Uma entrevista importante
I
O jornal Record está de parabéns. Pela entrevista ao presidente do Sporting, (bem) conduzida pelos jornalistas António Magalhães, António Bernardino e Alexandre Carvalho. Uma entrevista importante tanto pelo que se diz nas linhas como nas entrelinhas. Uma entrevista em que Luís Godinho Lopes não hesita em apontar o seu próprio exemplo ao vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão: «Aconselhei várias vezes Pereira Cristóvão a preservar a sua posição inicial [de renúncia à vice-presidência]. Cada um age segundo a sua consciência. (...) Eu próprio, por causa de um assunto que nada tinha a ver com o Sporting, tomei a decisão de me demitir.»
É uma longa entrevista de nove páginas, com muito para ler. Uma entrevista com várias revelações. Eis uma: o presidente do Sporting soube que o clube estava sob investigação no momento em que conversava com os três capitães das modalidades que disputam as meias-finais das competições europeias [futebol, futsal e andebol]. Para quem acredita em coincidências...
Outra revelação: antes do decisivo jogo contra os bascos do Athletic, Godinho Lopes recebeu duas chamadas telefónicas de incentivo de dois presidentes de clubes. Pinto da Costa (FC Porto) e António Salvador (Sp. Braga). «Foram os únicos líderes que me ligaram exclusivamente para esse efeito...»
A destacar ainda: a equipa B do SCP «vai avançar» já na próxima época: «Temos vários jogadores cedidos a equipas um pouco por todo o lado, no Cercle de Brugges, no Deportivo, e a várias equipas portuguesas. Com a criação da equipa B esses jogadores podem prosseguir os respectivos processos de formação connosco, competindo pelo nosso clube», justifica o presidente dos leões.
II
Há, por outro lado, a garantia de que Ricardo Sá Pinto permanecerá como treinador da equipa principal de futebol até 2014. Mas é uma promessa que vale o que vale: tudo depende dos resultados em campo. Este é, aliás, o ponto mais fraco da entrevista: o Record não conseguiu arrancar uma palavra a Godinho Lopes sobre o atribulado processo de substituição de Domingos Paciência pelo actual treinador. O presidente deixou entretanto claro que só não tomou já a decisão de convocar eleições antecipadas por motivos de âmbito desportivo e financeiro: «Temos eliminatórias que nos podem dar acesso a três finais europeias, estou em plenas negociações com investigadores e tomaria uma decisão contrária à estabilidade que pode permitir o acesso a tudo isso?»
Discordo em alguns pontos de Godinho Lopes. Do silêncio imposto ao clube nas relações com os órgãos de informação (silêncio que ele em boa hora quebrou agora) até aos elogios feitos a Wolfswinkel, o campeão dos golos falhados no jogo de Alvalade contra os bascos. Mas nesta entrevista o presidente do SCP lembra dois pormenores essenciais: há um ano, o clube estava a 32 pontos do primeiro - e não a 13, como agora. E as assistências em Alvalade aumentaram muito nos últimos meses - sinal inequívoco de reencontro entre os adeptos e a equipa.
É muito? É pouco? Esperemos pelo jogo de Bilbau para retomar a conversa. Para já não falta matéria de reflexão.