm passado ao lado deste Mundial. Portugal começou bem, a circular a bola com rapidez. Ronaldo lançou-se em velocidade entre três adversários e rematou com perigo. Pouco tempo depois, João Mário mostrou que a sua relação com o golo é semelhante à que um gato tem com a água.
Após esta entrada forte, o jogo tornou-se previsível. A equipa lusa voltou à lentidão de processos a meio campo que nos vem habituando. A excepção era Adrien, que ia ligando os sectores e criando alguma dinâmica. Numa dessas acções tabelou magistralmente, de calcanhar, com Quaresma e a defesa iraniana estendeu o tapete (persa) para a trivela do Mustang. Bola no ângulo superior esquerdo. Um golo magistral!
Na segunda parte, Portugal regressou a dominar as operações mas com pouca profundidade no seu jogo. Após uma penetração na área de Ronaldo, o VAR entrou em cena pela primeira vez. Penálti! Cristiano partiu para a bola e, para espanto de todos, mostrou que é humano. Aliás, o craque português não esteve feliz no jogo como se lhe faltasse uma concorrência do outro lado que o motivasse para ir mais longe.
Os iranianos nunca baixaram os braços, mas infelizmente Ronaldo e Cedric também não. Penso que o árbitro "trocou as voltas": à primeira, salvamo-nos de perder o nosso capitão e melhor jogador (segunda decisão do VAR); à segunda, penálti, forçado, contra (terceira decisão do VAR) e golo do Irão. Festa breve dos persas pois, quase em simultâneo, a Espanha empataria contra Marrocos, voltando a pôr os os pupilos de Queiroz fora do Mundial. Nos últimos minutos, os iranianos ainda podiam ter ganho mas o remate acertou na malha...lateral, apurando-se assim os portugueses para os oitavos-de-final, onde defrontarão o Uruguai, Sábado, em Sochi, no Mar Negro.
Em conferência de imprensa, Carlos Queiroz mostrou ainda haver sequelas do episódio "perguntem ao Queiroz", da África do Sul. Queixou-se de que só 3 jogadores portugueses o cumprimentaram e usou mil e uma vezes, numa longa narrativa, a expressão "elbow", referindo-se ao lance que envolveu Cristiano Ronaldo. A mim, soou-me a dor de cotovelo...
Adrien e Pepe foram os nossos melhores jogadores. Ricardo Quaresma foi o génio da lâmpada que soltou a magia esta noite na Mordóvia. Os restantes não deslumbraram, embora se registe a melhoria de Raphael Guerreiro. As entradas de Bernardo e de Moutinho foram mais para arrefecer o jogo. Guedes mal aqueceu, sequer.
Muita reza deverá ter feito D. Fernando, o infante Santo(s) da lusa nação, que nunca viu a equipa por si liderada libertar-se da masmorra táctica engendrada pelos mouros comandados por Hervé Renard. Sem bola, Portugal foi para uma batalha com as pantufas de João Mário contra uns magrebinos armados até aos dentes. Nesse sentido, não foi surpreendente para ninguém assistir às constantes invasões marroquinas, que privilegiaram flanquear os portugueses pelo seu lado esquerdo, onde o nosso Guerreiro (Raphael) sentiu o poder das garras de um adversário com o diabo no corpo (Amrabat).
Enquanto o jogo foi jogo e não foi guerra, Portugal dominou. Assim, e para não variar, voltámos a marcar cedo. Ronaldo (quem mais?) compareceu a uma assistência de Moutinho (o melhor luso) e concretizou um "penalty" de cabeça. Pouco tempo depois, correspondendo a um passe de Raphael Guerreiro, CR7 rematou rente ao poste. O problema é que o domínio da equipa das quinas só duraria uns 10 minutos...
A partir daí, os avanços marroquinos seriam uma constante. Aos 11 minutos, Rui Patrício defendeu um cabeceamento perigoso e, logo depois, foi o eminente Moutinho a salvar um golo iminente. Até ao intervalo, a equipa liderada por Renard tomou conta do meio campo e Amrabat colocou a cabeça de Guerreiro a andar à roda, perfurando uma e outra vez e centrando com intenção maldosa. A excepção à regra foi um passe açucarado de Cristiano para Guedes, isolado, que se perdeu por falta de eficácia do valenciano.
Para a segunda parte, voltámos com os mesmos jogadores, apenas com umas "nuances" de troca de posicionamento entre João Mário e Gonçalo Guedes. O 4-4-2 luso não funcionava e Guedes, João Mário e Bernardo Silva eram totalmente inoperantes. Assim, após uma defesa salvadora de Rui Patrício, Fernando Santos tentou alterar algo, colocando Gelson (saiu Bernardo) na ala direita e alterando o esquema para um 4-3-3 ou, mais concretamente, um 4-2-3-1. Nada de significativo se alterou até porque o jovem da Formação do Sporting nunca conseguiu ter espaço para aplicar a sua velocidade. Em conformidade, o treinador português voltou a mexer, desta vez fazendo entrar Bruno Fernandes para o lugar de um desinspiradíssimo e pouco combativo João Mário. Mais uma vez, não resultaria. Desde os 70 minutos, os magrebinos instalar-se-iam nas imediações da baliza de Rui Patrício, em sucessivas vagas de ataque, e de lá não sairiam praticamente até ao fim do jogo. Adrien ainda refrescaria o miolo, substituindo o esgotado Moutinho, um homem que se entregou à luta sem vacilar.
Em resumo, mais uma exibição descolorida da selecção nacional. Hoje valeu a atenção e reflexos de Rui Patrício, a combatividade de Moutinho e o habitual engodo pelo golo de Cristiano Ronaldo. E, claro, a já lendária estrelinha da sorte de Fernando Santos, a qual se sobrepôs à existente na bandeira marroquina. Destaques ainda para Cedric, bem melhor a defender que Guerreiro e para Fonte, mais esclarecido que Pepe. William tentou arrumar a casa, ganhando e perdendo bolas a meio campo.
Triunfo muito lisonjeiro para Portugal que tem agora quatro pontos, fruto de uma vitória e de um empate, bastando uma igualdade frente ao Irão para a tão desejada qualificação para os Oitavos-de-final. 2 jogos, 4 golos marcados, todos "by CR7". Precisamos de mais, de muito mais. Temos capacidade de sofrimento mas está a faltar a magia dos desequilibradores. Sem eles, não teremos condições de ir muito mais longe. É que Ronaldo é excelente, mas nem sempre pode valer por três...
Estava o jogo na sua alvorada e já Cristiano Ronaldo "comia" Nacho(s) como aperitivo para o que viria a seguir. Finta, falta, penálti e primeiro golo. De seguida, servido por Bruno Fernandes, CR7 assistiu auspiciosamente Gonçalo Guedes mas ao valenciano faltou espontaneidade. Portugal era mais perigoso mas a Espanha marcou numa jogada atípica, que foi uma traição ao seu tiki taka: lançamento longo para Diego Costa e este, sozinho contra três defesas, conseguiu empatar.
Os "nuestros hermanos" ficaram por cima do jogo e Portugal não mais conseguiu atinar com o passe/repasse espanhol. Acontece que o futebol é imprevisível e após um remate forte de Cristiano, De Gea abriu a capoeira, permitindo aos lusos irem para o intervalo na frente.
No segundo tempo intensificou-se a pressão espanhola. Os portugueses defenderam um livre como se fossem uma equipa dos regionais e de uma forma simples a Espanha chegaria a nova igualdade. Quase de seguida, os comandados de Fernando Santos mostraram falta de intensidade defensiva, desperdiçaram duas/três oportunidades de aliviarem a bola das imediações da sua área e esta sobrou para Nacho que marcou um golaço.
Subitamente, estávamos pela primeira vez em desvantagem no marcador e a Espanha parecia uma Armada Invencível. Mas, o nosso Francis Drake, o capitão Cristiano Ronaldo não dorme em serviço. O madeirense ganhou uma falta à entrada da área e ele próprio a converteu, aplicando um remate potente com a parte de dentro do seu pé direito que contornou sublimemente a barreira espanhola e entrou junto ao ângulo superior da baliza espanhola. De Gea, colocado do outro lado, permaneceu imóvel, olhando, qual controlador aéreo. O mundo inteiro pôs as mãos na cabeça, Florentino Perez colocou as mãos na carteira. É que tudo leva a crer que este "hat-trick" lhe vai sair muito caro.
E assim terminaria um jogo em que, se a Espanha foi como o ferro (Hierro, em castelhano), Ronaldo foi como o aço.
Portugal revelou desinspiração na frente (Guedes e Bernardo), falta de intensidade no miolo (William e Moutinho) e fragilidade na zona central (Pepe e Fonte). É justo dizer que hoje (ou quase sempre?) Cristiano foi o salvador da pátria.
Vêr a bola rolando sobre a relva num jogo da Selecção é natural, o que não é natural é vêr Rolando sobre a relva a jogar à bola pela Selecção. Mas não foi só o marselhês que esteve mal, visto que ao seu lado a Fonte secou. Acrescente-se a presença de André Gomes como trinco, de um ainda pouco rodado Adrien no centro do campo e de um(a) Cancelo(a) sempre aberto(a) às investidas holandesas e já não haveria seguradora que pudesse cobrir o risco de acidente.
Portugal, ao contrário do que costuma ser a nossa atitude contra a Holanda, decidiu tentar assumir as despesas da partida, mas com as linhas muito distantes entre si acabou por facilitar o invulgarmente cínico jogo holandês, permitindo transições cirúrgicas donde resultaram três golos sofridos na primeira parte.
A segunda parte foi um pouco melhor, mas os golos de Ronaldo não apareceram, as trivelas de Quaresma continuaram no balneário e, para piorar a situação, do outro lado esteve um inspiradíssimo Jasper Cillessen a manter a sua baliza inviolável. Paradoxalmente, os melhores jogadores da nossa Selecção foram os que jogam em Portugal: Gelson Martins, incansável a fazer todo o corredor pós-expulsão de Cancelo, foi de longe o melhor e Bruno Fernandes tentou remar contra a maré. Nota positiva também para São Patrício que não sofreu qualquer golo nesta dupla jornada helvética...
Derrota importante para recentrar os pés na terra e perceber que temos um longo trabalho pela frente. A defesa, nomeadamente a sua zona central, preocupa e muito. Volta Pepe!!! E, já agora, talvez não seja mal pensado o regresso de Éder. Embora falhe golos a 2 metros da baliza como André Silva, pelo menos tem a meia distância. E é talismâ!
Graças ao Sporting, com a vitória no Cazaquistão, as equipas portuguesas somaram pontos na classificação da UEFA, prestigiando o futebol nacional. Aliás foi mesmo só graças ao Sporting. Porque FC Porto (em casa) e Braga (fora) perderam. O Benfica, nem me recordo com quem jogou.
Num "remake" quase perfeito da final do Euro 2016 de futebol, o nosso melhor jogador (Ricardinho) lesionou-se, mas a cerca de 1 minuto do fim do prolongamento surgiu o golo da vitória (3-2). O nosso 1º campeonato europeu.
PORTUGAL!!!
Um pequeno GRANDE país é, simultaneamente, campeão da Europa em futebol e futsal. Parabéns a todos e, em especial, aos NOSSOS André Sousa, Pedro Cary, João Matos e Pany Varela.
Dizem-me que as "redes sociais" cá do burgo se encheram nas últimas horas de tugas indignados a disparar sarcasmos em diversos tons contra Cristiano Ronaldo, ontem eleito pela quinta vez melhor profissional de futebol do mundo. Preferiam talvez o argentino Messi, como se o nosso compatriota não tivesse conquistado só neste último ano a Liga dos Campeões, o campeonato espanhol e o Mundial de clubes, além de ter integrado a selecção portuguesa que subiu ao pódio da Taça das Confederações.
É sina nossa: quando alguém cá nascido e aqui criado se destaca, erguendo-se acima da mediania, logo sente os conterrâneos a crivá-lo de "fogo amigo", com palavras quase tão mortíferas como punhais. A inveja é uma espécie de passatempo nacional exercido com prodigalidade. E quanto mais alto está o alvo, mais se enfurece a legião de detractores.
Uma das críticas recorrentes a Cristiano Ronaldo, no vespeiro das redes, relaciona-se com o idioma: acusam-no de ter um domínio insuficiente do português. Tomaram muitos destes anónimos internautas que o apontam de dedo em riste - analfabetos funcionais - exprimirem-se tão bem não apenas na nossa língua mas também em inglês e castelhano, como se expressa o mais célebre n.º 7 do futebol à escala planetária.
Por mim, gostaria de ver muitos dos nossos políticos, que mal chegam a Badajoz desatam logo a palrar "estrangeiro", comunicar em português perante plateias internacionais como Ronaldo fez na gala da FIFA, recorrendo com orgulho ao idioma de Camões com o mundo a escutá-lo. Senti-me orgulhoso enquanto compatriota. E senti também orgulho pelo miúdo pobre do Funchal que subiu a pulso no desporto e na vida, à custa de muito talento, muito esforço e muito brio. Dando autênticas lições de tenacidade a milhões de meninos pobres que sonham conseguir o mesmo nos mais diversos recantos do planeta.
Tento imaginar os adeptos argentinos a torcer por Ronaldo enquanto lançam impropérios a Messi. Não consigo: esta é uma originalidade cá do torrão, nada transmissível. Padecemos de endémica alergia ao mérito enquanto prestamos tributo recorrente à mediocridade mais rasteira. Se existe sintoma do nosso atraso estrutural, no capítulo das mentalidades, é precisamente este. Que nos tem levado, geração após geração, a marcar golos consecutivos na própria baliza.
Para o fanatismo lampiónico, o facto de Portugal ter conquistado o Campeonato da Europa e qualificar-se para a Taça das Confederações - tudo pela primeira vez na história mais que centenária do nosso futebol - é uma "novela". Basta consultar as caixas de comentários deste blogue para se confirmar isso. Estes lampiões mal conseguem esconder a azia, que aliás se compreende: viram a selecção nacional subir ao pódio europeu, a 10 de Julho, sem um só jogador encarnado no onze titular... Por aqui se vê o "portuguesismo" desta gente. Cega pela clubite, põe a agremiação à frente do País. Entre o Barbas e o Presidente da República, representante máximo dos portugueses, eles preferem abraçar o Barbas.
Uma diferença que não vi ser muito acentuada no jogo que disputámos sábado passado: de um lado, o do Sporting, a equipa entrou em campo com sete titulares portugueses; do outro, o da equipa insular, o onze inicial incluía sete brasileiros. Até no comando técnico das duas equipas esta diferença era notória: treinador português no Sporting e brasileiro no Marítimo.
A revolução tranquila que tem vindo a processar-se no Sporting também passa por isto: prioridade ao mérito e à competência dos profissionais portugueses. Tanto a treinar como a jogar. Porque é possível e desejável, também no futebol, confiar nos valores nacionais. Queremos fazer a diferença igualmente neste plano. Não por acaso, fomos o clube que contribuiu com mais profissionais dos seus quadros para a conquista do recente campeonato que inscreveu o nome de Portugal na nobre galeria dos campeões da Europa.
Desculpem insistir, mas, quanto mais penso na noite mágica de 10 de Julho de 2016, mais fico convencida de que muito daquele jogo se jogou fora do campo.
A final do Euro 2016 teve dois momentos decisivos, que Portugal, com uma perspicácia incrível, soube aproveitar em seu favor. O primeiro foi a entrada dura de Payet, que lesionou Ronaldo, um rude golpe para a equipa e para todos nós, que tanto sonhávamos com o triunfo. E, ironia do destino, foi mesmo aí que ele começou! Fernando Santos e Ronaldo souberam virar o feitiço contra o feiticeiro. A partir do momento em que o nosso capitão deixou o campo numa maca, desfeito em lágrimas, Portugal tomou conta do estádio de Saint Denis. Uma nuvem de mau agoiro passou a pairar em cima dos franceses, muitos se devem ter perguntando se tinham ido longe demais, naquela estratégia combinada de antemão (talvez com o árbitro). E tiveram mais dificuldades em superar o sentimento de culpa, do que os portugueses em compensar o golpe.
Quem pode imaginar o que se passou nos balneários portugueses, durante o intervalo? Não sou mosca, nem tenho qualidades de vidente, mas arrisco dizer o seguinte:
Ronaldo não estava, afinal, seriamente lesionado. Não seria lógico que ele assistisse à segunda parte do encontro no banco dos suplentes? Não o fez! Porquê? Porque, em conjunto com Fernando Santos, disse aos colegas: segurem o jogo, o mais importante é não sofrer golos, enquanto se desgastam os franceses e se força o prolongamento; nessa altura, Ronaldo aparecerá.
Durante a segunda parte, todos se perguntavam onde estaria Ronaldo, imaginando os cenários mais pessimistas. Sim, o comentador alemão da ARD, que nunca morreu de amores por ele, perguntava-se onde estaria, se já teria ido para o hospital… E lamentava não ter informações.
Quase no final dos regulamentares 90 minutos, aquela bola ao poste dos franceses dançou sobre a linha, mas não entrou - a confirmação de que, desta vez, a sorte estava do nosso lado. E, acabado o jogo, Ronaldo fez a sua entrada triunfal, de joelho ligado, mas pelo próprio pé!
A fénix renascia das cinzas, o segundo momento decisivo da noite! Nunca me esquecerei da surpresa que senti, quando as câmaras o mostraram. Ele e Fernando Santos davam o segundo golpe naquela guerra psicológica. E os franceses acabaram por capitular. Na segunda parte do prolongamento, foram eles que começaram a rezar pelos penáltis, não nós! Éder, o herói, teve sangue-frio, teve pontaria… Depois de ludibriar a defesa abananada de uma equipa de rastos.
Na sua guerra psicológica, Fernando Santos e Ronaldo correram muitos riscos. Mas o que tinham a perder?
Jogaram os trunfos certos, nos momentos certos. Tudo é psicologia, nesta vida.
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