Um pouco de cavaquismo
Há muitas diferenças entre as eleições na política e num clube do qual se é sócio ou adepto de forma voluntária. Votar na política é um "dever cívico"; no clube, só o é se formos sócios. E ninguém nos obriga a sê-lo. Ninguém nos obriga a sermos adeptos de um clube: é uma escolha nossa.
Daqui decorre, naturalmente, que as eleições em política e no clube devem ser encaradas de forma bem diferente. Nomeadamente no que diz respeito ao fator "competência" e ao fator "valores". Em política, dou mais importância ao segundo que ao primeiro, dentro de certos limites, como é óbvio. Ou seja, até certo ponto, e dentro de certos limites (no respeito às leis de um estado de direito, nomeadamente à Constituição), prefiro ser governado por políticos menos competentes, mas que ponham em prática políticas que eu considere justas (desde que sejam competentes o suficiente para as executarem, como é óbvio) do que por políticos "muito competentes" que defendam ideias totalmente opostas às minhas e pratiquem políticas que considere injustas (eu diria aliás que estes são os piores…). Não há para mim algo pior do que ser governado em nome de ideias que abomino. A noção de "bem", para o país e para o povo, de quem defende essas ideias é oposta da minha. Por isso, não me interessa uma suposta grande "competência técnica" se é para ser posta ao serviço das ideias de que sou adversário.
Num clube, e neste caso no Sporting, a situação é diferente. Podemos ter projetos diferentes para o clube, podemos defender soluções distintas. Mas de um modo geral, pelo menos em primeira aproximação, os sportinguistas podem chegar a um acordo, mínimo que seja, sobre a noção de "bem" para o nosso clube. Não estou com isto a menosprezar a importância do debate e confronto de ideias; simplesmente, uma vitória do Sporting é algo que nos une a todos. Não existe nada assim na política. Por isso eu sou muito mais sensível ao argumento da competência tratando-se do Sporting.
Um dos políticos que mais abomino manteve sempre através da sua (longa) carreira política um discurso não-político (no mínimo); afastou sempre que pôde a política das suas palavras, apresentando-se sempre como "não político" e "competente": alguém que executaria bem as políticas "de que o país precisava". Para ele, duas pessoas, partindo das mesmas premissas, deveriam chegar sempre à mesma conclusão…
Pelo que expliquei, abomino um discurso deste tipo em política. Mas dou por mim a praticá-lo… no Sporting. É que a competência é aquilo de que o Sporting mais precisa: é o que tem andado mais afastado (eu diria totalmente afastado) do clube, pelo menos nos últimos quatro anos. É isto que eu penso que os sportinguistas devem procurar, e é o que eu mais desejo ao futuro presidente e à futura direção: muita competência. Gostaria de a ver. Espero vê-la.