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És a nossa Fé!

Do comentário futebolístico

Quando comecei a ver futebol, e a interessar-me pelas coisas do futebol, havia excelentes comentadores que faziam tudo já não digo para ser isentos mas para parecer isentos. O Carlos Pinhão era benfiquista mas escrevia como se o não fosse, o Vítor Santos era do Sporting, mas também escrevia como se o não fosse.
A partir de certa altura os órgãos de informação passaram a privilegiar os comentadores de emblema e cachecol. Houve até uma altura em que a palavra de ordem parecia ser esta: quanto mais fanático e sectário pareceres, melhor. Dava "boas audiências" e o resto não interessava.
Assim se formou uma geração de jovens espectadores fanatizados, cada vez mais sectários, incapazes de reconhecer mérito a uma equipa adversária, adoptando como lema frases do género "ou vai ou racha".

Tudo porque dava jeito às sacrossantas "audiências".


Eu, no entanto, sou do tempo em que conseguia aprender a ver e ler futebol pela voz ou pela pena de jornalistas do meu clube (o Fernando Correia, que felizmente se mantém no activo, é um excelente exemplo disso) ou de clubes rivais (e jamais esquecerei o Pinhão ou até o Alfredo Farinha da era pré-Vale e Azevedo).
Isso perdeu-se. E sou o primeiro a lamentar. Mas o que mais lamento é ver programas como Zona Mista pretenderem fazer a quadratura do círculo: conciliar o cachecol com a análise objectiva. Isto é um lapidar erro editorial de que o benfiquista João Gobern foi vítima ocasional, no final de Março, só porque não sabia que estava a ser filmado no momento em que o seu clube do coração marcava um golo e ele levantou os braços num impulso eufórico - algo que, suponho eu, qualquer um de nós no lugar dele faria caso fosse o nosso clube a marcar. Prepara-se agora, quatro meses depois, para assumir o emblema clubístico num programa também do canal público onde é obrigatório exibir cachecol. Talvez porque o anterior locatário da cadeira, Júlio Machado Vaz, não revelasse suficiente fervor encarnado. Assim se completa um círculo bem demonstrativo dos circuitos dominantes na opinião futebolística do momento...

 

Defendo uma clara delimitação editorial, sobretudo tratando-se de um canal com especiais responsabilidades de serviço público, como é a RTP. Pode e deve haver programas com adeptos de clubes. Mas por maioria de razão também pode e deve haver programas sobre futebol feitos por jornalistas, que não esquecem os seus deveres deontológicos de imparcialidade e rigor.

Confundir as duas coisas - informação e "entretenimento" - é o pior de tudo. E que acaba por ter os resultados que já se viram, com o Provedor do Telespectador da RTP, após "cerca de 103 reclamações" (deliciosa expressão...), a recomendar ao canal público a adopção de uma "carta de princípios" destinada a "tornar claros e concretos os deveres dos colaboradores, autores e jornalistas".

Deixem lá a Sónia Araújo usar o cachecol azul e branco quando o seu clube ganha o campeonato. Não queiram é cobrir o rigor informativo e a análise isenta com um cachecol.

Foto do Blog da Sónia Araújo

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