A ver o Europeu (9)
Espero que o Alexandre Poço prossiga a sua oportuna série sobre os melhores golos deste Campeonato da Europa. Até porque golos não têm faltado: foram marcados 60 na fase de grupos, 17 dos quais de cabeça (28% do total).
A média é razoável: 2,5 golos por jogo. E alguns têm sido extraordinários. Como este, do sueco Ibrahimovic, talvez o mais sério candidato ao melhor do torneio. Também gostei muito dos golos de Fernando Torres e David Silva contra a Irlanda. E do segundo do nosso Cristiano Ronaldo contra a Holanda. E - devo reconhecer - igualmente dos que nos foram marcados pelo alemão Mario Gómez e pelo holandês Rafael van der Vaart.
Um dos melhores surgiu hoje, num encontro rodeado de muita expectativa: o Alemanha-Grécia, disputado em Gdansk (Polónia). Entre assobios dos adeptos gregos cada vez que os jogadores comandados por Joachim Löw tocavam na bola e o entusiasmo da chanceler Angela Merkel, que fez questão de estar presente, ao lado do presidente da UEFA, Michel Platini, quase tão germanófilo em matéria futebolística como ela. Os gregos, treinados por Fernando Santos, adoptaram a táctica do ferrolho, tentando cortar todas as vias do acesso alemão à sua grande área. Era uma estratégia condenada ao fracasso, como se antevia desde o minuto inicial. Faltava apenas saber em que circunstância exacta os alemães atingiriam com sucesso as redes gregas.
Aconteceu, iam decorridos 39 minutos, com um disparo do capitão germânico, Philipp Lahm. Um defesa, com apenas 1,70m de altura, mas dotado de tenacidade suficiente para quebrar a muralha helénica, mais frágil do que parecia.
Ao intervalo, 1-0: resultado lisonjeiro para a selecção grega, de qualidade muito inferior ao do conjunto alemão, onde pontificam vedetas de nível mundial como Özil e Schweinsteiger (este hoje muito perdulário nos passes). E aos 54', contra a corrente, a Grécia empatou num rápido contra-ataque na ala direita conduzido por Salpingidis, que fez um passe milimétrico para o golo de Samaras.
A euforia grega durou sete minutos exactos. Até ao fantástico disparo de Khedira, que recebeu a bola e a rematou com artes de matador sem a deixar cair no chão. Outro golo desde já candidato ao melhor do Euro 2012.
Angela Merkel, muito focada pelas câmaras polacas, teve ocasião de dar saltos de júbilo em duas outras ocasiões, quando Miroslav Klose e Marco Reus ampliaram a vantagem. Salpingidis, no penúltimo minuto do encontro, ainda reduziu, de penálti. Mas era já tarde para o resgate grego. Os dados estavam lançados.
Muito se tem falado numa Europa a duas velocidades. Isso também sucede no futebol, espelho da vida. Como o jogo de hoje confirmou.
Alemanha, 4 - Grécia, 2