Rir como um sportinguista
Além de ser sportinguista, gosto muito de ser sportinguista. Isto porque o Sporting tem a superior qualidade de lhe faltar aquilo que sobra nos outros: uma ideologia. O Sporting é, dos ditos 3 grandes, o único clube desmistificado, digamos assim: não joga futebol numa catedral mas apenas num estádio de futebol, não representa a Nação e não simboliza a Cidade. Por mais bizarro e desconcertante que isto possa parecer em Portugal, o Sporting é apenas um clube desportivo e representa-se a si mesmo.
Por isso a característica primeira de um verdadeiro sportinguista é saber rir-se de si próprio. Ora isto traz a vantagem de nos limitarmos a encolher os ombros quando as coisas correm mal e ficarmos contentes (disse “contentes” não disse “felizes”) quando tudo vai de feição. Deveria também trazer a vantagem de nos podermos rir dos espasmos e dos frenesins de outros, para quem dos êxitos do seu clube parece depender a grandeza e o heroísmo que lhes falta na vida quotidiana.
Ninguém tem um sentido de ridículo tão apurado como um sportinguista, até porque, sabemo-lo bem, às vezes os nossos resultados são ridículos. Isto deveria permitir-nos rimos deles, quando eriçadamente exaltam a glória da pátria entregue a um punhado de sul-americanos em calções ou quando veneram como ídolos da portugalidade uns rapazes que deram uns pontapés numa bola, mal sabendo articular uma frase e de maus costumes. Um bocadinho deprimente, não acham? O melhor é mesmo rir, felizmente somos sportinguistas...