Ó Hugo!
(Vi eu com estes que a terra há-de comer)
Nesse verão de 2004 o campeonato tinha começado mal. O novo treinador era um rapaz obscuro que vinha prestigiado como adjunto do Prof. “Projectos” Queiroz durante a hilariante época no Real Madrid. Corria à boca pequena que num treino ele quis dar uma instrução a Beckham e este, com toda a complacência do mundo, deu-lhe um valente calduço e aconselhou-o amigavelmente: “fuck off!”
O certo é que chegávamos à sexta jornada num estado miserável: uma vitória, duas derrotas e dois empates e ainda não tínhamos jogado contra qualquer equipa da primeira metade da tabela. Assim, no dia 16 de Outubro, por uma noite de chuvisco lá fomos ao Estoril ver o que resultava dali; era perto e pacato e movia-nos a curiosidade de ver se a equipa melhorava com as presenças de Custódio e Rochemback, finalmente recuperados.
Os nossos lugares calharam mesmo atrás do banco do Sporting, estando a bancada bem perto do relvado, como daqui para ali. No início da 2ª parte uma vozinha de cana rachada levantou-se do banco e começou a gritar para o campo “Ó Hugo! Ó Hugo!”. Peseiro bem chamava, mas o Hugo, O Viana, moita-carrasco. “Ó Hugo! Ó Hugo!”, a pouco mais de cinco metros dele, o jogo a decorrer e Hugo Viana népias. Já na bancada por chacota se começava a gritar “Ó Hugo! Ó Hugo!” em voz de falsete.
Até que o atleta por um momento se distraiu do jogo e virou-se para Peseiro de mão na anca: “o que queres, caralho?” O treinador embezerrou, sobretudo porque houve uma gargalhada monumental no povo atrás dele.
O jogo foi resolvido por Hugo Viana, que saiu da casca e espetou duas bolas nas redes contrárias, a segunda após um slalom monumental. Isto sem nunca mais ter feito caso de Peseiro. Como aliás o resto da equipa.
Para o ano voltam a encontar-se em Braga.