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És a nossa Fé!

Entre os mais comentados

Nos 22 destaques  feitos pelo Sapo em Março para assinalar os dez blogues mais comentados nesta plataforma ao longo do mês, És a Nossa Fé recebeu 22 menções. Fazendo assim o pleno, pelo décimo mês consecutivo.

Além disso, figurámos  20 vezes no pódio  dos mais comentados - com treze "medalhas de ouro", seis de "prata" e uma de "bronze". Fomos primeiros, portanto, em 58% dos dias que estiveram sob escrutínio.

Recorde-se que os textos publicados ao fim de semana são agregados aos de sexta-feira para este efeito, o que leva o número de destaques a ser inferior ao número de dias.

 

Os 22 textos foram estes, por ordem cronológica:

 

A pior equipa técnica de sempre? (Parte 3) (97 comentários, o mais comentado do fim de semana)

Prognósticos antes do jogo (70 comentários, o mais comentado do dia)

Hara-kiri  (136 comentários, o mais comentado do dia)

Nunca visto (98 comentários, o mais comentado do dia)

No próximo domingo estarei em Alvalade, na bancada... (70 comentários, segundo mais comentado do dia)

Prognósticos antes do jogo (84 comentários, o mais comentado do fim de semana)

Rescaldo do jogo de ontem (60 comentários, o mais comentado do dia)

E o nosso dinheiro de volta? (36 comentários, segundo mais comentado do dia)

A todos os níveis parece uma decisão má (23 comentários)

A responsabilidade criminal nem é o mais importante (2) (75 comentários, o mais comentado do dia)

Os jogadores de Varandas (3) (28 comentários)

Como deve ser apurado o campeão? (70 comentários, o mais comentado do dia)

Indiscutível (36 comentários, segundo mais comentado do dia)

Os jogadores de Varandas (4) (36 comentários, segundo mais comentado do dia)

Um pássaro na mão? (84 comentários, o mais comentado do dia)

Obviamente, aplaudo (62 comentários, o mais comentado do fim de semana)

Tenham vergonha, não vale tudo... (70 comentários, o mais comentado do dia)

Só estas duas (68 comentários, o mais comentado do dia)

Tudo diferente, tudo novo (54 comentários, o mais comentado do dia)

Não posso estar mais de acordo (30 comentários, segundo mais comentado do dia)

A voz do leitor (52 comentários, segundo mais comentado do fim de semana)

Diferença (30 comentários, terceiro mais comentado do dia)

 

Com um total de 1369 comentários nestes postais. Da autoria do António de Almeida, do Luís Lisboa, do Sol Carvalho, do Filipe Moura, do leitor JMA e de mim próprio.

Fica o agradecimento a quem nos dá a honra de visitar e comentar. E, naturalmente, também aos responsáveis do Sapo por esta iniciativa.

 

Mudar estatutos: um sócio/um voto

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Reconheço que numa hipotética como tão necessária alteração estatutária, este, sendo um tema que deve obrigatoriamente estar em cima da mesa, é certamente dos mais quentes e aquele que eventualmente mais discussões apaixonadas proporcionará.

Há vários escalões de sócios no clube que, consoante a antiguidade, vão adquirindo votos que lhes permitem ser mais influentes em votações em AG's, entre elas as eleitorais, conferindo aos sócios com maior tempo de fidelização uma enorme e desproporcional preponderância sobre os mais recentes.

Sou desde há muito defensor de que a cada sócio deve corresponder apenas e só um voto, desde logo porque é assim no país para todas as eleições importantes e até nas organizações empresariais por quotas, onde cada accionista tem os votos proporcionais à sua quota-parte da sociedade, independentemente se a possui há muito ou pouco tempo.

Reconheço que a este sistema há que, sob pena de haver subversão dele próprio, impor algumas regras que evitem a apropriação do clube por grupos de pessoas com interesses menos sérios. Mesmo havendo apenas uma ínfima hipótese de num acto eleitoral um grupo estranho tomar de assalto o clube (seriam necessários muitos milhares, diria largos milhares, para que fosse isso possível), haverá que acautelar por exemplo um período de tempo razoável, que eu diria de cinco anos, para se obter o direito a eleger os corpos sociais. Em AG's ordinárias ou extraordinárias que não as eleitorais ou que impliquem a perda de mandato dos corpos sociais em parte ou no seu todo, ou ainda as que impliquem a relação com a SAD, os sócios terão todos os direitos que agora detêm, com a permissa sempre de um sócio/um voto. 

Bem sei que há uma distinção entre os sócios A e B, desde logo pelo valor da quota paga (12€/6€) e que os primeiros poderão ter alguma relutância em prescindir da "vantagem" que detêm por via do valor a dobrar que pagam pela sua quota. Será uma posição legítima, mas convenhamos que já hoje por via disso há algumas legítimas diferenças de tratamento, sejam elas o importante direito a serem eleitos, ou o acesso à bancada A, entre outros. Tenho para mim que será talvez o maior obstáculo à implementação do sistema "um sócio/um voto" ("então eu pago o dobro daquele e ele tem um voto igual ao meu?"), maior do que o da antiguidade como associado. 

Há ainda os jovens, a quem deve ser dada oportunidade de exercer mais cedo na vida o direito a eleger os corpos sociais. Eu diria que aos 16 se estará preparado para eleger quem deve dirigir o clube. Afinal também se pode, num infortúnio, estar preparado para sofrer uma pena de prisão maior... E estes jovens teriam o seu voto aos 16 anos, se fossem associados, ainda que noutra qualquer categoria, ininterruptamente, há pelo menos cinco anos.

Clamarão alguns dos que irão perder os seus votos que o clube poderá ser tomado de assalto por "pára-quedistas" e que a antiguidade deve ser recompensada. Quanto à questão do "assalto", creio ter encontrado uma solução razoável (haverá outras e este post serve para isso, para os comentadores as indicarem). Quanto à recompensa pela antiguidade e fidelização ao clube, sem querer ferir ninguém, é-se sócio do Sporting por sentimento, por gosto, por coração, por amor, por partilha, até por egoísmo em casos extremos de clubismo/clubite, ou seja para dar. No entanto o clube já proporciona algumas vantagens aos seus associados, seja através de protocolos com terceiros, seja na aquisição de bilhetes ou outros. Esta antiguidade e fidelidade ao clube, não havendo qualquer necessidade de ser retribuída, pode no entanto ser recompensada. Há imensas formas de o fazer que ficarão à imaginação de cada um, mas por exemplo que tal sortear uns lugares nas deslocações ao estrangeiro para os associados com mais de "xis" anos de permanência? (às vezes até vai gente que nem do clube é...), reservar um número de bilhetes nos jogos internos exclusivamente para esses associados, com desconto até, criar uma tabela de preços de bilhete de época que premeie a antiguidade... O que quiserem e seja exequível.

Em resumo, o tema é polémico, mas se nos afirmamos como um clube democrático, que tal passar da palavra ao acto e instaurar um verdadeiro regime democrático no clube? 

Termino com o exemplo da aberração do último acto eleitoral: João Benedito teve maior número de eleitores. Frederico Varandas teve maior número de votos. Ganhou aquele que teve menos associados com a sua candidatura. É justo, faz sentido? Não me parece...

A voz do leitor

«Varandas (a quem apoiei) acha que nós, Sportinguistas, comemos gelados com a testa? Ele (Varandas) pode ser muito bom como médico, não sei, mas como dirigente de um departamento de futebol não pesca nada do assunto. Tem duas hipóteses para continuar como presidente: livrar-se das anedotas que escolheu, Hugo Viana e Salgado Zenha, e arranjar alguém que realmente entenda do assunto futebol, ou então arrumar a trouxa e voltar a ser o Sr. Doutor.»

 

Vítor Marques, neste meu texto

As minhas memórias - II

Após um jejum de 5 anos, o Sporting C.P. voltaria a conquistar o campeonato na época de 1979/80. Partindo sem qualquer favoritismo, fomos vencendo jogos, até ao jogo do título, no estádio das Antas, a quatro jornadas do fim, com SCP e FCP separados por um ponto. O árbitro foi o "sportinguista" António Garrido, que até então jamais apitara o nosso clube. No início da 2ª parte o SCP adiantou-se no marcador, mas a 11 minutos do fim foi assinalada grande penalidade a favor do FCP. Após falhar à primeira tentativa, o árbitro mandou repetir. António Oliveira voltaria a falhar, mas Romeu na recarga empatou o jogo. Até final do campeonato o SCP manteve a liderança. Na penúltima jornada em Guimarães, um autogolo de Manaca que havia sido jogador do SCP, indignou os dragões que lançaram suspeição. Na sequência de várias polémicas com o SLB, a eterna rivalidade entre leões e águias ficou momentaneamente suspensa. Viram-se algumas bandeiras do SLB nos festejos do campeonato que conquistámos, na semana seguinte houve sportinguistas a festejarem a vitória do SLB na final da taça de Portugal. Era a resposta de parte do país às declarações de Pinto da Costa, então chefe do departamento de futebol, que se preparava para substituir Américo de Sá e José Maria Pedroto, treinador bi-campeão após um longo jejum dos azuis e brancos. 

Então com 14 anos, marquei presença em Alvalade na maior parte dos jogos e claro, não falhei o jogo do título que também consagrou Rui Jordão como melhor artilheiro da prova. 

Estatutos do Sporting: pontos a rever

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Há vários princípios consagrados nos estatutos do Sporting Clube de Portugal que carecem de revisão urgente. Propomo-nos, a partir de amanhã, sugerir aqui algumas normas que deverão ser alteradas para melhor funcionamento do Clube e tendo em vista o reforço da aproximação entre os sócios e esta centenária instituição de utilidade pública que nos serve de senha de identidade e denominador comum.

Numa óptica construtiva, não nos limitaremos a criticar: vamos propor alternativas que, no nosso entender, deverão ficar consagradas em próxima revisão estatutária - a referendar pelos sócios em assembleia geral, como mandam as regras.

Este debate envolve, numa primeira linha, os autores do És a Nossa Fé, mas a ele poderão associar-se também os leitores que assim o entendam - a partir de agora. Em benefício do Sporting, que está acima de qualquer de nós.

A voz do leitor

«Muito se falou na altura e também serviu de narrativa a esta direcção patética que o Nani ia aproveitar uma oportunidade única de carreira para ter um vencimento anual superior que não conseguiria noutro tipo de campeonatos. Pois a MLS acabou de publicar o top 10 dos jogadores mais bem pagos, do qual Nani faz parte com um vencimento anual de 2,3M USD. Até o Battaglia deve estar a ganhar mais e lembrem-se que ainda pagámos comissão para o Nani sair a custo zero.»

 

Dante, neste meu texto

A voz do leitor

«O Sporting Clube de Portugal é a maior potência desportiva portuguesa e uma das maiores a nível mundial, e já conta com 22 campeonatos nacionais de futebol. Mas desde há uns anos nem com Ronaldo, Messi, Neymar, Mbapé, Kroos, Modric e Buffon na nossa equipa seríamos campeões. Esta é a forte convicção que tenho e sei que é partilhada por milhares de sportinguistas. Mas isso não nos faz esmorecer ou desistir. A mim, pelo contrário, dá-me mais força para lutar para que o nosso Sporting volte a ganhar o campeonato, de forma limpa e transparente. Parece utopia...»

 

JMA, neste meu texto

Divagações em tempo de quarentena (2)

Se há tema consensual no que respeita ao futebol do Sporting é a necessidade da aposta na formação. O problema é que pouca gente está preparada para aguentar essa aposta, e aos primeiros falhanços de um ou outro não existem contemplações. Exemplos há mais que muitos, o último dos quais o nosso Max, Luís Maximiano, que tem tudo para ser o sucessor de Rui Patrício mas... muito tem de jogar para isso. Muitas épocas, mais precisamente.

De qualquer modo, a aposta na formação é essencial para equilibrar financeiramente o clube sem perda de capacidade competitiva, eliminando o recurso a contratações caras que pouco ou nada acrescentam, e garantindo o encaixe máximo aquando das vendas.

Sendo assim, lançava aqui o desafio de comporem a vossa melhor equipa de sub23, do Sporting, mais precisamente com jogadores de 17 a 22 anos, podendo incluir jogadores do plantel A, emprestados, dos sub-23 ou das camadas jovens.

Para complicar mais a escolha, o onze deve ser escolhido de acordo com o modelo táctico de Rúben Amorim, o 3-4-3.

Avanço a minha escolha,

Luís Maximiano (21); João Silva (21), Eduardo Quaresma (18) e Gonçalo Inácio (18); Rafael Camacho(18), Idrissa Doumbia(21), Matheus Nunes(21) e Nuno Mendes(17); Gonzalo Plata (19), Pedro Mendes (20) e Jovane Cabral (21)

Fico a aguardar as vossas melhores equipas bem como os comentários sobre as escolhas. 

SL

As minhas memórias

Comecei a ver futebol pela mão do meu pai, na época 1973/74. Não tenho a certeza qual o primeiro jogo a que assisti, mas o Sporting-Benfica disputado em Alvalade, em Março de 1974, foi seguramente o meu primeiro derby. Indiferente à situação política que o país vivia, saí triste do estádio no final do jogo e tive de aturar alguns colegas da escola primária no dia seguinte. Isso sim, marcou-me e não mais deixei de sorrir quando as águias sofrem uma derrota. 

Lembro-me perfeitamente de ter visto o Sporting C.P. golear o S.C. Olhanense por 5-0 na penúltima jornada, que terminou com invasão pacífica de campo, cheirava a título, que seria alcançado na semana seguinte no Barreiro. Algumas breves considerações que vale a pena reflectirem, o empate teria bastado a ambos, ao Sporting para ser campeão, ao Barreirense para permanecer na 1.ª divisão. Num jogo condicionado pela lotação ter sido largamente ultrapassada, como comprovam as imagens, vencemos 0-3 no campo adversário. Os jogadores disputaram os lances junto ao público, sem que se tenham registado agressões. Talvez porque em 1974 ainda não tinham surgido os ultra-imbecis e piro-javardos nos estádios de futebol. Era permitido que pessoas simples, como o meu pai, levassem um miúdo de 8 anos pela mão sem correrem qualquer risco. 

Para terminar a época em beleza, disputámos no Jamor a final da taça diante do arqui-rival. Fiquei triste porque não me levaram ao Estádio Nacional, acabei assistindo ao jogo na casa dos meus tios benfiquistas. Não tinham sido os culpados do gozo que sofri na escola alguns meses antes, mas festejei ali mesmo. Mais tarde, à medida que fui crescendo, percebi que a rivalidade é uma never ending story. Mas 1973/74 foi a minha primeira época de fervor sportinguista. 

Criminosos

O coronavírus afecta já 200 países e territórios em todo o mundo. Não há praticamente uma parcela do planeta imune ao Covid-19.

A pandemia causa 2.700 mortes por dia nos cinco continentes - vitimando uma pessoa de dois em dois minutos. A cada dois segundos, regista-se um novo caso de infecção.

Apesar disto, três países persistem em manter os respectivos campeonatos de futebol: Bielorrússia, Burundi e Nicarágua. Um procedimento criminoso, que devia encher de vergonha os dirigentes máximos destes países - respectivamente Aleksandr Lukashenko, Pierre Nkurunziza e Daniel Ortega.

Nenhum deles recomendável em matéria de respeito pelos direitos humanos. Não há coincidências.

A voz do leitor

«Embora possa chocar muita gente, não tenho dúvidas de que Gelson Dala traz mais ao Sporting que Vietto. Mais golos, maior dinamismo, maior polivalência e uma muito maior margem de progressão. Não há nenhum jogador a actuar em Portugal com tanto potencial para marcar a diferença no Sporting quanto Gelson Dala.»

 

JG, neste meu texto

Ver em tempo de isolamento, 2

Today-on-Netflix-gets-Ultras-the-film-about-the-fa

Voltando a dar ares de Geraldes, sugiro mais uma malha futebolística da Netflix. Ultras, mostra a vida de uma claque (fictícia) do Nápoles. De Sandro “Moicano”, líder da velha guarda até Ângelo, um dos mais jovens, passando por aqueles que querem roubar a liderança. Um retrato cru de uma cidade pobre, onde o futebol garante sentimento de pertença e propósito.

Leituras

«[Dimitri Dmitrievich Chostakovich] gostou sempre de futebol a vida inteira. Sempre sonhara compor um hino para o jogo. Era árbitro qualificado. Tinha um caderno especial onde apontava os resultados da época. Nos dias de juventude apoiara o Dínamo e uma vez voou milhares de quilómetros até Tbilissi, para assistir a um jogo. Essa era a questão: tínhamos de lá estar quando acontecia, no meio a multidão, no meio de todas as pessoas em delírio e a gritar. Hoje em dia as pessoas viam o futebol na televisão. Para ele, era como beber água mineral em vez de vodka Stolichnaya, de qualidade extra para exportação.

O futebol era puro, por isso é que sempre lhe agradara. Um mundo construído de esforço honesto e momentos de beleza, com as questões do certo e do errado resolvidas num instante pelo apitar de um árbitro. Sempre o achara muito distante do Poder e da ideologia da linguagem vácua e do saque da alma humana. Mas – gradualmente, ano após ano – foi vendo que era só a sua fantasia, a sua idealização sentimental do jogo. O Poder servia-se do futebol, tal como se servia de tudo o resto. Logo: se a sociedade soviética era a melhor e a mais avançada da História do mundo, então esperava que o futebol soviético o refletisse. E, se não podia ser sempre o melhor de todos, então devia ao menos ser se melhor do que o futebol dessas nações que tinham desprezivelmente abandonado a verdadeira via do marxismo-leninismo.

Lembrava-se das Olimpiadas de 1952 em Helsínquia, quando a URSS defrontara a Jugoslávia de Tito, o brutamontes revisionista da Gestapo. Para surpresa e consternação geral, os jugoslavos ganharam por 3-1. Todos esperavam que ficasse abatido com o resultado, que ouviu na rádio em Komarova, logo pela manhã. Em vez disso, correra até à datcha de Glikman e juntos despacharam uma garrafa de brandy fine champagne.

Mas havia mais a dizer sobre o jogo, além do resultado; ele encerrava um exemplo da imundice que invadia tudo, sob a tirania. Bashashkin e Bobrov: ambos com menos de trinta anos, ambos bastiões da equipa. Anatoli Bashashkin, capitão e médio; Vsevolod Bobrov, garboso marcador e cinco golos nos três primeiros três desafios da equipa. Na derrota frente à Jugoslávia, um dos golos do opositor resultara de um erro crasso de Bashashkin – era verdade. E Bobrov gritara-lhe, no campo mais tarde: “Pau-mandado de Tito!”

Todos tinham aplaudido o comentário, que poderia ser brutalmente divertido, não fosse Bobrov o melhor amigo de Vassili, o filho de Estaline. O pau-mandado de Tito contra Bobrov, o grande patriota. A farsa enojara-o. O decente Bashashkin foi demitido de capitão, enquanto Bobrov acabou por se tornar um herói nacional do desporto.»

 

BARNES, Julian - O ruído do tempo. 1.ª ed. Lisboa : Quetzal, 2016. p. 171-172

Tempos de incerteza

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A recente entrevista de Francisco Salgado Zenha a um diário desportivo deixou-me, enquanto leitor, uma sensação de fim de ciclo. Pela quantidade de vezes que este dirigente do clube e da SAD alude à complexa gestão do futebol leonino - agravada no cenário de emergência sanitária que leva hoje cerca de um quinto da população mundial a viver em isolamento forçado, imposto pelo combate à pandemia.

Neste contexto, qualquer gestor responsável tem o estrito dever de baixar expectativas. Nada mais razoável, portanto, do que haver palavras de prudência no actual momento, cheio de incógnitas quanto ao futuro das agremiações desportivas, confrontadas com situações impensáveis há escassas semanas. O anúncio de um lay-off por parte da administração do Barcelona que poderá conduzir à decapitação do milionário plantel catalão é talvez o exemplo mais evidente de que as coisas mudaram no futebol. Como na sociedade em geral.

Mas nas declarações do n.º 2 do Sporting - e principal responsável pela área financeira - não vejo apenas cautela e prudência. Julgo detectar nelas algum desânimo - o que, associado ao anúncio da saída de Miguel Cal do Conselho de Administração da SAD e à presente impossibilidade física de Frederico Varandas assegurar a gestão corrente dos assuntos leoninos, prenuncia mudanças mais vastas. 

 

Vou destacar os trechos que me pareceram mais significativos da entrevista, que preencheu quatro páginas da edição de 23 de Março do Record:

  • «Não restem dúvidas: vão ser tempos difíceis para o futebol.»
  • «Se esta situação se estender pela próxima época, ninguém faz ideia das consequências. Serão seguramente dramáticas.»
  • «Em termos de geração de receitas, é quase impossível fazer mais, porque está tudo parado.»
  • «Temos feito um esforço e estamos mais preparados, mas vai ser muito difícil.»
  • «Temos muita dificuldade para fazer previsões sobre esses projectos [de reestruturação financeira]. Não sabemos como o mercado vai reagir depois desta crise, quanto tempo, sequer, vai durar esta crise, que impactos vai ter.»
  • «Há muitos dossiês que estão completamente parados.»
  • «Estas decisões, por vezes, não são fáceis [aludindo à recente contratação do técnico leonino, Rúben Amorim].»
  • «Tenho muitas dúvidas de que sairemos desta situação com igual ou maior capacidade do que tínhamos antes.»
  • «Vai continuar a haver Brunos Fernandes todos os anos? Não, isso é mais diícil. Infelizmente, é muito difícil que aconteça.»
  • «Vai ser uma janela de mercado [no Verão] muito difícil, devido à conjuntura em que estamos.»
  • «Confesso que não estou a pensar para além deste mandato. Se terminar o mandato e não ficar aqui, quem vier a seguir terá a responsabilidade de terminar aquilo que foi o princípio e o meio do processo de reestruturação e reorganização financeira do Sporting.»

 

São exemplos suficientes e esclarecedores para se perceber o que senti ao ler esta entrevista, que tem «difícil» como palavra-chave - até no título escolhido pelo jornalista João Lopes, que conduziu a conversa. Soaram-me a palavras de balanço e pré-despedida, tanto mais que o vice-presidente leonino assegura não pensar em prolongar o vínculo ao clube (e à SAD) para além do período previsto no mandato em curso.

O adjectivo "difícil" parece, aliás, cruzar-se com frequência no percurso de Zenha enquanto dirigente leonino. Noutra entrevista ao Record, publicada a 30 de Setembro de 2019, já tinha usado este vocábulo para encimar outro título: «Se a cada bola na barra se coloca tudo em causa, assim será difícil.» 

 

Articulou-se com Varandas e Cal no agendamento da mais recente entrevista? Não creio. Caso contrário, faria pouco ou nenhum sentido vê-la publicada na mesma semana em que um deles inicia uma nova "comissão de serviço" como médico do Exército e o outro anuncia a renúncia ao cargo de administrador da SAD - aliás não formalizada em qualquer comunicado interno até à data, mas apenas impressa em notícias de jornais.

São, pois, circunstâncias do acaso. Nestes tempos de incerteza à escala global, em que se torna inútil encontrar causas racionais para o que nos sucede, andamos assim. À mercê do imprevisto.

A voz do leitor

«Varandas não é um herói nem um vilão, mas foi montado um circo mediático para promover a sua imagem no meio de uma crise (vamos partir do princípio que foi um mero acaso) a que os anti-Varandas responderam de forma completamente idiota. Talvez Varandas tenha feito tudo da forma mais correcta possível, mas tal como em outras ocasiões, até quando faz algo positivo, fica sempre a ideia de que algo foi mal feito.»

 

Fernandes, neste meu postal

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