Uma crença, só pode ser isso
Campeões nacionais de atletismo 1976. Reconhecíveis ao centro: Armando Aldeagalega, Carlos Lopes, Fernando Mamede; yours truly é o 4º a contar da esq.
- Obrigado Pedro Correia, por me ter convidado para o coro desta igreja!
Não me lembro da primeira vez que fui à bola. Mesmo antes de me conhecer, certos Domingos à tarde ia pela mão de meu pai a Alvalade. Lembro-me de sempre lhe pedir para comprar um daqueles chapeuzinhos de cartolina cónicos, que eu achava divertidíssimos e práticos, e ele demitir tal ideia com um incontestável não sejas piroso. E foram tantas as vezes que ele cedeu em comprar-me uma bandeirinha do Sporting, quantas as que as perdi no tropel da multidão à saída.
Durante a adolescência odiei o futebol, sobretudo o do Sporting. Então nós, os do atletismo (e já agora, os do andebol, do hóquei, do boxe, do tiro, do ténis de mesa, do basquete), é que ganhávamos as taças e os trambolhos do pontapé na bola passeavam pelos corredores do 10A armados em bons? Só não fiz rugby no Sporting porque da modalidade o Sporting apenas ficou com as camisolas, mas acabei por jogar na Agronomia que também se equipava às riscas verdes e brancas, embora fininhas.
Quando li “Fever Pitch” de Nick Hornby, tive a sensação que ele plagiara o livro que eu não havia escrito. Também não sei o que responder quando ela me pergunta “em que estás a pensar?”, porque estou a pensar na tática do Sporting, o que é digno de uma admoestação conjugal com justa causa; também a mim me bastaria ser recordado como um sportinguista quando fosse a enterrar.
Perdoem a vaidade, mas não autorizo ninguém a dizer que é mais sportinguista que eu. E tenho métrica para arrasar qualquer veleidade de comparação: 1) sócio há mais de 50 anos; 2) dois lugares cativos no estádio (setor 3, fila 23, 9&10) depois de ter tido dois lugares no estádio antigo, enquanto ele durou; 3) contribuí em pelo menos 5 taça, das que refulgem na sala dos troféus. Apenas concedo primazia à Sra. D. Maria José Valério e, por razões diferentes, ao Paulinho.
Só em duas ocasiões chorei em Alvalade. A primeira aconteceu na noite de 24 de Outubro de 1990: quando Bozinowski estampou o sétimo selo nos atarantados romenos do Timisoara, transportado pela euforia virei-me para abraçar o meu pai, esquecendo que ele tinha morrido na semana anterior. A outra foi num álgido fim de tarde de Maio de 94, quando o petulante Queiroz (nunca lhe perdoei e sempre tive razão!) substituiu o Paulo Torres pelo Pacheco e vi um dique rebentar, por onde jorrou uma pestilência avermelhada – até os céus choraram comigo nesse crepúsculo.
Resgatei-me de tais mágoas em 1999 quando cumpri a promessa de andar um dia com o cabelo tintado de verde.
O Sporting tem-me dado mais penas do que alegrias, é verdade, mas o que querem – é a vida…