Sporting além-fronteiras
Em 2005 fiz uma visita de trabalho a Cabo Verde quando faltavam poucas jornadas para o fim do campeonato. Como muitos de vós se recordam, esse foi um campeonato renhido quase até ao fim, com aquele clube de nome de bairro a roubar-nos a taça, depois de uma vitória sobre o Sporting (odiei o Luisão…) e, na última jornada, a empatar com o Boavista (fracos!), assegurando o título.
Durante a semana que passei naquele arquipélago africano senti-me em casa por vários motivos, entre os quais futebolísticos. Ouvi o relato Benfica-Sporting na ilha do Fogo, rodeado de diversas personalidades cabo-verdianas, onde pontuavam benfiquistas e sportinguistas. Fomos para um jantar oficial, que coincidiu com a hora do jogo, e confesso-vos que foi muito divertido ver a quantidade de vezes que os convivas (incluindo eu próprio) se levantavam para tentar saber como é que estava o derby. Tudo isto perante a surpresa da delegação chinesa presente, que estranhava ver membros do Governo cabo-verdiano a torcer e a sofrer por um clube estrangeiro.
O jogo lá terminou, com Luisão a marcar nos últimos minutos de jogo (raiva!!!), e o resto do jantar foi passado a discutir que hipótese teria ainda o Sporting de ganhar o campeonato, depois deste desaire. Foi surreal, por se passar num país estrangeiro, mas mostrou-me uma realidade que até então nunca me tinha apercebido. Mais do que a língua, a história comum, a herança cultural e o que se quiser, o que une Portugal e as suas ex-Províncias Ultramarinas são os clubes de futebol.
O Sporting liga portugueses e lusófonos. Torna-nos iguais. No sofrimento e nas alegrias que o Clube nos dá. Independentemente da nossa nacionalidade ou da nossa geografia. E isso vale mais do que anos e anos de diplomacia entre Estados e entre Governos. Fica o desafio: Para quando a inclusão dos jogadores de futebol nas comitivas oficiais do Estado Português para ajudarem a fechar negócios em África?