Se algum destes onze sócios do Sporting "sinalizado" por Bruno de Carvalho for agredido nos próximos dias, como foram os nossos jogadores em Alcochete, sabemos de antemão quem é o autor moral:
Faz hoje um mês que o nosso centro de formação e estágio em Alcochete foi invadido por quase meia centena de criminosos de focinho tapado que bateram em quem quiseram e destruiram o que lhes apeteceu.
Seria o dia ideal - com um mês de atraso - para Bruno de Carvalho pedir desculpa a todas as vítimas desta barbaridade. Entre elementos do plantel, equipa técnica, equipa clínica, fisioterapeutas e funcionários do clube. Mas o ainda presidente leonino não tem estatura moral para assumir um gesto desses. Como sabemos, ele é incapaz de reconhecer um erro ou de assumir qualquer responsabilidade, seja no que for.
Nunca esqueceremos o que aconteceu a 15 de Maio de 2018. Foi a página mais negra da história do Sporting.
Decorridas 2 semanas do vergonhoso ataque dos grunhos da bancada Sul aos jogadores da nossa equipa de futebol, já nos são permitidas algumas certezas, embora algumas dúvidas permaneçam por esclarecer, o que mais dia menos dia acabará por acontecer.
-É um facto que o vil e cobarde acto foi premeditado, porque planeado atempadamente na rede social whatsapp, como admitiram ao juiz de instrução, alguns dos vermes agora em prisão preventiva.
-É um facto que a escumalha que se dirigiu em matilha a Alcochete foi recrutada na claque oficial e apoiada pelo clube, denominada “Juve Leo”
-É um facto que poucos dias antes, durante a última partida disputada no nosso estádio, energúmenos pertencentes ao mesmo bando, lançaram artefactos incendiários na direcção do nosso guarda-redes e capitão, Rui Patrício.
-É um facto que alguns bandalhos, seguramente com a conivência de escroques que supostamente deveriam servir o clube, tiveram acesso ao parque de estacionamento reservado do nosso estádio, com o intuito de ameaçar alguns jogadores.
-É um facto que alguns hooligans proferiram ameaças a alguns dos nossos jogadores no aeroporto da Madeira, apesar de terem ido apoiar a equipa enquanto membros da claque oficial apoiada pelo clube.
-É um facto que existe proximidade entre o presidente do clube e o líder da claque, além de outros destacados figurões da mesma. O que não permite por si só afirmar que o presidente ordenou estes actos bárbaros, nem sequer que os líderes da claque o tenham feito. Mas convenhamos, será que os líderes da claque desconhecem totalmente o que fazem os seus membros mais radicais e exaltados? Porque existe uma organização com hierarquia, convém não esquecer. Será que ninguém na Direcção ou altos funcionários do clube esteve no mínimo conivente em todos estes acontecimentos? Não posso afirmar que os ordenou ou inspirou, mas também é um facto que existiu alguma relutância que resultou em demora, na condenação destas bestas. E até surgiu uma justificação tola, que os jogadores teriam sido moralmente responsáveis, posição entretanto abandonada perante o coro de indignação que se levantou…
-A agressão de Alcochete está longe de poder ser considerada um acto isolado ou reacção a quente a um mau resultado desportivo. As sementes da violência já haviam sido plantadas, os sinais vinham em crescendo, só não viu quem é cego, incompetente ou não quis ver…
-A decretada suspensão temporária dos apoios oficiais à guarda pretoriana da bancada Sul são para inglês ver e durarão o tempo do defeso? Ou ganharão vergonha na cara e vai o clube acabar de vez com esta horda infestada de álcool e droga que envergonha o clube a cada jornada?
-Por último, quererão os sócios do Sporting Clube de Portugal mudar de vida? Ou sentem-se confortáveis com a actual situação?
Ao contrário do que nos foi sendo transmitido ao longo dos últimos anos, ficámos ontem a saber, através de uma conferência de imprensa de Bruno de Carvalho, que afinal a situação financeira actual do nosso clube está pelas horas da morte. Tal facto apenas confirma o que infelizmente vamos nos dias de hoje sabendo: nada permite acreditar numa única palavra de Bruno de Carvalho. Não podemos aceitar que, depois de uma tão elogiada reestruturação financeira, o clube esteja em perigo de não conseguir pagar vencimentos aos seus jogadores, já no final deste mês, apenas porque um empréstimo de 15 milhões de euros está pendente de toda a situação presente. Situação essa criada exclusivamente por Bruno de Carvalho.
A posição ontem de Bruno de Carvalho, mostrando-se como uma vitima de um conjunto de pessoas que não olham aos interesses do Sporting, faz-nos de facto temer pelo real estado da situação financeira do Sporting. Em poucos meses passámos de uma situação financeira estável e controlada, com avultados investimentos em diversas áreas, para a iminência de não conseguirmos honrar os compromissos com os nossos jogadores. Perante tal cenário só temos duas hipóteses: ou a tão famosa reestruturação financeira não passou de um flop ou estamos perante uma vergonhosa chantagem aos sócios, trazendo de novo para cima da mesa a possível falência do clube.
Este facto traça definitivamente e infelizmente o modo de actuar do actual presidente, não é possível acreditar em alguém que coloca o clube nesta posição e encosta os sócios a um suposto dilema: ou eu ou o clube acaba. Foi isto que Bruno de Carvalho ontem fez.
Vergonhosa é também a forma como tenta menorizar os gravíssimos acontecimentos ocorridos em Alcochete. A transcrição dos depoimentos dos jogadores é arrepiante, atroz. Sabemos hoje que elementos da maior claque do Sporting, quando foram à nossa academia, apenas tinham um objectivo: agredir alguns jogadores já marcados e quem mais se pusesse à frente. Logo no dia seguinte estes elementos, e alguns foram logo identificados, deviam ter sido de imediato expulsos para sempre do Sporting. O Sporting devia de imediato ter apresentado uma queixa contra estes elementos da sua claque. Mas nada disto aconteceu, bem pelo contrário. Bruno de Carvalho teve a ignóbil declaração em que culpa os próprios jogadores, pelas bárbaras agressões de que foram vitimas, tendo afirmado apenas que são situações normais e que, enfim, é chato. Inacreditavelmente ontem manteve a mesma postura, afirmando a certa altura que a marcação desta assembleia extraordinária não tem qualquer sentido pois nada de anormal se passou. Ficamos a saber, nós e todos aqueles que, por exemplo, o Sporting queira contratar, que no futuro, com este presidente, situações como as ocorridas em Alcochete, podem voltar a acontecer. Esta posição, gravíssima a todos os níveis, implica um dano ao nosso clube que por agora é incalculável. E é isto que aparentemente Bruno de Carvalho prefere.
Espero que não seja isto que a maioria dos sócios queira.
Mário Monteiro, preparador físico do Sporting, profissional no futebol há mais de um quarto de século e um dos agredidos na tarde de terror em Alcochete, abandona o clube: «Estou de rastos, sem condições psicológicas para voltar à Academia. Sinto-me inseguro e perseguido.» Há motivos para isso: foi atacado «nos pulsos e no tronco com uma tocha a arder a 240 graus centígrados». E pelo menos dezena e meia dos participantes nesta selvajaria andam por aí, à solta, sem terem sido incomodados pelas autoridades.
«Rui Patrício está a oito jogos de passar o Hilário. Sendo o jogador [do plantel] com mais jogos na história do clube, no mínimo merece o respeito de toda a gente, não pode ser um alvo a abater.»
«Compreendo a frustração do presidente por não termos conseguido o segundo lugar no Funchal, mas em Madrid nada justificava aquela intervenção. O Sporting jogou de igual para igual, teve a infelicidade de dois centrais de classe terem tido azar naquele jogo… O presidente não tinha razão para falar. E quando se fala é dentro do balneário.»
«Desde o jogo de Madrid que as coisas começaram a complicar-se, esta invasão na Academia se calhar tem algo a ver com tudo o que se passou desde Madrid para cá.»
«Quando vejo o Bas Dost a jorrar sangue e os enfermeiros de volta dele, revoltei-me de tal maneira que chamei tudo a toda a gente. Nem sei o que disse. Isto é impensável.»
«Foi um filme de terror, como nunca vi. (...) Estava no meu gabinete com os meus colegas quando ouvi um barulho. Saímos e fomos atropelados. Como é que eles sabiam onde era o balneário?»
«O Sporting é muito maior que isto tudo e tem de ser salvaguardado. Se isto é o Sporting do futuro, não me revejo nisto.»
«O Sporting só é campeão com os melhores jogadores, com uma estrutura forte que queira vencer e com estabilidade emocional dentro do clube. Se à primeira tempestade tudo descamba, o Sporting nunca será campeão.»
Duas horas de perlenga, atacando os jogadores e afagando as claques quatro dias após aquelas indescritíveis cenas em Alcochete: foi das coisas mais obscenas que tenho ouvido desde sempre no Sporting.
Esperei todo o tempo que ele dissesse qualquer coisa como isto: «Se vier a provar-se que membros da Juventude Leonina participaram nas agressões aos jogadores e na vandalização do nosso centro de estágio, vamos rever os apoios que concedemos a essa claque e tomar duras medidas punitivas contra os autores materiais e morais destes actos de lesa-desporto, em tudo contrários à ética leonina.»
Numa daquelas bravatas populistas a que já nos habituou, diz que, se tivesse estado em Alcochete na terça-feira, teria enfrentado os jagunços «até à morte».
E no entanto revela que amanhã faltará à final do Jamor por não estarem «criadas as condições» para o efeito.
Convém ler esta notícia, já com um mês, explicitando que o presidente ameaçara os jogadores com as claques (já agora, constou que no princípio da sua presidência fez o mesmo aos bancos, coisa que não sei se "mito urbano" se verdade histórica). É evidente que haverá sempre quem negue a notícia: o querer crer é uma intelectualite pandémica, e isso ainda segura alguns crentes em BdC. Mas é explícito que a indução do ambiente que levou a toda esta desgraçada desagregação foi obra do actual presidente - não, não estou a afiançar que BdC convocou a milícia para assaltar Alcochete, estou a dizer que propositadamente, como estratégia de exercício presidencial, "empoderou" (como se diz agora) as milícias clubistas. As quais, assim empoderadas, terão excedido, devido às suas características, os próprios desígnios do seu aliado máximo e protector.
Contrariamente ao que muitos querem crer e fazer crer, este ambiente de turba violenta não é uma maleita absolutamente minoritária. Lembro-me que há alguns meses um sportinguista, meu amigo-FB, me inscreveu num grupo sportinguista no FB. Nas minhas primeiras entradas vi ali a partilha de um filme (de facto era um "canal youtube", portanto uma coisa periódica, com seus inúmeros seguidores), no qual um "claquista", ao que parece relativamente afamado nesse tipo de meios, qual líder cultural, perorava do estrangeiro, apelando à coacção física sobre os árbitros e similares, partilhando dados de identidades pessoais (não me lembro dos detalhes, mas seriam telefones e moradas de residências e de cafés ou restaurantes frequentados por agentes do futebol). Aquilo era partilhado por membros do grupo. Sem qualquer comentário crítico, distanciador pelo menos, por quem o partilhava. Colhia imensas anuências ("likes", na gíria do suporte FB) e fiadas de comentários elogiosos (tipo "assim é que é!").
Critiquei aquilo, indignado, e saí de imediato do grupo. Para de imediato ser confrontado no meu mural-FB por gente do grupo, depois de terem vindo vasculhar os meus textos aqui (treslendo, pois gente algo iletrada, incapazes de acederem às mais evidentes das ironias), com as tradicionais acusações de anti-sportinguismo (isto foi antes da celebrização do termo "sportingados"). É importante lembrar isto, pois aquele grupo tinha milhares de participantes, sportinguistas, todos aceitando com placidez, sem ponta de indignação, e assim coniventes, a partilha deste género de mensagens, esta abordagem ao futebol, este modo de "ser", este "sportinguismo". Muitos provavelmente escudando-se num "eu não concordo, mas é normal ... democrático, que haja opiniões diferentes", ou na reclamação de que "nos outros clubes também há disto". Assim coniventes com a expansão desta cultura marginal e violenta entre adeptos. Do clube. Do futebol. Na sociedade. E neste caso quem diz coniventes diz cúmplices.
Ou seja, se concordamos que é insuficiente dizer que isto "é chato", como o tresloucado BdC resume, também é preciso concordar que isto, a cultura da violência e do revanchismo, o fazer do futebol o coito dos ressentimentos sociais, não se restringe a meia dúzia (cinquenta que sejam). Grassa em todos os clubes. E no nosso clube. Entre os holigões mais auto-marginalizados. Mas também com a conivência de muitos pacatos, e até timoratos, filhos-família e pais de família. E avôs de família. Num afã vingativo, coando o fel próprio no remanso do seu sofá. Com a (paupérrima) desculpa da "paixão". Convém acordar para isso.
Dois dias depois, ainda não se demitiram. Nem um, para amostra. Agarram-se à cadeira onde se sentam como náufragos agarrados a uma bóia. Agora ensaiam nova fuga para a frente. Alinhadinhos atrás do chefe, sem um sussurro de dissidência. Enquanto o Sporting se afunda num abismo.
São os membros do Conselho Directivo que secundam e ornamentam a alucinada gerência de Bruno de Carvalho. Todos fazem parte do problema, nenhum fará parte da solução.
Vejo amigos relembrarem outras agressões de adeptos de outros clubes em várias épocas. Lamento, mas isso não me serve de consolação.
Antes de explicar porquê, devo um pedido de desculpas a muitos adeptos de outros clubes pela minha insolência e arrogância, mas a verdade é que muitas vezes me considerei, como adepta e apenas como adepta, dona de uma certa superioridade moral.
Ser do Sporting sempre foi um motivo de imenso orgulho para mim. Ver os meus filhos crescerem como Sportinguistas ferrenhos era também motivo de orgulho e até vaidade. Diziam-nos muitas vezes "mas não ganhas nada!" e eu ria-me por dentro e repetia "Vocês sabem lá! ". Sabem porquê? Porque tudo o que haviamos ganho era honesto, limpo e muitas vezes, era ganho apesar dos esquemas de outros, das negociatas, dos roubos descarados. Eternos derrotados mas de cara limpa, erguida, com brio.
Por isso, desde ontem, sinto uma vergonha imensa e uma tristeza devastadora. Só eu sei o que significa uma jornada em Alvalade com a minha família, com o orgulho de uma história limpa e honesta. Não perdoo a quem nos roubou isto. Jamais perdoarei.
Acuña e Battaglia admitem rescisão do contrato com a SAD do Sporting, alegando justa causa. Revela o canal argentino TyC Sports, especializado em actualidade desportiva.
A notícia das agressões de que os jogadores foram vítimas na academia leonina deu a volta ao mundo. Tornando o Sporting famoso pelos piores motivos.
«Nós, sportinguistas, estamos a assistir à página mais negra da história do Sporting. Não me recordo de ver isto em clube nenhum do mundo. Isto é inacreditável, é inaceitável. (...) Já chega, isto bateu no fundo.»