Estávamos no dia 2 de Junho, dia da final do campeonato de basquetebol.
Foi tudo perfeito nesse dia.
Hoje tudo empastelou.
O futebol ao primeiro toque de Rúben, o tiki-taka à Sporting (Adán tiki e Pedro Gonçalves taka) deu lugar à confusão táctica de Fernando Santos, "o todos para o ataque mas fechadinhos lá atrás".
Nem sei bem se isto é um postal sobre vacinas ou sobre futebol.
Sei que da primeira vez entrei em campo, fui vacinado, fui recobrado e antes do intervalo (nem 45 minutos durou) já estava despachado.
Hoje sinto-me enrodilhado tacticamente, estou sentado a defender a minha posição há mais de uma hora, temendo que isto ainda vá a prolongamento e a penaltys.
Sinto-me um Douglas, com um espaço de acção reduzido, as meias pelos tornozelos, ansiando por um remate redentor (que não chega).
Não é verdade: o Europeu continua. E está mais emocionante que nunca, com desfecho imprevisível.
Várias das selecções consideradas favoritas - França, Alemanha, Croácia, Holanda - sem esquecer Portugal - já foram eliminadas antes da actual fase, os quartos-de-final.
Restam oito: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Inglaterra, Itália, República Checa, Suíça e Ucrânia.
Na vossa opinião, qual é a que tem mais hipóteses de suceder a Portugal como campeã europeia neste Euro-2021?
Renato Sanches e De Bruyne no Bélgica-Portugal de 27 de Junho
A base da selecção [portuguesa no Mundial de 1966] era a de uma equipa com cinco finais da Taça dos Campeões Europeus em oito anos e que, de facto, teve um brilhante comportamento em Inglaterra, [mas] falhou, estrondosamente, o apuramento para o Munudial de 62, para o Europeu de 64 e para o Europeu de 68.
Entretanto, ficámos em 4.º lugar no Mundial de 2008; fomos semi-finalistas, em 2000 e em 2012; vice-campeões europeus, em 2004; campeões europeus, em 2016; e vencemos a Liga das Nações em 2019.
Sem prejuízo do mérito que a nossa selecção revelou, o Mundial de 1966 foi visto, quase, como um milagre. Uma superação que só acontece(u) de vez em quando.
Hoje, Portugal frequenta os lugares das melhores selecções do mundo, com uma naturalidade que, naquele tempo, era uma miragem.
Naquele tempo, éramos os coitados que se transcenderam.
Hoje, somos os favoritos que falharam.
Texto do leitor Francisco Gonçalves, publicado originalmente aqui.
Surpresa após surpresa. Desta vez foi a selecção germânica que ficou encostada às cordas. Eliminada dos oitavos-de-final do Europeu, como já sucedera com Portugal, França, Holanda e Croácia. Mesmo tendo ainda vários jogadores que há sete anos se sagraram campeões do mundo. Como Neuer, Kroos, Ginter, Hummels e Thomas Müller.
Soou a vingança portuguesa? Talvez, mas foi sobretudo a confirmação da extrema competência da selecão inglesa, candidata ao título. Beneficiando do facto de jogar em casa: as bancadas em Wembley estavam preenchidas com ruidosos adeptos, não faltando sequer um neto e um bisneto da Rainha.
Este Inglaterra-Alemanha começou cheio de cautelas tácticas, com as equipa a medirem-se - o que ficou espelhado no empate a zero registado ao intervalo. E que só se desfez aos 75', num soberbo rasgo individual de Sterling - a grande figura deste desafio - que começa e conclui o lance, após tabelinha com Grealich, outro craque inglês, prestes a transitar do Aston Villa para o Manchester City.
Estava aberto o cofre. Previa-se enérgica reacção dos alemães, reforçados com a entrada de Gnabry, um dos maiores desequilibradores da equipa. E o empate esteve a centímetros de acontecer, aos 81', quando Müller, isolado, rematou em jeito fazendo a bola rasar o poste.
Funcionou como sinal de alerta para os ingleses, que redobraram a ofensiva à baliza adversária. Materializada num segundo golo, aos 86', por Harry Kane. O rei dos goleadores no Mundial-2018 estreou-se enfim a marcar neste Europeu.
Portugal teve saída prematura. Com direito a este pequeno prémio de consolação: os nossos parceiros do chamado "grupo da morte" despedem-se ao mesmo tempo do Euro-2021. Em futebol, o destino dos favoritos muitas vezes é este: abandonar o palco mais cedo. A hora parece ser dos intérpretes secundários.
O equatoriano voltou a ter uma oportunidade de mostrar o que vale, alinhando a partir dos 59' neste último desafio do campeonato, com o Sporting já campeão. E cumpriu, como ala direito, fazendo o vaivém no seu corredor. Exibição coroada com um golo magnífico, o nosso quinto nesta goleada por 5-0, aos 75', fazendo um chapéu sobre o guarda-redes do Marítimo a 30 metros de distância. Foi um dos grandes golos leoninos da temporada..
«Cristiano Ronaldo é para mim só o melhor jogador de todos os tempos e eu como bom português, embora naturalizado americano, daqui lhe mando o meu agradecimento por tudo que tem dado à nossa selecção e desejar-lhe que assim continue por muitos e muitos anos.»
Eu acho que Manuel Fernandes está enganado. Esse jantar foi de amigos e tratou-se disso mesmo: de um jantar de amigos, somente isso. Quiçá falou-se de um ou outro jogador que pode trocar de camisola.
Por certo alguém do SLBenfica irá vestir a camisola do FCPorto, para gáudio dos adeptos de ambos os clubes.
(imagem de "Nike de Samotrácia" também conhecida por "Vitória de Samotrácia", presente no Louvre)
Como é público, o Sporting veste esta época equipamentos desportivos da marca americana Nike, em substituição da italiana (eu diria francesa) Macron, a qual ficará para sempre na história do nosso clube como sendo a marca de uma equipa campeã.
Inicia-se, pois, um novo futuro, vestido pela Nike.
Não vou fazer considerações sobre esta marca, vou recordar, tão só, o significado da palavra “Nike”, uma deusa da Grécia Antiga, o qual, queremos acreditar, possa ser um bom augúrio para o nosso clube.
Nike - «Filha de Palas e do Estige, irmã de Zelo (o furor), de Crato (a força) e de Bia (a violência), a Vitória (chamada Nike, pelos Gregos) pertencia à primeira geração dos deuses. Possuía na Acrópole de Atenas um célebre templo. Sempre associada à deusa Atena (Atena Nike). Geralmente, os artistas representam-na como uma mulher alada, trazendo na mão a palma e a coroa, guiando os deuses e os heróis no decurso dos seus feitos. Os Romanos, por seu lado, afirmavam que a efígie da Vitória tinha sido construída por Palante, herói epónimo da colina do Palatino, onde tinham edificado um templo em sua honra.» [1]
O símbolo desta marca comercial remete, precisamente, para as asas desta deusa, apresentando-a de uma forma estilizada.
Uma outra construção moderna da imagem desta deusa grega pode-se igualmente encontrar nas pequenas estatuetas presente nos veículos da marca Rolls Royce, denominada Espírito do êxtase.
[1] - Schmidt, Joël – Dicionário de mitologia Grega e Romana. Lisboa: edições 70, 1994. p. 271
Há anos que ouço dizer que Cristiano Ronaldo está acabado para a selecção. Já Carlos Queiroz, quando foi seleccionador, tentou encostá-lo às cordas e mostrar quem mandava - atitude própria dos fracos.
Quem saiu pela esquerda baixa foi ele. Onde anda agora?
Fernando Santos é o seleccionador português que mais soube congregar os grupos de trabalho. Os jogadores adoram trabalhar com ele. Nunca teve conflito com nenhum.
Neste quadro, Cristiano Ronaldo é essencial. Sem ele não teríamos sido campeões da Europa nem vencido a Liga das Nações. Nenhuma dúvida quanto a isso.
Pepe, idem.
Um já completou 36 anos, outro está quase a fazer 39. Mas ambos teriam lugar em qualquer selecção que disputa este Campeonato da Europa.
Apontar-lhes agora a porta de saída, como agora faz tanta gente excitada nas redes sociais, não tem o menor sentido.
Os medíocres é que devem sair, não os campeões.
Qualquer selecção adoraria ter um Ronaldo: 109 golos marcados com a camisola das quinas, 21 só em fases finais de Mundiais e Europeus, 48 nos últimos 46 jogos em representação de Portugal.
É neste momento ainda o melhor marcador do Euro-2021. Em Europeus, só Platini (em 1984) e Griezmann (em 2016) marcaram mais.
Na era Ronaldo, Portugal foi campeão europeu (2016), vice-campeão europeu (2004), semifinalista num Mundial (2006) e semifinalista noutro Europeu (2012). E o capitão contribuiu como nenhum outro para a conquista da Liga das Nações (2019).
Sou-lhe grato. E sei bem do que falo: pertenço a uma geração que andou décadas a celebrar um terceiro lugar num Mundial e uma semifinal num Europeu.
Era o melhor que se arranjava naquela época. Felizmente esse tempo acabou.
Estou com Fernando Santos quando entende a selecção como uma equipa, seleccionando conforme as necessidades da mesma e não como prémio para os bons desempenhos nos clubes, e previlegiando o espírito de equipa e o compromisso de todos. Tempos houve em que não foi assim, havia grupos e grupinhos, houve Saltillo e houve muito mais. Até aí tudo bem.
Fernando Santos fez as suas escolhas e levou para o Euro um plantel alargado, numa linha de continuidade com as escolhas anteriores, Cancelo ficou de fora definitivamente e não se percebe bem porquê, foi substituído por Dalot. Nestes quatro jogos os onze foram variando, as substituições também, e no fim alguns jogadores nem sequer calçaram.
Mas ficou evidente que houve escolhas difíceis de entender como a de William Carvalho depois duma época para esquecer, e muitos jogadores gastos por temporadas exigentes e que nunca mereceram a titularidade.
E, pelo menos para mim, ficou a frustação de nunca ter visto um onze mais coincidente com uma selecção que procurasse a felicidade em vez de esperar sentada que ela acontecesse.
O onze que gostaria de ter visto era o seguinte:
Rui Patrício; Cancelo, Pepe, Rúben Dias e Nuno Mendes; Danilo; Renato Sanches, Bruno Fernandes e Pedro Gonçalves; Cristiano Ronaldo e André Silva.
Depois há alternativas óbvias, Palhinha podia muito bem ter alternado com Danilo na posição de trinco, embora Danilo funcione melhor na articulação com os centrais, Raphael Guerreiro em vez de Nuno Mendes em momentos de reforçar o ataque, Dalot em qualquer dos lados para defender ou Pedro Gonçalves e André Silva a alternar com Jota, Bernardo Silva ou João Félix. Mas Renato Sanches e Bruno Fernandes, como Pepe e Rúben Dias, e obviamente Cristiano Ronaldo, seriam sempre titulares e a sair só por cansaço.
Quem não tinha lugar nem no onze nem no banco eram William Carvalho, João Moutinho, Nelson Semedo e Rafa.
Mas isto sou eu a pensar.
Qual seria o onze que gostariam de ter visto no Euro?
Parabéns, embora com algum atraso, ao nosso leitor Leão de Queluz. Por ter acertado não só no resultado do França-Portugal (2-2), mas também em Cristiano Ronaldo como marcador de um dos golos (acabaria por marcar os dois).
Já quanto ao Bélgica-Portugal (1-0), que ditou o nosso afastamento prematuro deste Europeu, ninguém acertou. O que não surpreende.
Entra portanto esta rubrica do nosso blogue em gozo de férias. E regressa a tempo do desafio da Supertaça.
Qualquer equipa pode perder com a Bélgica, a propósito disso nada a dizer.
O único remoque que faria ao engenheiro seria a propósito de uma certa falta de imaginação: não haveria maneira de alargar o jogo, conseguir fazer chegar à linha de fundo mais amiúde de modo a que os avançados recebessem a bola de frente para a baliza para, no mínimo, obter mais cantos
Juntar o Nuno Mendes e o Raphaël Guerreiro à esquerda, avançar o Dalot (bela estreia) no apoio ao Bernardo Silva ou outro, guardando uma linha de três defesas que ontem [anteontem] aliás fez um excelente final de jogo?
Bem, isto vale o que vale, é muito fácil mandar bitaites de fora.
De qualquer modo, com tantos dos jogadores principais em má condição física é muito difícil fazer valer o argumento de que esta equipa sendo tão forte devia fazer muito melhor do que fez.
A conclusão não segue da premissa. Ou alguém imagina a França a jogar pelo título com o Griezmann, o Kanté, o Pogba e o Mbappé sentados no banco e com os jogadores do Lille em campo?
Texto do leitor Miguel, publicado originalmente aqui.
«Até já existe perna de pau do Sporting... Quando os meus filhos (4 e 6 anos) me contaram que havia um gelado especial pelo [facto de o] Sporting ter ganho, nem queria acreditar... Em dez lojas aqui na vizinhança que vendem Olá, apenas uma tinha no cardápio a versão especial. Claro que estava esgotado. Continuo à procura de ser bafejado pela sorte e comer este gelado que demorou 19 anos a ser confeccionado.»
Depois do campeão europeu, também o campeão do mundo e o vice-campeão mundial caíram neste Euro-2021, ficando-se pelos oitavos-de-final. Comprovando que a realidade do futebol jogado é muito mais complexa do que as teorias de café ou de sofá.
Este foi um dia de festa para o futebol. Um dia em que se marcaram 14 golos, em Bucareste e Copenhaga.
Um dia com dois jogos de resultado incerto até ao fim.
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Um desses desafios, o França-Suíça, só ficou decidido após o prolongamento, por pontapés de grande penalidade: persistia o 3-3 aos 90 minutos. Aqui a sorte sorriu aos suíços, que aliás fizeram por merecê-la: no momento decisivo, o do quinto penálti, um dos melhores jogadores do mundo, Mbappé, permitiu a defesa de Sommer, esta noite com uma exibição de luxo na capital romena.
O resultado foi oscilando. A Suíça marcou primeiro, por Seferovic, fixando o resultado ao intervalo. No recomeço, os suiços tiveram uma flagrante oportunidade de ampliar a vantagem para 2-0. Mas o lateral Ricardo Rodríguez, chamado a converter, viu a bola ser travada pelo experiente Lloris.
A França embalou então para a reviravolta. Com dois golos em dois minutos apontados por Benzema, regressado após cinco anos fora da selecção, e um monumental golo de Pogba - desde já candidato a um dos mais belos do torneio. Estavam decorridos 75', os franceses venciam 3-1, o desfecho parecia garantido. Mas houve combate até ao fim: Seferovic marcou o segundo aos 81' e Gavranovic fixou o empate aos 90'. Confirmando que o futebol pode ser um dos espectáculos mais emocionantes do mundo.
Destaque na Suíça - além dos jogadores já mencionados - para o médio defensivo Xhaka, jogador do Roma, e o excelente ala esquerdo Zuber, do Eintracht Frankfurt. Merecem esta passagem da Suíça aos quartos-de-final, o que acontece pela primeira vez num Europeu.
França, 3 - Suíça, 3 (vitória suíça 5-4 no desempate por penáltis)
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Emocionante também o Croácia-Espanha, disputado a meio da tarde na capital dinamarquesa. Com um lance caricato do guarda-redes Unai Simón, que aos 20' deixou a bola atrasada por Pedri encaminhar-se lentamente para o interior da baliza, tentando pontapeá-la sem conseguir. Uma cena digna dos "apanhados".
Mas Sarabia - médio do PSG, um dos melhores em campo - repôs a igualdade aos 38'. Depois do intervalo, os espanhóis carregaram no acelerador e viram-se recompensados com dois golos - de Azpilicueta (57') e Ferran Torres (76'). O triunfo parecia garantido no tempo regulamentar, mas era engano: a Croácia conseguiu repor o empate. Com golos de Orsic (construído por Modric) aos 85' e de Pasalic aos 90'+2.
Foi-se para prolongamento, com vários jogadores à beira da exaustão. Aqui foi Morata - o patinho feio da selecção espanhola - a fazer a diferença, marcando o quarto da sua equipa, aos 100'. Belíssimo golo: recebeu a bola em zona frontal com o pé direito e rematou forte com o esquerdo. Oyarzabal confirmaria o triunfo aos 103'.
Mas os croatas, vice-campeões mundiais, não baixaram os braços. Saem de cabeça erguida: lutaram até ao fim. Confirmando que este dia merece ficar inscrito na história do futebol.
"Todos os ciclos têm o seu fim. O do seleccionador Fernando Santos - que prescindiu de Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, campeões nacionais pelo Sporting que nunca calçaram neste Euro-2021 - aproxima-se do epílogo. Mas esse é outro debate: haverá tempo e espaço para o fazer. Talvez só após o Mundial que vai disputar-se no Catar em 2022."
Esta frase é de Pedro Correia no post abaixo e tem toda a pertinência.
Para mim é mais que evidente que o ciclo de Fernando Santos na selecção terminou. Tenho todo o apreço pelo cidadão Fernando Santos e pelos títulos que ajudou a conquistar para o futebol português, mas como tudo na vida, chegou ao fim o seu tempo. As razões já lá estavam há largo tempo, a insistência em jogadores-fetiche que nada acrescentam(taram) ao colectivo, antes o diminuem (William Carvalho, Danilo, Bernardo Silva, João Moutinho, Raphael Guerreiro) e o facto de não ter conseguido a qualificação num grupo perfeitamente acessível no primeiro lugar, atirou-o para o tal grupo da morte na fase final, de onde a equipa saiu chamuscada e ferida de asa.
Não teria sido grave, se o técnico campeão europeu tivesse dado ouvidos ao imenso rumor dos adeptos. Eu bem sei que isto não se comanda de fora, mas que diabo, passará pelo cabeça de Fernando Santos que ao convocar para não utilizar Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, privou a selecção de dois excelentes executantes e mais, privou a equipa de sub-21 de uma possível vitória no Euro que recentemente disputou? Rui Jorge parece ser um homem calmo, mas fosse comigo e haveria um tornado em Oeiras...
A questão que se coloca aqui é simples: Vai a federação esperar mais um ano com Fernando Santos ao leme, prosseguindo este com a sua teimosia a insistir nos mesmos jogadores que já se viu que nada acrescentam, ou conversa com o engenheiro e acertam uma despedida do seleccionador/treinador, de forma a garantir uma transição calma e uma aposta em quem realmente merece fazer parte do grupo?
Eu penso que é este o tempo de não se perder tempo. Esperar é deixar continuar o declínio de uma equipa que joga cada vez menos, dá cada vez menos espectáculo e pior, obtem cada vez mais, piores resultados.
Termino com um sincero obrigado a Fernando Santos, mas com um convicto pedido de que pense seriamente na qualificação e na fase final deste Euro 2020 e nas suas consequências e se despeça enquanto o descalabro não é mais retumbante.
Nota: Para que não restem dúvidas, Cristiano Ronaldo continuará a ser, por mais algum tempo e se não tiver lesões, imprescindível à selecção.
No primeiro jogo do tudo-ou-nada, houve um tropeção. Que nos foi fatal. Frente à selecção belga, classificada como número 1 do mundo pela FIFA. Derrota tangencial em Sevilha, perante 14 mil espectadores nas bancadas: os belgas marcaram na única verdadeira oportunidade que tiveram num brilhante lance individual de Thorgan Hazard, aos 42'. Enquanto nós fomos incapazes de a meter lá dentro: houve 24 remates, grande parte dos quais por cima ou ao lado. O melhor - por Raphael Guerreiro, de pé direito - embateu no poste, aos 83', já com Courtois batido. Aos belgas, com apenas 44% de posse de bola e sem um só canto a seu favor, bastou rematar seis vezes para vencer.
Claro domínio português na segunda parte que foi crescendo de intensidade até ao apito final. Mas que só se tornou indiscutível quando Fernando Santos, com manifesto atraso, fez as substituições que se impunham: tirou Bernardo Silva e João Moutinho, os elementos mais fracos do onze titular, metendo em campo João Félix e Bruno Fernandes, que refrescaram a equipa e lhe deram alguma acutilância. Sobretudo só a partir daí os nossos flancos passaram a funcionar em dinâmica ofensiva.
Bernardo nunca conseguiu acelerar o jogo e foi incapaz de fazer a diferença lá na frente. E teve também responsabilidade no golo belga: Thorgan bateu-o em velocidade e o avançado do City ficou a marcar com os olhos, consentindo o remate de meia-distância. Também Rui Patrício pareceu algo lento a reagir e mal posicionado, apesar de a bola ter entrado no centro da baliza.
Dos onze que entraram de início, neste jogo em que tivemos menos 48 horas para descansar do que os "diabos vermelhos", havia seis campeões europeus: Rui Patrício, Pepe, Guerreiro, Moutinho, Renato Sanches e Cristiano Ronaldo. O capitão português, muito marcado, desta vez foi incapaz de fazer a diferença - excepto num livre directo que levava selo de golo mas acabou interceptado por Courtois, o melhor em campo. Estavam decorridos 25 minutos: era o nosso primeiro remate enquadrado. O que resume em larga medida a nossa primeira parte, em que abdícámos da iniciativa atacante, sobretudo pelos corredores laterais. E só despertámos para a pressão no segundo tempo, correndo atrás do prejuízo.
Tivemos 88% de eficácia de passe. Mas a finalização, do nosso lado, parecia ter rumado a parte incerta. Palhinha, João Félix, Bruno Fernandes e o próprio Ronaldo falharam neste capítulo. Bernardo nem tentou. Mas o destaque pela negativa vai para Diogo Jota, uma autêntica nulidade. Isolado por Renato logo no minuto 6, num passe em lance corrido que cheirava a assistência para golo, o avançado do Liverpool rematou muito torto, bem para longe da baliza. Titular absoluto neste Europeu, nunca demonstrou ter qualidade para merecer a confiança que o seleccionador lhe deu. Aos 58', voltou a falhar com estrondo - desta vez assistido por Cristiano.
Pepe anulou bem Lukaku, o adversário mais temível. Palhinha neutralizou De Bruyne, um dos melhores jogadores do mundo. Guerreiro chegou e sobrou no confronto individual com Meunier. O problema da nossa equipa residia lá na frente: demasiados nervos à solta, demasiada intranquilidade, demasiada incompetência.
Campeões europeus desde 2016, cinco anos depois vamos ceder o título a outra selecção. Que bem pode ser a belga, embora também italianos e franceses sejam sérios candidatos. É verdade que nunca a Bélgica apresentou uma equipa tão forte num Campeonato da Europa. Mas não é menos certo que esta é a primeira vez em que somos afastados em fase tão prematura de um Europeu. Os nossos piores desempenhos antes deste aconteceram em 1996 e 2008, quando caímos nos quartos-de-final.
Todos os ciclos têm o seu fim. O do seleccionador Fernando Santos - que prescindiu de Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, campeões nacionais pelo Sporting que nunca calçaram neste Euro-2021 - aproxima-se do epílogo. Mas esse é outro debate: haverá tempo e espaço para o fazer. Talvez só após o Mundial que vai disputar-se no Catar em 2022.
Bélgica, 1 - Portugal, 0
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Frente à selecção n.º 1 da FIFA, acabou por ter pouco trabalho. O golo belga foi a única ocasião em que enfrentou verdadeiro perigo. Infelizmente teve reflexos mais lentos do que Courtois na baliza contrária ao negar golos a Cristiano Ronaldo e André Silva.
Diogo Dalot - Estreia absoluta a titular pela selecção A. No essencial, cumpriu no capítulo defensivo. Mas foi demasiado tímido nas incursões ofensivas, sobretudo no primeiro tempo. Comportamento infantil aos 51', chutando a bola com o jogo parado: custou-lhe o cartão amarelo.
Pepe - O mais velho jogador de campo do Euro-2021, com 38 anos, voltou a ser pedra basilar. Imbatível no eixo da defesa, enfrentou com êxito Lukaku. Corte exemplar aos 66', negando o golo ao artilheiro do Inter. No quarto de hora final foi jogar lá na frente, como se fosse avançado.
Rúben Dias - Fez boa parceria com Pepe. Ambos tinham pela frente uma selecção que marcou 40 golos na fase de apuramento e não se deixaram atemorizar por isso. Cabeceou com perigo, aos 82', após canto de Bruno Fernandes. Com outro guarda-redes talvez tivesse entrado.
Raphael Guerreiro - A sua melhor exibição do Europeu ocorreu neste desafio. Corte impecável aos 40'. Redobrou de protagonismo ofensivo na segunda parte, com vários cruzamentos bem medidos. Esteve quase a marcar aos 83': Courtois já estava batido mas a bola foi ao poste.
Palhinha - Ganhou estatuto na selecção, como ficou comprovado neste jogo - o seu primeiro como titular no Europeu. Infelizmente, foi também o último. Não merecia voltar já para casa: bom desempenho na recuperação e no desarme. Só falhou no disparo de meia-distância.
João Moutinho - Incompreensível, esta reiterada aposta do seleccionador. Precisávamos de um acelerador de jogo no eixo do terreno: rápido, vertical, incisivo. Moutinho não tem nenhuma destas características. Saiu aos 56', comprovando que o tempo dele na selecção acabou.
Renato Sanches - Com 91% de eficácia de passe, talvez o melhor português neste jogo. No primeiro tempo foi o que mais tentou remar contra a maré: desequilibrou, transportou com qualidade, nunca deu um confronto por perdido. Quase assistiu para golo aos 6'. Saiu aos 78'.
Bernardo Silva - Outro mistério: como é que foi titular nos quatro jogos de Portugal neste Europeu? Voltou a ter uma exibição medíocre, tanto no flanco direito ofensivo como em missão defensiva: tem clara responsabilidade no golo belga, ao deixar fugir Hazard. Saiu só aos 56'.
Diogo Jota - Divide com Bernardo o "prémio" de pior em campo. Pedia-se goleador - e falhou em toda a linha. A ala esquerda, onde actuou, ficou sempre desequilibrada: quase não ganhou um confronto individual e parecia até fugir da bola. Espantosamente, esteve em campo até aos 70'.
Cristiano Ronaldo - Nem ele conseguiu fazer a diferença. Mas se há jogador que não merecia ir mais cedo para casa é precisamente o capitão. A primeira clara oportunidade de golo foi dele, na marcação de um livre, aos 25': Courtois defendeu in extremis. Aos 58', assistiu para Jota falhar.
João Félix - Saltou do banco (56'), rendendo Bernardo. Procurou a bola mas faltou-lhe talento na zona da decisão. Cabeceou à figura, aos 61'. Atirou por cima aos 82', rematou ao lado aos 90'+4. Tentou mergulhar para a piscina, cavando um livre. O árbitro não se deixou enganar.
Bruno Fernandes - O que se passa com o melhor jogador da Liga inglesa? Desta vez só entrou aos 56', por troca com Moutinho. Aos 82', marcou bem um canto que podia ter dado golo. Mas falhou remates quando se exigia mais precisão: atirou muito por cima aos 62' e aos 90'+2.
André Silva - Imperdoável, a escassíssima utilização neste Europeu do segundo melhor artilheiro da Liga alemã. Neste jogo entrou aos 70', substituindo o inútil Jota. Desperdiçou um bom passe de Bruno Fernandes (80'). Mas quase marcou aos 88': Courtois, atento, impediu o empate.
Sérgio Oliveira - Entrou aos 78', para refrescar o meio-campo, substituindo um exausto Renato Sanches. Tentou dar consistência e acutilância às nossas acções ofensivas, infelizmente sem oportunidade para testar o seu famoso pontapé de meia-distância.
Danilo - Entrou aos 78', rendendo Palhinha, já amarelado. Útil nas dobras defensivas, numa fase em que Pepe já actuava lá na frente, como se fosse um avançado. Desarmou Lukaku aos 86'. Esteve melhor ainda, abortando uma ofensiva muito perigosa de Carrasco, aos 90'+4.
Obviamente que nos faltou a tal "santinha" que nos acompanhou noutras situações. Mas ela hoje meteu folga.
Mas para Portugal defrontar a Bélgica em Sevilha é um pouco como o Sporting jogar em casa contra o Braga ou algo assim, se não entra com tudo para marcar primeiro e deixa enrolar o jogo até que um "chouriço" qualquer funcione como despertador, arrisca-se mesmo a perder. Porque a outra equipa redobra de moral, porque os minutos se vão esgotando, porque cada um tenta resolver por si o que a equipa não consegue, nem equipa às tantas existe com tantas alterações e a pressa de meter a bola lá na frente.
E é verdade, Portugal não tem um Coates.
Mas tem alguns jogadores fetiches de Fernando Santos, a começar por um Bernardo Silva que marcou com os olhos o ala da Bélgica que fez o golo e um Jota que desperdiçou uma oportunidade muito bem conquistada por Renato Sanches. Foram fetiches como estes, a começar por aquele de William Carvalho contra a Alemanha, que marcaram definitivamente esta campanha.
Realmente faltou chegar a Sevilha com um modelo de jogo consolidado. Entrou um onze remendado das contigências da fase de grupos, com pouca ideia de conjunto, e sem ninguém para ajudar Cristiano Ronaldo. Que podia ter sido João Félix, como se viu na segunda parte.
E assim se encerra esta campanha. Com todo o respeito pela competência e curriculum de Fernando Santos, se calhar é tempo de encerrar um ciclo e partir para outro, com outra capacidade colectiva e outra mistura de jovens com fome de vencer e consagrados que não falhem. Sempre com Cristiano Ronaldo, porque ele fará sempre parte da solução, o melhor jogador do mundo nunca será o problema.
Olhando agora para os jogadores do Sporting que integraram esta selecção, Palhinha esteve hoje muito aquém do que pode fazer, não será certamente por este Euro que estará envolvido numa grande transferência, e dois dos melhores jogadores da Liga portuguesa, como Nuno Mendes e Pedro Gonçalves, só foram conhecer os colegas e fazer treino de recuperação. É frustrante, mas é assim mesmo.