O oportunismo de Augusto Inácio
Não posso deixar de lamentar a entrevista concedida hoje por Augusto Inácio à Rádio Renascença, não tanto pelas suas apreciações - algumas das quais até coincidem com as minhas - mas pelo seu hábil aproveitamento de um momento muito delicado para o Sporting, deixando a inevitável sensação de que advém de recado encomendado por e em sintonia com o «candidato derrotado», seu forte aliado. Poderá teoricamente servir as ambições e objectivos dessa pessoa mas, de certo, que não serve os interesses do Sporting. Acima de tudo, verifica-se que dirige o seu discurso para os mais distraídos ou para aqueles que já há longo tempo preservam uma pré-disposição para tentar derrubar a Direcção vigente, ao mais pequeno ensejo e por quaisquer meios disponíveis.
Entre as diversas questões que abordou, surgem duas que pecam por inexactidão ou pelo desconhecimento dos factos: «existe a falta de um projecto para o Sporting» - inferindo que o «Messias» seu aliado tem esse projecto - «clube que é um autêntico cemitério de treinadores». O senhor Augusto Inácio ignora que apesar do registo do Sporting quanto a treinadores não ser saudável, não difere muito do que consta tanto no Benfica como no FC Porto. Transcrevo por memória mas, salvo erro, nos últimos trinta anos o Sporting teve 21 treinadores - o Benfica 19 (21 se se contabilizar os duplos consulados de Toni e José António Camacho - e o FC Porto, com tantos títulos no seu palmarés durante este período, teve 15, apenas seis menos do que o Sporting, uma estatística surpreendente. O segundo ponto em que Augusto Inácio peca - acidental ou deliberadamente, para iludir - centra-se na sua crítica de que Domingos Paciência fazia parte de um projecto e que foi demitido passado poucos meses, apenas pelos resultados. Ele sabe, ou tem a obrigação de saber, que muito além dos resultados, Domingos Paciência perdeu por completo o balneário e, quando isso acontece, o processo é irreversível. As suas adicionais observações de que as manchetes noticiosas têm forçosamente de ter origem em pessoas do foro interno do Clube são irresponsáveis de mais para merecer comentário.
Em última análise, lamento, sobretudo, algum outro oportunismo de ocasião para dar sustento aos gritos de demissão desta Direcção. Como essa medida iria beneficiar o Sporting, ultrapassa-me completamente, muito em especial considerando o qualitativo empenho dos actuais dirigentes, não obstante a prematura promoção de Ricardo Sá Pinto à equipa principal.
Adenda: Reconheço que esta temática não agrada a todos mas, até provas em contrário, mantenho o meu total desapontamento com a conduta desrespeitosa do «candidato derrotado». Para corroborar o que adiantei neste escrito sobre Auguso Inácio, li há instantes as recém-declarações dessa outra personagem a exigir a demissão imediata da Direcção. As suas intenções são por de mais transparentes e não visam a defesa dos interesses do Sporting, mas sim a sua obcecação com o «trono» de Alvalade.