A evolução das espécies
Quem é que tu pensas que és? Isto perguntado assim intimida qualquer um e a mim intimidou ainda mais. Glup! Engoli em seco, enfiei a cauda prêensil entre as pernas e desapareci dali. Cheguei a casa com a língua ainda áspera e perguntei: quem sou eu? Depende de muita coisa, responderam-me. Mas quem sou eu?, tive de repetir. És um camaleão! Um camaleão? Meu Deus, isso explicava tanta coisa na minha vida. Sou um camaleão. Quando perguntei o que isso queria exactamente dizer, isso de ser um camaleão, premiaram-me como nunca pensei ser possível: significa que não tens personalidade. Eu não tenho personalidade?, e esbugalhei os olhos, articulando-os em direcções diferentes. Não, não tens personalidade nenhuma. Mas isso é uma vantagem da cadeia alimentar, garantiram-me. Significa que basta encheres os teus divertículos pulmonares para teres as fantásticas cores que quiseres. Esta parte deixei de entender: então mas eu não sou verde? Estou confuso! O facto de estar confuso com as cores já fazia de mim um bom camaleão e depois ainda me explicaram que mudar de cor e não ter personalidade é, na verdade, uma grande vantagem competitiva. A maior de todas as vantagens competitivas. Ai sim? Sim, para quê ter uma personalidade quando se pode ter todas? Ah, bom! Repeti feliz: para quê ter uma personalidade quando de se pode ter todas?