Da Luz para as brumas
Paulo Bento esforçou-se o mais que lhe foi possível: fê-lo alinhar em quatro dos cinco jogos do Euro 2012. Esforçado escusado: o rapaz que nessa altura andou a ser levado ao colo pela imprensa de pigmento encarnado não marcou sequer um golo para amostra no Europeu - ao contrário por exemplo de Varela, que rematou com êxito tendo jogado bem menos. Nem era novidade: também no campeonato nacional, onde alinhou em 12 jogos, Nélson Oliveira não conseguiu marcar. Só mesmo alguém com eventuais problemas do foro oftalmológico era capaz de concluir o seguinte: "Potencialmente, Nélson Oliveira é já o melhor ponta-de-lança português. Não temos melhor."
Se os pontapés na lógica e na gramática de alguns comentadores marcassem golos, aqueles que fazem parte do clube de fãs da jovem-promessa-sempre-adiada-do-futebol-português ganhavam por goleada. Com frases como aquela que já citei e mais esta, exactamente na mesma linha: "Nélson Oliveira é de facto um jogador que dá uma outra cara ao ataque português. Com ele o nosso ataque transforma-se."
É lamentável que Jorge Jesus não tenha dado ouvidos às entusiásticas proclamações de admiração pelo "melhor ponta-de-lança português". O técnico encarnado deixou claro que não contava com ele para a nova temporada, o que levou o rapaz a marchar para as brumas da Galiza, onde "já é potencialmente" um dos melhores avançados desse potentado futebolístico chamado Deportivo da Corunha, recém-promovido à I Liga espanhola.
Vamos sentir saudades dele. E dos seus não-golos. E dos seus quase-golos. Afinal, algum mérito ele deve ter: não me lembro de, nos últimos anos do futebol português, alguém ser tão elogiado por ter conseguido tão pouco.