Triplo Duplo
Tenho imensa pena de que o Sporting já não tenha basquetebol. Desde muito novo, talvez desde os 10 anos, este é o meu desporto preferido. Lembro-me de o primeiro livro de não ficção que pedi ao meu pai, por volta dessa idade, ter sido sobre basquetebol, já não sei o título, mas recordo-me bem de ser uma edição brasileira e o seu autor Moacyr Daiuto. Não sei de onde nasceu a paixão, mas provavelmente terá resultado de alguma influência das aulas de educação física no Pedro Nunes, liceu que frequentei até ao 5º ano, hoje 9º. Um pouco mais tarde, já no 7º ano, o liceu que eu frequentava, o Salvador Correia, em Luanda, organizou uma viagem de finalistas a Moçambique. No dia da chegada à então Lourenço Marques, alguém me informou de que, nessa noite, se jogaria um Sporting-Académica, ambos desta cidade. Lembro-me de, até à hora do jogo, entre duas das melhores equipas portuguesas desse tempo, mesmo ansioso por explorar uma cidade desconhecida e tão atraente, eu não ter pensado em mais nada. Fui ao jogo, na companhia de conhecimentos locais, e lembro-me de ter assistido a um grande espectáculo, em que, por azar, o Sporting de Lourenço Marques, por que vibrei como se se tratasse da casa mãe, perdeu.
Nesses tempos, o Sporting chegou a ter excelentes equipas de basquetebol, tendo sido no final dos anos 60 campeão nacional, com jogadores, se não estou enganado, como Sobreiro, meu contemporâneo, embora muito mais velho, no Pedro Nunes e excelente jogador de andebol no Passos Manuel, Encarnação, José Mário, José Augusto, Guimarães e outros de quem lamento não me lembrar neste momento. Além, naturalmente, do Prof. Hermínio Barreto, nome muito grande entre todos os técnicos, de todas as modalidades, que alguma vez honraram o clube com os seus conhecimentos e o seu comportamento desportivo. Mais tarde, apareceram jogadores como Kit Jones, um americano excepcional que deixou grandes saudades, o seu irmão Jim, Carlos Sousa, Nelson Serra, Mário Albuquerque, Rui Pinheiro, Quim Neves, Carlos Lisboa, talvez o melhor jogador português de sempre, Augusto Baganha, Tomané e tantos outros que é impossível estar agora a enumerar.
Bem sei que os tempos são outros, que a capacidade financeira para nos aventurarmos em cometimentos que não há muitos anos se nos apresentavam como naturais é bastante reduzida, mas, de qualquer maneira, interrogo-me sobre a real impossibilidade de regressar a uma modalidade tão espectacular, cada vez mais popular e que tantas glórias e boas recordações nos legou. Será possível sonhar com projectos de formação,para o basquetebol e para outras modalidades que também o merecem, inspirados, com as necessárias adaptações, no modelo criado para o futebol?