A falta de auto-estima portuguesa
Uma das coisas que me angustia na sociedade portuguesa é a falta de auto-estima, a incapacidade de valorizar o que de bem se faz no país, e apoiar os bons agentes sociais, os competentes que tanto desenvolvem o país.
Ora neste mundo global, super-competitivo, e de enorme expansão das "indústrias" de entretenimento, em tempos ditas de "conteúdos", é notório que o futebol é o desporto mais importante e nisso o espectáculo desportivo mais seguido, e apaixonadamente, por milhares de milhões de espectadores. Nesse âmbito é surpreendente que um país com a dimensão demográfica como o nosso tenha tamanha importância, tamanho sucesso. Não apenas na pleiâde de jogadores aparecidos nos últimos anos - e não falo apenas dos absolutamente fora-de-série, com Futre, Rui Costa, Figo ou Ronaldo, mas também de dezenas de excelentes jogadores, com excelentes carreiras internacionais, tornando o país num grande "exportador" desta mão-de-obra artística. Falo também do sucesso da nossa selecção sénior, nas últimas décadas sempre no topo do rigíssimo ranking da FIFA e com excelentes desempenhos nas grandes competições internacionais. Acompanhado do bom comportamento das selecções dos escalões mais jovens. Tudo isso, como é óbvio, sublinhado pelas excelentes prestações dos clubes portugueses nas competições europeias, que colocam Portugal também no topo desse ranking, bem à frente de países com demografias bem mais extensas, desenvolvimentos socioeconómicos e da indústria comunicacional, e suas receitas, bem superiores, e nos quais também habita um grande interesse nacional pelo fenómeno futebolístico.
Tudo isto convém lembrar. Tudo isto convém convocar ao referir o campeonato nacional (ou a liga, como se diz agora). Porque sendo o campeonato-sede de um futebol de tamanho gabarito, ele tem um excelente nível. Talvez não tão visível devido ao centramento das atenções, dos orgãos de informação e também dos adeptos, nos históricos três grandes clubes. Mas é óbvio que este campeonato, palco de grandes jogadores nacionais (tantos deles exportáveis) e estrangeiros (um verdadeiro trampolim para os campeonatos mais ricos), é de excelso nível.
Com tudo dito parece-me óbvio que só a falta de auto-estima nacional é que implica que o campeonato nacional da I divisão tenha apenas 16 clubes. Pela sua qualidade merece, pelo menos, ter 18 clubes concorrentes - não é que o Sporting tenha algo a ganhar com isso, claro ...