Quando o apito estraga o espectáculo
Escrevi aqui, no rescaldo do clássico no Dragão, que o árbitro Jorge Sousa (da Associação de Futebol do Porto) inventou ontem dois penáltis contra o Sporting.
Sinto-me bem acompanhado. Hoje, no Tribunal d' O Jogo, cinco das seis opiniões formuladas pelos três especialistas que integram este painel vão no mesmo sentido. Passo-lhes a palavra, com a devida vénia.
Sobre a pretensa grande penalidade por "mão" de Cédric.
Jorge Coroado: «O jogador procurava levantar-se, apoiando-se no braço esquerdo. Naquela posição, não tinha como fugir ao contacto. Lance representativo da actual histeria sobre as mãos.»
Pedro Henriques: «Cédric, no interior da área, ao levantar-se do chão e de forma não deliberada, meramente casual, toca na bola com o braço, acção não 'intencional'.»
José Leirós: «Cédric, no chão, quer levantar-se, faz o movimento de apoio do braço e, casualmente, encosta-o na bola. Grande penalidade mal assinalada. Não podia tirar dali o braço, a menos que o arrancasse.»
Sobre o alegado penálti "cometido" por Boulahrouz sobre Jackson.
Jorge Coroado: «O árbitro equivocou-se. Boulahrouz ganhou posição e Jackson, recuando, procurou, deliberadamente, o contacto, ludibriando o decisor.»
Pedro Henriques: «Em nenhuma repetição, de que o árbitro não dispõe, se consegue ver qualquer infracção cometida de Boulahrouz sobre Jackson, designadamente, um eventual agarrão.»
Apreciação global.
Jorge Coroado: «Não foi prestação condizente com as exigências do jogo. Revelou-se inconsequente (...). Tem estatuto que lhe exige melhor.»
Pedro Henriques: «Num jogo de grande tensão e de grau de dificuldade elevado, a arbitragem teve tomadas de decisão técnicas e disciplinares muito discutíveis.»
José Leirós: «Sem critério uniforme na disciplina, errou em cartões amarelos exibidos e por exibir.»
Se James tivesse falhado o segundo penálti, como Lucho falhou o primeiro, o árbitro da Associação do Porto haveria de inventar um terceiro neste FC Porto-Sporting - de forma tão flagrante e escandalosa como os dois anteriores.
Ano após ano, o fenómeno repete-se nos relvados portugueses: são sempre os mesmos a estragar o espectáculo. E quase todos usam apito.