Quem com ferro mata, com ferro morre
Vai fazer um ano, a agência Lusa difundiu uma notícia construída com base numa fonte anónima com a qual se garantia que o afastamento de Domingos Paciência "terá ficado a dever-se ao conhecimento de encontros entre o treinador e dirigentes do FC Porto". Não era notícia: era puro assassínio de carácter, emanado de "fonte próxima da estrutura leonina" (dizia a Lusa, não dizendo nada), e sem recolher sequer a versão do treinador recém-demitido. A falsa notícia causou celeuma, naturalmente, no interior da própria agência. Ao ponto de a sua direcção de informação, confrontada com uma ameaça de queixa-crime por parte de Domingos, ter ponderado tornar pública a identidade da fonte inquinada, enquanto admitia que havia sido cometido um atropelo deontológico.
Como de costume em Portugal, ficou tudo na mesma. A fonte permaneceu por revelar, o que não deixou de ser um procedimento correcto: é muito feio lançarmos culpas para terceiros quando somos apanhados em flagrante atropelo à deontologia. O pior é que a Lusa parece ter aprendido pouco com o sucedido. Menos de um ano depois, volta a cometer idêntica falha profissional, recorrendo novamente a uma fonte anónima, embora identificada desta vez como pertencente ao Conselho Directivo leonino. Novamente uma tentativa de assassínio de carácter, novamente o recurso a uma fonte oculta, novamente o visado sem direito ao contraditório, novamente uma "notícia" construída sem esse cuidado elementar em jornalismo que manda ouvir sempre as duas partes.
Só tarde e a más horas acabou por ser difundida a versão do vice-presidente da Assembleia Geral do Sporting, num desmentido categórico às atoardas. E recolhidos os desmentidos em série dos outros visados na intriga. Algo perfeitamente lógico, aliás: o perfil social, profissional e cultural de Daniel Sampaio - personalidade de reconhecido mérito na sociedade portuguesa - fala por si.
Mas o mal já estava feito, através do efeito viral das redes sociais, que é uma espécie de tiro em permanente ricochete: quem o utiliza hoje pode ser vítima dele amanhã.
Quem com ferro mata, com ferro morre.