Um ex-presidente do Sporting veio dizer que o Sporting Clube de Portugal sempre foi uma monarquia e só fez uma pausa entre 2013 e 2018. Curiosamente também disse que foi durante esse período que mais se enalterceram os valores do Sporting.
Ora, se o Sporting sempre foi uma monarquia com todos esses defeitos, de que serve enaltecer os valores definidos pelos "nefastos" monarcas?
Durante esta quarentena tem-se visto muitas fotografias das campanhas europeias do Sporting com o velhinho José de Alvalade cheio. Inclusivamente ganhámos uma Taça europeia no "tempo da monarquia".
O Sporting, com as suas qualidades e defeitos, nasceu em 1906 e desde então sempre foi enorme. Querer reduzir a sua grandeza ao período pós-2013 é um periogoso reescrever da história. Se não percebeu isto, andou claramente ao engano.
... foi, aos 33 anos, uma das vítimas da grande pandemia do início do século XX, a gripe pneumónica - vulgarmente designada por gripe espanhola -, falecendo a 19 de Outubro de 1918. Hoje, infelizmente, vivemos uma situação pandémica similar, menos grave - é certo, os tempos são outros -, mas igualmente preocupante. O apelo que aqui deixo, olhando para o fundador do nosso clube, é que todos, sublinho TODOS, sigam as recomendações das autoridades de saúde, para que nos possamos a encontrar neste espaço e a opinar sobre este clube, que é a nossa fé. Copiando 'as gordas' de um jornal de hoje, creio que o SOL, deixo o meu conselho: Vacinem-se: não saiam de casa. Ou então limitem os seus movimentos ao exterior ao estritamente necessário - apesar do dia magnífico convidar ao contrário. Fiquem em casa, de preferência na nossa companhia, pois aqui podem encontrar uma imensidão de textos que vai, com certeza, prender a vossa atenção. Tudo de bom, para todos.
Tenho andado afastado da escrita sobre o Sporting.
Todavia lamento que o clube do qual sou sócio e de que me habituei a gostar e a conviver durante mais de 60 anos, viva momentos tão pobres, tão tristes e em tamanha guerrilha que não honra, em nada, a sua longa história nem me faz sentir orgulhoso de pertencer a este clube.
Pode parecer exagerado, mas é o que sinto neste momento.
A culpa de se ter chegado a este ponto é minha, é tua, é de todos nós, sócios e adeptos.
Mas o que aqui me trouxe hoje especialmente prende-se com um acontecimento que se deu há duas semanas na minha vida. Fui avô de uma menina.
Quando o meu filho mais velho nasceu, fui a correr a Alvalade inscrevê-lo como sócio do Sporting. Hoje ainda não o fiz com o mais recente elemento da família.
E não tem a ver com o ser do sexo feminino, que actualmente nestas coisas de adeptos as raparigas são tão ferverosas quantos os rapazes.
A questão é bem diferente e associa-se à ideia de como posso incitá-la a gostar de um clube que vive (quase) exclusivamente de um passado longínquo.
Poder-se-á falar do ecletismo do Sporting, da formação ou mesmo dos diversos campeonatos europeus em diferentes modalidades, mas sendo o futebol a roda maior deste complexo relógio continuo sem saber como a convencerei a tornar-se, não só sócia como, principalmente, adepta!
(Em 28.4.2012 coloquei aqui este postal. As estatísticas do blog mostram que continua a ser muito visitado, através dos sistemas de busca informática. É uma boa razão para replicar esta curiosidade histórica, uma versão da origem das alcunhas dos adeptos dos grandes clubes lisboetas. Algo que pensara fazer, até por proposta do Pedro Correia. Hoje, ao ver estas gravíssimas notícias aqui relatadas, não pude deixar de pensar que é o momento adequado).
No seu mural de facebook o meu querido amigo Miguel Valle de Figueiredo, sportinguista imenso, dá a conhecer esta preciosidade, acompanhada da explicação:
"Daqui vem o nome "Lagartos", assim apelidados os títulos da subscrição para a construção do estádio "José Alvalade."
Aí mesmo um seu amigo, Jorge Roza de Oliveira, esclarece ainda:
"Lampiões nada tem a ver com as luzinhas atrás nos comboios, como se diz por aí. Nos anos 30, começo de 40, os sportinguistas começaram a chamar aos benfiquistas de lampiões, porque Lampião era nessa altura um famoso ladrão e bandido do nordeste brasileiro. E os sportinguistas achavam que o Benfica era muito beneficiado pelos árbitros e começaram a aplicar assim o termo lampião."
Irmanados nas alcunhas. No convívio da bola, por mais que tantos não o queiram assim.
«Como a condessa de Sucena, proprietária do Palácio Foz, era cliente da sapataria Benigno Linares, sócio do Sporting, Retamosa Dias induziu-o a falar com ela. E, como conta Eduardo de Azevedo, resultou do facto facilitarem-se as negociações empreendidas por Carlos Basílio de Oliveira para a instalação do Sporting nas dependências do antigo Ritz. Ao fim de oito anos, em 1941, sem qualquer indemnização, o Sporting foi compelido a abandonar o Palácio Foz, para que nos seus espaços se instalassem os serviços do Secretariado Nacional de Informação (SNI), sob o comando de António Ferro.
O Sporting sempre se debateu com a dificuldade em encontrar um edifício que se adequasse à instalação da sua sede. Inerente à escolha da localização da sede sempre esteve ligada a questão da falta de centralidade do clube e a necessidade de aquela se instalar num local de fácil acesso para toda a massa associativa.
Em 1931, para se ganhar tempo e instalar o Sporting num local mais central, arrendaram-se duas salas no 5º andar do n.º 13 da Praça dos Restauradores, junto ao cinema Eden. Entretanto, o presidente Oliveira Duarte (...), intentava a solução, negociando com o Club Monumental a obtenção para o Sporting daquelas instalações. O contrato não se consumou e as diligências orientaram-se para uma casa na Avenida da Liberdade. Aconteceu então que Álvaro Retamosa Dias anunciou a possibilidade de se arrendarem as dependências do antigo Ritz, no Palácio Foz, propriedade da condessa de Sucena.
As aspirações “leoninas” viriam a concretiza-se e, em 1933, o Sporting instalava a sua sede social nas sumptuosas dependências do Palácio Foz. Correspondeu à permanência de oito anos na sede social do Palácio Foz um período áureo de desenvolvimento integral do Sporting.»
In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 90
Esta obra que consultei tem, na contracapa da pasta inferior, notas manuscritas relativas a episódios geofísicos e astronómicos do século XVI.
Consegui reter a informação ali contida, porém pedi a uma pessoa amiga com um olho mais treinado para a leitura paleográfica que fez a seguinte transcrição:
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«- Na era de 1531 a 25 dias do mes de Janeiro a hua 5ª feira de madrugada tremeo a terra e pella menhaa tornou a tremer [ou]tra ves.
- Na era de 1539 a 18 dias do mes de Ab[ril] a hua 6ª feira as duas horas depos do meio dia foi hu sol cris das 12 par[?] as du[?] pouco mais.
- E na dita era no mes de Maio apareceo hu cometa o qual foi sinal de mortes de grandes senhores e no primeiro dia do dito mes se finou a emperatr[iz].
- Na era de 1560 a 21 de Agosto a hua 4ª f[eira] as 11 horas do dia foi todo o sol cris, e se escureceo todo e durou todo esc[u]rcindo por espaco de hu meio quarto de hora e com[?] as [?] as horas [?] e tres quartos pouco mais ou menos.»
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Peço a atenção para a última das notas, a ocorrência de um eclipse e para a palavra cris, hoje em desuso. A observação deste fenómeno foi feita em Coimbra por Cristopher Clavius.
Pois bem, hoje é, igulamente, 21 de Agosto, e também ocorrerá, ao final do dia, um eclipse, porém não tão visível como o de 1560.
«(...) Em 1927 o Sporting teve, de facto, a primeira campeã: Estela de Carvalho. (...) Nascera em Lisboa em 17 de Junho de 1906. Seu pai era português, sua mãe era espanhola. Começou a particar sport aos 15 anos, iniciando-se na ginastica sueca, no Ginásio Club Português. “Aos 16 anos, ainda não conhecia os mais rudimentares preceitos da natação, entrei numa prova da milha interstícios do Ginásio. Levei no percurso cerca de uma hora e os dirigentes não ficaram satisfeitos com o resultado e resolveram não aceitar a minha inscrição para a Travessia do Tejo, no mesmo ano. Desgostosa com essa atitude, que vinha ferir em cheio a minha apurada sensibilidade, resolvi ingressar no Sport Algés e Dafunfo. Nesse clube me mantive três anos. Devido a pequenos incidentes que surgiram a propósito do Portugal-Espanha (...) resolvi abandonar o clube. (...) E assim, (...) surgiu, em 1925 no Sporting, passando a treinar-se na Doca de Alcântara, como os demais. E a ganhar todas as competições de rio que se disputavam, então, um pouco por toda a aparte, em Portugal.
E assim, (...) surgiu, em 1925, no Sporting, passando a treinar-se na Doca de Alcântara, como os demais. E a ganhar todas as competições de rio que se disputavam, então, um pouco por toda a parte, em Portugal.
As faca e as críticas...
De uma vez, em 1926, esteve à beira de uma proeza épica: ganhar a todos os homens, numa travessia do Douro, no Porto. “Seguia à frente, com o Cortez, ambos em luta pelo primeiro lugar. A certa altura, olho em redor de mim e não vejo o Cortez. Calculei que estivesse fora de combate e se tivesse deixado atrasar. E ia já de antemão contando com o primeiro lugar quando, ao chegar à meta, encaro com ele. Fiquei desolada. Fora o caso que ele se afastara de mim em busca de melhores águas e conseguindo encontrá-las fácil lhe foi vencer-me. Os barqueiros e outros marítimos que acompanhavam a prova queriam a todos o transe que eu ganhasse. Para isso não cessavam de me entusiasmar com toda a animação. Chegou a tal ponto o entusiasmo entre eles - que chegaram a puxar de facas uns para os outros, para aqueles que não estavam a meu favor...”
No ano anterior, naquelas mesmas águas do Douro, a maior tristeza da vida de Estrela, que para além de natação foi praticante de muito bom nível de esgrima, ténis e remo: “À frente marchavam António Soares e Alves Miguel [como ela do Sporting]. Foram os primeiros a ser desclassificados, por não cortarem a meta no sítio determinado. A mim, que vinha em quito lugar, entre tantos homens, sucedeu-me o mesmo. Depois do esforço titânico que realizara para dobrar aquela distância de oito quilómetros, não era justo que me desclassificassem por tão pouco. E então chorei, chorei, chorei... Chorei tanto e a tal ponto que um homem se chegou a lançar à água não fosse eu morrer afogada nas lágrimas que me corriam pelos olhos. Como compensação deram-me uma estatueta e uma medalha...”
Desgosto também por não ter tido a possibilidade de fazer a Travessia da Mancha. Em 1927, Estela acreditava que podia sonhar...
Em Portugal foi nadando rios, mais alguns anos, ganhando. Sempre com o maillot do Sporting, mas sendo mulher a Mancha talvez fosse ousadia demasiada. “Vou começando a ter receio de que me critiquem por com esta idade [21 anos!], nadar ainda. Também, criticam-me por tudo, não me admira que tal suceda...».
Um outro sinal dos tempos. Na edição de “Eco dos Sports” de 20 de Novembro de 1927, em que fizera tais confidências, na página que lhe fora reservada, havia ao fundo seis palavras que , malfadadamente, o tempo tornaria famosas e estúpidas: “Este número foi visado pela censura”»
In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 50-51
Por razões profissionais e quando pesquisava matéria relacionada com navios, deparei-me com um blogue denominado "Restos de Colecção", de José Leite. Provavelmente não será desconhecido por quem demanda blogues, mas tem um interesse histórico assinalável. E, claro, porque tem uma Etiqueta Sporting que nos transporta aos primórdios do primeiro campo de futebol do Sporting e até conta a história do nosso gesto de boa vontade para com o clube da luz, quando lhes cedemos um campo, que já nem isso tinham... Recheado de fotografias antigas, vale a pena. Aqui fica o link: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/search/label/Sporting
"Stadium do Lumiar" com as bancadas em construção
(fotografia extraída do blogue "Restos de Colecção")
Cosme Damião jogou de verde e branco naquele histórico dia 27 de Agosto de 1910 em que o Sporting, em representação do futebol português, derrotou o Recreativo de Huelva naquele que foi o nosso primeiro desafio internacional.
Vencemos por 4-0, sem surpresa. Numa equipa que, além de Cosme Damião, integrou outras figuras míticas do universo leonino, como João Bentes e os irmãos António e Francisco Stromp (este marcador de dois dos golos).
Os benfiquistas contemporâneos devem seguir o exemplo de Cosme Damião, que treinou no Sporting, vestiu a camisola do Sporting, jogou pelo Sporting. E gostou.
Daqui faço, portanto, um apelo ao presidente Bruno de Carvalho: é tempo de termos um espaço no museu do Sporting Clube de Portugal dedicado ao sportinguista Cosme Damião. Com imagens fotográficas, todos os recortes da imprensa da época e a camisola que esse denodado jogador envergou naquele desafio inesquecível. Ainda por cima com o nosso belo equipamento pioneiro - o equipamento Stromp, que bem merece tal destaque.
É mais que justo.
ADENDA: O Museu ficará também enriquecido com a camisola usada pelo Eusébio no Sporting Lourenço Marques e a reprodução do cartão de L. F. Vieira, sócio sportinguista.
«Aspirou a ser toureira, mas viria a consagrar-se no atletismo do Sporting Club de Portugal porque o Benfica lhe trocara o sexo, inscrevendo-a como Lídio...»
«Nasceu a 15 de Agosto de 1942, numa bucólica terreola das cercanias de Torres Vedras, chamada Dois Pontos. Aos dois anos ficou órfã de pai. Aos sete tinha fama de menina esgrouviada, sonhando ser... toureira. Manuel dos Santos era o seu ídolo e nas suas brincadeiras imaginava-se a matar touros. Menina e moça veio para Lisboa, para viver em casa da tia Belmira. Entrou para uma escola de música, para aprender a tocar acordeão. Passava as aulas que adorava a correr e saltar. O professor decidiu inscreve-la no Benfica(…). Até que um dia lhe surgiu pelo correio um cartão solicitando que se deslocasse ao Campo Grande para testes de atletismo. Eufórica, foi. Chegou e sentiu que causara espanto, sem sequer se perceber que fora convocada como... Lídio Faria. Disseram-lhe que, assim, não podia ser, que o Benfica não tinha atletismo feminino. Acabou por experimentar o Sporting. Tinha 17 anos. Entre 1959 e 1970, ano da sua despedida (com uma festa à futebolista, façanha de que nenhuma outra atleta se poderá ufanar), ganhou 30 títulos de campeã nacional em oito especialidades (100 metros, 200 metros, 400 metros, 80 metros barreiras, lançamentos do peso, lançamento do disco, 4x100 metros e pentatlo), sendo recordista nacional e ibérica em todas essas provas. Em 1964, durante um Portugal-Espanha, numa só tarde venceu cinco dessas provas e estabeleceu outros tantos «records» ibéricos. Um ano depois ganharia a prova do lançamento do peso nos Jogos Mundiais da Primavera, disputados no Rio de Janeiro.
(...) Receberia o Prémio Stromp para melhor atleta sportinguista de todos os tempos.»
In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 198
Ontem transcrevi um texto sobre Cosme Damião como atleta do Sporting. Este texto gerou algumas “borbulhas” para alguém que o vê como imagem imaculada de um outro clube qualquer. Resta-me somente dizer: paciência.
Segundo a lógica daqueles que padecem desta variante de urticária, o facto de Cosme Damião vestir a camisola do Sporting era sinónimo de representar Portugal.
Pois nós. sportinguistas, sabemos isso. Para os mais desatentos relembro que este clube se designa Sporting Clube de Portugal e não representa um qualquer bairro de uma qualquer cidade deste país. Repito: Sporting Clube de Portugal.
Sobre este clube, o nosso clube, hoje transcrevo um texto de uma das suas referências maiores: Francisco Stromp.
«Ao fim da tarde [Francisco Stromp] aparecia no Café Martinho, umas vezes à paisana outras vezes fardado. Como “capitão” de equipa, era responsável pelo envio de muitas dezenas de postais convocando os jogadores para os jogos e para os treinos. Muitas vezes a mesa do Café Martinho se transformou em secretária do Sporting...
Enquanto à volta brilhavam os escritores e políticos do tempo (Machado Santos, Rocha Martins, Brito Camacho, Fialho de Almeida, Gualdino Gomes e D. João da Câmara) no Café Martinho, Francisco Stromp apenas se preocupava com o expediente do futebol “leonino”. Como diziam os colegas: “Nem namoro em política - a sua amante é o Sporting”»...
In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 29
«(...) E, abruptamente, os benfiquistas decidiram, a 16 de Setembro de 1914, suspender Artur José Pereira por seis meses (...). O Sporting recebeu-o no Lumiar. E, mais do que o gesto, ofereceu-lhe como retribuição certa 36$00 por mês, tornando-o assim no primeiro jogador não amador do futebol português - e com direito a outros privilégios, como por exemplo o de ser o preferido no uso de banho quente, luxo que só o Sporting tinha em Lisboa.
O episódio encarniçaria ânimos entre benfiquistas e sportinguistas, podendo dizer-se que dele nasceria mais fremente a rivalidade que pelo tempo fora (...)...
(...) Artur José Pereira, que Cândido de Oliveira, em 1945, considerou o melhor jogador português de todos os tempos (...)»
In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 20
João de Vila Franca marcou o primeiro golo do Sporting.
«Nos finais de 1906, a população atlética do Sporting ampliar-se-ia (...). Era, enfim, a oportunidade de o Sporting, cuja primeira notícia surgiria na imprensa, muito discretamente, apenas a 23 de Dezembro de 1906, regularizar as suas actividades desportivas, resumidas a treinos durante o período de construção e organização das suas instalações. O pontapé de saída em Fevereiro de 1907. No dia 3. Num torneio de futebol (...) organizado pelo CIF, disputado no Campo de Alcântara, propriedade do clube que os Pinto Basto tinham fundado, na senda do Clube Lisbonense. Como primeiro adversário, o Cruz Negra, fundado em 1905, com campo atlético na Luz e dispondo, então, de um grupo de jogadores de certo modo tido como dos melhores de Portugal. (...)
O encontro entre o Sporting e o Cruz Negra, que “teve a presenciá-lo numerosa e ruidosa assistência, entre a qual se viam bastantes senhoras”, foi arbitrado por Pinto Basto (o introdutor do futebol em Portugal). O Sporting perdeu por 1-5. O primeiro golo “leonino” foi marcado por João de Vila Franca. Que era também um óptimo jogador de ténis.
Só em Maio, igualmente a 3, se disputou o jogo da segunda “mão”. E os sportinguistas, com uma equipa renovada - (...) oito dissidentes do Sport Lisboa, que tinham ajudado a fundar em 1904 e que abandonaram (antes de o clube se fundir com o Benfica, (...)) fascinados por poderem, enfim, contar com instalações dignas de verdadeiros futebolistas - ganharam. Para espanto de todos. E, num jornal da época, pôde ler-se: “O jogo desenvolveu-se com ofensivas alternadas. Por intermédio de uma passagem oportuna de Frederico Ferreira ao avançado Félix da Costa, este obteve um ponto, largamente aplaudido pela falange ‘leonina’. Ao cabo de uma exibição meritória, o Sporting acabou por vencer por 3-1. (...) Por parte do Sporting, salientaram-se Fritz [que apesar do nome poder não sugeri-lo era português de gema, chamava-se Júlio Nóbrega Lima, mas que, pelo cabelo exageradamente louro, tipo teutónico, era conhecido por essa alcunha], a defesa, Vila Franca e Shirley, nos avançados, e Borges de Castro, no eixo da linha de médios, onde se mostrou trabalhador e destemido, com um final de jogo prejudicado pelo grande número de ferimentos nos joelho.”»
In: Glória e vida de três grandes. s.l., A Bola, 1995, p. 13
Em 2000, o Sporting ganhou o título na última jornada. Para isso, foi ao Norte, vencer fora uma equipa que equipava de vermelho. Na Luz, o Benfica recebeu uma equipa madeirense.
Peço desculpa aos leões mais susceptíveis por hoje ao chegarem aqui e depararem-se com isto.
Foi a forma que encontrei de dar os parabéns aos nossos vizinhos por mais um aniversário que hoje celebram (ou deviam celebrar).
O clube (que daria origem aquele que hoje conhecemos por SLB) foi fundado em 26 de Junho de 1906, nasceu com o nome: Grupo Sport Benfica e estava sedeado na cave da Vila Faria Leal, na Avenida Gomes Pereira.
Mudaria de nome cerca de ano e meio depois como constataremos de seguida, vejamos o que nos dizem os documentos:
«O Grupo Sport Benfica montou a sua primeira sede na cave da Vila Faria Leal, na Avenida Gomes Pereira, mercê da gentileza daquela família, mas a morte violenta de D. Carlos [o assassinato, digo eu] acabaria por pô-lo em bem mais nobres aposentos (...) dera-se,em 1 de Fevereiro de 1908, o regicídio, e o Partido Regenador Liberal (...) sumiu-se. Sucedia, porém que alguns sócios do Centro Regenerador Liberal da Cruz da Pedra, que tinha a sua sede na Travessa do Visconde Sanches de Baena, eram já sócios do GSB. Fácil foi então numa (...) simulada (...) acta testamentária, considerarado por herdeiro o Grupo Sport Benfica, que logo se viu pomposamente instalado, com sala de bilhar e decente mobiliário (...) envaidecidos com a nova sede, até resolveram mudar o nome de Grupo Sport Benfica para Sport Clube de Benfica» in «Equipamentos com história», SLBenfica, p. 54, fascículos d' A Bola, sd, texto de António Simões. Constatamos que à data da suposta fusão o Clube tinha um nome que procurava imitar a grandeza onomástica do grande clube de Portugal, cujo campo de jogos se situava no Campo Grande. Parece-me evidente a semelhança de nomes entre Sporting Clube de Portugal e Sport Clube de Benfica. Chamei-lhe suposta fusão porque aquilo a que assistimos foi o «acabar» de dois clubes; o Sport Lisboa e o Sport Clube de Benfica e o nascimento dum novo clube: o Sport Lisboa e Benfica. À data da constituição do novo clube, em 13 de Setembro de 1908, o ex-GSB então SCB tinha 129 sócios pagantes (entre eles Cosme Damião) e o Sport Lisboa um número que desconhecemos. O que sabemos é que após a constituição do novo clube ou a absorção do SL pelo SCB (se preferirem) o novo clube ficou com 207 sócios. A numeração manteve-se a do SCB. Cosme Damião, por exemplo, ficou com o número de sócio do SCB que já possuía e aos sócios do SL que não eram sócios do SCB foram atribuídos novos números até ao 207. Poderíamos, com muito boa vontade, considerar que no dia 13 de Setembro de 1908 houve um engolimento e consequente desaparecimento do Sport Lisboa e o aparecimento ou até uma continuidade do SCB com outro nome absorvendo os sócios dum clube que se extinguiu, o Sport Lisboa. Nunca poderemos dizer é o contrário. Porquê? Porque os factos, os documentos, provam-nos o contrário. O SCB tinha a sede, tinha o campo, tinha o dinheiro e tinha mais sócios.
O presidente do novo Sport Lisboa e Benfica, João José Pires, era presidente do SCB, o presidente da assembleia geral, Mascarenhas de Melo (cargo que ocuparia até 1931, depois como presidente honorário até morrer em 1950) era, também do SCB (como podemos ver na imagem do boletim parcialmente reproduzido acima).
Ainda assim, os ilustres adeptos destes assaltadores de sedes (como vimos atrás) querem-nos fazer acreditar que não... que nasceram em 1904. Muitos parabéns, saudações desportivas.
"Inaugurada no dia 13 de Maio de 1934, a estátua lisboeta que homenageia o Marquês de Pombal (...). O seu autor, o escultor Francisco dos Santos, foi um dos primeiros jogadores do Sporting. Por isso, a ideia de que o leão é inspirado no emblema do clube não será fantasiosa (...).
O escultor concebeu o monumento em 1914 de parceria com o seu amigo, e igualmente ex-jogador leonino António Couto.
Nascido a 22 Outubro de 1878, Francisco dos Santos, iniciara-se a jogar futebol com 11 anos, na Casa Pia de Lisboa (...) passando em 1906 para o Sporting.
Pouco depois bolseiro em Roma, interessa-se pelo futebol italiano. Integra a equipa da Lazio, na qual chega a capitão.
Francisco dos Santos é assim o primeiro jogador português a integrar uma equipa estrangeira.
Regressado a Lisboa, retoma os jogos no Sporting.
O monumento ao Marquês de Pombal, por ele concebido, vai ficar também, e para sempre, ligado ao clube do seu coração. Porque em ambos o leão representa a coragem, a serenidade e a força. No estilo dos grandes campeões."
in Sporting Clube de Portugal: Uma história diferente, de Dias, Marina Tavares, Fubu Editores, 2005, p. 160
Nunca nenhum de nós tinha alguma vez visto um jogo assim. Muito provavelmente, nenhum de nós voltará a ver um jogo como esta meia-final. O Alemanha-Brasil disputado esta noite no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, mergulha o país anfitrião do Campeonato do Mundo em estado de choque. Comparada com o que hoje sucedeu, a derrota frente ao Uruguai na final do Mundial de 1950 facilmente será esquecida a partir de agora. Mas daqui a meio século, daqui a um século, este desafio ainda será lembrado. Como símbolo de humilhação do Brasil à escala planetária.
Foi a maior goleada deste Mundial. A maior goleada do Brasil registada numa meia-final de um Campeonato do Mundo. E o resultado mais desnivelado sofrido pelos brasileiros em quase cem anos. Números impressionantes que perseguirão como um estigma o seleccionador Luiz Felipe Scolari e os jogadores que acabam de sucumbir frente aos germânicos, infinitamente superiores na arte, na técnica, na táctica e na estratégia desta modalidade desportiva que apaixona o mundo e a que damos o nome de futebol.
Este foi o pior Brasil de sempre.
Como sucedeu tal descalabro? A que se deve o naufrágio brasileiro?
Desde logo, como já sublinhei, à inapelável superioridade da Alemanha. Muito bem organizados, os comandados por Joachim Löw, que vinham acumulando resultados positivos (quatro vitórias, uma das quais contra Portugal, e apenas um empate, com dez golos marcados e só três sofridos), apresentaram-se no Brasil com uma verdadeira máquina de jogar futebol, aproveitando o essencial do trabalho desenvolvido pelos profissionais do Bayern de Munique: Manuel Neuer, Boateng, Lahm, Schweinsteiger, Toni Kroos e Thomas Müller. Com Khedira, Özil e Schurrle também em excelente plano. No domingo, marcarão presença na oitava final da Alemanha em campeonatos do mundo.
E merecem.
Foto David Gray/Reuters
Começou por ser um jogo histórico aos 23', quando Miroslav Klose marcou o 2-0. Batia-se mais um recorde num Campeonato do Mundo - o de Ronaldo, que conseguira 15 golos em fases finais do Mundial. Klose superou-o, apontando o golo nº 16 em 23 desafios disputados em cinco fases finais, desde o campeonato de 1998.
Nos cinco minutos seguintes, houve mais três golos alemães. À meia hora, perdendo por 5-0, era já evidente que o Brasil seria afastado do Mundial com uma derrota de dimensão inédita. Devido à incomparável superioridade do adversário, é certo, mas também a colossais erros próprios. Porque repetiu contra a Alemanha a estratégia inicial de pressão alta desenvolvida contra a Colômbia mas já sem o efeito surpresa. Porque se mostrou disposto a arrumar o jogo nos primeiros minutos sem medir as consequências dessa aposta temerária que desguarnecia o centro do terreno, estimulando o contra-ataque germânico. Porque permitiu defesas em funções de médios ou até como inesperados candidatos a avançados, como Marcelo e David Luiz, continuamente fora de posição, incapazes de recuperar o processo defensivo quando o Brasil perdia a bola. Foram-se abrindo autênticas auto-estradas no meio-campo brasileiro que a Alemanha, única equipa de cabeça fria, aproveitou da melhor maneira nas costas da defesa adversária.
Quando os (des)comandados de Scolari caíram em si estavam já mergulhados num pesadelo: a defesa ruiu por completo, começando pelo impotente Dante, com a mobilidade de uma estátua, e por um desvairado David Luiz, sempre ausente em parte incerta. A frágil organização de jogo eclipsou-se por completo. Jogadores como Fred e Hulk pareciam implorar para saírem dali. O descalabro psicológico contribuiu para afundar ainda mais o escrete, com prestações medíocres de quase todos. Na segunda parte Paulinho e Bernard ainda tentaram remar contra a maré, mas não era possível.
Sofreram sete golos. Podiam ter levado mais dois: Thomas Müller só não marcou aos 60' devido a uma magistral defesa de Júlio César e Özil, isolado aos 89', enviou a bola a um metro do poste.
Desporto colectivo, o futebol vive muito de valores individuais. Que por vezes podem fazer toda a diferença. Esta selecção de remendos, sem Neymar (ausente por lesão) nem Thiago Silva (ausente por castigo), parecia um Brasil de outro campeonato. E foi mesmo.
Nunca mais esqueceremos esta hecatombe: ficará para sempre gravada na memória de todos nós, do lado de lá e do lado de cá do Atlântico.
Hoje é a vez de Mustapha Hadji ter o lugar aqui nesta mui modesta galeria. Jogador de enorme talento e virtuosismo, este marroquino veio para o Sporting em 1996, tendo-se transferido no ano seguinte para o Deportivo da Corunha. Vestiu a camisola do Sporting por 27 vezes marcando três golos.
Hadji foi um daqueles jogadores que originou grandes discussões em pleno estádio devido às suas intermitências. Num momento quedava-se por uma apatia enervante para logo a seguir arrancar para uma jogada fantástica.
Participou com a sua selecção em dois campeonatos do Mundo, o de 1994 nos Estados Unidos e o de 1998 em França, sendo considerado o melhor jogador africano no ano de 1998.
Mais um valor a inscrever o seu nome nas páginas douradas do futebol leonino.
Deixo aqui um filme deste jogador no Marrocos-Noruega onde poderão ver e rever a qualidade deste atleta.
Porque o Mundial também é isto. Danças eternas com a bola por entre os adversários. Rasgões de impetuosidade e de genialidade. A química que se gera entre o jogador e a bola e que passa para as bancadas quando toca na rede. E numa linguagem verdadeiramente (de) Mundial, todos gritamos GOLO!
P.S: O do Cambiasso (golo nº16) é um hino ao futebol, salvo erro, foram perto de 20 toques da Argentina. Diz a história que a Sérvia nem cheirou a bola...
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