Luís XV em Alvalade
"Não entregamos o clube a gente que nunca apresentou uma solução. (...) Seria o caos."
A frase, proferida há minutos em conferência de imprensa pelo actual presidente do Sporting, numa paráfrase quase exacta de Luís XV, é muito reveladora sobre o pensamento de Godinho Lopes, que encara o clube como uma espécie de propriedade sua, à revelia da vontade dos sócios.
Foi uma conferência de imprensa lamentável a vários títulos.
Sem uma frase de mea culpa, sem o reconhecimento de um erro, sem um traço de humildade, Godinho Lopes invoca a sacrossanta "estabilidade do clube" enquanto lança litros de gasolina para uma fogueira que não cessa de arder. Diz não ter medo de "enfrentar os sócios" mas recusa reconhecer que ele próprio é o maior foco de instabilidade num clube que tem sido um contínuo vaivém de treinadores, jogadores e dirigentes desde o início do mandato deste Conselho Directivo. Vem invocar as proezas registadas nas modalidades sem admitir que no futebol profissional o Sporting vive a página mais negra do seu longo e prestigiado historial. Diz que nunca fez promessas, já esquecido das abortadas garantias de "dinâmica de vitória", das "estratégias de internacionalização" jamais concretizadas e do clube "independente da banca" que não passou de miragem, usadas como chamariz eleitoral para captar os votos dos sócios em Março de 2011.
Afirma querer unir os adeptos sem reparar que nunca a desunião entre os sportinguistas foi tão notória.
Pior que tudo: neste encontro com os jornalistas, o presidente proferiu dezenas de vezes o nome de Jesualdo Ferreira, transformando o manager e treinador do clube em arma de arremesso nas disputas internas, exactamente ao contrário do que o mais elementar bom senso recomendaria. Vindos do mesmo dirigente que há três meses enaltecia Vercauteren por ter "o ADN do Sporting", os seus elogios actuais a Jesualdo valem o que valem. Tanto como as aquisições que não concretizou em Janeiro e as promessas eleitorais que deixará por cumprir.