Os nossos ídolos (16): Manuel Fernandes
Começo com uma pequena revelação, que serve como uma espécie de registo de interesses: sou sportinguista desde sempre e era um pouco fanático em miúdo. Em vez de desenhar casas, árvores, carros e aviões, os meus desenhos eram quase invariavelmente sobre o Sporting, os jogadores do Sporting e o estádio do Sporting (o velhinho José Alvalade). No meio disto tudo tinha vários ídolos, entre jogadores, treinadores (Malcolm Allison à cabeça) e dirigentes (João Rocha, claro), mas um fazia a diferença: o capitão Manuel Fernandes.
O "Manel", como muitos lhe chamam no clube, nasceu em Sarilhos Pequenos, em 1951, mas cresceu e fez-se futebolista para criar grandes sarilhos aos nossos adversários, em especial ao rival de sempre. Quem se pode esquecer dos seus quatro golos no célebre jogo dos 7-1, a 14 de Dezembro de 1986? Eu nunca esquecerei.
Manuel Fernandes começou no futebol profissional ao serviço da extinta CUF (em 1970) e acabou a carreira no Vitória de Setúbal (em 1988). Pelo meio jogou doze anos no Sporting, vários deles como capitão e ao lado de figuras como Rui Jordão, Vítor Damas, António Oliveira, Manoel, Virgílio ou Keita. Manuel Fernandes era único. Com um apetite insaciável pelas redes adversárias e um faro único pelos golos, foi sempre injustiçado nas chamadas à selecção nacional. Um jogador que fez 433 jogos com a camisola do Sporting e marcou 256 golos apenas vestiu a camisola das quinas 31 vezes (marcou nove golos)!? Quem sabe onde teríamos chegado naquele Europeu de 1984 se o Manuel Fernandes estivesse num onze onde cabiam e brilhavam Jordão e Chalana, entre muitos outros?
O "capitão" foi sempre digno de pertencer uma linha de goleadores do Sporting onde já figurabam Travassos, Peyroteo, Hector Yazalde, entre outros. Manuel Fernandes tem ainda outra característica importante: não gosta de vira-casacas. Ainda no ano passado, no decurso das eleições para a presidência do Sporting, disse que não achava normal que jogadores que foram parar ao FCP e ao SLB se intitulassem e fossem tratados como "figuras do clube". Concordo, quem vai já não volta.
Em miúdo consegui o autógrafo dele e da equipa toda. Há cerca de um ano tive a honra de o conhecer pessoalmente, apresentado pelo Presidente do SCP na tribuna de honra do Alvalade XXI. Só tive uma coisa para lhe dizer: "O Senhor é uma lenda viva".