Cuidado com as hipérboles
Nunca gostei de hipérboles em jornalismo: julgo mesmo que são realidades incompatíveis. O jornalismo tem base factual e recorre a uma linguagem sóbria, contida. A hipérbole, pelo contrário, pertence ao reino da propaganda. E em regra, enquanto tal, só funciona distorcendo os factos - isto é, pervertendo o jornalismo.
Vem isto agora a propósito da moda - que considero muito discutível - de tratar os jogadores de futebol por alcunhas nas páginas dos periódicos especializados em desporto. Sou contra este mau hábito: só os reis medievais eram conhecidos pelos cognomes, não faz sentido recuperar essa tradição na moderníssima sociedade de hoje.
Mas o facto é que continuo a ler estas alcunhas hiperbólicas na nossa imprensa. Ainda há dias, uma página dedicada a Labyad num desses periódicos chamava-lhe por duas vezes "Leão do Atlas". Mas ia mais longe: Labyad era denominado "pérola" enquanto se incensava o "génio criativo" deste jovem marroquino de apenas 19 anos, marcador de dois golos em 22 jogos nesta temporada.
Labyad tem talento e uma enorme "margem de progressão", como se diz em jargão futebolístico. Mas deverá trabalhar muito para conquistar o título de "Leão do Atlas" - e sobretudo para conquistar títulos a sério. Porque o blablablá jornalístico não vence campeonatos. E por vezes pode até afectar os jogadores: basta que se convençam que tudo quanto dizem deles corresponde à verdade.