Como vários de nós, exprimi aqui críticas a Marcel Keizer, que tomou conta da equipa profissional do Sporting quando seguíamos a dois pontos do Benfica no campeonato nacional após termos ido empatar à Luz sob o comando de José Peseiro. Não sendo adepto das chamadas "chicotadas psicológicas", pareceu-me mal que Frederico Varandas tivesse despachado Peseiro a 31 de Outubro - sobretudo no contexto em que ocorreu, após uma derrota para a Taça da Liga em que o técnico apostara deliberadamente num onze de segundas linhas e vira esvoaçar dezenas de lenços brancos nas bancadas.
Depois, naquela semana negra do início de Fevereiro, fiquei francamente decepcionado com o holandês ao perdermos duas vezes com o Benfica em dois jogos consecutivos - primeiro 2-4 em casa, para o campeonato, depois 1-2 na Luz, na primeira mão da meia-final da Taça.
Virou-se a página. Em tempo de balanços, neste defeso, é o momento de dar os parabéns formais ao sucessor de Peseiro - e, cumulativamente, ao presidente que o contratou. Em seis meses, com ele ao leme da nossa equipa principal de futebol, o Sporting venceu dois dos três troféus em competição - a Taça de Portugal (que não vencíamos desde 2015) e a Taça da Liga. Graças a ele também, qualificámo-nos para a Supertaça, pela primeira vez em quatro anos.
Nesses seis meses, portanto, Varandas conseguiu tantos títulos em provas de continuidade no futebol português como Bruno de Carvalho em mais de cinco anos como presidente. E Keizer superou o milionário antecessor: nas três épocas em que prestou serviço em Alvalade, Jorge Jesus apenas foi capaz de conseguir uma Taça da Liga - batendo o V. Setúbal, numa final sem vitória em campo, só conseguida na marcação de penáltis.
Keizer está longe de ser um prodígio na comunicação. Mas não foi para isso que Varandas o contratou. A verdade é que o holandês, num momento difícil da vida do Sporting, soube granjear o respeito dos jogadores e dos adeptos. Deve ser felicitado também por isso.
ADENDA: O Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol. Manda o mais elementar desportivismo que saibamos dar os parabéns ao clube vencedor. Como sempre fiz aqui.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre ANDRÉ PINTO:
- Edmundo Gonçalves: «Um tropeção de André Pinto permitiu que um ucraniano surpreendido marcasse um golo que teve o condão de trazer dois autocarros para dentro de campo, que estacionaram frente à baliza dos da casa e de adormecer os nossos» (5 de Outubro)
- Pedro Azevedo: «André Pinto, que até está rodado e habitualmente é pendular, teve um jogo para esquecer.» (1 de Novembro)
- Eu: «Uma das melhores exibições de sempre do central ex-Braga vestido de verde e branco. Na primeira parte, vulgarizou e neutralizou Marega, sem nunca se atemorizar perante o avançado portista. O azar bateu-lhe à porta logo a abrir o segundo tempo, precisamente num choque com Marega: fracturou o nariz e ainda quis jogar em esforço, mas saiu aos 53'.» (27 de Janeiro)
- Leonardo Ralha: «Entrou em campo com uma máscara a proteger-lhe o nariz, após ter feito uma cirurgia na sequência daquele banho de sangue que valeu a Taça da Liga ao Sporting. E é bem possível que a dita máscara lhe tenha prejudicado a percepção do tempo e do espaço, tendo em conta a forma como deixou Seferovic e Ruben Dias cabecearem para golo – sem falar na incapacidade de cortar a bola rasteira que isolou João Félix.» (3 de Fevereiro)
- Francisco Chaveiro Reis: «Eu preferia aumentar Montero e não pagar sequer um ordenado mínimo a Gaspar, Pinto ou Petrovic.» (15 de Fevereiro)
- José Navarro de Andrade: «Bruno Gaspar, Borja e André Pinto (este depois da atitude miserável no jogo contra o benfas): a porta da rua é serventia da casa - são maus demais.» (28 de Maio)
- Luís Lisboa: «Temos um conjunto de jogadores sem as condições necessárias para este novo desafio, que fracassaram ou que não conseguem manter o rendimento de outrora, pela idade, lesões ou outra coisa qualquer, e aqui temos claramente Salin, Bruno Gaspar, André Pinto, Petrovic e Jefferson.» (28 de Maio)
Chegava ao fim, na prática, a era Bruno de Carvalho. Facto simbolizado na saída do treinador sérvio Sinisa Mihajlovic, recém-contratado pelo presidente destituído após as recusas dos técnicos Sá Pinto, Scolari, Mano Menezes, Paulo Sousa e Miguel Cardoso.
Era uma decisão da nova SAD leonina, liderada por Sousa Cintra, e noticiada a 27 de Junho de 2018.
«Há 30 anos Sousa Cintra ascendeu a presidente do Sporting, assim se concluindo a difícil transição após a partida de João Rocha, um grande presidente, porventura o maior que o clube teve. Tal como Rocha, Cintra é um self made man, coisa que ofende alguns que julgam que um "senhor" é o que lhes lembra o que leram (quando liam) nos livros da Condessa de Ségur, e que se pelam por brasões e consoantes excêntricas nos nomes (se forem consoantes duplas então é-lhes orgástico)», lembrou aqui o JPT.
Pela minha parte, e a propósito da extemporânea vinda do sérvio, declarei aqui o que pensava dessa derradeira decisão de Bruno de Carvalho:
«Não aprendeu nada com a fracassada contratação de Jorge Jesus. E Jesus, ao menos, tinha três campeonatos no currículo quando chegou a Alvalade. Ao contrário de Mihajlovic, que aos 49 anos nunca conseguiu melhor do que um sétimo lugar. Nada inspirador, como carta de recomendação.»
Enquanto o Duarte Fonseca aproveitava para apontar quem seria o seu escolhido como treinador: José Couceiro.
Falava-se em Augusto Inácio, o que não viria a confirmar-se.
No mesmo dia, o presidente da Comissão de Gestão do Sporting, Artur Torres Pereira, declarava em entrevista que a SAD leonina estava em falência técnica.
A propósito, o Ricardo Roque lançava aqui esta advertência:
«Depois da tempestade mediática que se abateu sobre o Sporting, só faltava que a Comissão de Gestão substituísse o frenesim de Bruno de Carvalho pelos soundbites de Torres Pereira. Entrevistas, declarações sobre o estado do clube ou da SAD são extemporâneas. E espírito subliminar de vingança, nem enquanto desejo deve existir. Avancem para a auditoria forense e tomem as decisões mais prementes. E apoiem o clube nas modalidades em que ainda está a competir. E combatam as escandaleiras, como a da arbitragem do último jogo de futsal. Aí sim, denunciar publicamente.»
«Ao segundo dia já tivemos o presidente dessa comissão a dar entrevistas e a dizer um chorrilho de disparates... o que, sinceramente, não augura nada de bom.»
Nesse mesmo dia, o presidente da Assembleia Geral do Sporting, Jaime Soares, desconvocava a reunião magna que serviria para aprovação do orçamento e plano de actividades do clube, entendendo que essa decisão deveria ser tomada apenas pelo elenco directivo que resultasse das eleições de 8 de Setembro.
«Alguém no seu perfeito juízo pode considerar que, neste curto espaço de tempo, seria possível apresentar um orçamento credível, com previsão de receitas e despesas, acompanhado do plano de actividades, sem esquecer que é necessário um parecer da Comissão Fiscalizadora que substitui interinamente o Conselho Fiscal?»
«Acabou-se o tempo das bravatas, de troca de galhardetes verbais, de ofensas. É tempo de paz, de serenidade, de tocar a reunir, de remarmos todos ao mesmo tempo. De enfunar as velas desta nau tão perdida e achar um rumo. Gostássemos ou não de BdC, gostemos ou não desta Comissão, o certo é que agora há uma equipa para gerir os destinos do Clube até Setembro. E que tem que ter o nosso apoio.»
«Bruma é bastante bom jogador. Não me chatearia nada vê-lo de volta ao Sporting. Teria sido uma tremenda contratação e um sério reforço do FCP. Ainda bem que escolheu o PSV. Bom para os clubes e jogadores do nosso campeonato, que não terão de se defender de Bruma e um espelho da dimensão do nosso mercado e de como está a relação de forças no nosso campeonato.»
Medita o goleiro-engenheiro na geometria de gestos mais econômicos Traves são planetas grávidos de gols, vicejados de noite O gol é o melhor psicanalista do atacante O gol redime “tudo”, é a meta representação ideal para toda cirurgia do jogo; para o verão forçado de um gol Antes de qualquer tempo inaugural, pairam os goleiros com suas aparências desoladas a beijar solitariamente suas traves Goleiro mãe do galináceo, guardião do marco zero O mistério dos goleiros: eles também não aprenderam a voar»
Augusto Guimaraens Cavalcanti (poema referido,retirado daqui)
Bruma deu nega ao FC Porto, preferindo jogar no PSV, contrariando aqueles que nos últimos dias já o consideravam como reforço seguro no estádio do Dragão.
Confesso que a notícia me satisfaz: detestaria ver actuar um jogador que sempre apreciei, formado na Academia de Alcochete, com a camisola de um clube rival do Sporting.
Irá realizar-se dia 29 de Junho pelas 14h30 a Assembleia-Geral Comum Ordinária do Sporting Clube de Portugal, no Pavilhão João Rocha, estando convocados para comparecer todos os sócios do Sporting Clube de Portugal que sejam maiores de 18 anos e tenha paga a quota de Maio 2019.
O ponto único será a apreciação e votação do orçamento dos rendimentos, gastos e investimentos do Sporting Clube de Portugal para o período 01 de Julho de 2019 a 30 de Junho de 2020.
Alheados como sempre da realidade, confundindo clube com SAD e vice-versa, alguns patetas aziados da seita letal do costume, andam pelas redes sociais procurando mobilizar os críticos ou descontentes com a actual direcção, no sentido de chumbar o orçamento do clube para o próximo ano. Nem se dão conta que estão uma vez mais a expor-se ao ridículo, porque:
1 – A aprovação ou rejeição da proposta produz zero efeito na actividade da Sporting SAD.
2 – Questões como contratações, venda de jogadores, patrocínios ou venda de gamebox não entram nestas contas.
3 – Uma eventual não aprovação do orçamento do clube, impede que o Conselho Directivo possa aumentar os gastos face ao exercício anterior, mas pode sempre diminuir, se assim o entender.
4 – O orçamento não prevê uma verba específica por modalidade, pelo que a não aprovação permite apostar no basquetebol, não pode é ser ultrapassado o investimento do ano anterior na sua globalidade, entenda-se, o bolo será o mesmo, a repartição das fatias é que poderá ser diferente.
5 – Uma eventual rejeição do orçamento permitiria a leitura que o descontentamento com o rumo actualmente seguido está a crescer, apenas isso, que há um grupo significativo de sócios que pretende o regresso a um passado recente.
Caberá aos sócios decidirem uma vez mais, se querem seguir a via da arruaça, do fanfarronismo, da má-educação, ou se preferem uma postura diferente, de trabalho, low-profile, apresentando resultados em tempo devido nos locais próprios, em vez de estados de alma nas redes sociais, que mudam ao saber dos ventos dia sim, dia sim. Pela minha parte não tenho dúvidas, enquanto sócio prefiro mil vezes o presente. A seu tempo, no final do mandato dos actuais órgãos sociais, democraticamente avaliarei se apoiarei uma eventual continuidade, ou preferirei mudar de rumo, escolhendo entre as alternativas que se vierem a apresentar. Mas voltar a viver um pesadelo como o que atravessámos durante o primeiro semestre de 2018 é que não, espero que jamais se repita tal cenário infame no nosso Sporting Clube de Portugal.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre MATHIEU:
- Leonardo Ralha: «Não só levou a equipa para a frente nos períodos de maior desorientação da primeira parte como consumou a reviravolta no resultado com um golo de livre directo que o ex-colega de equipa Lionel Messi decerto aplaudiria.» (17 de Dezembro)
- Edmundo Gonçalves: «Fez levantar o estádio, com um golo daqueles... de fazer levantar o estádio!» (17 de Dezembro)
- Eu: «O melhor em campo, com um desempenho impecável. Neutralizou Marega e Soares, ganhou todos lances aéreos, fez vários cortes providenciais e ainda foi o mais lúcido no início da construção ofensiva do Sporting. Um elemento indispensável no onze leonino.» (12 de Janeiro)
- Luís Lisboa: «Este plantel são seis magníficos (Mathieu, Coates, Acuña, Nani, Bas Dost e Bruno Fernandes), mais uns entre o bom e o razoável e uns tantos tremendamente insuficientes para as necessidades do Sporting.» (3 de Fevereiro)
- Francisco Vasconcelos: «No centro da defesa, sem Mathieu, temos um problema.» (8 de Março)
- Pedro Azevedo: « O Sporting em época e meia investiu 100 milhões de euros em contratações, das quais só se destacam pelo rendimento desportivo os jogadores Bruno Fernandes, Acuña e Mathieu.» (11 de Março)
Com eleições marcadas para 8 de Setembro e Bruno de Carvalho destituído por vontade da esmagadora maioria dos sócios, começava a esboçar-se nova corrida à presidência do Sporting. Uma corrida em que Frederico Varandas partia com vantagem: era o único proto-candidato já assumido no universo leonino.
O tema foi desenvolvido, em linhas e entrelinhas, aqui no blogue nesse dia 26 de Junho de 2018.
«Não sei se o Frederico Varandas é o melhor candidato e se vai fazer o Sporting campeão. Tem qualidades pessoais e profissionais que admiro, que são do conhecimento público. Terá a sua prova de fogo na campanha quando for sujeito à pressão mediática e às provocações de alguns negacionistas, mas terá que ter as suas ideias bem claras quanto ao futebol, às modalidades, rescisões, empréstimo obrigacionista e capital da SAD.»
«Trazer o preconceito social e estratagemas bolcheviques para a conquista e manutenção do poder foi o mais hediondo crime de Bruno de Carvalho. A liderança que assumir a direcção dos destinos do Sporting tem um trabalho hercúleo pela frente para manter o universo Sporting coeso e a marca atractiva às novas gerações. De todas as classes, culturas e geografias.»
«Quando tudo isto passar, a poeira tiver assentado, seria bom falarmos de alterações estatutárias, para que nunca mais um homem possa concentrar poder suficiente que consiga tomar a instituição por refém. A democracia exige check and balance.»
«Fala-se muito da formação no futebol, mas a mim desagrada-me não ver mais jogadores da formação nas nossas equipas de futsal, andebol, hóquei e voleibol (no voleibol seria difícil, porque só há dois anos retomámos a actividade). Que os Gonçalos Alves e os Ruis Silvas não nos voltem a fugir e que apareçam mais jovens das nossas equipas jovens que sejam referências durante anos.»
Está por horas, parece, a maior venda de um jogador português. Os tão falados 120 milhões que o Atlético Madrid vai depositar para levar João Felix, vão bater, por larga margem, o valor pago pelo Bayern Munique por Renato Sanches. Muitos questionam-se sobre esta venda, e outras anteriores, patrocinadas sempre e em exclusivo por Jorge Mendes, o denominado super agente e os clubes que orbitam à sua volta. Invariavelmente uma venda por estes montantes poderia levar a que se questionassem outras compras, que não estando directamente ligadas, deviam levar alguém a tentar entender o porquê das mesmas serem uma reação à primeira venda.
O negócio de um agente assenta na rotatividade dos jogadores que representa. Porém Jorge Mendes, fruto do seu poderio financeiro e da vontade de investidores mundiais em ter acesso ao apetitoso mercado europeu de venda e compra de jogadores, atingiu um patamar onde aliou, a rotatividade de jogadores com o controlo efectivo sobre a política de compra e venda de jogadores de alguns clubes europeus. Presumo que Jorge Mendes, num determinado momento da sua profícua carreira de agente, percebeu que seria mais rentável ter um conjunto de clubes europeus que pudessem participar na montagem desta nova forma de transacionar passes de jogadores. Desta forma Jorge Mendes poderia assegurar aos clubes interessados o acesso, quase em exclusivo, a um conjunto de jogadores, fossem ou não agenciados por ele. Há, claro, um preço a pagar: os passes dos diversos jogadores foram inflacionados, tanto na compra como na venda, o que permite ao empresário não só um quase monopólio nos maiores negócios entre clubes, como também arrecadar avultadas comissões pelas transacções efectuadas. Negócios são negócios e cada um tenta sempre obter o melhor proveito, neste caso financeiro e desportivo. Mas não deixa de ser curioso que a Uefa acompanhe de certa forma este novo modelo de negócio, incentivando-o até. Desde a época anterior os prémios da liga dos campeões aumentaram de forma substancial. Ao promover este enorme buraco entre os clubes que participm na liga dos campeões e os que são relegados para a liga europa, a Uefa cava um fosso de proporções gigantescas entre clubes. Embora o futebol sejam sempre 11 contra 11 e orçamentos não ganhem por si jogos, torna-se evidente que com este modelo da Uefa vai ser cada vez mais difícil aos clubes que não participem de forma regular na Liga dos Campeões competir com aqueles que o fazem regularmente. A opção imediata consiste em associarem-se a modelos de compra e venda de passes de jogadores como o descrito de Jorge Mendes. Esta divisão que a Uefa fomenta origina que os grandes clubes europeus consolidem ainda mais o seu estatuto e dificulta enormemente que clubes médios possam almejar ser uma presença assídua na maior competição europeia de clubes a nível mundial.
Importa pois saber se o Sporting aceita entrar neste carrocel. A notícia da vinda de um jogador chinês por empréstimo do Wolverhampton para a equipa sub-23 leva-nos a concluir que entrámos. Só assim se explica que este jogador chegue ao nosso clube. Por muito que seja tentador conseguir efectuar vendas de jogadores por valores claramente inflacionados, convém que esta direcção esteja consciente que há sempre o reverso, isto é, seremos sempre obrigados a comprar também jogadores, independentemente da sua valia desportiva, por valores também eles inflacionados. Veja-se aliás o caso do Benfica: ainda não vendeu João Félix, mas já adquiriu o passe de dois desconhecidos por 20 milhões de euros. Jogadores esses que tinham sido vendidos pelo Sporting de Braga por cerca de 26 milhões de euros, num negócio que apenas se justifica, não pelo valor desportivo dos jogadores, mas sim como consequência de outros negócios. Certeza só há uma: quem ganha sempre é Jorge Mendes.
É este modelo de gestão desportiva e financeira que queremos para o Sporting?
Aumentou o número de programas televisivos e espaço horário ocupado, em particular os que especulam sobre transferências do futebol, alimentando diariamente os mais diversos rumores sobre movimentações de mercado. Novelas existem para todos os gostos e cores, o objectivo salta à vista, cativar audiência nos adeptos dos três clubes que apaixonam maior número de adeptos. Diariamente, ao final da tarde e à noite, somos brindados com a opinião especializada de jornalistas ou comentadores supostamente bem informados, que umas vezes falham, outras acertam, porque ávidos de apresentar destaques, ficam eles próprios à mercê de rumores plantados por empresários ou palavras mal interpretadas de jogadores nas redes sociais, que por vezes não querem dizer nada, mas que são escalpelizadas ao ínfimo detalhe, ao ponto de muitos lerem o que não foi escrito. Isto nada tem de novo, nos anos 80 à segunda-feira comprava a Bola que apresentava as transferências iminentes, que eram depois desmentidas no Record à terça-feira para apresentar as suas, na quarta-feira lá estava a Gazeta dos Desportos a dizer que afinal já não vinha o X e Y, mas sim o W e Z. A diferença é que os jornais estão moribundos e tudo isto agora passa-se na TV.
Uma das principais novelas do Verão, no que ao Sporting diz respeito, é a possível saída de Bruno Fernandes. Sousa Cintra, que calado era um poeta, mas acenar-lhe com uma máquina fotográfica e colocar-lhe um microfone à frente, equivale a descer a serra num carro sem travões, confirmou que existe a cláusula de 5 milhões, caso o Sporting rejeite alguma oferta superior a 35 milhões. Ao contrário do que afirmam, o Sporting não está refém de coisa alguma, porque seria impensável manter Bruno Fernandes, de longe o nosso melhor jogador, nas condições da época passada, quando não era, longe disso, sequer um dos 3 jogadores mais bem pagos do plantel. Das duas uma, ou Bruno sai, ou fica. Se sai, apenas devem ser equacionadas verbas a rondar no mínimo os 80 milhões de Euros. Se fica, há que avançar para a renovação do contrato, onde existirá seguramente um prémio de assinatura, melhoria de condições salariais tornando o capitão no jogador mais bem pago do plantel, seria incompreensível que assim não fosse e naturalmente a cláusula de rescisão teria que subir para 150 milhões de Euros.
Diariamente, de forma cínica os comentadores vão fabricando uma cartilha segundo a qual, ninguém paga o que estamos a pedir pelo nosso capitão, é incompreensível, mas o mercado é assim, o agente do atleta não é Jorge Mendes, o Sporting é uma marca de valor inferior aos rivais, mas está pressionado por falta de liquidez, etc. Estão à espera, direi mesmo que muitos ardentemente o desejam, que acabe vendido por 50 milhões ou até menos. Enquanto sportinguista, espero sinceramente que a direcção não faça cedências neste assunto, até aqui nada a apontar ao clube, que tem mantido uma postura low-profile, neste e outros casos, muito menos ao atleta, que até afirmou que existem ainda muito para conquistar. Se Bruno Fernandes permanecer, liderando a nossa equipa em campo, será o melhor reforço que poderíamos conseguir na próxima época e para conseguir liquidez imediata, que o clube bem precisa, existem mais algumas opções no plantel ou activos que pertencem ao clube.
Confiança absoluta em Frederico Varandas pelo que fez até aqui, mas gostaria que alguns atletas vestissem a verde e branca, Mama Baldé por exemplo, apontado como moeda de troca no dossier Rosier, justifica no mínimo fazer a pré-época. É um jogador polivalente, possante, muito útil em qualquer plantel, mesmo que não se perfile como indiscutível titular. Gelson Dala, Ivanildo ou Domingos Duarte serão jogadores a merecer a atenção de Marcel Keizer. Tenho mais dúvidas em Iuri Medeiros e Matheus Pereira, no caso do primeiro porque tem desperdiçado várias oportunidades, no segundo porque a cabeça não acompanha os pés e sendo bom jogador, está longe de merecer o estatuto de vedeta a que aspira. Para o conseguir, terá que ser humilde e trabalhar muito, porque qualidade tem de sobra. Contratar por contratar não faz sentido, acabamos sempre com demasiado entulho que depois temos dificuldade em despachar. O Sporting não precisa revolucionar o plantel, apenas pequenos ajustes para continuar a crescer.
O que escrevemos aqui, durante a temporada, sobre COATES:
- Eu: «Destaco Coates, seguríssimo no comando do bloco defensivo, imperial nos lances aéreos e capaz de travar o ímpeto ofensivo de craques arsenalistas como Welbeck e Aubameyang: voto nele como o melhor Leão em campo.» (8 de Novembro)
- Pedro Azevedo: «Salvaram-nos um intratável Coates e um indomável Acuña, sul-americanos de raça, bem como a deficiente finalização dos londrinos.» (9 de Novembro)
- JPT: «É um Polga, minha tese lacrimejante, ainda que haja (até aqui) quem muito dele goste.» (8 de Janeiro)
- Luís Lisboa: «Este plantel são seis magníficos (Mathieu, Coates, Acuña, Nani, Bas Dost e Bruno Fernandes), mais uns entre o bom e o razoável e uns tantos tremendamente insuficientes para as necessidades do Sporting.» (3 de Fevereiro)
- Edmundo Gonçalves: «Infelizmente tem andado muito mal acompanhado.» (7 de Fevereiro)
- Leonardo Ralha: «Aquela jogada individual aos 58 minutos, em que avança no seu estilo determinado-desengonçado, enfrenta quatro adversários e faz um cruzamento-remate que provocou calafrios ao guarda-redes do Villarreal, merecia por si só uma estátua equestre à entrada do estádio.» (15 de Fevereiro)
Rescaldo da histórica assembleia geral que destituiu pela primeira vez um presidente do Sporting em 112 anos de história do nosso clube.
Os apaniguados de Bruno de Carvalho mostravam-se inconformados com o categórico resultado: mais de 71% dos sócios votaram pelo afastamento do presidente, tendo o "sim" à destituição vencido em todas as mesas de voto.
Entre esses apaniguados, não faltava quem prognosticasse que este resultado determinava "o fim do Sporting" e anunciasse o fim da sua ligação ao clube.
Comentei o tema num texto intitulado «Cheira-me a churrasquinho». Desta forma: «Será dos cartões de sócio e das gamebox que estão a arder desde o início desta tarde, por iniciativa de alguns que costumavam cantar "o mundo sabe que / pelo teu amor eu sou doente"?»
Isto a 25 de Junho de 2018. Precisamente o dia em que Bruno de Carvalho deixou oficialmente de presidir à SAD leonina.
Mas nada disto ocorreu sem um último - e patético - episódio. De manhã, ao pretender entrar na sede da SAD, Sousa Cintra - que já presidira aos destinos do Sporting entre 1989 e 1995 - foi barrado pelos elementos da segurança do edifício, cumprindo ordens de Bruno de Carvalho, que no Facebook apelidara Cintra de «homem do tremoço» e «um dos abutres arrogantes». Contribuindo assim o presidente cessante para dar mais uma triste imagem do Sporting ao conjunto da opinião pública portuguesa.
E parecendo já esquecido destas lamentáveis palavras que escrevera no Facebook 24 horas antes, autodemitindo-se não apenas de sócio mas também de adepto:
«O disparar contra tudo e contra todos (para mim, o ponto mais baixo, até ao momento, foi quando decidiu criticar a ex-mulher na entrevista ao Expresso), o dizer hoje uma coisa e horas depois o seu contrário, a absoluta falta de noção de planos (i.e. considerar a sua destituição um ataque terrorista como o de Alcochete!), enfim, um rol de palavras e actos cada vez mais a bater no fundo.»
«Acredito que é um pouco indiferente que Bruno de Carvalho seja expulso ou que ainda consiga candidatar-se depois do que disse e do que fez ao clube (apesar de achar que isso será inaudito, dado que violou os estatutos abundantemente). Só nos ia poupar a todos este triste espectáculo.»
«Não creio que remexendo permanentemente na imundície apareça ouro algum. Por isso, meus caros, sobre o presidente-demitido vou procurar, doravante, não tecer nenhuma palavra, nem tão pouco sobre a sua constante e recente "diarreia verbal" de argumentos insultuosos que os medíocres benfiquistas usam, pois sobre essa, no sábado, os sócios "puxaram o autoclismo"!»
«O que se começa hoje a poupar com o ordenado de Bruno de Carvalho, o cartão de crédito, o carro e sei lá que mais, e dado que os novos membros da administração exercerão pro bono, pode ser para as modalidades (tão ao gosto dos brunados e brunetes).»
O Pedro Bello Moraes resumiu tudo numa frase curta mas expressiva: «Bruno de Carvalho já era.»
«O Geraldes é um jogador especial e já o demonstrou, tanto no Moreirense como no Rio Ave. Devia ficar, especialmente se o Bruno sair. O M. Balde tem lugar de caras, pelo menos no plantel, pode jogar em várias posições com bom rendimento. O Max, se ficar, é um guarda-redes já com grande maturidade para a sua idade. O Gelson Dala é jogador de clube grande, deve ter o direito de mostrar o que sabe.»