Memórias*
Hoje vou falar do passado. Sim, é verdade, é uma desculpa miserável para não falar do presente e não tentar adivinhar o futuro. Mas, refugiado no passado, do alto das minhas 40 primaveras, tenho momentos bons para partilhar convosco. Mesmo quando pensamos nos anos intermináveis de jejum, quando olhamos para os campeonatos que vencemos, para os que nos fugiram, para tudo o que fomos, somos e podíamos ter sido, há sempre momentos que nos fazem sorrir. Porque os presenciámos junto de quem gostamos.Se calhar o que vivemos hoje no que no futebol diz respeito é uma questão de tempo e distância. Hoje sofremos e estamos agastados porque todos os dias há sempre algo ou alguém que nos lembra que estamos em crise. E, tal como o diabo, nos tentam a trocar de clube ou tudo fazermos para mudarmos o que sentimos que está mal no nosso Clube.
A minha experiência diz-me que, embora com muitas razões de queixa enquanto adepto, daqui a 20 anos, esta época será olhada como um pormenor, uma curta linha na grandiosa enciclopédia sportinguista. Estou a escrever isto e assalta-me o pensamento de: “e se até ao fim da época descemos de divisão?”. É um pensamento atroz, bem sei, algo que, ao contrário dos nossos rivais, nunca nos aconteceu. Vamos afastar esse pensamento então...
Dizia eu que o que nos falta neste momento é o distanciamento histórico para olharmos friamente para tudo o que nos rodeia. Eu sei que o Jordão, o Manuel Fernandes e o Oliveira não voltam para o campo, tenho consciência que os “Cinco Violinos” são uma memória do colectivo de pessoas com a idade do meu pai. Sei que há dez anos não ganhamos um campeonato e, infâmia das infâmias, na hora que escrevo estas linhas, os nossos eternos rivais estão a liderar o campeonato e, com o devido respeito por estas equipas, vejo-me, como Sportinguista, a estar preocupado com os resultados do Rio Ave, do Paços de Ferreira ou do Estoril.
Parece não haver receitas mágicas nem estratégias que nos possam fazer vislumbrar um rumo diferente ao actual. Mas, hoje, como ontem e como amanhã, continuo e continuarei a ter orgulho na escolha passional que fiz há muitos anos. Sou e serei Sporting. Sempre. E nada ou ninguém mudará isto. Porque, como na vida, também no clube que escolhemos apoiar, temos alegrias e temos tristezas. E, como sabemos, o que não nos mata torna-nos seguramente mais fortes.
*Artigo desta semana do Jornal do Sporting