Campeonatos de matraquilhos*
Recentemente, num almoço de domingo na nossa casa de família, demos por nós a evocar memórias antigas de sportinguistas. Mais interessante do que a tertúlia em si – que irei retomar num próximo artigo – foi a (re)descoberta da mesa de matraquilhos da minha infância. Tapada, ignorada e esquecida durante anos foi, naquela tarde, a felicidade das gerações mais novas da família (e, confesso-vos, das restantes).
A ideia de um campeonato de matraquilhos, a efectivar-se logo de seguida, foi imediata. Durante algumas horas, voltámos todos a ser crianças e a disputar, de forma aguerrida, as bolas em “campo”. Mas giro, giro foi ver os meus sobrinhos e os meus filhos em disputa acesa sobre quem é que iria jogar pelo Sporting. Porque, como todos sabem, qualquer mesa de matraquilhos que se preze (excepção talvez às que sejam vendidas no norte de Portugal) têm os eternos rivais a jogar entre si.
A contenda lá se resolveu, com as equipas formadas pelos mais pequenos a jogarem à vez pelo nosso Clube. E, claro está, o Sporting ganhou porque quem estava a jogar pelo slb deixava, misteriosamente, os golos entrarem quando havia a ameaça do benfica ganhar o jogo... Quando o campeonato acabou, fiquei para trás a observar aquele que foi um dos brinquedos mais emblemáticos da minha infância. O tempo tinha passado por esse enorme tabuleiro, mas ainda havia algo que me transportava para o passado: a mesa tinha as marcas de cigarros do meu pai, um dos avançados estava pintado de negro com um enorme J, de Jordão, na camisola, ladeado, obviamente, por um MF (não é Mota Ferreira, mas o incontornável Manuel Fernandes). Os bonecos do slb estavam maltratados como o meu irmão e eu os tínhamos deixado há 30 anos e, no relvado, junto à baliza do nosso adversário, tinha escrito “goloooo”, como se, por escrevermos a palavra mágica, tívessemos por garantida uma vitória do nosso Sporting.
Dei por mim a sonhar acordado e, por breves momentos, regressei a recordações que me são queridas. Com a vantagem de, agora, a juntar às minhas memórias passadas, outras, de um passado mais recente, em que os nossos descendentes mostram que quem sai aos seus não degenera.
*Artigo desta semana no jornal do Sporting