Este post serve acima de tudo para assinalar um problema ainda antes dele ocorrer.
Como devem ter reparado, no Euro 2024 foi estreada a "Regra do Capitão", que diz que apenas os capitães de cada equipa se podem dirigir ao árbitro.
Suas Excelências, os Senhores Doutores Engenheiros Juízes Arbitros de Futebol agora só falam com o "Advogado" de cada equipa, qualquer outro elemento não lhe pode dirigir a palavra.
Não consegui apurar ao certo o que é entendido por se "dirigir ao árbitro" nesta regra. Será que se um jogador quiser desejar um bom dia ao senhor do apito o pode fazer ou tem de pedir ao capitão de equipa? Será que que se quiser dizer ao senhor de preto que acha que a sua mãe é uma meretriz também o terá de fazer por interposta pessoa, recorrendo ao capitão?
O que é certo é que ainda a época oficial não começou e já vi o nosso Gyökeres receber um amarelo no jogo com o At. Bilbao, por ter sofrido uma falta indiscutível não assinalada pelo árbitro e ter protestado essa não-marcação, quando não era ele o capitão. Se antes já havia a regra de não se poder protestar lances, regra essa que o árbitro só sancionava com amarelo quando lhe apetecia, aliando-a com a nova "Regra do Capitão" significa que um protesto será quase sempre motivo de amarelo
Sabendo como a melhor coisinha que dão a certos apitadores é não marcarem uma falta evidente a favor do Sporting, prevejo uma chuva de cartões na época que se avizinha especialmente a jogadores como Nuno Santos, jogador que protesta tudo, bem como a Gyökeres, Edwards e Pote, jogadores que sofrem muitas faltas durante os jogos e chegam a um ponto em que "rebentam" e protestam quando muitas delas não são assinaladas (Trincão também sobre bastantes mas é mais discreto nos protestos). Só se safa Hjulmand, o mais latino dos jogadores nórdicos, porque será o capitão, senão também estava tramado esta época.
Esta "Regra do Capitão" vai dar para todo o tipo de abusos e prevejo que o Sporting será um dos clubes mais prejudicados com a mesma.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2024/2025, recordo os prognósticos sobre a prestação do Sporting em cada jornada da Liga anterior feitos no És a Nossa Fé.
É um teste à vossa perspicácia que aqui recomeçará, pelo décimo-segundo ano consecutivo, mal se escute o apito de saída da próxima Liga.
A vitória, nesta temporada, coube a um estreante que aproveito para cumprimentar agora: o nosso prezado leitor Paulo Batista. Com cinco palpites certos nesta Liga dos Prognósticos, já tradição antiga aqui no blogue.
Seguiram-se, com quatro previsões correctas, os leitores Fernando, Leão 79 (co-vencedor em 2022 e 2023), Luís Ferreira (vencedor em 2019) e Maximilien Robespierre.
Ninguém acertou em nove jogos. Menos do que os 12 da época anterior, repetindo-se o número registado na temporada 2021/2022.
Mais surpreendente: sete partidas ganhas pelo Sporting ficaram em branco. Por dois motivos antagónicos. Por um lado, algumas goleadas que ninguém previu (5-1 ao Estoril, 8-0 ao Casa Pia). Por outro, as elevadas expectativas que estas cabazadas provocaram nos adeptos: a partir de certa altura muito poucos concebiam triunfos tangenciais (como a nossa vitória por um golo no Estoril).
Destaco ainda que este ano, tal como já tinha ocorrido no campeonato anterior, nenhum dos meus colegas de blogue triunfou nesta "Liga de Vaticínios". Depois de três épocas consecutivas a triunfarem.
Espero que no próximo campeonato a pontaria de uns e outros ande mais certeira.
Aproveito para recordar que na Liga 2013/2014 houve por cá sete vencedores: Bruno Cardoso, Edmundo Gonçalves, João Paulo Palha, João Torres, José da Xã, Lina Martins e Octávio.
No campeonato 2014/2015, apenas um: Leão do Fundão.
Começa a época a sério, como de costume com a disputa do primeiro título, enfrentando-se os vencedores do campeonato e da taça de Portugal.
Calhou-nos em sorte o fêquêpê, agora liderado por um homem aparentemente de Boas palavras e Boas maneiras, que se tem visto grego para arranjar uma boa equipa, tal o desarranjo em que o velho crocodilo e sua pandilha deixaram a agremiação.
Também nós, com a saída de el capitán Coates e de Paulinho e a situação estável de Ste Juste (estável, porque está sempre no estaleiro), apesar do despontar dos miúdos Ribeiro e Quenda e não nos faltarem opções para formar um onze para ganhar, mesmo com Esgaio, temos ainda assim algumas indefinições. Ora para ajudar o nosso treinador, não precisa eu sei, dou aqui uma dica de gente que estará sempre disponível para entrar em campo e suar o equipamento até cair para o lado, com uma condição: Que não lhes tapem a boca pelo menos até à manhã de Domingo.
Assim, com a melhor das intenções, cá vai um onze que nos dará garantia de levarmos de vencida qualquer morcão que nos apareça pela frente.
Na baliza:
Eu, que por causa dos joelhos e da coluna não me dá para correr muito e frente a uma equipa de coxos, basta deixar-me cair e agarrar a bola;
Os três defesas:
José da Xã, que tem um jogo de cintura que deixa qualquer adversário pregado ao chão (pregado não confundir com o peixe do mesmo nome, primo do linguado);
Francisco Almeida Leite, porque é alto! (mas não é tosco).
Tiago Cabral, porque é da esquerda e aposta sempre em cinco golos e não marca nenhum, portanto teremos duas certezas, não marca, mas também não deixa marcar!
Os quatro do meio:
Luís Lisboa, que fará bem de Palhinha e como é de convicções fortes, não há andrade nenhum que passe por ele;
Eduardo Hilário, que pode muito bem fazer o lugar de Nuno Santos, pela sua eloquência no tratamento da bola (queria a todo o custo fazer de Pote, mas não lhe posso dar essa missão, que ele deslumbrava-se );
Vítor Hugo Vieira, pela sua capacidade de análise aos momentos de jogo, não vá o Amorim estar distraído;
Ricardo Roque, que desce bem, nem que seja copos de imperial...
Os três da frente:
Pedro Oliveira na direita, para dar cabo da cabeça ao fiscal de linha!
José Navarro de Andrade por onde ele quiser porque nem precisa de jogar, basta-lhe aquele ar mordaz e depois é saltar por cima deles;
Pedro Correia na ponta, não na esquecida mas a nove mesmo e capitão. Tal como FAL é alto e isso é predicado mais do que suficiente, já que técnica a gente desconfia que... Mas naquela posição não precisa de se mexer muito, até porque os joelhos não lho permitem. Não é um pinheiro, mas é um beirão robusto e nem que venha o Pepe...
No banco, como adjunto exclusivo estará João Goulão (precisamos de um prufessô que nos compreenda) e estarão todos os outros que completam esta equipa com Fé e tenho para mim que serão poucos para as substituições, as normais e as de emergência, havendo talvez até que recorrer à ajuda preciosa do nosso excelente sector feminino e apelar ao seu sentimento de sportinguismo solidário e antevejo que terminaremos com uma equipa mista para se conseguir chegar ao fim e comemorar a conquista de mais um título.
Nota 1 - Não começamos com uma equipa mista porque os regulamentos não o permitem, mas para as substituições arranjei uma solução: Já encomendei no chinês umas mascarilhas do Ronaldo à maneira e as nossas colegas... Estão a ver, né? Ainda não consegui arranjar solução para o facto de o 7 estar sempre a substituir o 7 e de possivelmente haver vários 7 em campo ao mesmo tempo, mas até sábado ainda muitas medalhas serão conquistadas nos Jogos Olímpicos, sem stress e se houver problemas com o árbitro, entregamo-lo ao Pedro Oliveira;
Nota 2 - De prevenção estará Frederico Varandas, que como médico especialista em medicina desportiva, terá mais trabalho, felizmente para quem lá esteve com ele, do que o que teve no Afeganistão.
Felizmente virámos a página. O Sporting de hoje é incomparavelmente diferente do Sporting de Maio de 2018.
Para muito melhor.
Parabéns ao presidente Varandas. Os inimigos dele estão todos no desemprego.
ADENDA: Pelo segundo mês de Julho consecutivo, houve uma corrida à aquisição dos lugares de época no estádio: já todos foram vendidos. Cerca de 30 mil.
Duarte Fonseca: «Se é verdade que está em cima da mesa vender o melhor defesa do plantel, que simultaneamente é o segundo jogador com mais potencial do plantel, por uns míseros € 5 milhões de euros, só tenho a dizer que é um acto de lesa-sociedade gravíssimo.»
Francisco Melo: «O Eric Dier é produto made in Sporting. O Eric Dier é um caso sério de futuro craque. O Eric Dier é um miúdo com muito juízo e que não se deixou seduzir pelas £ como o Ilori, ou pelos $ como o Bruma. O Eric Dier no ano passado não foi primeira opção na defesa do Sporting e não armou nenhum escândalo por causa disso, nem se pôs com tretas agora na pré-época. Em resumo, o Eric Dier não pode sair.»
Marta Spínola: «Sim sim, já sei que o Sporting foi obrigado etc etc diz-me que Dier queria ir, que não queria. Não sei se queria se não. O Sporting continua e mais não sei quê. Sei tudo e está longe de ser o primeiro e último que vejo sair assim. Sei que eu gostava que tivesse ficado e não ficou. Gostava de o ver, dele gostei. Queria vê-lo crescer ali e já não posso. Era isto, como sócia não tenho só de aceitar e perceber.»
«A partir deste momento, se algum clube "endinheirado" perder a cabeça e bater a cláusula de rescisão de Gyökeres, como fica o SCP? A partir do próximo dia 3 começa a contar. Disputamos um troféu com o adversário que nos venceu a Taça de Portugal, que iremos defrontar à quarta jornada e passada uma semana começamos a defesa do campeonato nacional.»
"Unir o Sporting" não é uma fórmula vazia. Une-se o Sporting com vitórias. É o que Frederico Varandas tem feito desde Setembro de 2018.
Com resultados inequívocos:
2 Campeonatos Nacionais
1 Taça de Portugal
3 Taças da Liga
1 Supertaça
Sete títulos e troféus em menos de seis anos. O oitavo pode ser conquistado no próximo sábado.
Repito: em menos de seis anos.
Isto sim, é unir o Sporting.
Antes, vencíamos a Liga da Bazófia e a Taça do Papo Furado.
Antes, tínhamos um "excelente orador" que gritava "bardamerda para quem não é do Sporting" e chamava aos clubes rivais as "duas nádegas" do futebol português. Com a elegância, a subtileza e o extremo bom gosto que o caracterizavam.
E com o triste desfecho que sabemos.
Prefiro assim, como acontece agora. Ter um presidente que não é excelente orador mas vence títulos e troféus.
E não só eu: todos os que reelegemos Varandas em 2022. Fomos 86%, contra os 7% do principal adversário.
Francisco Melo: «O início do passado mês de Junho ficou marcado pelo regresso, oficial, do hóquei em patins ao Sporting, decisão da Direcção bastante aplaudida pelos sócios e adeptos. O Sporting pretende voltar a ser uma potência numa modalidade com muita tradição e rico palmarés na sua vida desportiva. Nesse sentido, o clube reforçou-se bastante para a época que se avizinha.»
«Eu vi jogar os dois, embora do Eusébio guarde apenas algumas imagens e movimentações. Era um jogador que por vezes, do completo marasmo, despertava e resolvia. Como o Ronaldo também desesperava pelo passe perfeito, mas era mais de pegar na bola, correr e finalizar. O Ronaldo é muito diferente, nunca o Eusébio teve o mesmo grau de entrega e de cuidado no tratamento da forma e do corpo. O Ronaldo é um resultado de muito trabalho, o Eusébio era o resultado da natureza. O Ronaldo é sem dúvida o melhor jogador de todos os tempos, como modelo de perfeição. O Eusébio foi fantástico, mas só o Ronaldo atingiu o Olimpo!»
Em jeito de balanço, aqui fica a lista dos jogadores que receberam a menção de melhores em campo no último campeonato, em resultado da soma das classificações atribuídas pelos diários desportivos após cada jornada. Num total de 102 votos.
Gyökeres, sem surpresa, foi o jogador mais pontuado pela imprensa especializada em futebol ao longo da temporada que decorreu de Agosto a Maio. A larga distância dos seus companheiros. Relegando para o segundo posto Francisco Trincão, que havia chegado ao topo na época anterior.
Todos os jornais lhe atribuíram o primeiro posto. Com Trincão também a suscitar unanimidade no segundo lugar.
Poucos adeptos contestarão estas escolhas. Pelo brilhantismo do craque sueco ao longo de toda a Liga 2023/2024 e pela excelente forma do avançado minhoto na segunda volta, em que registou vários momentos de indiscutível brilhantismo.
Face ao balanço aqui feito em 2023, vale a pena salientar a subida de Paulinho, desta vez com entrada directa no pódio, algo inédito: há um ano não conseguiu melhor do que a 10.ª posição. Há dois, ficou em sexto.
Em sentido inverso, caem Pedro Gonçalves (de segundo para quarto), Edwards (de terceiro para quinto) e Morita (de quinto para oitavo). Coates manteve-se em último (em 2021/2022 fora quinto). Enquanto Morten - estreante, como Gyökeres - fica em sexto. Nada mal.
A queda mais abrupta - e, de algum modo, difícil de entender - ocorreu com a saída de cena de Nuno Santos. Quarto classificado na votação da época anterior, em que obteve 11 pontos, desta vez não foi distinguido como melhor em campo em nenhuma das 34 jornadas.
O jornal A Bola revelou um toque de originalidade: destacou Neto como melhor Leão em campo. Na última jornada, contra o Chaves. Que assinalou também a despedida deste veterano defesa como jogador profissional de futebol
O Record foi o único desportivo que não esqueceu Coates, agora também já fora do Sporting.
O diário portuense atribuiu pontos solitários a dois jogadores que os jornais concorrentes não mencionaram: Diomande e Gonçalo Inácio.
Nem só Nuno Santos ficou esquecido. O mesmo aconteceu com a dupla de guarda-redes: nem uma alusão a Adán ou Israel.
De St. Juste, Esgaio e Matheus Reis também ninguém falou.
Gyökeres: 39
Trincão: 16
Paulinho: 12
Pedro Gonçalves: 8
Edwards: 7
Morten: 6
Daniel Bragança: 4
Morita: 3
Geny: 3
Gonçalo Inácio: 1
Coates: 1
Diomande: 1
Neto: 1
A BOLA: Gyökeres (13), Trincão (6), Paulinho (4), Edwards (3), Pedro Gonçalves (2), Morten (2), Daniel Bragança, Morita, Geny, Neto.
RECORD: Gyökeres (14), Trincão (6), Paulinho (4), Pedro Gonçalves (3), Edwards (2), Morten, Daniel Bragança, Morita, Geny, Coates.
O JOGO: Gyökeres (12), Trincão (4), Paulinho (4), Pedro Gonçalves (3), Morten (3), Edwards (2), Daniel Bragança (2), Morita, Geny, Gonçalo Inácio, Diomande.
Há um ano foi assim: Trincão, Pedro Gonçalves, Edwards.
Há dois anos foi assim: Sarabia, Porro, Nuno Santos.
Há três anos foi assim: Pedro Gonçalves, Palhinha e Coates.
Há quatro anos foi assim: Bruno Fernandes, Jovane, Vietto.
Há cinco anos foi assim: Bruno Fernandes, Raphinha, Nani.
Há seis anos foi assim: Bruno Fernandes, Bas Dost, Gelson Martins.
Há sete anos foi assim: Bas Dost, Gelson Martins, Bruno César.
Há oito anos foi assim: Slimani, João Mário, Gelson Martins.
Com Rúben Amorim, de época para época o modelo de jogo do Sporting sofre alterações, de acordo com a evolução da sua ideia de jogo, a maturidade do plantel dentro desse modelo e as características dos jogadores. O 3-4-3 de Amorim é apenas o ponto de partida para diferentes dinâmicas e posicionamentos ofensivos e defensivos.
Esta época a ideia de jogo parece ser atrair à pressão para atacar rápido, um pouco como no primeiro ano de Amorim. Através do recuo dos médios e dos interiores e um extremo ou falso ala de pé trocado bem projectado no corredor.
Catamo ou Quenda têm as características certas para ficarem esquecidos lá longe e depois aparecerem em velocidade a enfrentar o defesa, inflectir para dentro e rematar com o melhor pé. Para isso têm a cobertura do defesa desse lado (Quaresma ou St. Juste) e de Hjulmand, que cobre o espaço entre esse defesa e o defesa do meio.
Quanto ao atacar rápido isso tem muito a ver com as características dos avançados: Pedro Gonçalves, Gyökeres, Trincão, Edwards, todos mais confortáveis com espaço para correr, todos menos confortáveis a defrontar defesas bem fechadas.
O problema de jogar assim é que a posse de bola é menor, o desgaste maior, mais facilmente se perde o controlo do jogo e a defesa fica mais exposta. Dos cinco médios do plantel, apenas Hjulmand tem características para ir atrás de adversários em corrida e tentar o desarme sem falta metendo o corpo. Já com Essugo é falta e cartão: esse é o grande problema que ele ainda não conseguiu corrigir. Morita chega lá e faz falta. Bragança e Mateus correm atrás e apenas.
Por isso continuo a insistir no reforço da equipa no eixo central. Parece-me que faltam ali kgs e cms para compensar os levezinhos talentosos do plantel. Faltam ali outros Palhinhas, Ugartes ou Matheus Nunes.
Nesse contexto, e apenas considerando o perfil técnico dos jogadores, não percebo porque é que Koindredi, Tanlongo e Sotiris continuam a treinar à parte...
José da Xã: «Não sou grande adepto dos jogos de pré-temporada. Nem ligo ao tal (inventado?) campeonato de jogos amigáveis. Ser campeão dos jogos de início de estação não traz nem prestígio, nem valor acrescentado a qualquer equipa, a não ser aos próprios treinadores que aproveitam para rodar atletas e perceber das suas qualidades e deficiências.»
«Estamos preparados para a Supertaça. No entanto, para sermos muito competitivos em toda a temporada, espero ainda ver a entrada de mais dois elementos de qualidade indiscutível para a frente de ataque.»
Spporting, 3 - At. Bilbao, 0 (Troféu Cinco Violinos)
Coates entrega a Morten Hjulmand braçadeira de capitão: momento emocionante em Alvalade
Os clubes desportivos vivem muito da iconografia capaz de congregar e mobilizar os apoiantes. Aconteceram ontem, no Estádio José Alvalade, vários momentos desses. Que guardaremos mais tarde na memória.
A ocasião era propícia a isso, neste nosso último jogo antes do início da época oficial de futebol. Celebravam-se os quase-míticos Cinco Violinos, que quase já ninguém viu jogar. Iríamos defrontar os "leões" bascos do Athletic Bilbao, trazendo a má recordação daquela partida perdida em San Mamés que há 12 anos nos afastou da final da Liga Europa. E dizíamos «até sempre» ao enorme capitão Sebastián Coates, que regressa ao seu Uruguai após quase nove anos entre nós: foi o melhor defesa do Sporting neste século. Momento agridoce, o da vibrante ovação colectiva a quem nunca nos abandonou nos tempos mais difíceis, bem diferentes dos actuais. Sai como bicampeão nacional de futebol.
Uns partem, outros chegam.
Ontem estreou-se na equipa principal um adolescente de 17 anos, nascido em Bissau. Actuou como extremo clássico, no corredor direito. Rúben Amorim confia a tal ponto nele que adaptou o sistema táctico às características do rapaz, dispensando-o do habitual vaivém naquela ala: havia sempre um colega apto a ir ali à dobra em missão defensiva.
Geovany Tcherno Quenda - melhor em campo - correspondeu às expectativas. E assim deu nova amplitude à iconografia leonina, neste magnífico fim de tarde em que víamos emergir um astro em nossa casa. Aos 10', protagonizou pré-assistência para o golo inaugural ao tocar de modo irrepreensível para Gyökeres. Aos 33', rematou ao poste com aquele que dizem ser o seu pé menos bom, o direito. Aos 40', num remate cruzado, encaminha-a para a baliza onde ia anichar-se no canto inferior direito: só um corte providencial a travou in extremis.
«Se jogar assim, não voltará à equipa B», afirmava um sorridente Rúben Amorim no final do jogo. Impossível contrariá-lo: é mesmo caso para dizer isto.
O miúdo de Bissau deu forte contributo para as estatísticas deste jogo: 19 remates nossos, apenas nove da turma basca.
Solto, com bola ao primeiro toque. Dinâmico, com toada colectiva no comprimento e na largura. Criativo, capaz de desenhar lances que nos transmitem a ideia de um campeão nacional disposto a revalidar o título sem pedir licença a ninguém. Foi assim que se mostrou o Sporting neste desafio testemunhado ao vivo por mais de 35 mil adeptos num estádio que vai sendo remodelado por etapas até se pôr fim ao famigerado fosso, lá para 2026. Perante o detentor da Taça do Rei, quinto classificado da Liga espanhola.
Com Nuno Santos ausente do onze por lesão e Diomande a cumprir castigo, o treinador aproveitou estas baixas para testar a equipa com vista à Supertaça, que disputaremos com o FC Porto a 3 de Agosto. Houve adaptações bem-sucedidas. Desde logo na saída de bola, visando o passe na profundidade para explorar com rapidez os espaços livres lá na frente. E ampliando os momentos em que defendemos numa linha a quatro, cabendo a Geny - na ala esquerda - esse movimento de recuo.
Teste superado. Também o de outro estreante: o belga Debast, transferido aos 20 anos do Anderlecht e com participação no recente Euro 2024 pela selecção do seu país. Mostrou-se destemido com bola e pressionante sem ela. Reforço a sério, não a fingir.
E que mais, na crónica deste jogo? Os golos, claro.
Fundamentais - pelos três que marcámos, conquistando o belo Troféu Cinco Violinos. O primeiro (10') por Pedro Gonçalves, em remate rasteiro, isolado por Gyökeres neste seu primeiro (e último) jogo da pré-temporada testemunhado pelo público. O segundo (79') com Edwards a encostar após cruzamento milimétrico de Matheus Reis. O terceiro (83') com Trincão a facturar e Matheus novamente a assistir após intervenções decisivas de um par de jovens: Mateus Fernandes e Rodrigo Ribeiro. Oriundos da Academia de Alcochete, fábrica de campeões.
Fundamental também, termos mantido as redes da nossa baliza intactas. Vladan (até aos 68') e Israel (com recente participação na Copa América pelo Uruguai) deram boa conta do recado.
No final, o sorriso de Amorim era igual ao nosso. Sebastián Coates pode regressar tranquilo a Montevideu: a equipa está bem entregue.
Homenagem nas camisolas ao melhor defesa do Sporting neste século XXI
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Não fez uma defesa digna desse nome na primeira parte. Bloqueou bem a bola aos 51', saída oportuna a pontapé aos 62'. Controlou a profundidade.
Eduardo Quaresma - Devolvido ao lado direito da linha de centrais, melhorou face ao jogo anterior. Pequenos lapsos sem relevância. Sacou um amarelo aos 16'.
Debast - Estreia absoluta do jovem belga de verde (e negro) e branco. Mostrou talento, exibiu confiança. Bons dotes técnicos, presença na área.
Gonçalo Inácio - Não o víamos em acção desde o Europeu. Aos 22 anos, é já o mais experiente dos três centrais. Cabeceou à trave após canto, aos 33'.
Quenda - Outro estreante. E logo como melhor em campo. Foi seta apontada à área bilbaína. Serviu Viktor no primeiro golo, rematou ao ferro (33'), quase marcou aos 40'.
Morten - Agora capitão, mostrou-se em excelente forma após um Europeu que lhe correu bem. Eficaz no desarme e nas recuperações. Inegável sentido posicional.
Morita - Parece jogar há muitos anos com o dinamarquês, de tal forma se complementam no meio-campo. Constante pressão sobre o portador da bola.
Geny - Remetido à ala esquerda, revelou dificuldade no seu habitual movimento de fora para dentro: falta-lhe automatismo. Saiu ao intervalo com queixas físicas.
Trincão - Voltou a marcar: foi dele o golo que selou o resultado, aos 83. Andara lá perto num cabeceamento, aos 61'. Garantiu lugar como titular da equipa.
Pedro Gonçalves - Naquele seu jeito habitual de fingir que nem lá anda, apareceu no sítio certo para abrir o marcador logo aos 10'. Sempre muito activo.
Gyökeres - Voltámos a vê-lo após ter sido operado: 58 dias sem competir. Ninguém diria: está em plena forma. Impecável assistência no primeiro. Rondou o golo aos 54'.
Fresneda - Entrou aos 46' para render Geny. Primeiro na ala esquerda, algo trapalhão; depois à direita, mais à vontade. Recupera a bola no lance que gera o segundo golo.
Rodrigo Ribeiro - Substituiu Gyökeres (59'). Voltou a dar nas vistas. Grande articulação com Mateus Fernandes a construir lance que culmina no terceiro golo.
Daniel Bragança - Rendeu Morten aos 68'. Já com a braçadeira de capitão, iniciou segundo golo com transporte seguro e temporização perfeita.
Israel - Aos 68' substituiu Vladan entre os postes. Saiu bem, a pontapé, aos 77'. Grande defesa aos 90'+1: está em forma.
Edwards - Aos 68' saiu Quenda, entrou ele. Grande contraste. Mas aos 79' saiu da aparente letargia para a meter lá dentro após boa movimentação. Quase nem festejou.
Matheus Reis - Só entrou aos 68', substituindo Gonçalo Inácio. Mas chegou a tempo de brilhar na assistência a dois golos. Nota muito positiva.
João Muniz - Substituiu Debast aos 68'. Cumpriu, evidenciando segurança.
Mateus Fernandes - Entrou aos 81', rendendo Morita. Voltou a dar nas vistas com a arrancada que daria o golo 3. Serviu muito bem Trincão aos 86'.
Eu: «Antes do início oficial da temporada 2013/14, o Francisco Melo teve uma boa ideia, que lhe deve ter dado muito trabalho: pediu aos colegas de blogue que emitissem vaticínios sobre o campeonato que iria começar. Lá dei também o meu contributo. E revendoesses palpites, pela parte que me toca, reforço a minha ideia de que a pré-época pode por vezes ser enganadora. É verdade que acertei ao antecipar osegundo lugardo nosso clube na Liga. E também ao predizer que o Sporting terminaria o campeonatoapenas com uma derrota em casa. Mas enganei-me (por meio campeonato) na figura da equipa: escolhi Montero, que esteve muito bem só na primeira volta, quando devia ter apontado para William Carvalho (em boa verdade, só o Bernardo Pires de Lima acertou em cheio) ou para Adrien (aposta do Tiago Cabral e do Tiago Loureiro).»
«Cristiano Ronaldo é imortal. Mesmo que essa circunstância irrite aqueles que sempre se sentiram incomodados com os consecutivos êxitos do capitão da selecção portuguesa. Devíamos sentir orgulho em saber que, no olimpo dos deuses do futebol, está, por mérito próprio, um jogador português que, sozinho, fez mais pelo país do que os seus algozes todos juntos.»
Grande noite do Sporting hoje em Alvalade. As bancadas quase cheias de adeptos com camisolas de todas as épocas e de todos os gostos (muitas daquelas de que alguns não gostam mas que se vendem como pipocas), despedida sentida do grande capitão Coates, homenagem merecida a outro grande capitão, Manuel Fernandes. Uma bela 1.ª parte em que dominámos completamente o quinto classificado do campeonato espanhol. Uma 2.ª parte onde com tanta substituição o resultado foi de somenos importância.
Gostei muito da 1.ª parte do Sporting. Um 3-4-3 ainda mais assimétrico do que na época passada que muitas vezes se tornava num assumido 4-2-4. Quenda projectava-se no corredor direito enquanto Catamo assumia a posição de lateral esquerdo e Quaresma a de direito. Um duplo-trinco com capacidade de trabalho incrível, quer na saída a jogar quer na compensação dos adiantamentos dos alas.
Depois disso, um tridente ofensivo verdadeiramente letal. Recuperada a bola, era pôr num deles para o perigo ser iminente. Futebol mais parecido com o da primeira época de Rúben Amorim, caracterizado por contra-ataque letal, do que com a quarta, feita sobretudo de controlo do jogo e rotação de bola costa a costa ao jeito do andebol.
Quaresma-Debast-Inácio estiveram muito bem nesse período. Debast esteve tão bem que já não sei qual vai ser a decisão de Amorim sobre a posição central. Diomande-Debast-Inácio ou Debast-Diomande-Inácio? Quaresma está lá depois para o que for preciso.
Huljmand e Morita partem à frente de Bragança e Mateus Fernandes neste modelo de jogo, porque têm leitura de jogo incrível, tanto correm para trás como correm para a frente, metem o pé e ganham o lance. Não é mesmo o caso dos segundos, nem têm físico para o efeito. Mas são um regalo com a bola controlada a correr frente à defesa contrária.
Catamo é uma alternativa válida ao Nuno Santos na ala esquerda ? Acho que sim, cada um deles tem capacidade de centro e de remate a partir da esquerda.
Quenda é solução para a ala direita? Assim ele queira, porque Fatawu e Plata não quiseram. Ele tem tudo para vingar, veja-se o primeiro golo do Sporting e o remate ao poste. O resto a equipa trata, ou seja jogar pela esquerda para a bola lhe chegar com terreno livre à sua frente.
Pedro Gonçalves, Trincão e Gyökeres começam a época em grande forma e entendem-se às mil maravilhas. Os tempos dum Trincão a fintar de olhos fechados estão ultrapassados. Edwards? A capacidade está lá, não vale a pena vender a pataco porque vale o dobro do que um Jota Silva qualquer. Falta o segundo ponta-de-lança peitudo e rompedor. Rodrigo Ribeiro ou Nel podem fazer o papel do terceiro.
No final foi 3-0 contra um Atlético de Bilbau de má memória para mim, que fui a Bilbau no tempo do Sá Pinto. Da formação de Alcochete jogaram Quaresma, Inácio, Bragança, Quenda, Catamo, Muniz, Rodrigo Ribeiro e Mateus Fernandes, prova do grande trabalho de Amorim ao apostar na formação. A verdade é que nenhum deles desiludiu.
A única desilusão veio dum jogador que me lembra o Cancelo, que pode vir a ser melhor do que o Cancelo, que tem um perfil físico invejável para um lateral, mas que por agora quase não consegue ganhar um lance de disputa de bola nem fazer um passe com sucesso. Não é difícil descobrirem quem é. Probema mental? parece.
Melhor em campo? Morita. Samurai. Oxalá a selecção do Japão meta férias por uns tempos.
Quem não foi a jogo dos apresentados? Vários, mas Essugo e Esgaio parecem estar de saída, por empréstimo ou não.