Ao menos temos as miúdas mais giras*
Na segunda-feira fui a Alvalade. Durante a hora que antecedeu o jogo e, confesso, ainda durante a primeira meia-hora, estive feliz e nada arrependido de ter ido ao Estádio. Passei pelas roulottes, o espírito estava em alta. Fui para o meu lugar, vivi e absorvi o espírito de pré-derby. Estava em estágio.
Gostei do que vi na primeira meia-hora. Não sei se os jogadores embicaram que aquele era o jogo das nossas vidas ou não, mas durante 30 minutos o onze leonino funcionou como tal: em equipa, com garra e com convicção. Claro está que, mais cedo ou mais tarde, haveria de compensar e lá chegou o golo do inefável Wolfswinkel. E depois, o jogo acabou. Nos cerca de 15 minutos antes do fim da primeira parte, o Sporting quis aguentar o resultado como se estivéssemos a 2 minutos do fim.
E Rui Patrício defendeu o possível, mas não estava nos seus dias. Aqueles pontapés para o lado direito, Rui????
Durante o intervalo, algo se passou no balneário. É a minha única explicação. Os jogadores eram os mesmos, mas a garra tinha desaparecido. O onze deixou de funcionar, passou a ser cada um por si e, em determinados momentos, pensei que estava a ver um desafio de rugby, tais eram os pontapés para o céu e as bolas mandadas para fora. Houve erros, desconcentração, substituições inexplicáveis. A segunda parte foi miserável.
E um ruído insurdecedor das claques benfiquistas, que conseguiram calar as nossas.
Na segunda-feira, desculpem-me o pragmatismo, mas merecermos o resultado. Não gostei dele, mas merecêmo-lo. E estar sentado, no meu Estádio, e ver adeptos do Sporting como eu que abandonam o jogo quando ainda se está a 15 minutos do fim, para mim não tem explicação. Se nós próprios não nos respeitamos, como queremos darmo-nos ao respeito?
Notas positivas de segunda-feira: vi casais de namorados, ela do Benfica, ele do Sporting, em sã convivência. Vi muita juventude, miúdos de 14 ou 15 anos que não têm memória da última vez que ganhámos o campeonato a gritarem Sporting em plenos pulmões. Vi famílias inteiras que, apesar do jogo ser a uma inacreditável segunda-feira à noite, disseram presente.
E depois de ter estado em Alvalade, ter visto o que vi, cheguei a uma conclusão que me deixa, pelo menos, mais sereno: as nossas miúdas são muito mais giras...
*Artigo desta semana do jornal do Sporting