Malcom Allison*
Foi treinador do Sporting e, só por isso, merecia aqui uma crónica. Mas Malcom Allison foi muito mais do que um mero treinador do nosso Clube. Foi o principal obreiro para que o Sporting, na longinqua época de 1981/82, ganhasse tudo o que havia para ganhar ao nível de troféus de Futebol: o Campeonato, a Taça e a Supertaça.
Allison foi um jogador de extremos e de excessos e, honra lhe seja feita, manteve esses extremos e esses excessos durante a sua vida como treinador. Apesar da fama de bon vivant, João Rocha, então Presidente do Sporting, vai buscá-lo a Inglaterra e “Big Mal” surpreende. Cativa jogadores e adeptos, incute um estilo de jogo mais agressivo que tornaram, nessa época, os Leões imparáveis, naquela que era a minha equipa maravilha e com a qual celebrei o meu primeiro campeonato: Eurico, Jordão,Manuel Fernandes, Zézinho, Inácio, Virgilio, Oliveira, Ademar, Freire, Meszaros, Barão, Nogueira.
No Portugal pós-revolucionário, no início dos anos 80, Allison chocou tradições e costumes. Politicamente incorrecto, adepto confesso de álcool, charutos e mulheres, aliava estes gostos a uma manifesta falta de discrição para esconder estes deslizes, o treinador do Sporting criou anti-corpos que lhe foram fatais. João Rocha não lhe perdoou estes excessos - que destabilizaram a equipa – tendo sido despedido quando os Leões estavam em estágio de pré-época na Bulgária, apesar do Sporting ter conquistado os três troféus da Época.
Regressa a Inglaterra, passa pelo Kuweit e, em 1986, é chamado pelo Vitória de Setúbal com o desafio de levar os sadinos para a 1ª Divisão. Nesta equipa, “Big Mal” encontra alguns ex-jogadores que treinou no Sporting (Meszaros, por exemplo) e volta a surpreender tudo e todos com novos métodos de treino para os jogadores: pinturas de guerra, artes marciais e heavy metal.
A técnica surpreende e resulta e o Vitória sobe à 1ª Divisão. Allison treina ainda mais uma época os sadinos e, em 88/89 desce ao sul do País para ajudar o Farense. Foi a última equipa portuguesa que treinou, tendo regressado ao Reino Unido. Nos anos 90, termina, sem glória, a sua carreira como treinador nos Bristol Rovers (92/93). Morre a 15 de Outubro de 2010, de doença. Tinha 83 anos.
*Artigo publicado hoje no Jornal do Sporting