Acidentes de campanha (16)
Godinho Lopes insiste, insiste, insiste: decorre uma campanha eleitoral no Sporting mas o presidente quase-cessante não se cansa de procurar a ribalta mediática sem perceber que o seu tempo já passou. E tem o condão de, em cada intervenção pública, deixar bem evidente a sua falta de capacidade para liderar um clube com a dimensão, a grandeza e o percurso histórico do Sporting.
Sexta à noite, em Loures, não fez a coisa por menos: admitiu pela enésima vez vender Wolfswinkel. Em vez de pedir perdão aos sócios pelo rotundo fracasso da sua política desportiva, que nos legou apenas um ponta-de-lança, reitera o seu desejo de alienar precisamente este jogador como se não reparasse que assim deixaria o plantel ainda mais desguarnecido de estrutura atacante. Talvez Godinho Lopes, que sai de Alvalade sem títulos futebolísticos, ambicione afinal deixar o Sporting como equipa com pior ataque de sempre no campeonato, manchando a memória de inúmeros goleadores que brilharam no nosso clube, de Peyroteo a Yazalde.
Mas o pior nem foi isto. O pior não é sequer Godinho Lopes abandonar o cargo deixando os cofres de Alvalade ainda mais depauperados do que estavam quando chegou. O pior foram os termos usados pelo ainda presidente para exprimir esta ideia, fazendo lembrar aqueles miúdos birrentos e malcriados que pegam na bola e a levam embora, nos jogos de rua, quando estão a perder: "Os actos de gestão são praticados por quem cá está. Eu comprei 25 jogadores e alimentei os outros todos. Se tiver de vender quem comprei e quem alimentei qual é o problema?"
Qual é o problema, engenheiro Godinho Lopes? Vou dizer-lhe qual é o problema. Falar de seres humanos nos termos que utilizou - dignos de um senhor feudal ou de um negreiro - é totalmente inaceitável. Uma pessoa não é um objecto nem um animal doméstico, que se "compra" e se "alimenta". Pior que perder em campo é perder jogos num campeonato muito mais importante - o campeonato da civilidade e da decência. Com declarações como esta, perdeu por goleada. O que não deixo de lamentar, mesmo sem ficar surpreendido.