Por onde andam eles
Em 2003, a pedido de um clube de futebol amador, organizei uma digressão com cinco jogos amistosos, entre os quais um com Os Belenenses - gentileza do dr. Sequeira Nunes, presidente e António Cascais, vice-presidente - e outro com o Sporting. O conjunto de Belém, então orientado por Manuel José, era composto por jogadores da não oficial equipa B e diversos juniores à mistura. O único nome de relevo que registei foi Rúben Amorim que, por coincidência, tinha marcado um golo ao FC Porto escassos dias antes. O jogo com o Sporting teve lugar na Academia e os 20 jogadores equipados - 16 dos quais utilizados - constavam de um misto de elementos da equipa B treinada por Yordanov, que então militava na II Divisão Nacional, juniores orientados por João Couto e dois ou três juvenis. A supremacia «leonina» nunca esteve em dúvida com uma esmagadora vitória por 7-1. No dia seguinte, a manchete noticiosa mais notável referia aos «super-mini-leões». Já o encontro no Estádio do Restelo foi mais equilibrado, resultando num empate a duas bolas. Passados nove anos, é deveras impressionante verificar os nomes agora sonantes que constituiram aquela equipa do Sporting, incluindo quatro jovens que fizeram parte dos campeões europeus sub-17, alguns que atingiram o topo competitivo, mas também, dolorosamente, aqueles que desapareceram na obscuridão de campeonatos e divisões inferiores, em Portugal e algures no mundo.
Mário Felgueiras (Cluj) / Christopher Pilar (outro guarda-redes agora na União da Madeira) / Pedro Cardoso (Cova da Piedade) / Miguel Mateus (Clube Futebol Benfica) / Zezinando (Samut Songkhram da Premier League da Tailandia) / Carlos Marques (Olympiacos Nicosia do Chipre) / João Pimenta (Oliveirense) / Fábio Ferreira (Amora) / Zé Semedo (Sheffield Wednesday da 1.ª divisão inglesa) / Bruno Filipe (Tirsense) / Fábio Paim (Benfica Luanda ) / Emídio Rafael (FC Porto) / Silvestre Varela (FC Porto) / João Moutinho (FC Porto) / Carlos Saleiro (Servette da Suiça) / Yannick Djalo (Benfica) / Miguel Veloso (Génova) / Sabino Fernandes (Real Massamá) / Fernando Ferreira (Os Belenenses) e Nani (Manchester United). Para não destoar, os golos foram marcados por Nani, logo aos 5 minutos, Carlos Saleiro (2), Yannick Djalo, Fábio Ferreira, Fernando Ferreira e João Moutinho, na conversão de uma grande penalidade.
No almoço-convívio que teve lugar no mesmo dia do jogo na «Cada vinte e um» em Alvalade, com a presença do presidente, dr. Dias da Cunha e da vice-presidente, dra. Margarida Caldeira da Silva, entre outros, passou-se algo muito estranho, até bizarro. Os visitantes fizeram questão de patentear o seu apreço pela hospitalidade do Sporting, ofertando uma travessa de porcelana com a pintura de um leão, uma antiguidade com cerca de 150 anos, que se encontra em exposição no Museu desde essa data. Consciente da cerimónia que seguiria e antes de chegar ao restaurante, o dr. Dias da Cunha fez saber que o Sporting receberia a oferta, mas não por sua mão. Perante este nada expectável dilema e após longos momentos de visível embaraço, na presença da comunicação social, a peça foi eventualmente aceite pela igualmente perturbada dra. Margarida Caldeira da Silva. O presidente não adiantou qualquer explicação para a sua muito peculiar atitude e ninguém se atreveu a perguntar-lhe. Matéria ainda hoje preservada ao segredo dos deuses.
Para ser justo, devo também mencionar que após contactos meus com Luís Filipe Vieira, o Benfica estava igualmente receptivo a realizar um jogo. Este acabou por não acontecer apenas pelo nosso muito congestionado itinerário, mas a comitiva de cerca de 30 pessoas foi convidada a assistir ao primeiro jogo oficial internacional no novo Estádio da Luz (6 de Novembro de 2003), a contar para a Taça UEFA, frente ao Molde FK da Noruega, em que o Benfica saiu vitorioso por 3-1.