Os nossos ídolos (17): Carlos Lopes
Carlos Lopes terá sido o maior dos nossos exemplos como atleta. Campeão dos campeões, colocar aqui o seu palmarés daria um ror de páginas, tal a extensão das suas vitórias.
Conheci e corri com o Carlos Lopes numa altura em que este corredor andava (leia-se corria!) a treinar para as olimpíadas de Montreal. Estávamos em finais de 1975. E a primeira vez que eu vi o Carlos ao vivo foi num fim de tarde frio e chuvoso, desse mesmo ano de 75 e foi uma emoção que jamais esquecerei. O nosso atleta corria, acompanhado de outros grandes nomes do atletismo sportinguista e nacional (o Fernando Mamede era um deles!), à volta do velhinho Estádio José de Alvalade apenas para aquecer. Trinta voltas era mais ou menos o limite.
Seguidamente era vê-lo ainda na pista de cinza a correr, finalmente a sério, naquele seu passo quase impossível de acompanhar. O Professor Mário Moniz Pereira de cronómetro na mão ia dando indicações dos tempos e o Carlos já quase não corria, simplesmente voava.
Semanas mais tarde embrenhei-me também no grupo de atletas que aqueciam ao lado de Carlos Lopes. Ninguém tinha a veleidade de correr a seu lado no aquecimento. Os mais novos ficavam cá atrás, na cauda. Mas valia a pena estar ali.
Só a presença deste atleta ali naqueles longos aquecimentos incutia nos mais jovens um respeito formidável, se bem que Carlos nunca usasse o seu estatuto de campeão. Foi sempre um homem educado e bom companheiro.
Foram momentos felizes, esses, em que tive o privilégio de correr ao lado no nosso maior atleta olímpico. Com ele aprendi algo que ainda hoje mantenho como raiz da minha vida: espírito de sacrifício. Retirando dos treinos pouco convivi com o Carlos - eu não passava naquela altura de pouco mais que um gaiato - mas percebi que ali estava não só um homem na verdadeira acepção da palavra, mas sim um vencedor nato e um enorme leão. Um exemplo!
E durante o resto da minha vida, que não passou claramente pelo atletismo, segui com ansiedade as suas corridas. Ri com as suas imensas vitórias e chorei com alguns (poucos) desaires.
Nunca olvidarei aquela maratona ganha nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984. De tudo o que Carlos ganhou essa foi talvez aquela que ele mais mereceu.
Anos mais tarde encontrei-o num café na baixa pombalina. Apeteceu-me meter conversa, falar de outros tempos, mas tinha a certeza que ele jamais se recordaria de mim. No entanto, eu jamais esquecerei o deste nosso imenso campeão.