Acidentes de campanha (12)
Desqualificar o adversário, transformando-o em alvo permanente de muita prosa canhestra, tem sido a estratégia usada por alguma blogosfera e nas redes sociais mais militantes nesta campanha eleitoral do Sporting. Não há um esforço mínimo para analisar propostas e programas com racionalidade: apenas a mão no coldre, sempre pronta a disparar o revólver. Não contra o adversário externo, mas contra o inimigo interno.
Esta espiral de ódio espelha bem o que tem sido o maior problema do Sporting nas últimas duas décadas: é sempre mais fácil cerrar fileiras contra do que a favor de alguém em Alvalade. Cada frase discordante soa a declaração de guerra, as divergências conduzem a corte de relações, do púlpito à trincheira vai uma distância muito curta, o instinto bélico vira-se para dentro e não para fora, combate-se com uma ferocidade verbal própria de quem recusa fazer prisioneiros e nunca ouviu falar na Convenção de Genebra.
A falta de resultados desportivos e a apavorante situação financeira do clube em muito contribuem para este cenário, confirmando o acerto do velho adágio: em casa onde não há pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Mas isto não explica tudo. Seria bom que este péssimo hábito de odiar quem pensa de maneira diferente, mesmo que tenha a mesma convicção clubística que nós, fosse banido do quotidiano leonino. Aplaudo, portanto, o tom relativamente civilizado que os candidatos têm imprimido às respectivas campanhas, sem declarações incendiárias (a excepção tem sido Carlos Severino, em parte por motivos que já analisei aqui).
Mais uma razão para os apoiantes de José Couceiro e Bruno de Carvalho não se sentirem autorizados a continuar a produzir textos que espumam ódio sete dias por semana. Sem repararem que isso, no fundo, só aproveita aos nossos verdadeiros adversários - os que estão fora de portas. Quanto a inimigos, só mesmo nas guerras a sério. O futebol foi inventado precisamente para nos livrarmos delas.