O nosso Sporting
Nas últimas décadas foi notório que fomos ficando para trás em relação aos nossos eternos rivais. As declarações recentes tanto de Jorge Jesus como de Pinto da Costa, afirmando que o Sporting ainda é um adversário que pode baralhar as contas, mais não são que uma demonstração de um paternalismo cínico, reflectindo sem margem de dúvida a suposta realidade: actualmente para a luta do título apenas contam benfica e porto. Para estes o Sporting passou a ser um adversário que incomoda, tipo Braga, ou Guimarães. É este o nosso estado actual.
Sendo certo que o momento presente pede reflexão cuidada, é este o estado da arte do Sporting: lutamos jogo a jogo para vencer, não apenas o jogo em si mas esta letargia que se instalou nos jogadores do Sporting.
Não é de agora a sensação que tenho de ver os jogadores do Sporting com complexos de inferioridade em relação a benfica e porto. Ao longo das últimas décadas temos assistido a um declínio do nosso clube, disfarçado por dois campeonatos e por várias taças de Portugal. O nosso declínio começou com a hegemonia, pelos meios que todos sabemos, do fc porto.
Esta letargia, esta falta de vontade de vencer, não é um estado a que os jogadores chegam por iniciativa própria. Vem de cima e vem desde há muito tempo. Presidente após presidente o Sporting tem vindo a perder a vontade de ganhar. Oiço, leio e abomino o discurso empresarial que rodeia o Sporting. Temos empresas de serviços, temos SAD, temos SPGS, transformaram-nos, enfim, numa sociedade empresarial, um grupo económico. Precisamos de um líder que olhe para o Sporting, não como um gestor olha para uma empresa. Tem que olhar e ver um clube, tem que olhar e ver a massa de adeptos como parte integrante do clube. Se há característica endógena do Sporting, é o apoio dos seus adeptos mesmo com maus resultados. Não basta a um presidente ter um discurso onde afirma que o Sporting vai ganhar um, dois, três ou sei lá quantos campeonatos. Os discursos têm a sua importância mas tornam-se irrelevantes quando depois assistimos a uma gestão do clube apenas na sua perspectiva financeira. Um clube de futebol não é, nunca foi, nem nunca será uma empresa. Um clube de futebol tem que enquadrar na sua gestão, e enquadrar no topo e não ao lado, a vertente desportiva. De que nos vale um clube como o nosso se a gestão desportiva, a conquista de títulos, vem em segundo plano?
Para desgosto dos nossos adversários o Sporting é um grande clube. E este facto não tem discussão. Não tem discussão hoje, no presente. A nossa grandeza fez-se ao longo dos tempos, com vitórias fruto do esforço, do querer e crer dos nossos dirigentes e atletas. Mas um grande clube como o nosso pode também passar a ser apenas uma memória, evocada e lembrada com saudade.