Porque fica ao pé do sítio onde trabalho, fui ontem almoçar à Tasquinha do Lagarto, em Campolide, instituição gastronómica sportinguista. Não sou nenhum José Quitério, mas diria que o repasto foi excelso e o preço muitíssimo em conta, e digo isto sem qualquer enviesamento clubístico. Numa mesa ao pé, sentou-se o Paulo Andrade e, como brinde, veio também o Paulinho, que, fiquei depois a saber, fazia anos.
Ao ler as notícias que dão conta da péssima forma de Ewerton, as declarações de Marco Silva que dizem que o jogador brasileiro está "no nível zero" e, mais recentemente, o alegado interesse no defesa central Bruno Uvini, pergunto-me que estranha abordagem do mercado de Inverno é aquela que vem sendo feita pelo Sporting, em que se compram jogadores (Shikabala, agora Ewerton) que qualquer boa gestão desaconselharia.
Como no célebre filme "Filadélfia", alguém consegue explicar-me, como se eu tivesse 5 anos, como é que para a fase mais importante da época o clube vai contratar jogadores que vêm para fazer uma espécie de "pré-época", em vez de estarem prontos para entrar em campo?
Por muito que me digam que o investimento financeiro nesses jogadores apenas se reconduz aos salários, não deixa de ser dinheiro que é mal gasto e que poderia ser melhor aplicado (por exemplo, no scouting).
Volta e meia aparecem por cá leitores de outros clubes lançando insinuações sobre a alegada falta de "cultura de exigência" do Sporting.
Estão profundamente equivocados.
A melhor prova de que temos cultura de exigência é que esta época não perdemos nenhum jogo com os outros clubes considerados grandes. Vencemos o SLB na final da Taça de Honra e impusemos um empate na Luz. Empatámos com o FCP em Alvalade e fomos vencer ao Dragão, eliminando os portistas da Taça de Portugal.
Sermos o clube com menos derrotas no campeonato à 18ª jornada decorre da nossa cultura de exigência: só em 1994/95, quando à 19ª jornada não tínhamos nenhuma derrota, fizemos melhor. Isto é cultura de exigência. Que está bem viva no Sporting. E recomenda-se.
Já aqui escrevi e repito: a Taça Lucílio Baptista não deve servir para mais nada, na perspectiva do Sporting, senão para observar, rodar e valorizar jogadores. E é isso que tem sido feito com sucesso nesta temporada. As promoções de Tobias Figueiredo, Tanaka e Ryan Gauld à equipa principal decorrem desta oportunidade, que merece ser realçada.
Tudo o resto é secundário atendendo à notória falta de prestígio de um troféu totalmente descredibilizado por arbitragens manifestamente incompetentes. O divórcio do público, que recusa comparecer nos estádios, confirma que esta prova só tem condições de subsistir se for alvo de profundas modificações.
Até lá, vamos fazendo observações.
E o que observei ontem, em Alvalade, frente ao Vitória de Setúbal?
Gostei a espaços de Wallyson, André Martins, Ricardo Esgaio, André Geraldes, Daniel Podence.
Gostei do regresso de Diego Rubio, outra opção para o nosso ataque.
Gostei que Gelson Martins tivesse nova oportunidade, sem dúvida merecida.
Em suma: bons desempenhos individuais, mas falta de coordenação de movimentos - algo natural atendendo ao facto de se tratar de uma equipa improvisada, sem rotinas competitivas. Mas também falta de capacidade física de alguns jogadores que estoiram ao fim de 45 minutos. E uma manifesta incapacidade de "resolver" o jogo com poucos passes. Nota-se a obsessão de transportar a bola em vez de a fazer rolar. Há sempre a necessidade de adornar o lance com duas ou três fintas perfeitamente escusadas que roubam energia e discernimento para a concentração naquilo que mais interessa: o remate com sucesso.
Ontem contabilizei seis oportunidades de golo não concretizadas:
16': Disparo bem direccionado de Miguel Lopes que o guarda-redes Lukas Raeder defendeu com dificuldade;
18': Grande remate de Tanaka, sem preparação, após centro de Esgaio para outra defesa aparatosa do guardião sadino;
19': Cabeceamento muito perigoso de Sarr após canto muito bem marcado por André Martins num período de sufoco para os setubalenses: outra grande defesa de Lukas;
34': Na marcação de um livre directo, André Martins envia a bola à barra;
50': Boa jogada individual de Esgaio, que remata a rasar o poste;
58': Esgaio novamente: desta vez a bola embate mesmo no poste após passe de André Martins.
Nenhuma equipa pode falhar tantas oportunidades. Este é uma tema que suscita certamente uma séria reflexão por parte da nossa equipa técnica, seja qual for o onze escolhido, seja em que competição for. Há que trabalhar muito nesta área porque quase todos os jogadores têm ainda uma larga margem de progressão.
É para isto, no fundo, que a Taça Lucílio serve. E para pouco mais.
O Record elege William Carvalho e João Mário no melhor onze da 18ª jornada do campeonato. A Bola, por sua vez, inclui Paulo Oliveira e também William na sua equipa da jornada.
Fica à consideração daqueles que, como um disco rachado, continuam a papaguear que William "falha muitos passes". Entre eles, lamentavelmente, o nosso ex-capitão Manuel Fernandes.
Temos hoje mais um ponto do que tínhamos à 18ª jornada da liga 2013/14. Mas a comparação com épocas anteriores, na mesma fase do campeonato, é ainda mais favorável a este Sporting treinado por Marco Silva: em 2011/12 seguíamos na quarta posição, com apenas 32 pontos (menos sete do que os 39 actuais) e nessa época de pesadelo que foi a de 2012/13 (de que alguns parecem sentir uma estranha nostalgia) afundávamo-nos no 10º lugar, com uns humilhantes 19 pontos. Menos 20 do que temos agora.
Contra a Académica, nesta jornada de arranque da segunda volta, fizemos melhor (1-0) do que na primeira volta (1-1), quando Marco Silva ainda estava a construir a equipa de acordo com o seu modelo de jogo. Fica o registo.
A vitória contra a modestíssima Académica foi escassa, apenas por 1-0. Mas valeu-nos 14 pontos, pois acabámos por vencer em vários terrenos.
Em matéria de prognósticos, o nosso colega de blogue Paulo Gorjão foi o grande vencedor desta jornada. Voltando a confirmar que os melhores palpites partem muitas vezes de gente cá da casa.
Ewerton contratado por empréstimo até final da época com opção de compra por verba já definida;
Ricardo Esgaio e Cissé, emprestados à Académica, até final da época;
Os B's:
Iuri Medeiros e Fabrice Fokobo, emprestados ao Arouca;
Filipe Chaby, emprestado ao União da Madeira;
Baldé, emprestado ao B.Castelo Branco;
Enoh, emprestado ao Leixões.
Todos até final da época.
E ainda:
Manafá, cedido a título definitivo ao Beira-Mar, com 50% duma futura venda;
Zihao Yan, rescisão por mútuo acordo.
Diego Rúbio e Zezinho regressam sendo reintegrados nesta equipa.
Que sejam muito felizes, principalmente os que continuam ligados ao Sporting e que cresçam, para regressarem mais jogadores e com mais argumentos para integrarem a equipa principal.
Confundindo talvez desejos com realidade, um vetusto jornal diário imprimiu com grande destaque esta notícia não confirmada. Dois títulos, dois erros garrafais: não só Marco Silva não "deixou" Alvalade como Bruno de Carvalho, naturalmente, não havia tomado decisão alguma nesse sentido.
Há mais de um mês que este mesmo jornal deve um pedido de desculpas aos leitores. Por ter difundido informação especulativa e desmentida pelos factos.
Lima falhou deliberadamente, embora não de forma consciente, a grande penalidade de ontem em Paços de Ferreira. Ele estava convicto, como qualquer de nós, que aquele penálti tinha sido pura invenção do árbitro Bruno Paixão e constituía portanto um atentado à verdade desportiva.
Até um benfiquista ferrenho como Pedro Adão e Silva admite, na sua habitual coluna do Record, hoje publicada: «A propósito da grande penalidade favorável ao Benfica, cabe dizer uma coisa: no futebol de hoje, fazer tiro ao braço dentro da área arrisca tornar-se a mais eficaz das jogadas. Um absurdo, a menos que os árbitros defendam a amputação dos braços dos defensores.»
Ainda bem que o Lima falhou: foi um gesto de inegável desportivismo. Subiu imenso na minha consideração.
«Mais uma cena triste do Jorge Jesus no fim do jogo a culpar o lateral... Quando ganha, ele é o maior estratega à face da terra; quando perde, despeja num jogador qualquer.»
Mesmo quando perde (neste caso por inépcia de Lima, que desperdiçou um penálti inventado pelo árbitro), o Benfica beneficia do colinho dos homens de apito. Foi o que aconteceu ontem, na escandalosa actuação de Bruno "olha quem" Paixão em Paços de Ferreira.
Se o critério Paixão fizesse lei geral no futebol, a partir de agora os jogadores teriam de jogar com mãos amputadas dentro da grande área defensiva. Só assim evitariam que uma bola disparada a um metro de distância lhes fosse bater inesperadamente na mão, como ontem sucedeu ao defesa Ricardo perante um remate de Jonas.
Paixão "viu" nisto um penálti - que embalaria o Benfica para uma vitória tranquila logo aos 18 minutos. Mas já não vislumbrou uma evidente falta de Luisão sobre Cícero, ocorrida na grande área benfiquista cinco minutos antes, nem a claríssima rasteira de Eliseu dentro da grande área encarnada, aos 89 minutos, numa jogada desenrolada escassos metros à sua frente. Nem ele nem o árbitro assistente mais próximo, incapaz de levantar a bandeirola. Foi necessária a intervenção do quarto árbitro, como o Adelino aqui assinalou, para evitar um roubo de catedral ao Paços de Ferreira. Isto quando o treinador Paulo Fonseca já tinha sido expulso devido a protestos algo histriónicos, muito semelhantes aos que Jorge Jesus costuma evidenciar sem qualquer sanção. Depois Paixão ainda concedeu oito minutos de tempo suplementar, algo pouco visto nos estádios portugueses desde os tempos pioneiros do mítico Calabote.
No Tribunal do diário O Jogo de hoje, o senhor Paixão é arrasado pelos especialistas da arbitragem devido ao penálti oferecido ao Benfica.
Escreve Pedro Henriques: «É um lance típico de bola que vai à mão. O remate é feito de muito perto, Ricardo tem o braço ao longo do corpo mas não o movimenta, não tocando por isso de forma deliberada na bola.»
Escreve José Leirós: «Paixão foi peremptório ao marcar penálti erradamente. Além de o cruzamento ter sido feito de muito perto, Ricardo tinha o braço em posição natural e não o movimentou. A bola foi à mão.»
Escreve Jorge Coroado: «A fobia instalada vai obrigar a que os jogadores sejam amputados dos membros superiores. A bola foi rematada de muito perto e com força. O jogador não fez penálti.»
Sobre a grande penalidade favorável ao Paços de Ferreira também se regista unanimidade: foi bem assinalada. Pena o senhor Paixão ter demorado tanto a apitar. Como se não quisesse. Ou não pudesse. Como se estivesse disponível para cometer mais um atentado à verdade desportiva, semelhante a tantos que vamos vendo jornada após jornada no campeonato português.
Como se tivesse um apito em forma de papoila saltitante.