Ser Sporting
Sou SPORTING desde que me conheço, pelo fervor da minha mãe, e preza-me dizer que o meu sportinguismo nunca vacilou através dos anos perante algumas das adversidades que surgiram no curso, quer sejam resultados desportivos ou, até, qualquer eventual contrariedade à minha preferência sobre a constituição dos seus orgãos sociais. Procuro não me precipitar no juízo que faço das outras pessoas e não me considero mais sportinguista do que qualquer outro, reconhecendo que cada um vive o Sporting à sua maneira e mediante os meios ao seu dispor.
Preservo três eventos de maior estima no meu álbum de memórias verdes-e-brancas: 18 de Março de 1964, a espectacular vitória em Alvalade sobre o Manchester United de Bobby Charlton, por 5-0 - 15 de Maio de 1964, o histórico cantinho do Morais em Antuérpia que selou a conquista da Taça das Taças e, por fim, a inesquecível viagem de autocarro do Vidal Pinheiro até Lisboa, na noite de 14 de Maio de 2000, quando o País do Norte ao Sul saiu à rua como nunca se vira antes (ou depois) em Portugal.
A vida permitiu-me ver o Sporting pelos relvados do mundo e ainda tive a honra e o privilégio de o defrontar - de coração dividido - em diversas ocasiões. Como muitos milhares de sportinguistas vivi e sofri o jejum de 18 anos e diversos outros períodos de menor agrado da sua gloriosa história, mas, por tudo isto, não tenho memória de jamais me sentir tão emocionalmente assolado, como de há uns tempos a esta parte. Não tanto pela ausência de títulos e resultados, nem sequer pelo conturbado período que vive pelas suas dificuldades estruturais e financeiras, mas indubitavelmente mais pelo excruciante clima de negativismo que o rodeia e o aviltamento de anarquismo por oportunistas, que o impugna, frequente e impiedosamente, e ameaça asfixiar a sua existência. Identificado que está o carácter da manifestação, não existe causa para aceitar a razão de ser dos seus impassíveis extremos. Só sei «Ser Sporting» apoiando-o incondicionalmente, sobretudo nos piores momentos, e apenas me resta desejar que todos aqueles que contribuem para a insalubridade do momento façam pausa para reflectir e reconhecer que é imperativo que a sua mais digna essência seja recuperada, quanto antes, não sejam os danos irreparáveis.