Este Ano É Que É!
Nos anos 70s andava eu no liceu (que já não o era, desde que menosprezado em "escola secundária"). Na minha turma habitava um vizinho meu, futuro colega de curso, benfiquista ferrenho. Também animador da proto-claque benfiquista, nesse tempo em que os adeptos ainda não eram holigões nem tatuados neo-nazis. Era vê-los em dias de jogo dos lampiões a partirem dos Olivais, segunda circular abaixo, até ao bidé deles, por lá muito animados com as coisas do Nené e outros que assim. Um dia o benfica foi jogar a Alvalade, para a Taça de Portugal. E lá foi esse meu então colega, mais a sua simpática turba, minha vizinha. Eu também, mas para outro local na bancada, junto aos nossos, sem nos misturarmos com aquele "pessoal das barracas".
E como tal o que ainda hoje recordo foi o que me contaram os outros benfiquistas que ali estiveram com ele, também vizinhos, também colegas, também amigos, nisto das rivalidades da bola, que há quem insista (à falta de melhor vida ou de melhor cabeça, nem sei) em exagerar. E foi o jogo, aquele do Manoooel, em que o nosso possante e algo trapalhão avançado meteu três golos ao Benfica, sem espinhas.
Caminhava o jogo bem para o fim, nem cinco minutos faltavam, e na época nem havia isto d'agora dos descontos anunciados, já "Três Secos" nas redes do Galrinha Bento, e os benfiquistas a debandarem. Ali à volta do meu amigo levantavam-se os (nossos) vizinhos num "vamos embora,pá! qu'isto acabou". E ele nada disso, sem se mexer. "Vamos lá embora, pá", insistiam, na pressa de evitar as confusões finais e na azia da quase cabazada. E ele nada, impávido face as movimentações, atento ao jogo, nele embrenhado! "Então?!", invectivaram.
"Estou à espera do prolongamento ...", lá respondeu. Ficaram todos.
(Deixemo-nos de merdas, de estados de alma. "Este ano é que é!")