Os nossos ídolos (21): Liedson
Quando reclamei a minha condição de última da lista alfabética, o Pedro Correia teve pena de mim e as crónicas passaram a sair pela ordem de produção. Eu, ambiciosa, pus um selo de reserva no Liedson, que a ninguém foi indiferente enquanto passou por Alvalade.
Chegou ao futebol com 22 anos e ao Sporting aos 25. Não era um menino da Academia. Nem sequer tinha dedicado toda a sua vida ao futebol. Pelo contrário, conhecia bem as prateleiras do supermercado, onde trabalhou para poder subsistir. Em muitos gerou desconfiança, para mim ganhou crédito. Alguém que sabe dar valor às oportunidades, para variar.
Depois, havia o problema da sua fraca figura. Que força pode ter? Talvez tenha velocidade, mas para isso devia escolher o atletismo, não? E eu a ver o Liedson lá de casa, a figura franzina do meu filho Pedro, o pisca de gente, como lhe chamávamos em pequeno, mas dono de uma energia que nunca mais acaba e absolutamente doido por futebol.
Chegou, jogou e venceu. Melhor marcador do campeonato português de 2004/05; Melhor marcador do campeonato português de 2006/07; 2º melhor marcador da Taça UEFA em 2005; Melhor marcador da história do Clube nas competições europeias; Jogador estrangeiro com mais golos marcados ao serviço do Sporting. A 21 de Outubro de 2010, Liedson realizou o seu 300º jogo com a camisola do Sporting, e simultaneamente tornou-se o jogador estrangeiro com mais golos marcados em competições europeias ao serviço de clubes portugueses. O seu primeiro golo nesse jogo foi o número 200 do Sporting na Liga Europa/Taça UEFA.
É claro que houve muitas reclamações, por parte dos adeptos sportinguistas, se passava jogos sem marcar. É claro que houve muitas críticas que a imprensa – tão nossa amiga – insistia em fazer, contando afincadamente os minutos que separavam os golos do Levezinho. É claro que há quem prefira lembrá-lo pela desavença com Sá Pinto e atirar para o lado o número impressionante de golos que marcou, ou a forma como carregou às costas a equipa, a nossa equipa, em dias tristes e desmotivados. Façam uma pesquisa no Google, vão poder confirmar o que estou a dizer.
Não era o 31, era trinta e um num só. Capaz de construir uma jogada lá do fundo, de onde roubava a bola aos adversários, um ou dois passes cruzados e depois, ele e a baliza, um corredor aberto num ângulo impossível, a bola no fundo das redes, um golo sempre festejado com amor, um estádio a estourar de alegria.
E aquela fraca figura… meu Deus! Confesso que muitas vezes tive vontade de o adoptar, para poder retribuir as alegrias que nos deu, a forma como resolvia o impossível, a capacidade que teve de nos tornar leve o pesado fardo das expectativas goradas e desilusões cinzentas.
Durante várias épocas, Liedson tornou o Sporting maior. E os Sportinguistas souberam reconhecer a sua entrega e dedicação na forma como se despediram dele.
É o meu ídolo. Até sempre, 31!