«Falar de Pedro Gonçalves é lembrar o futebol na sua pura essência, aquele futebol que se vê nas ruas das cidades, vilas e vielas mais recônditas deste país, onde a quietude dos lugares consegue, ainda, resistir ao bulício das sociedades modernas. Aquele futebol praticado de forma informal e geralmente não regulamentada. É nessas ruas, praças e pracetas, terrenos baldios e outros espaços, iguamente disponíveis, que despontam aqueles que nasceram para o futebol, aqueles a quem chamamos predestinados e cujo talento inesgotável vai muito além dos métodos padronizados das academias.»
Gyökeres e Pedro Gonçalves celebram com alegria um dos golos em Alvalade ao V. Guimarães
Foto: Manuel de Almeida / Lusa
Há lances que demonstram a saúde anímica de uma equipa. O Sporting protagonizou um deles no final do primeiro tempo, na partida em casa contra o V. Guimarães. Era já o terceiro minuto desse período extra quando oito jogadores leoninos protagonizaram um baile cheio de classe, com a bola a ser transportada de pé para pé.
Nuno Santos, Gonçalo Inácio, Morten, Daniel Bragança, Trincão, Geny, Pedro Gonçalves e Gyökeres: eis, por ordem de entrada em cena, os artistas desta jogada de antologia. Para mais tarde recordar.
Um total de 48 segundos de exibição superlativa no relvado: 23 toques que culminaram no disparo fulminante do craque sueco, a fuzilar as redes à guarda de Bruno Varela.
Era o segundo golo do Sporting nesta recepção à turma minhota. Era também o regresso do melhor ponta-de-lança da Liga portuguesa aos golos após cinco partidas em jejum. Mais de 45 mil pessoas nas bancadas explodiram de alegria: íamos para o intervalo a vencer 2-0, os vitorianos foram incapazes de levar perigo à nossa baliza, abria-se uma avenida para novo triunfo das nossas cores. O 15.º em 15 jogos disputados em nossa casa na Liga 2023/2024 - algo inédito na história deste estádio, inaugurado há 21 anos.
O desafio começou com o V. Guimarães muito fechado lá atrás, apresentando duas linhas defensivas muito compactas, procurando fechar as vias de acesso dos nossos jogadores à linha de tiro. Esta estratégia própria de equipa pequena, que desiste de discutir o jogo para estacionar o autocarro, não faz jus aos pergaminhos dos minhotos. Merecia castigo por delito de lesa-espectáculo.
O que acabou por acontecer.
A primeira brecha na muralha vitoriana ocorreu aos 21', quando Geny esteve a um passo de marcar: foi impedido in extremis pelo croata Borevkovic, melhor elemento da equipa visitante, mesmo à boca da baliza. Era o aperitivo para o que sucederia nove minutos depois: num remate cruzado, Pedro Gonçalves não perdoou. Varela foi buscá-la lá dentro.
A partida ficou sentenciada quatro minutos após o recomeço, quando Gyökeres bisou, correspondendo da melhor maneira ao trabalho iniciado por Pedro Gonçalves a picar a bola da meia-esquerda para a grande área e prosseguido numa espectacular recepção orientada de Trincão, que serviu de bandeja ao sueco.
Atingia-se a excelência em Alvalade onde a equipa estreou equipamento, todo branco, em homenagem à triunfal campanha da Taça das Taças de 1964, irá fazer em breve 60 anos. O resultado ficava fixado naquele instante. Com eficácia máxima: quatro remates enquadrados, três golos. Difícil exigir melhor.
Ficava também consumada a vingança face à mesma equipa que nos havia derrotado 2-3 no desafio da primeira volta, em Guimarães. Nossa última derrota até agora, já lá vão mais de quatro meses.
Consequencia imediata: o título de campeão nacional passou a ser uma hipótese cada vez mais provável. É convicção dominante, mesmo junto dos nossos rivais: já não nos irá fugir.
Faltam quatro jornadas, há 12 pontos em disputa, lideramos com sete de vantagem sobre o Benfica, segundo na tabela classificativa. Cenário que muitos adeptos do Sporting julgariam impensável no início da época.
O que nos falta?
Ir ao Dragão, no domingo que vem. Depois recebemos o Portimonense, vamos ao Estoril, recebemos o Chaves.
Enquanto não erguemos o caneco, celebramos as exibições. E os números já alcançados. Oitenta pontos na Liga à 30.ª jornada: ainda podemos conquistar 92, estabelecendo recorde nacional absoluto.
E que mais?
Há 50 anos, desde aquele inesquecível Título da Liberdade (com Yazalde) que não marcávamos acima de 85 golos no campeonato: vamos com 87 e sempre a somar.
No conjunto das provas, temos agora 131 golos em 49 jogos disputados em todas as provas. Média: 2,6 golos por jogo. Desde os memoráveis Cinco Violinos, em 1946/1947, não ultrapassávamos a marca dos 130 golos. Batido um máximo com 77 anos.
É obra.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Encaixou um bom remate de Kaio César (17'). Aos 32', saiu muito mal da baliza, correndo o risco de cometer penálti. Ponto mais positivo: há três jogos seguidos que não sofre golos.
St. Juste- Notável precisão de passe. Venceu quase todos os duelos, sobretudo ao accionar a sua principal virtude: a velocidade. Diomande estava ausente por castigo, mas não se notou a falta.
Coates - Segurança, maturidade, enorme capacidade de temporizar o jogo e de motivar os colegas com a sua capacidade de liderança a partir do centro da defesa. Uma vez mais.
Gonçalo Inácio - Destacou-se nos passes longos, tentando esticar o jogo para servir Gyökeres logo aos 4' e aos 7'. Intervém na inesquecível jogada colectiva de que resultou o segundo golo.
Geny - Quase marcou aos 21', confirmando o seu virtuosismo com bola dentro da área. Intervenção activa nos dois primeiros golos. Ala com propensão ofensiva, cada vez mais maduro.
Morten - Mal o Vitória lhe concedeu espaço, mostrou toda a qualidade do seu futebol. Quase marcou, de cabeça, após um canto (26'). Teve intervenção decisiva no segundo golo.
Daniel Bragança - Cada vez mais influente. No passe, no transporte, na capacidade de variar flancos e distribuir jogo. Nunca se esconde: pelo contrário, participou nos três golos do Sporting.
Nuno Santos - Esforçado, nem sempre as acções ofensivas lhe correram bem. Ou centrava sem ninguém para receber na área ou optava com demasiada frequência pelo passe à retaguarda.
Pedro Gonçalves - Melhor em campo. Iguala Paulinho como segundo artilheiro da equipa. Desta vez marcou o primeiro, assistiu no segundo e fez a pré-assistência no terceiro.
Trincão - Mantém excelente forma, como se verificou no segundo golo, em que participa, e sobretudo na espectactular assistência que fez para o terceiro. Outra grande exibição.
Gyökeres- Regressou aos golos - e logo a bisar - após cinco jogos sem a meter lá dentro. Para óbvia alegria dele. E para imensa alegria de todos nós. Todo o estádio gritou o seu nome.
Edwards - Substituiu Pedro Gonçalves aos 78'. Ainda não foi desta que voltou a brilhar. Marcou aos 80', mas estava fora-de-jogo. Podia ter marcado aos 82', mas não conseguiu.
Morita - Entrou aos 78', rendendo Daniel Bragança. Ajudou a equilibrar o meio-campo, em eficaz parceria com Morten.
Paulinho - Rendeu Trincão aos 78'. Conduziu bem um contra-ataque aos 80', tirando partido da sua frescura física. E ajudou a segurar a bola.
Eduardo Quaresma - Entrou para o lugar de St. Juste aos 82'. Muito atento, concentrado, dinâmico. Ninguém passou por ele.
Fresneda - Substituiu Geny aos 86'. Chegou a tempo de protagonizar duas intervenções, numa das quais perdendo a bola.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Sporting-V. Guimarães pelos três diários desportivos:
Pedro Gonçalves: 21
Gyökeres: 20
Trincão: 19
Daniel Bragança: 18
Morten: 17
Nuno Santos: 17
St. Juste: 16
Geny: 16
Coates: 16
Gonçalo Inácio: 16
Israel: 14
Edwards: 12
Morita: 12
Paulinho: 12
Eduardo Quaresma: 6
Fresneda: 6
O Record e O Jogo elegeram Pedro Gonçalves como melhor em campo. A Bola optou porGyökeres.
Com esta difícil (muito mais do que o resultado possa parecer) vitória em casa de ontem contra aquela equipa que nos tinha derrotado em Guimarães, onde contou com a ajuda do tal Pinheiro, o Sporting pôs uma mão no caneco de campeão nacional.
Para pôr a outra, mesmo perdendo no Dragão, só tem de ganhar os dois jogos que terá em casa contra equipas em luta pela despromoção. Ou ganhar um deles e ir ganhar ao Estoril. Isso supondo que o Benfica ganha em Faro, ganha ao Braga em casa e ganha todos os jogos até final. Enfim, estamos quase mas... falta o quase.
A 1.ª parte foi um exercício de cansar o adversário, aborrecido para quem via no estádio ou pela TV. A bola rodava por fora da estrutura defensiva adversária dum lado ao outro do campo, eles corriam para a direita, fechavam; corriam para a esquerda, fechavam; voltavam a correr para a direita, fechavam, etc...
Bragança e Hjulmand eram os engodos plantados nessa estrutura defensiva que obrigava os adversários a pensar antes de correr para os lados.
Neste encaixe do 3-4-3 do Sporting com o 5-3-2 do V. Guimarães o talento dos jogadores do Sporting levou a melhor. De três oportunidades marcou dois golos e a sincronização defensiva impediu um possível golo por penálti do adversário. Entretanto Hjulmand fazia um trabalho de sapa incrível, quase sozinho a defender à frente da linha de cinco.
Na 2.ª parte ou o Sporting marcava o terceiro e resolvia o encontro ou sujeitava-se a dissabores. O V. Guimarães ameaçava voltar ao jogo e complicar as coisas. E dum lance de génio de Pedro Gonçalves, que já tinha marcado o primeiro e assistido para o segundo, logo marcou o terceiro.
O jogo acabou aí, a vitória estava assegurada, o adversário estava esgotado. O resto foram sendo oportunidades desperdiçadas para aumentar a conta.
Melhor em campo? Pedro Gonçalves, mas Hjulmand e Catamo deram mais uma demonstração da evolução incrível de qualidade que tiveram ao longo da época. De resto todos muito bem, excepto o Israel, com mais um falhanço embaraçoso a sair dos postes naquele lance que podia ter dado penálti.
Arbitragem? Cláudio Pereira impecável, na calha para ser o melhor árbitro português, e muito eu o insultei nos primeiros jogos que o vi dirigir o Sporting. Que continue assim e não aceite o que os mais velhos aceitaram.
E agora? Ir ganhar ao Dragão, com Pinto da Costa a dormitar na cadeira e o Koelher a vender tudo a pataco aos amigos. Os empresários já fazem bicha no Citius para receber o deles enquanto existe.
PS: Comentários da sardinhada pirata esperta seguem directamente para o balde do lixo.
Da vingança em Alvalade. Recebemos o V. Guimarães, que nos tinha vencido (injustamente) no desafio da primeira volta do campeonato. Triunfo concludente da nossa equipa, por 3-0: repetimos a dose da época anterior. Excelente exibição num óptimo relvado com incessante apoio das bancadas, com a segunda maior enchente da época até agora (46.101 lugares preenchidos) e onde os adeptos nunca se cansaram de incentivar a equipa. Vimos um Sporting consistente, cheio de maturidade, muito superior à turma minhota. E com grau máximo de eficácia: ao intervalo, com apenas três remates enquadrados, tínhamos já dois golos à nossa conta.
De Gyökeres. O craque sueco regressou aos golos, pondo fim a mais de um mês de jejum. E logo a bisar. Foi dele o segundo, no último lance da primeira parte (45'+3), culminando belíssimo ataque posicional que justifica destaque autónomo nesta rubrica. E também o terceiro, aos 49', com espectacular assistência de Trincão. Tem 24 golos marcados neste campeonato. É um dos grandes obreiros desta fabulosa corrida para o título.
De Pedro Gonçalves. Destaco-o como melhor em campo. Fácil explicar porquê: marcou um golo (foi dele o primeiro, aos 30', num remate cruzado sem hipóteses para Bruno Varela), assistiu Gyökeres no segundo com um passe rasteiro a romper a defesa e esteve também no terceiro, picando a bola com categoria em pré-assistência para Trincão. Sem dúvida o melhor jogador português do plantel leonino. Já soma 11 golos na Liga.
De Daniel Bragança. Após a meia hora inicial, em que a bola mal circulou no nosso corredor central, tornou-se um dos mais influentes elementos desta recepção ao Vitória minhoto. Interveio nos nossos três golos, demonstrando todas as suas qualidades como médio ofensivo. No primeiro, com uma preciosa recepção orientada dentro da grande área após desmarcação oportuníssima, fazendo a bola sobrar para Pedro Gonçalves. No segundo, com uma tabelinha digna de aplauso com Pedro Gonçalves. No terceiro, é ele quem serve o n.º 8 antes da pré-assistência para Trincão. É já um dos pilares da equipa.
Do golaço ao cair o pano da primeira parte. Exemplo soberbo de futebol colectivo: 23 passes, de pé para pé, com trocas de bola muito rápidas, sempre ao primeiro toque, durante 48 segundos cheios de classe. Deu gosto ver no estádio. Dará muito gosto rever nas imagens filmadas, uma vez e outra.
Do árbitro. Boa actuação de Cláudio Pereira, aplicando o chamado critério largo, sem interromper continuamente o jogo para atender a faltas e faltinhas.
Das faixas de apoio em Alvalade. Numa lia-se «Fica, Amorim». Noutra - da Juventude Leonina - era possível ler-se: «Eu quero ser campeão outra vez». Esta irá cumprir-se. Resta ver se o mesmo acontecerá com a primeira.
Da regularidade leonina. Não perdemos na Liga desde 9 de Dezembro - precisamente a data da derrota no estádio D. Afonso Henriques. De então para cá, 16 vitórias e um empate. Uma série espantosa, digna de prolongado aplauso. No total, até agora, em 30 desafios vencemos 26. Um dos nossos melhores registos de todos os tempos.
De já termos marcado 131 golos em 2023/2024. Destes, 86 foram na Liga. Há precisamente meio século, desde a época 1973/1974, que não fazíamos tantos golos num campeonato. Temos agora mais 22 do que o Benfica e mais 32 do que o FC Porto. Diferença impressionante. Melhor ainda: há 77 anos (desde os Cinco Violinos) que não marcávamos tantos golos numa temporada.
Dos 80 pontos já conquistados. Ainda podemos obter 92 - marca absolutamente inédita no futebol português. Vamos agora com mais 18 do que os portistas e mais dez, à condição, do que os encarnados. A quatro jornadas do fim. Faltam-nos duas vitórias nestas quatro rondas para levantarmos o caneco mais cobiçado do futebol português.
De ver o Sporting sempre a fazer golos. Cumprimos o 17.º desafio consecutivo sem perder na Liga 2023/2024, com oito triunfos seguidos.
Da nossa 25.ª vitória consecutiva em casa na Liga. Alvalade é talismã para a equipa desde a época passada. Fizemos o pleno no campeonato em curso, até agora com folha limpa. E registamos 15 triunfos nos 15 desafios disputados como anfitriões na Liga 2023/2024. Nunca tinha acontecido nada semelhante desde que o nosso actual estádio foi inaugurado, em 2003.
Não gostei
De termos demorado desta vez meia hora para marcar. Já não estávamos habituados a tanta espera.
Da fraca réplica do V. Guimarães. O treinador Álvaro Pacheco montou a equipa num hiperdefensivo sistema 5-4-1 que permitiu trancar as vias de acesso à sua baliza durante 30 minutos. Mas quando a muralha ruiu o treinador foi incapaz de um golpe de asa que lhe permitisse contrariar a óbvia superioridade do Sporting. Nem parecia a mesma equipa que venceu o FCP fora (1-2) e empatou com o Benfica em casa (2-2). Também nada ajudou o facto de ter mantido fora do onze, até ao minuto 59, o seu melhor jogador, Jota Silva. Não me importaria nada de o ver de Leão ao peito na próxima época.
Da ausência de Diomande, a cumprir castigo. Mas St. Juste deu conta do recado, com actuação irrepreensível como central à direita, atento às dobras a Geny, que actuou quase sempre como extremo. Comprovando assim que este Sporting tem várias soluções no banco.
Do descuido de Israel. Manteve as redes intactas neste seu oitavo jogo a titular no campeonato. Mas saiu muito mal da baliza aos 32', abalroando Afonso Freitas em lance que poderia ter valido um penálti à equipa visitantes. Felizmente o ala vitoriano estava fora-de-jogo, forçando a anulação de toda a jogada.
Todos sabemos que tomates em castelhano são "huevos".
Di Maria pode ter ovos mas tem pouca pontaria, é-lhe mais fácil acertar com o punho direito no rosto de Pedro Gonçalves, que a onze metros de um buraco que tem 2,44 metros de altura e 7.32 metros de comprimento, colocar a bola lá dentro.
Foi a incompetência de Di Maria (e de António Silva) que colocou o Benfica fora da Europa.
Daniel Bragança felicita Pedro Gonçalves mal o transmontano marcou o golo que valeu a vitória
Foto: Estela Silva / Lusa
Mais vale tarde que nunca. Na terça-feira lá se realizou enfim o Famalicão-Sporting, referente à 20.ª jornada desta Liga que já teve 29 rondas completas. Um desafio que devia ter ocorrido a 3 de Fevereiro mas ficou adiado para 16 de Abril devido a falta de policiamento.
Valeu a pena esperar? Sim. Porque vencemos. Com alguma dificuldade, convém reconhecer, mas sem a menor dúvida quanto ao desfecho. Porque o Sporting foi superior, dominou sempre, teve três oportunidades de golo contra nenhuma da turma anfitriã e confirmou - para quem tivesse dúvidas - que é a melhor equipa a competir nesta Liga 2023/2024.
Vitória construída bem cedo, logo aos 20'. Por aquele que foi o herói leonino da conquista do título em 2021: Pedro Gonçalves, superiormente servido por Trincão, num golo marcado bem ao seu estilo, mais em jeito do que em força, desfeiteando o guarda-redes Luiz Júnior, um dos melhores que actuam nos estádios portugueses. Marcou sem festejar, gesto bonito: não esquece que jogou pelo Famalicão antes de rumar a Alvalade.
Foi quanto bastou. Com este desfecho tão positivo para as nossas cores, chegamos aos 77 pontos quando ainda faltam disputar cinco rondas do campeonato. O melhor registo de sempre no Sporting. Desde que os triunfos passaram a valer três pontos, só duas vezes atingimos a liderança isolada, com dois ou mais pontos de vantagem sobre o segundo da tabela. Anteriormente havia ocorrido também sob a batuta de Rúben Amorim, em 2020/2021: tínhamos 73 pontos à 29.ª jornada.
Única marca digna de registo? Não. Há outra, tanto ou mais significativa: nunca o Sporting tinha obtido 25 vitórias em 29 jogos da principal prova oficial do futebol português. Número assombroso, impressionante. Tornado possível porque vencemos 15 dos 16 desafios mais recentes que disputámos.
O golo madrugador de Pedro Gonçalves confirmou o que já se esperava: temos acesso garantido à próxima Liga dos Campeões. Seja por entrada directa na fase de grupos, seja por ingresso na pré-eliminatória da prova máxima do desporto-rei a nível de clubes. O FC Porto, num distante terceiro posto, deixou de ter hipótese de lá chegar.
Como haveria de ter se até agora apenas conseguiu marcar 53 golos no campeonato? Menos 31 do que o Sporting, algo que não tem sido devidamente valorizado pelos adeptos leoninos. Mas devia: com 128 já apontados no conjunto das competições, ocupamos agora o segundo lugar entre as equipas que participam nos principais campeonatos europeus. À frente do Liverpool (127) e só atrás do Fenerbahce (132).
Rúben Amorim, enfrentando a mesma equipa que dias antes impusera um empate (2-2) ao FC Porto no estádio do Dragão, arriscou - e viu-se recompensado. Apostou em dois alas com características muito ofensivas em simultâneo: Nuno Santos à esquerda, com Matheus Reis ausente por lesão, e Geny à direita, quase sem nunca recuar da linha do meio-campo. O moçambicano actuou praticamente como um extremo.
Resultou, claro. Sem margem para dúvidas. O Sporting dominou por completo o desafio na primeira parte e mesmo quando recuou um pouco no terreno na etapa complementar, concedendo alguma iniciativa atacante ao adversário, nunca perdeu o controlo das operações. Bem posicionado em campo, exibindo superiores argumentos técnicos e tácticos.
Em suma: mandámos no jogo.
E o Famalicão obedeceu, verdadeiramente sem uma oportunidade de golo. Nem parecia a mesma equipa que tinha silenciado o FCP no Dragão. Nem parecia o emblema que segue em oitavo no campeonato, mais próximo da liderança do que dos lugares de descida.
Dois dos nossos três jogadores amarelados nesta partida, Diomande e Esgaio, falharão o jogo seguinte, contra o Guimarães. É quase irrelevante. Porque nesta equipa treinada por Rúben Amorim o todo é sempre mais vasto do que a mera soma das partes.
A superioridade do Sporting também se mede nisto. Para alegria de todos nós.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Sem uma defesa digna desse nome em toda a primeira parte. Saiu muito bem da baliza, aos 86', anulando um lance ofensivo perigoso. Segundo jogo seguido sem sofrer golos.
Diomande- Elo mais fraco da defesa. Viu o amarelo aos 41', por uma falta absolutamente escusada. Logo a seguir fez outra que lhe poderia ter valido expulsão. Não regressou do intervalo.
Coates - Com o brilhantismo habitual, venceu quase todos os duelos com Cádiz, o artilheiro do Famalicão. Imperou no jogo aéreo. Precioso corte aos 90', anulando ataque de Nathan.
Gonçalo Inácio - Competente na dobra a Nuno Santos, permitindo-lhe avançar na ala. Mas atravessa um período com menos brilhantismo. Acontece aos melhores.
Geny - Voltou a criar desequilíbrios lá na frente: o treinador mandou-o actuar como extremo direito. Ele foi mantendo a defesa em sentido. Desta vez longe das suas melhores exibições.
Morten - Regressou ao onze após ausência por castigo. Incansável na pressão ao portador da bola, nunca deu descanso ao Famalicão. Oito recuperações, quatro desarmes.
Daniel Bragança - Momentos de brilhantismo a ligar sectores. Esteve a centímetros de marcar grande golo, aos 13': a bola embateu na barra. Bom também nos momentos defensivos.
Nuno Santos - Tal como Gonçalo, também não atravessa o seu melhor período. Incapaz de fazer a diferença no capítulo do passe avançado. Atirou muito ao lado (67') e muito por cima (70').
Pedro Gonçalves - Para mim, o melhor em campo. Sem o golo que marcou aos 20', não teríamos conquistado os três pontos. Carregado em falta na grande área aos 24': devia ter sido penálti.
Trincão - Protagonizou alguns dos melhores momentos da nossa equipa. Assistiu Pedro Gonçalves no golo. Grandes lances individuais aos 40', 73' e 81'.
Gyökeres- Quinto jogo seguido sem marcar: nem parece ele. Mas tentou bastante, mesmo policiado por Riccieli. E foi ele a iniciar o lance colectivo de que resultou o golo do Sporting.
Eduardo Quaresma - Fez toda a segunda parte, substituindo Diomande. Sem comprometer a segurança defensiva. Corte perfeito aos 55', anulando Chiquinho.
Morita - Entrou aos 68', rendendo Daniel Bragança. Evidenciou segurança de passe, como nos vem habituando. Esteve muito perto de marcar, aos 73', a passe de Trincão.
Paulinho - Rendeu Pedro Gonçalves aos 68'. Demasiado discreto, quando a equipa já se preocupava sobretudo em segurar a bola. Falhou emenda a cruzamento de Nuno Santos (81').
Esgaio - Em campo desde o minuto 68, quando rendeu Geny, consolidando uma linha de quatro lá atrás. Primeiro à direita, depois à esquerda. Viu amarelo por cotovelada aos 74'.
Fresneda - Substituiu Nuno Santos aos 86'. Ainda chegou a tempo de protagonizar um corte importante.
De nova vitória. Desta vez ao Famalicão, no estádio minhoto, quatro noites após o triunfo anterior, em Barcelos. Vencemos pela margem mínima, apenas 1-0. Mas foi quanto bastou para arrecadarmos três preciosos pontos e consolidar a liderança isolada, quando estamos a cinco jornadas do fim do campeonato. Vale a pena acentuar: em 29 jogos, vencemos 25. Números dignos de registo. Números extraordinários - de uma das nossas melhores épocas futebolísticas de sempre, que já começa a suscitar saudades.
De Trincão. Voltou a fazer um grande jogo, com inegável brilhantismo. Excelente primeira parte: foi ele a conduzir quase todas as acções ofensivas mais perigosas, como aconteceu aos 40', 52' e 73'. Aliando o requinte técnico à inteligência táctica. Ponto alto: a assistência para o nosso golo. Mais uma, a oitava da temporada.
De Pedro Gonçalves. Destaco-o como melhor em campo, embora quatro outros companheiros também pudessem figurar no topo desta lista. O nosso n.º 8 fez a diferença ao marcar o golo, naquele seu jeito muito especial de parecer que mal causa perigo frente à baliza, recebendo a bola com um pé e rematando com o outro. Estavam decorridos 20 minutos: era quanto bastava para garantir a vitória leonina. Pedro mereceu este golo: como de costume, trabalhou bem para a equipa, sempre muito útil entre linhas. E ainda foi alvo de um penálti, não assinalado, ao minuto 26.
De Daniel Bragança. Exibição de inegável classe do nosso médio criativo, que oscilou entre as posições 8 e 10 neste jogo em que o primeiro sinal de perigo partiu do seu poderoso pé esquerdo. Aconteceu aos 13'', com a bola a bater estrondosamente na barra. Criativo, com grande visão de jogo, exímio no passe, foi essencial para ligar o meio-campo ao ataque. Muito útil também nos momentos defensivos.
De Morten. Sem ele, o nosso meio-campo não teria a mesma qualidade. E talvez o Sporting nem estivesse na excelente posição em que está. O internacional dinamarquês funcionou, uma vez mais, como verdadeiro pêndulo do nosso meio-campo, onde brilhou com oito recuperações e quatro desarmes. Aos 13', ao desmarcar Daniel Bragança, assinou passe para golo: a bola esteve a centímetros de entrar.
De Coates. Um gigante no nosso reduto defensivo. O capitão defendeu tudo quanto havia para defender, impondo o seu toque de maturidade num sector que sem ele nunca actua de forma tão ligada e tão eficiente. Ganhou despiques com Cádiz, pondo em sentido o artilheiro anfitrião, segundo jogador com mais golos de cabeça na Liga. Precioso corte aos 89', absolutamente decisivo.
Do nosso desempenho. Sobretudo na primeira parte, em que estivemos sempre por cima, soubemos tapar os caminhos para a nossa baliza (Israel quase não chegou a fazer uma defesa com grau mínimo de dificuldade), revelámos boa reacção à perda de bola e soubemos apostar em Geny e Nuno Santos como extremos clássicos, ambos sem grandes preocupações no plano defensivo. Compensou: levamos 84 golos marcados - mais 19 do que o Benfica, mais 31 do que o FC Porto.
De já termos marcado 128 golos em 2023/2024. É o sexto melhor registo de sempre na história leonina. E o melhor desde os longínquos tempos de Peyroteo, na época 1946/1947.
Dos 77 pontos já conquistados. Superámos a pontuação de todo o campeonato anterior quando ainda nos faltam cinco partidas. Ainda podemos conquistar 92 - marca absolutamente inédita no futebol português.
De ver o Sporting sempre a fazer golos. Cumprimos o 16.º desafio consecutivo sem perder na Liga 2023/2024, com sete triunfos consecutivos. Na segunda volta, até agora, ainda só perdemos dois pontos - no empate em Vila do Conde.
De estarmos cada vez mais perto do título. Sete pontos de avanço sobre o Benfica, 18 pontos acima do FC Porto e do Braga: só precisamos de três vitórias nos cinco jogos por cumprir. E já garantimos de antemão um lugar na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, inacessível aos portistas.
Não gostei
Deste jogo ter sido disputado com 77 dias de atraso. Diferença enorme, quando esteve previsto para a tarde do dia 3 de Fevereiro. Por caprichos do calendário, sempre muito preenchido, só ontem pudemos disputar este desafio. Mais vale tarde que nunca. Tudo visto e somado, o balanço é positivo frente à competente equipa que ocupa o 8.º lugar na Liga.
De ver Gyökeres ainda em branco. Pelo quinto jogo consecutivo, desta vez bem policiado por Riccieli. Mas o internacional sueco arrastou marcações, mostrou-se sempre inconformado e foi dos pés dele que teve início o lance que decidiu o jogo.
Da falta de golos no segundo tempo. Ficou tudo resolvido ao minuto 20. Contra uma equipa que há poucos dias tinha imposto um empate ao FC Porto, no estádio do Dragão. Havia 0-1 ao intervalo, manteve-se este resultado até ao apito final.
De mais um remate à barra. Começo a perder-lhes a conta: são uns atrás dos outros. Desta vez o "culpado" foi Daniel Bragança, logo aos 13'. A bola bateu no ferro e acabou por não entrar.
De ver Morten, Diomande e Esgaio amarelados. Por faltas desnecessárias, nos dois primeiros casos. O internacional marfinense e o ala formado em Alcochete irão falhar, por acumulação de cartões, a recepção ao V. Guimarães no próximo domingo.
Por curiosidade, aqui fica a soma das classificações atribuídas à actuação dos nossos jogadores no Atalanta-Sporting, da Liga Europa, pelos três diários desportivos:
Pedro Gonçalves: 18
Morten: 18
Daniel Bragança: 15
Gyökeres: 15
Israel: 15
Matheus Reis: 14
Eduardo Quaresma: 12
Esgaio: 12
Diomande: 12
Nuno Santos: 11
St. Juste: 11
Trincão: 11
Gonçalo Inácio: 11
Paulinho: 10
Geny: 10
Edwards: 10
A Bola elegeu Morten como melhor Leão em campo.O Jogo optou por Pedro Gonçalves. O Record escolheu Daniel Bragança.
Gostei muito do belo golo marcado por Pedro Gonçalves em Bérgamo. Foi ontem, aos 33', abrindo o marcador no jogo da segunda mão, após empate com muita sorte nossa em Alvalade (1-1) frente à turma italiana, sexta classificada no campeonato do seu país. Até aí tínhamos sabido fechar os caminhos para a nossa baliza, dando boa réplica à intensa pressão adversária sobre o portador da bola. O golo culminou exemplar lance colectivo em que intervieram Morten e Matheus Reis antes de Pedro Gonçalves pegar nela, fazer eficaz tabelinha com Gyökeres e isolar-se frente ao guarda-redes, encaminhando-a para o fundo da baliza. Sem vacilar, na primeira oportunidade da nossa equipa neste jogo. Décimo-quinta concretização com sucesso do nosso n.º 8 na época em curso, que promete ser a sua segunda mais goleadora de sempre. Infelizmente foi também esse o momento em que Pedro contraiu uma lesão - aparente rotura muscular - que o forçou a sair em lágrimas quando estava a ser o nosso melhor em campo. Talvez permaneça várias semanas afastado. Baixa preocupante nesta recta final da época.
Gostei de alguns jogadores nossos. Desde logo, Israel: a lesão de Adán acabou por dar oportunidade ao jovem guardão uruguaio, já internacional pelo seu país, para mostrar o que vale. Neste seu quinto jogo seguido como titular, confirmou os pergaminhos com boas defesas aos 3', 51', 70' e 77'. Nos dois que sofremos, infelizmente, pouco ou nada podia ter feito. Também gostei de Morten, que fechou como pôde os caminhos para a nossa baliza, recuperou várias bolas e ajudou a construir o golo. Boa nota igualmente para Daniel Bragança: rendeu Pedro Gonçalves aos 36' sem desequilibrar o nosso meio-campo, complementando a acção do dinamarquês, e ainda fez dois grandes passes para golo (visando Geny aos 84' e Paulinho aos 86'). Esteve ele próprio muito perto de marcar com um disparo forte, de longe, aos 70', para defesa incompleta de Musso: infelizmente nenhum colega compareceu nas imediações para a recarga. Nem sequer Gyökeres, bem policiado pelo seu compatriota Hien, seu colega na selecção sueca.
Gostei pouco de alguns passes longos, na fase de construção, que acabaram em pés italianos. Foi o caso do que viria a gerar o primeiro golo da Atalanta, no minuto inicial da segunda parte: Gonçalo Inácio tenta colocar a bola em Trincão, um dos colegas com menor intensidade colectiva na partida de ontem; um adversário antecipa-se e rouba-a, desencadeando um contra-ataque muito rápido em que vão falhando sucessivas tentativas de intercepção - desde logo do próprio Gonçalo, com Diomande aos papéis, St. Juste a falhar o corte no momento indicado e Esgaio ao segundo poste a marcar com os olhos. Lookman facturou à nossa custa. Doze minutos depois foi a vez de Scamacca fazer o mesmo, repetindo a proeza alcançada em Alvalade.
Não gostei do segundo golo sofrido, aos 58'. Novo naufrágio da nossa defesa, desprovida do seu comandante natural: Coates, por precaução física, ficou fora desta partida já a pensar na recepção do Sporting ao Boavista no domingo - menos de 72 horas após o apito final em Bérgamo, ficando assim por cumprir o período mínimo de intervalo para descanso recomendado entre dois jogos do calendário oficial. Esse segundo golo da Atalanta - numa partida em que não tivemos nenhum jogador castigado com cartões - acabaria por ditar a nossa eliminação. Saímos derrotados, caímos nos oitavos-de-final, dissemos adeus à Liga Europa.
Não gostei nada de ver dois jogadores falharem quatro golos nos dez minutos finais. Culpas repartidas por Edwards e Paulinho - sem surpresa, em qualquer dos casos. O inglês falha clamorosamente, trocando os pés, quando estava isolado frente a Musso (84') e consegue ter uma perdida ainda mais escandalosa, sem marcação e de novo com a baliza à sua mercê, disparando para as nuvens (90'). O n.º 20, que substituiu o apático Trincão aos 75', conseguiu entregar a bola ao guardião quando havia sido desmarcado de modo exemplar por Bragança (86') e cabecear na direcção errada, ao segundo poste, a dois metros da linha de golo (89'). Falta de mentalidade competitiva, falta de intensidade, falta de qualidade. Sobretudo no caso de Edwards: nem parecia estar em campo, tantas foram as vezes em que caiu sem ninguém lhe ter tocado, falhou passes fáceis, deixou fugir a bola, perdeu duelos por falta de comparência. Um descalabro. Não mereceu, nem de longe, ser titular nesta partida.
Nas raras vezes em que ele não joga nota-se logo a diferença. Para pior. A ausência de Pedro Gonçalves evidencia a falta que este jogador - tão subvalorizado por vários adeptos - faz na dinâmica deste Sporting de Rúben Amorim.
Quando não está, nada funciona tão bem.
Ele é o criativo, é o desbloqueador, é o talentoso menos exuberante mas mais eficaz do onze titular. Já lhe devemos muito: só nesta época, 15 golos e 14 assistências. E no entanto continua a ser um pouco mal-amado pelo chamado "tribunal de Alvalade", que por vezes consegue ser bem injusto.
Como há meses venho escrevendo, considero-o sem favor o melhor jogador português do Sporting actual.
«Com atenção, nos jogos muitas vezes o vemos [Pedro Gonçalves] a compensar na ala esquerda as subidas de Nuno Santos. É também um extraordinário jogador de equipa. Se mantiver o nível dos últimos jogos, curiosamente ou não, desde que passou a jogar no meio-campo, parece-me difícil que Martínez não o leve ao Europeu - Horta ou Otávio não são melhores.»
«Colectivamente, Pedro Gonçalves é um jogador muito disciplinado, revelando uma leitura táctica que converge com as ideias de Rúben Amorim. Não obstante o seu instinto pelo golo, Pedro Gonçalves soma uma quantidade assinalável de assistências para golo. Seja qual for a posição que lhe está reservada, no decurso de um jogo, Pedro Gonçalves interpreta o seu papel com a mestria que está reservada aos jogadores brilhantes.»
12 golos e 9 assistências até agora, nesta temporada. Quem é incapaz de ver a enorme influência que ele tem na nossa equipa percebe pouco de futebol. Muito pouco.
Uma derrota muito difícil de engolir, esta em Leiria. Foram 65 minutos do melhor futebol da época do Sporting, de domínio total. Três bolas nos ferros e várias, nem sem bem quantas, a rasar os postes sem o guarda-redes adversário poder fazer seja o que for. Um lado esquerdo demolidor com Inácio, Nuno Santos, Pedro Gonçalves e Trincão.
Depois o Sp. Braga meteu um avançado fresco. Dum mau alívio de cabeça na direita, penso que por Coates, resultou um centro largo ao segundo poste, Esgaio mais uma vez fica a olhar e esse avançado marca... com o ombro. Mas se fosse com outra parte da anatomia era o mesmo, estava escrito que ia ser assim.
As alterações feitas logo a seguir por Rúben Amorim não ajudaram. Sem Coates os nervos dos mais novos e/ou menos experientes vieram ao de cima, a equipa abusou do jogo directo, tudo era feito à pressa e nada bem, e a partida foi correndo muito ao gosto do Sp.Braga. Até estivemos perto de sofrer um segundo golo, enorme defesa de Israel.
O Braga ganhou porque marcou um golo na primeira oportunidade e conseguiu não sofrer em muitas que teve o Sporting. Com esta sorte, e nem é preciso tanta nos jogos europeus que aí vêm, ainda vai ganhar a Liga Europa. Mas desconfio que no sábado volta ao normal.
O que correu pior ao Sporting e que terá de ser corrigido para o resto da época? Além de todo o azar ou falta de sorte, hoje tivemos:
- Uma equipa coxa do lado direito, ofensiva e defensivamente, sem articulação entre o trio Quaresma-Esgaio-Edwards e com Esgaio a comprometer.
- Uma equipa com overdose de criativos. Pedro Gonçalves, Trincão e Edwards no mesmo onze é demasiado, e quem sofre é o sueco, que nunca sabe o que vai sair dali. Nem eles. Que falta lhe faz o Paulinho.
- Uma equipa em estado de nervos quando se vê a perder e o patrão sai do jogo. Porque Coates é mesmo o patrão neste modelo de jogo do Sporting, é ele que acelera a saída ou temporiza e deixa a equipa subir no terreno, nenhum dos médios tem essas características, e Gonçalo Inácio não tem o mesmo "calo", não falando da questão "mercado de Inverno".
Melhor em campo? Pedro Gonçalves, sempre a procurar fazer bem e a estar no lugar certo. E ia fazendo muito bem um par de vezes.
Arbitragem? Impecável, nada a dizer.
E quando é o jogo com o Casa Pia? Segunda-feira ou quarta-feira?
Pedro Gonçalves, Trincão e Nuno Santos: três jogadores em foco no desafio transmontano
Foto Pedro Sarmento Costa / Lusa
Alguns não acreditavam. Os mesmos de sempre. Mas conseguimos. O Sporting entra na segunda volta deste campeonato como líder isolado. Lá em cima, no primeiro posto, passe a redundância. Com 43 pontos. Apenas menos dois do que os conquistados nesta mesma fase na gloriosa época de 2020/2021, já sob o comando de Rúben Amorim, em que nos sagrámos campeões. Só menos um do que os obtidos, também concluída a primeira volta, na Liga 2015/2016, quando o treinador era Jorge Jesus.
No cômputo geral, é a quarta melhor temporada do Sporting, à primeira volta, desde que cada triunfo passou a valer três pontos, em 1995/1996.
Amorim tem motivos redobrados para se sentir satisfeito. Anteontem, nesta vitória em Chaves por 3-0, ultrapassou outra marca como técnico leonino: ninguém antes dele conseguiu somar 14 triunfos na primeira volta em mais de duas épocas ao leme da equipa. Superando um recorde já muito antigo de Cândido Oliveira alcançado em 1948 e 1949.
Os números da temporada em curso ilustram bem a competência do treinador: 28 jogos já realizados esta época, com o Sporting a sair vencedor em 22. Houve ainda três empates e três derrotas, com 78,5% de percentagem global de vitórias.
E vão seis partidas consecutivas sempre a vencer, para quatro competições diferentes. Anteontem, na tarde-noite invernosa em Chaves, só tardou o primeiro golo, ocorrido aos 44'. Aconteceu de bola parada, por Paulinho, na sequência de um canto bem convertido por Trincão. Assim chegou o intervalo: este 1-0 sabia a pouco. Até porque não haviam faltado oportunidades: por Gyökeres e Esgaio aos 11', novamente pelo sueco aos 12' e - a mais clamorosa perda - por Pedro Gonçalves, só com o guarda-redes Hugo Souza pela frente, aos 27'.
Mas o transmontano - que nasceu para o futebol em Chaves - redimiu-se com enorme exibição nesta partida em que foi o melhor em campo. Bola a rasar o poste aos 20', remate que o guardião desviou in extremis para a barra aos 76' e golo, fechando a contagem, aos 56'. Naquele seu jeito peculiar de parecer produzir passes à baliza levando a bola com efeitos a anichar-se nas redes. Não festejou, por respeito aos patrícios transmontanos.
Ao ser substituído (79'), foi ovacionado por todo o estádio, onde havia 5.690 espectadores. Palmas bem merecidas.
Quem também mereceu aplausos foi Francisco Trincão. Muito em jogo sobretudo na ponta direita, substituindo no onze o engripado Edwards, fez jus à convocatória com uma das melhores exibições da temporada. Foi ele a marcar o canto para Paulinho facturar antes do intervalo. Foi também ele a marcar o segundo, o mais belo golo deste encontro, num remate indefensável, muito bem colocado, que desenhou um arco antes de chegar às redes, aos 52'. Assim aqueceu a fria noite flaviense.
Nesta partida iniciada sem cinco titulares (Diomande, Morita e Geny estão ao serviço das respectivas selecções e Coates só fez a segunda parte, além do convalescente Edwards, que assistiu ao desempenho dos colegas bem agasalhado no banco de suplentes) ficou comprovado que temos soluções de recurso para diversas posições. Quando ainda decorre o mercado de Inverno que talvez proporcione um ou dois reforços ao treinador.
Para já, Amorim vai sorrindo. E nós com ele.
Breve análise dos jogadores:
Adán - O seu maior combate em Chaves foi contra o frio. Sem uma defesa digna desse nome numa partida em que a equipa adversária não fez um único remate enquadrado.
Eduardo Quaresma - Cumpriu durante toda a primeira parte, neste terceiro jogo a titular: acertou 42 dos 44 passes. Cedeu lugar a Coates para evitar más surpresas no jogo aéreo.
Gonçalo Inácio - Enquanto o capitão esteve ausente, foi ele a comandar a defesa. Com brilho e distinção: destacou-se como maior recuperador leonino, exímio na precisão do passe.
Matheus Reis - Completou o trio de centrais, sem problema no controlo do seu sector. Lá na frente, podia ter feito melhor aos 43': em vez de remate, saiu-lhe passe ao guarda-redes.
Esgaio - Regular, previsível, sem inventar nem atrapalhar. Podia ter marcado numa recarga aos 11'. Nem sempre lhe saiu bem o duelo com Sanca, o extremo adversário. Mas cumpriu.
Morten - Voltou a destacar-se como pêndulo da equipa, assegurando o controlo total do corredor central junto à linha divisória. Cada vez mais útil nas recuperações de bola.
Pedro Gonçalves - Regressou ao meio-campo, sem tirar os olhos da baliza. Marcou o terceiro, aos 56': o seu décimo golo da temporada. Terceiro jogo seguido a facturar. Melhor em campo.
Nuno Santos - Grande exibição, sempre ligado à corrente. Foi o grande minuciador do ataque com os seus cruzamentos da esquerda. Um deles gerou o nosso segundo golo.
Trincão - Uma das melhores partidas do minhoto nesta temporada. Cobra o canto de que nasceu o golo inaugural e marca o segundo, aos 52'. Protagonizou numerosos desequilíbrios.
Paulinho - Saiu também de Chaves com merecidos elogios. Por ter regressado aos golos. Abriu o marcador aos 44': o mais dificil estava feito. Três jogos fora seguidos sempre a marcar.
Gyökeres - Tentou muito, sem conseguir. Stefen Vitória fez-lhe marcação cerrada. Rondou o golo (11', 12', 78'), sempre em movimento acelerado, mas os heróis acabaram por ser outros.
Coates - Regressado após lesão, actuou só na segunda parte - por troca com Quaresma. Lento, ainda longe da melhor forma. Viu cartão amarelo aos 71'.
Daniel Bragança - Substituiu Pedro Gonçalves aos 79'. Cumpriu no essencial, ligando o meio-campo ao ataque. O péssimo relvado não favoreceu o seu requinte técnico.
Neto - Substituiu Esgaio aos 85'. Tempo suficiente para reforçar a tranquilidade no nosso reduto defensivo, quando as más condições do terreno impunham máxima cautela para evitar lesões.
Dário - Rendeu Matheus Reis aos 85'. Actuou como ala direito, com a missão prioritária de contribuir para fechar aquele corredor. Ganhou mais uns minutos de experiência.
De ir a Chaves vencer por 3-0. Derrotámos sem margem para dúvidas a mesma equipa que há duas semanas fez tremer o FC Porto no Dragão, onde perdeu por tangencial 0-1 tendo mandado uma bola aos ferros à beira do fim. Desta vez nada de semelhante aconteceu. O triunfo leonino na bela cidade transmontana não oferece discussão. Mesmo sem cinco habituais titulares no onze inicial: Diomande, Morita, Geny (ausentes nas selecções), Edwards (a recuperar de uma gripe) e Coates (vindo de lesão, tendo só feito o segundo tempo).
De Pedro Gonçalves. Voto nele para melhor em campo. Jogando num estádio que conhece bem, muito perto da terra natal, e contra uma equipa onde nasceu para o futebol, o nosso médio ofensivo confirmou encontrar-se na melhor fase desta temporada. Terceiro jogo seguido a marcar: desta vez fechou a contagem com um belo remate, muito bem colocado, aos 56'. Actuando entrelinhas, no apoio directo ao ataque, esteve em mobilidade constante, abrindo linhas de passe e protagonizando acções de ruptura que puseram a defensiva flaviense em sentido. Podia ter marcado mais cedo, aos 27', quando Gyökeres o isolou perante o guarda-redes, mas permitiu a defesa de Hugo Souza. Redimiu-se não só com o golo mas com o conjunto da sua exibição. Ao ser substituído (79') foi brindado com aplausos em todo o estádio.
De Paulinho. Foi ele a desbloquear o resultado, quando faltava pouco para o intervalo, em pontapé de ressaca na sequência de um canto: assim nasceu o remate vitorioso, à queima-roupa, com o Sporting a instalar vários jogadores na área. A equipa também melhorou neste capítulo: sabe aproveitar bem os chamados lances de bola parada, ao contrário do que sucedia noutros tempos.
De Trincão. Actuação muito positiva do esquerdino, sobretudo no segundo tempo, quando marcou o mais belo golo da noite, aos 52', num forte remate em arco sem hipóteses de defesa para o guardião do Chaves. Já tinha sido ele a cobrar o canto de que resultara o nosso golo inaugural.
De Nuno Santos. Também ele tem melhorado a olhos vistos, encontrando-se igualmente na melhor fase da época. Assistiu no segundo golo com um cruzamento muito bem medido. Estave sempre em jogo, sempre combativo, sempre comprometido com a equipa.
De ver as nossas redes incólumes. Adán pouco mais foi do que um espectador deste Chaves-Sporting, mantendo a baliza intacta.
De ter igualado o melhor ataque da Liga. Atingimos a marca dos 40 golos, agora a par com o Braga. Com inegável veia ofensiva. Nos últimos três jogos (Estoril, Tondela e agora este), para duas competições diferentes, marcámos 12 e apenas sofremos um. Com 17 jornadas da Liga sempre a fazer o gosto ao pé - ou à cabeça. Sem uma só partida em branco.
De sermos campeões de Inverno. Haja o que houver no resto da jornada 17, continuamos na frente. Terminamos a primeira volta da Liga 2023/2024 no primeiro posto, isolados. Somando já 43 pontos. Com o melhor jogador do campeonato (Viktor Gyökeres) e exibindo o melhor futebol da temporada em curso.
Não gostei
Do tempo. Muito frio, próprio do mês de Janeiro em Trás-os-Montes, chuva incessante e até alguns fragmentos de nevoeiro. Felizmente o jogo começou às seis da tarde, horário sensato que chamou muita gente ao estádio. Incluindo largas centenas de sportinguistas.
Do relvado. Empapado pela chuva copiosa, dificultou muito o futebol rendilhado dos nossos jogadores, sobretudo no corredor central. Optou-se, em alternativa, pelo passe longo e directo, com a bola a sofrer desvios nas ocasiões mais inesperadas. Felizmente ninguém se lesionou.
De termos esperado muito para ver o primeiro golo. Só chegou aos 44', quando alguns adeptos já se impacientavam e uns mais exaltados até rogavam pragas - que se comprovaram ser injustas - a Trincão e Pedro Gonçalves.
De Coates. Manteve-se no banco toda a primeira parte: ainda não está em forma para render um jogo inteiro. Entrou após o intervalo, substituindo Eduardo Quaresma - terceiro jogo a titular, com boa prestação - para nos dar maior conforto no jogo aéreo defensivo. Mas o capitão continua preso de movimentos. Fez uma falta desnecessária que lhe valeu o amarelo (71') e arriscou outra que lhe podia ter valido outro cartão da mesma cor.
De rever Rúben Ribeiro, agora no Chaves. Não deixou saudades no Sporting, onde chegou por insistência de Jorge Jesus, passou sem mostrar talento e deu de frosques a pretexto do assalto a Alcochete quase sem ter sido importunado pelas claques. É lembrado, mas por maus motivos.
Um dia de inverno, um dia de chuva, um dia de ficar por casa no sofá em frente à TV. Após o 3-0 do voleibol em Guimarães veio a 1.ª parte da nossa selecção de andebol e depois foi passar para Chaves, onde o histórico do local (peixeirada do Bruno de Carvalho na cabine incluida), a chuva inclemente, o estado do relvado, o próprio onze escolhido por Rúben Amorim com Pedro Gonçalves no meio-campo, o Godinho "maria vai com o VAR", enfim, tudo fazia pensar no pior. Estavam os ingredientes alinhados para a caldeirada requentada por demais vista à moda dos lampiões e dos morcões.
Mas nada disso aconteceu. Amorim estudou bem o adversário, colocou as melhores peças no tabuleiro e esmagou. Superioridade total do Sporting na 1.ª parte num 3-3-4 muito adaptado às condições do terreno, com Pedro Gonçalves sempre mais um quarto avançado do que um quarto médio e um par de pontas de lança possantes que causavam mossa no adversário. Demorou muito a acontecer o primeiro golo, mas o 1-0 ao intervalo apenas pecava por defeito para o que tinha sido a superioridade do Sporting.
Na 2.ª parte Amorim resolveu tratar de muita coisa ao mesmo tempo, dar minutos a Coates, ter a equipa preparada para um futebol mais aéreo dado o estado cada vez pior do terreno, e tudo correu bem, recuperando a bola cá trás logo aconteciam situações perigosas para o adversário, e Trincão e Pedro Gonçalves ditaram o resultado.
Mais golos se foram perdendo muito por culpa do sueco extra-terrestre. Ainda houve tempo para o melhor em campo, Pedro Gonçalves (e quanto a mim o melhor jogador de futebol do Sporting, pelo menos claramente o melhor português, bem acima de alguns que integram a selecção), sair para volta de honra, e entrarem Bragança, Neto e Essugo... todos ajudaram a equipa a sair com registo limpo de Chaves.
Uma palavra para Eduardo Quaresma, cada vez mais focado e eficaz. Bela primeira parte, valor seguro no plantel do Sporting.
Coates a sofrer um pouco neste retorno, mas faz parte. Precisamos muito dele para o que aí vem.
E quem desbloqueou o jogo marcando o primeiro golo? Paulinho. Outro golo decisivo dum jogador que desde que entrou se mostrou importante para o Sporting, ao contrário de muitos pseudos pontas de lança que só deram despesa.
Amarelo a Gyökeres? O Godinho agora é o cão do dono Vítor Baía? Vai ter boa nota desta vez, depois de Faro?
E agora? Rumo a Vizela, contra tudo e contra todos, inclusive daquela ressabiada "turma do malhão" acantonada na tasca.
Foi eleito, sem favor, o melhor da Liga Europa. Golo extraordinário, daqueles inesquecíveis, daqueles que gostaremos de recordar aos nossos netos.
Golo de Pedro Gonçalves, marcado a 16 de Março no empate em Londres (1-1) que nos valeria - após a ronda de penáltis no fim - a eliminação do Arsenal, então líder da Liga inglesa, e a passagem aos quartos-de-final daquela competição europeia. Com ecos em toda a imprensa internacional mais influente.
Aconteceu com Pedro frente aos gunners o que tantas vezes lhe sucede: parecia alheado do jogo, algo escondido, pouco interventivo. Não lhe peçam para correr atrás da bola: ele funciona sobretudo com ela no pé. O golpe de génio ocorreu aos 62': pegou nela logo após a linha do meio-campo, ainda dentro do círculo central, e quase sem balanço, a 48 metros de distância, desferiu um remate mortal para as redes anfitriãs, num magnífico chapéu ao guarda-redes Ramsdale. Golaço de fazer abrir a boca, conforme as imagens documentam. E até valeu ovação de adeptos adversários.
Visto e aplaudido nos cinco continentes. Para gáudio e júbilo de toda a massa adepta leonina. Obra-prima do futebol.
Vale a pena destacar três menções honrosas de 2023, todas para lembrar também: