Pedalar, mas pouco
Sou do tempo em que a Volta a Portugal em bicicleta podia, com toda a justiça, intitular-se assim. Porque ia do Minho ao Algarve. Nada a ver com a prova que hoje começou e vai percorrer nos próximos dias algumas estradas portuguesas: só por ironia alguém pode confundir o mapa de Portugal com 11 distritos do continente. Nem poderá reclamar-se herdeira da antiga Volta uma prova que exclui os distritos de Beja, Bragança, Évora, Faro, Portalegre, Santarém e Setúbal. Mais de um terço do território nacional (e já nem falo das ilhas) fica à margem deste circuito velocipédico, que ignora o Ribatejo, o Alentejo e o Algarve.
Sim, o Algarve de tantas tradições do ciclismo nacional não chegará a ver esta Volta onde se pedala, mas pouco.
Lembro-me, quando era miúdo, das emoções que rodeavam a Volta a Portugal verdadeira, aquela que trazia para a berma das estradas largos milhares de pessoas em cada Verão. Era o tempo em que os principais clubes portugueses apostavam no ciclismo como uma das modalidades mais emblemáticas, um tempo em que a paixão desportiva não se circunscrevia aos estádios de futebol. Um tempo em que o FC Porto tinha na sua equipa Joaquim Andrade e Joaquim Leite, o pelotão benfiquista integrava Fernando Mendes e Venceslau Fernandes e o Sporting se orgulhava justamente do desempenho de Joaquim Agostinho, Leonel Miranda e Firmino Bernardino.
Nada a ver com o tempo actual. Nem com esta Volta tão tacanha e tão curtinha.