Cordas novas para as costas de Mourinho
Num jogo disputado no Dia Internacional do Riso, era bom de ver que só o Barcelona podia ser feliz. Nos embates com a equipa catalã, Mourinho entra sempre condicionado pela história. Se o seu traço característico é o desplante, frente à equipa de Guardiola o Special One transpira medo e frustração. Por isso, refugia-se em tábuas. Acossado pela memória de desastres recentes, monta a equipa com base na tensão muscular. O seu estandarte é Pepe. Um futebolista sem cabeça e sem razão. O método baseia-se na presença, em doses iguais, de ignorância futebolística e pancada, ronha e retranca, contra-ataque e contenção. Nestas ocasiões, o Real Madrid de Mourinho tanto pode ser uma equipa de futebol como um grupo de assentadores de ladrilhos que enfrenta o destino com os dentes cerrados e um rol de queixas do patrão. É claro que um dia por outro lá pode calhar uma vitória. Foi assim quando Mourinho orientava o Inter do Milão. Pode voltar a ser na 2ª mão desta Copa del Rey. Nunca será, nessas condições, filha do mérito, mas a prova contextual de um axioma organizador da contingência ludopédica: um autocarro parado em frente a uma baliza tem razão duas vezes numa década. Fora disso, o trilho escolhido leva inexoravelmente ao insucesso. Bem pode Pepe resfolegar durante toda a partida. Basta que Messi respire por um segundo, que se distraia da apneia, e logo a arte invadirá o espaço restrito onde não chega o machado do lenhador luso-brasileiro. Consumado o desequilíbrio, já poderá o argentino mergulhar nas profundezas da vulgaridade consentida, como realmente fez durante todo o jogo. Tal como na vida, na bola a condição essencial para ser feliz é querer ser feliz, ousar o sorriso, ansiar pela gargalhada. Ter como único objectivo ceifar as pernas do adversário poderá, pontualmente, levar ao sucesso. Mas, nunca levará à felicidade. Por isso, este Mourinho que começou o jogo a rosnar Ai se eu te pego, acabou a partida a murmurar Nossa, você me mata. Foi exactamente isso que Abidal recordou aos presentes quando festejou o segundo golo do Barça coreografando a canção do insuportável Michel Teló. Por essa altura, já as costas de Mourinho tinham trocado as tábuas pela cordas.