Bruxo!
Vejo na imprensa de hoje que o Presidente da FPF está surpreendido com o castigo aplicado na Turquia a Raúl Meireles. Fernando Gomes, que o conhece há imenso tempo, revela-nos a sua surpresa por ver atribuído ao jogador determinado tipo de actos que ele não tem qualquer possibilidade de ter praticado e, conta-nos, igualmente, este responsável que a FPF irá colocar à disposição de Raúl Meireles os serviços da Federação.
Fiando-me na opinião de Fernando Gomes, que me parece, indiscutivelmente, ter um perfil mediúnico, adequado para testemunhar, a partir de Lisboa, sobre actos alegadamente praticados na longínqua Constantinopla, também eu me associo ao estupor e à repulsa do Presidente da FPF perante esta perfídia dos iníquos responsáveis federativos otomanos, que, todos nós, cidadãos sensíveis e justos, devemos vivamente repudiar. Comovido com a declaração de fé de Fernando Gomes nas qualidades morais de Raúl Meireles e com a imediata manifestação da sua disponibilidade para defender o futebolista, tenho a certeza de que, com esta atitude, a FPF já deitou sementes à terra e que, daqui para o futuro, podemos confiar na sua boa vontade para defender qualquer futebolista português que, no estrangeiro ou em Portugal, seja acusado de um acto de indisciplina. Num ambiente, em regra, marcado pela reciprocidade, também a aplicação de sanções a jogadores estrangeiros deverá ser, naturalmente, precedida da auscultação dos bruxos dos respectivos países. Mas que isso não nos faça vacilar. Como se vê, não é difícil, quando se reúne qualidades sobrenaturais, avaliar, mesmo a uma distância considerável, situações como a que deu origem ao castigo aplicado a Raúl Meireles. Podemos, para não fazer discriminações, confiar, em geral, na fiabilidade das práticas ritualísticas de todos os presidentes federativos e, portanto, acreditar no seu parecer quando, antes de em Portugal se castigar um futebolista, por exemplo, peruano, o responsável pelo futebol do seu país nos assegurar, de Lima, que não há a mínima possibilidade de o jogador ter praticado o acto de que tenha sido acusado. Principalmente, se o conhecer há imenso tempo.
Esta fé nos atributos de Fernando Gomes é, muito levemente, toldada pela afirmação de Hugo Almeida de que as imagens do jogo são um bocadinho comprometedoras. Mas, não desanimemos. O que são quaisquer imagens, especialmente se só um bocadinho, uma coisinha de nada, comprometedoras, comparadas com os poderes de um sacerdote vudu?