Fut€bol vs. Sporting - 3
Há entre a Liga de Futebol portuguesa e o detentor dos direitos televisivos a SportV um conflito permanente. A Liga está condicionada por duas forças, chamemos-lhes “reacionárias”, lesivas da SportV.
A primeira é o binómio Porto/Benfica, liderado por Pinto da Costa. Estes dois clubes querem dividir o bolo entre si, opondo, na verdade, os seus interesses particulares aos interesses do mercado. Como a economia é frágil, é imperioso ganhar o Campeonato, pelo que quanto menos competição houver, melhor. Ora um campeonato a dois é um descalabro para as audiências de TV, sobretudo se decidido muito cedo, por volta de Fevereiro. Manietado pela estratégia do FCP, o Benfica corre atrás dela, enredou-se numa situação de curto prazo, tem que ser campeão hoje mesmo para justificar e ver ressarcido o investimento louco que tem feito, que se lixe a sustentabilidade do negócio, “tomorrow is another day”. Donde ambos conspirarem activa e evidentemente para a liquidação do Sporting. Isto é uma desgraça para a TV, de tal modo que este ano não houve quem comprasse os direitos para canal aberto. Donde, ainda, a pretensão do Benfica em recuperar para si esses direitos – quer competir sozinho, bom proveito.
A segunda força reacionária é o triângulo, exposto por Maria José Morgado, clube-autarquia-construção civil. Exemplo supremo foram o Boavista e o Leiria (ouviste, Braga?). Clubes incapazes de encher o seu próprio estádio, porque nem nas suas terras têm popularidade, vão parar à primeira divisão com a fatia que lhe cabe da SportV, com um mecenas especulador (vejam o bairro de torres construído ao lado do campo do Alverca, onde estava planeada uma cidade desportiva – quem o terá feito?) e com autarcas coniventes ou submissos (o exemplar caso da Madeira). Como esta escória tem poder na Federação através das Associações, acaba por atravancar a Liga com a sua inamovível presença. Para isto contribuiu também a outra estratégia de Pinto da Costa que consistiu em levar o poder do futebol para o norte constituindo uma rede de interesses e bases locais a seu favor. Ora o detentor dos direitos tem que pagar muito mais por um MoreirenseXBeira Mar do que o seu real valor comercial, que é pouco mais do que nulo. A lei da Liga obriga teoricamente à sustentabilidade dos clubes, alguém a cumpre? Porque razão uma Académica, por exemplo, único clube primodivisionário das Beiras, um clube histórico, implantado numa cidade com 150 mil habitantes, nunca consegue, encher, vá lá, ¾ do seu estádio, com os seus adeptos? Não há explicação, porque dá-la seria insultar os interesses manhosos que se instalaram no futebol português.
Ora esta canalha ajuda a empurrar o desamparado Sporting para baixo, porque com menos um grande, mais espaço haverá para os acotovelados pequenos na repartição do bolo da SportTV. Poder-se-á argumentar que o Sporting leva muita gente aos estádios menores, mas, como se viu, isso são peanuts para quem ganha na margem do negócio.