Novo presidente no Sporting. Tudo diferente? Não: lendo os habituais colunistas da imprensa desportiva detectava-se o cepticismo do costume. Mesmo junto daqueles que se assumem como sportinguistas. E não faltou sequer quem comparasse Bruno de Carvalho ao venezuelano Hugo Chávez.
Carlos Barbosa da Cruz era um bom exemplo disso. A 28 de Março de 2013escreveu assim no Record: "Ficou claro que o candidato Bruno de Carvalho foi o catalisador principal dos votos de muitos sócios revoltados, descontentes e mesmo desesperados, por razões óbvias. Essas expectativas são delicadas de gerir, porque a barra fica situada a um nível alto; o eleitorado com esse perfil necessita ser permanentemente alimentado e motivado, a experiência assim o ensina. Daí até ao caudilhismo vai um passo e uma tentação. Hugo Chávez, na Venezuela, assumiu esse estatuto: multiplicou inimigos, conspirações, ódios de estimação, intentonas, tudo enfim para manter mobilizada a revolução bolivariana. À sua morte deixou um país completamente antagonizado, muito longe da reconciliação. Espero que a clarividência prevaleça e o Bruno de Carvalho resista a ser o presidente de uns sportinguistas contra outros, porque, no final, é sempre o clube que fica prejudicado."
No mesmo jornal, Luís Pedro Sousa deixava este aviso: "O estado de graça não durará sempre. Os sócios que o elegeram querem começar a sentir com o passar do tempo que os problemas financeiros estão a ser resolvidos, tal como o próprio Bruno de Carvalho prometera."
Cá no blogue, também não faltavam palavras a recomendar ponderação. Outras expressavam desejos. Outras ainda faziam questão em exprimir tudo quanto não se queria.
"Eu desejo, sinceramente desejo, que o novo presidente seja feliz e faça bom trabalho, em prol do nosso clube. O Sporting precisa disso. Mas desejo também que, em nome da ética, se não cometam os erros que foram cometidos antes. E que, aqueles que são seguidores mais radicais da mudança, tenham cabeça fria o suficiente para entender o entendível", escreveu o José Manuel Barroso.
"Regresse o símbolo de origem. Regressem as camisolas como 'antigamente', com largas listas horizontais, a publicidade a ocupar o mínimo e os nomes dos jogadores escritos à 'inglesa', ou seja em letras garrafais, de modo a se conseguirem ler. Regressem as camisolas alternativas com bom gosto. Regressem os jogos à tarde. Regressem os professores de português que ensinem ao fim de meio ano/um ano, os jogadores estrangeiros a falar bem a nossa língua", sugeriu o Francisco Melo.
"- Não queremos cumprir 23 jogos do campeonato só com seis vitórias e sem conseguir melhor do que o décimo posto na tabela classificativa.
- Não queremos voltar a ver jogadores vendidos, quase em desespero, para assegurar o cumprimento de elementares operações de tesouraria, incluindo o pagamento de salários.
- Não queremos o clube novamente transformado em apeadeiro de jogadores que chegam inesperadamente, jogam quase nada e partem sem deixar rasto.
- Não queremos que um presidente chegue ao fim do mandato sem honrar os compromissos financeiros assumidos em nome do clube." Palavras minhas. Para memória futura.
Bruno de Carvalho tomou posse há um ano, sufragado pela maioria absoluta dos votos expressos dos sócios, num cenário muito diferente do que sucedera em 2011, no controverso escrutínio que levou Luís Godinho Lopes à liderança do Sporting por escassas quatro décimas pontuais, em virtual igualdade com o candidato derrotado.
A diferença de oito pontos percentuais face ao segundo candidato mais votado era, à partida, o único trunfo visível de Bruno de Carvalho. Tudo o resto parecia jogar contra ele. Sobretudo no domínio desportivo - aquele em que costuma decidir-se o destino das lideranças no futebol.
O presidente leonino não fez grandes promessas. Mas os seus gestos apontaram, desde o início, na direcção certa. Manifestou confiança no treinador que estava em funções, Jesualdo Ferreira. Sem deixar dúvidas de que a orientação do Sporting, na área do futebol, lhe caberia a ele, coadjuvado por Augusto Inácio, campeão verde-e-branco enquanto jogador e treinador. E actuou desde logo no domínio simbólico, sentando-se durante os jogos no banco da equipa técnica. Era a forma de estar mais próximo da equipa. Algumas almas mais sensíveis torceram o nariz à inovação, proclamando aos quatro ventos o seu espanto e o seu enfado. Mas a verdade é que a medida resultou: nascia Bruno de Carvalho, o presidente-adepto. Que vibrava e se alegrava e se irritava como qualquer de nós.
Não havia nada de relevante a fazer naquela época futebolística, a nossa pior de sempre: ficámos na sétima posição, um lugar impensável. E dissemos adeus às competições europeias pela segunda vez na nossa história.
Mas abria-se um novo ciclo. Face à indisponibilidade de Jesualdo para permanecer no comando técnico, Bruno tomou a melhor opção: contratou Leonardo Jardim. A 20 de Maio - o dia seguinte ao fim da Liga - o técnico madeirense era apresentado em Alvalade. E tudo mudou a partir de então. Com uma aposta ainda mais decisiva na formação e o aproveitamento de jogadores que estavam emprestados a outros clubes, em Portugal e no estrangeiro.
Formou-se um onze-base maioritariamente português, com uma idade média muito jovem, e no qual sobressaíram William Carvalho, desde o início, e Carlos Mané, um pouco mais tarde. E vários reforços trouxeram o selo da qualidade: Jefferson, Maurício, Montero e Slimani merecem menção especial.
Mas não só eles: jogadores que estiveram apagadíssimos na época anterior - como Adrien, Cédric e André Martins, sem esquecer Rojo - passaram a exibir mais qualidade. Tudo num plantel muito mais barato: a nova direcção leonina reduziu em cerca de 40% a despesa fixa com a equipa de futebol. E não tardou a ganhar um título oficial, aliás o primeiro da temporada: a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa.
A diferença é abissal. Há um ano estávamos em décimo, agora vamos em segundo. Há um ano tínhamos o Porto mais de 30 pontos à frente, agora levamos o Porto cinco pontos atrás. Com o segundo melhor ataque e a segunda melhor defesa. Alimentando expectativas fortíssimas de garantirmos o acesso directo à Liga dos Campeões, o que nos vale à partida 8,7 milhões de euros. Entretanto, nunca mais ninguém estranhou ver o presidente no banco: agora o estranho seria se não o víssemos lá.
E - esta é talvez a diferença essencial - agora não temos apenas um conjunto de jogadores. Temos uma equipa a sério. Honrando os melhores pergaminhos da história do Sporting.
Ao fim da tarde de 27 de Março de 2013, num auditório Artur Agostinho a transbordar de gente e na presença dos candidatos que quatro dias antes derrotara nas urnas, Bruno de Carvalho tomava posse como 42º presidente do Sporting Clube de Portugal. Não podia assumir funções em pior situação, com o clube afundado na tabela classificativa, cravejado de dívidas, cercado pela banca e condenado a ir vendendo passes de jogadores a fundos de investimento ou transferindo-os mesmo, em desespero de causa, para honrar o pagamento de despesas correntes.
Havia que negociar de imediato com a banca, travar a saída de alguns dos melhores jogadores (a de Rui Patrício, por exemplo, fora antecipada diversas vezes nas manchetes dos jornais e nos palpites dos comentadores televisivos). E pela primeira vez desde a época de 1976/77 o Sporting corria o sério risco de ficar fora do acesso às competições europeias, o que ameaçava ainda mais as precárias finanças leoninas.
Pior que isso: Bruno herdava um clube sem liderança, dividido internamente em múltiplas facções, incapaz de se projectar para o exterior com uma só voz, um só discurso e um só desígnio estratégico. Um lamentável retrato bem espelhado nas opiniões cépticas de muitos sportinguistas expressas nas colunas dos jornais. Reler esses textos, a um ano de distância, é revisitar um período da história leonina que vale a pena ser lembrado apenas para evitar a repetição dos erros anteriormente cometidos.
"O desporto nacional necessita de um Sporting forte e ganhador", declarou o novo presidente no discurso de investidura. "A força que nos deram para iniciar este mandato é importante para que todos, interna e externamente, percebam que o Sporting está vivo e com garra para demonstrar a sua força", acentuou.
Foram apenas nove minutos de discurso. O tempo não exigia muitas palavras: exigia, isso sim, muito trabalho e muita acção.
A forma é a costumeira nestes tempos: música de fundo para melhor enquadramento dramático, a câmara em cima do entrevistado, dando a ideia de uma maior proximidade ou mesmo familiaridade para quem vê, depois passando para planos gerais onde pudemos observar imagens a lembrar séries americanas de grande audiência. Embora gasta, é a forma que hoje se usa. E capta a atenção do espectador.
Sobre o conteúdo, o que de facto interessa numa reportagem, temos duas dimensões: por um lado a parte mais pessoal do árbitro, e nesta incluo as suas considerações sobre a sua maneira de estar na arbitragem, e o lado reactivo dos seus amigos/colegas. Impressionou-me positivamente a forma como Pedro Proença e a sua equipa preparam os jogos, o método meticuloso como estudam todas as variantes e possibilidades que lhes possam surgir no jogo seguinte. Não me parece que haja muitos a fazer o mesmo.
Não gostei da forma como Pedro Proença é apresentado, digamos, à sociedade. Estamos na presença de um triunfador sem mácula, sem erro, com um percurso de vida exitoso. Esta imagem é ainda mais reforçada com o depoimento de colegas e outros actores do futebol. Não há ali defeito, o trilho do sucesso foi feito com dedicação extrema, a família, humildemente aceita e resigna-se perante a sua ausência. O trabalho vem como prioridade sobre o lado pessoal, o paradigma actual.
É-nos dado também a conhecer o outro lado da vida profissional de Pedro Proença. Também aqui, estranho é que não fosse, o sucesso impera naturalmente: de gestor de várias empresas a administrador de insolvências, a sua vida desmultiplica-se e flui de forma tão fácil que julgamos estar perante, pelo menos, duas pessoas, tal o volume de actividades que tem. E, pasme-se, tem ainda tempo para desfrutar na sua (?) quinta do Alentejo, qual actor sex-symbol a vaguear pensativo na sua moto 4 pelos estradões alentejanos.
Na vertente meramente desportiva acho que se tentou por um lado humanizar a figura do árbitro, um paradoxo enfim, entrando na sua vida e expondo-a. Houve também, e essa parte foi descarada, a tentativa de elevar a profissão de árbitro a um patamar na qual ninguém a vê.
Em resumo: os elogios, adjectivos, em excesso matam a mensagem. Ao longo da entrevista vieram-me à memória os obituários, onde os elogios são a única regra: marido extremoso, pai dedicado, profissional exemplar. Ao Pedro Proença fizeram-lho em vida.
Ferguson é umas das personagens do mundo do futebol que mais interesse me despertam.
A dedicação ao trabalho, a frontalidade que sempre transpareceu, a forma de liderar e a incrível capacidade para reinventar e motivar as suas equipas são as características que sempre admirei neste senhor. Aliando a estas características um humor corrosivo, tipicamente escocês, tenho todos os ingredientes para que o meu interesse por esta figura seja muito grande.
Naturalmente, assim que saiu o livro da sua autobiografia não resisti e comprei por impulso. Nos últimos dias tenho-me deliciado com as histórias contadas no livro. Ontem cheguei ao capítulo dedicado a Cristiano Ronaldo, o qual começa da seguinte forma: “Cristiano Ronaldo foi o jogador mais dotado que treinei.”. Não pude deixar de sentir um orgulho enorme.
Após contar um pouco da sua evolução no United e da forma como alcançou o estatuto de estrela maior daquele grande clube, Ferguson fala do processo de compra e venda de Ronaldo.
Por via de um protocolo entre Sporting e United, existiram frequentemente intercâmbios de treinadores ao nível das camadas jovens. Num desses intercâmbios, o treinador do United que acompanhava a equipa de juvenis do Sporting informou Ferguson que devia comprar, logo que possível, um menino chamado Cristiano Ronaldo. Na altura com 15 anos. O Sporting não aceitou dizendo que pretendia manter o jogador pelo menos mais dois anos até jogar na equipa principal e poder valorizá-lo. Ferguson, com o seu bom senso, aceitou esta pretensão não sem antes garantir uma espécie de opção preferencial para o United.
Depois do encontro de inauguração do nosso actual Estádio, Ferguson ficou mais que convencido e suplantou uma proposta do Real Madrid de 8 milhões de libras. No momento de venda, o Sporting exigiu uma cláusula de opção/preferência em caso de venda de Cristiano Ronaldo. O relato de Ferguson acerca desta cláusula:
“Alguns dias antes de o negociarmos com o Real Madrid, perguntámos ao Sporting se o queriam de volta, mas custar-lhes-ia 80 milhões de libras. Não foi surpresa percebermos que de lá não viria nenhum cheque.” Delicioso.
Apuravam-se enfim os resultados definitivos das eleições no Sporting a 26 de Março de 2013. Bruno de Carvalho recebeu 53,69% dos votos expressos (47.058), José Couceiro ficou com 45,29% (39.699 votos) e Carlos Severino apenas 1,02% (890).
O novo presidente leonino venceu também em número de sócios votantes: 9423, contra 6261 que preferiram Couceiro e os 153 que optaram por Severino.
A vitória era em toda a linha: a lista de Bruno de Carvalho triunfou também na eleição para a Mesa da Assembleia Geral, do Conselho Fiscal e Disciplinar e do Conselho Leonino.
O sucessor de Godinho Lopes herdava uma série de problemas. No plano desportivo, no plano financeiro, no plano da gestão diária do clube. Com a pior classificação de sempre no campeonato, a ameaça iminente de corte ao crédito bancário e a contínua sangria de jogadores para fazer face a despesas correntes de tesouraria (o último era Wolfswinkel, cuja venda ao Norwich fora anunciada dois dias antes do escrutínio).
O seu primeiro acto de gestão já estava em agenda, com carácter de urgência: liquidar dívidas de 1,2 milhões de euros no âmbito do fair play financeiro, para dar cumprimento ao controlo trimestral efectuado pela UEFA.
Vinham aí, também sem mais demora, conversações muito complicadas com a banca para a aprovação do plano de reestruturação financeira e um pacote de medidas drásticas de poupança interna para fazer face à espiral de custos num clube que andou a ser muito mal gerido durante demasiado tempo.
Outra prioridade era a renovação dos contratos com jogadores oriundos do Sporting B e entretanto lançados na equipa principal sem a indispensável actualização do vínculo contratual. Uma medida que já pecava por tardia desde o minuto zero do novo mandato.
Alguns dos mais fervorosos adeptos de Godinho Lopes não tardaram a lançar maus augúrios ao presidente eleito, vaticinando um destino negro ao Sporting. Chegou até a haver, em certos blogues, quem admitisse devolver o cartão de sócio e quem protestasse contra a decisão democraticamente assumida pelos eleitores que compareceram num dos mais concorridos actos eleitorais de sempre em Alvalade.
Palavras sábias, reveladoras de bom senso, desportivismo e dedicação ao clube.
A propósito, escrevi aqui: "Gestos como o de Couceiro é que devem ser valorizados. Os outros, pertencentes à minoria ressabiadíssima dos seus alegados apoiantes, não têm a menor expressão. Couceiro foi só derrotado uma vez - e soube perder com dignidade. Os ressabiados, que torcem para que tudo agora dê errado, terão muitas derrotas pela frente. Quanto mais irritados andarem, tanto melhor para o Sporting: é sinal de que a escolha dos sócios esteve certa."
"A equipa de Leonardo Jardim tornou-se no melhor Sporting da última década, tendo em conta a situação registada à 24ª jornada. Ao atingir a fasquia dos 54 pontos, os Leões superaram a melhor marca do período em causa, que pertencia à equipa de Paulo Bento, em 2006/07, com 52 pontos."
Record, 23 de Março
"A actual formação consegue também o melhor registo quanto ao número de vitórias e iguala a já referida equipa então comandada por Paulo Bento."
Idem
"A seis jornadas do fim, em comparação com a prestação de 2012/13, o Leão tem mais 24 pontos, mais 20 golos marcados, menos 12 golos sofridos e passou de 10º para 2º da tabela."
Idem
"A vitória do Leão num estádio (Barreiros) onde os mais directos rivais neste campeonato não foram capazes de vencer (Benfica perdeu por 2-1 e o FC Porto por 1-0) mostra bem a determinação da equipa de Leonardo Jardim, que não quer distanciar-se dos objectivos traçados."
Desta vez, ao contrário do que sucedeu noutros jogos, não faltou quem acertasse no desfecho do Marítimo-Sporting. Aconteceu com vários autores cá da casa: a Helena Ferro de Gouveia, a Cristina Torrão, o João António, o João Paulo Palha e o Ricardo Roque.
Pelo critério do desempate, que passa pela pontaria afinada também nos marcadores de golos, os três cavalheiros merecem a vitória ex-aequo. E a eles junta-se ainda o leitor João Cruz, que tal como eles também acertou no golo de Adrien.
Podia ser escrito de outra forma, mas quando eles espumam pela boca só pode significar que o Sporting está a provocar dano. O Porto deixou de cantar "campeões na Luz". O Porto deixou de querer ver "Lisboa a arder". O Porto só pensa numa coisa: neutralizar o Sporting e travar a recuperação. Dava jeito ao Porto disputar a hegemonia com o Benfica. Dava jeito ao Porto dividir o bolo com o Benfica. Dava, pois dava. Mas as coisas estão a mudar. Bem sei: às vezes, parece um bocado à bruta; às vezes, Bruno de Carvalho entra a pés juntos. Mas tem conseguido resultados. É por isso que eles no Porto espumam. É por isso que os árbitros dizem que têm a passarinha a tremer por causa das pressões do Sporting. Pode ser impressão minha, mas com Bruno de Carvalho esta gente não se atrevia a fazer uma greve, pois não? O garoto virou homem. Agora, habituem-se.
Pelo segundo dia consecutivo, e apesar de não haver ainda resultados definitivos por faltarem contar alguns votos por correspondência, a 25 de Março de 2013 continuávamos aqui a comentar a vitória eleitoral de Bruno de Carvalho e a drástica mudança que este escrutinio fazia prenunciar no Sporting.
Escreveu a Zélia Parreira: «Talvez seja já a hora de colocar as diferenças de lado e assumir o que temos em comum. O Sporting é o nosso grande amor e Bruno de Carvalho o nosso Presidente. Agora, que vivemos os primeiros dias do resto das nossas vidas enquanto Sportinguistas, olhemos em frente, unidos.»
Escreveu o Francisco Mota Ferreira: «Terminada a campanha, eis-me pois de volta a esta casa. Sou um institucionalista e, como tal, a lista eleita pela maioria dos sócios do Sporting é agora também a minha lista. Bruno de Carvalho é o meu Presidente. Digo isto com o conforto e à vontade de ter trabalhado activamente numa solução alternativa para o futuro do nosso Clube. O nosso novo Presidente terá um desafio enorme pela frente e cá estaremos, Sportinguistas, atentos ao que foi dito e prometido na campanha e o que a realidade dos factos irá forçar esta nova equipa a fazer.»
Escreveu o João Távora: «Sendo eu avesso ao estilo de Bruno Carvalho, reconheço-lhe uma enorme virtude em relação às candidaturas concorrentes: um visível gosto e determinação férrea em conquistar o poder, condição que julgo valiosa para a tarefa ciclópica que o aguarda. Foi este dilema que me levou pela primeira vez a abster-me em eleições no meu clube.»
Neste mesmo dia o diário A Bola dedicava a manchete ao novo líder leonino. Chamando-lhe "Presidente do Povo". E ficávamos a saber que o primeiro acto de Bruno de Carvalho, ainda antes da posse, foi ter assegurado a Jesualdo Ferreira que contava com ele para orientar a equipa principal de futebol nas sete jornadas que sobravam da Liga 2012/13. Quando o Sporting seguia em décimo lugar na tabela classificativa.
Ganhámos 3-1 na Madeira. Mas voltámos a ser prejudicados pela arbitragem: Jorge Sousa anulou um golo limpo a Slimani. Seria o 4-1.
É a quinta vez que somos lesados em lances deste tipo na Liga 2013/14. As outras quatro situações estão em foco neste vídeo.
No Tribunal do diário O Jogo, dois especialistas em arbitragem são categóricos: o golo de Slimani no estádio dos Barreiros devia ter sido validado.
Jorge Coroado: «Não se consegue descortinar qual a infracção assinalada. Fora de jogo? Falta de Fredy Montero? A realização não permitiu ver onde foi assinalado o livre. Em qualquer das circunstâncias, na imagem corrida ou a posteriori, não se vislumbrou nada.»
José Leirós: «Slimani estava mais atrasado ou na mesma linha de Fredy Montero e, por isso, não estava em fora de jogo. Um erro, pois, do árbitro assistente. Lapso também do árbitro, caso tenha interpretado que Montero jogou com o pé mais alto ou de forma perigosa sobre o adversário, o que não sucedeu.»
Não me compete dirigir o Clube, não estou mandatado para isso. Mas como qualquer Hernâni, também gosto de mandar os meus bitaites.
Já aqui havia escrito que Carvalho não se fará velho no Sporting; mais duas "pequenas" coisinhas me conduziram de encontro a esse sentimento: o golo apontado nos Barreiros e as declarações na entrevista rápida (desculpem a coisa em português, mas...); disse W. Carvalho, em resposta a uma insistência do rapaz da tv, «Eu estou bem no Sporting, tenho contrato e darei o máximo até ao final da época. Estou focado no Sporting.»
Só nos resta esperar que o mundial lhe corra de feição e o encaixe financeiro seja de acordo com a sua valia.
O que isto tem a ver com o título, é que se a entrada directa na LC for conseguida (espero e creio que seja difícil não acontecer) e partindo do princípio que o Clube entrará num daqueles potes da morte, com três pesos-pesados da Europa, Carvalho é (seria) imprescindível para atacar uma fase de grupos muito complicada. Sim, teremos João Mário e de imprescindíveis estão os cemitérios cheios (cruzes, canhoto!), mas que falta nos fará William Carvalho na próxima época...
Neste último jogo, Adrien mostrou ao seleccionador que se quiser ser justo e ter ainda mais hipóteses de chegar longe, não pode deixar de o levar. O homem do jogo no sábado, jogou que se fartou, sendo ele, também, um dos imprescidíveis. Seria também importante contar com ele na próxima época! a ver vamos...
Sabemos o poder do dinheiro e também sabemos da falta que ele faz ao Clube. Eu, por mim, não deixava sair nenhum dos que agora se batem lá dentro que nem Leões, mas, como disse no início, eu não dirijo o clube e essa não é minha preocupação directa; confio em pleno que a haver negócios, neles seja muito bem defendido o interesse do Sporting. E se alguma das pérolas sair, olhem, temos o João Mário e o Esgaio e outros miúdos, que defenderão o Leão tão bem quanto estes agora o fazem.
Confesso que em relação a saídas de jogadores e promoção de jovens promessas, apenas uma coisa me preocupa: que o Sporting dê boa conta de si, que deixe uma boa imagem numa competição que não ganhará certamente e que jogue futebol que mostre que em Alcochete se ensina/aprende o que de melhor se pratica a nível mundial e se "criam" imprescindíveis de classe planetária.
Agora deu toda a gente em denunciar o "populismo" de Bruno de Carvalho. É verdade que, nas duas últimas semanas, o homem não tem largado o gatilho. Mas deve ser porque aprendeu que, com pessoas como Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Fernando Gomes, Mário de Figueiredo ou Vítor Pereira isto não vai lá com conversas sérias. Durante a maior parte da época, Carvalho manteve-se bastante contido, aparecendo só nos casos das roubalheiras mais evidentes. Pelo meio, fez uma série de propostas de "reforma" do futebol português. Um documento sério, com sugestões dignas, pelo menos, de discussão. Toda a gente ridicularizou ou desprezou o documento: "já a formiga tem catarro", "quem é que este julga que é", "nada disto melhora o que quer que seja", etc. Carvalho fez a coisa certa: não querem falar a sério? Desceu ao nível que eles compreendem.
Os árbitros portugueses são engraçados. Foram anos a serem intimidados, a serem "coagidos". Apenas alguns exemplos, sem preocupações de exaustividade: o Benfica, há uns anos, "vetou" Pedro Proença para jogos do Benfica; Pedro Proença nunca mais arbitrou jogos do Benfica. Já esta época, Pinto da Costa "vetou" Soares Dias; ainda passou pouco tempo, mas tenho a certeza de que Soares Dias tão cedo não há-de voltar a apitar um jogo do Porto. Proença levou uma cabeçada de um adepto em pleno Centro Comercial Colombo. Um árbitro assistente não sei de quem levou um calduço do "Diabo de Gaia" em pleno estádio da Luz. Também esta época, o Benfica teve o seu momento Basta. Em relação a tudo isto, os árbitros nada fizeram ou então, subservientemente, agacharam perante a "coação". Quem não se lembra como, na altura da "mães de todas as calimerices", em 2010, Vítor Pereira veio fazer acto de contrição público?
Já quando é o Sporting a queixar-se, enchem-se de brios: fazem greve, ou então desmultiplicam-se em entrevistas pungentes, como Vítor Pereira esta semana, denunciando o "clima de intimidação" sobre a arbitragem. Quem ouvisse Vítor Pereira julgaria que a "coacção" sobre os árbitros começou com Bruno de Carvalho e o Movimento Basta. Talvez mais interessante ainda é verificar como as entrevistas de Pereira ocorrem ao mesmo tempo que o Porto ameaça processar o Sporting por coacção sobre a arbitragem. Uma coincidência de timing bastante curiosa. Deve ser apenas porque os belos espíritos se encontram sempre.
Virar de página no Sporting: contrariando as sondagens feitas durante a campanha pela empresa Eurosondagem, Bruno de Carvalho era eleito 42º presidente leonino. Com a equipa de futebol na pior situação de sempre, relegada para o décimo posto do campeonato, e vários comentadores futebolísticos nacionais a sagrarem já o Braga como "terceiro grande" do futebol português.
Nas declarações iniciais aos adeptos, na madrugada de 24 de Março de 2013, o novo dirigente disse uma frase que de imediato funcionou como uma espécie de linha de rumo: "O Sporting é nosso outra vez."
A primeira reacção aqui no blogue veio do José Manuel Barroso. Com estas palavras: «Um sonho de menino, um projeto de vida, um trabalho ciclópico, um Sporting dividido e frágil - passado e futuro. Uma responsabilidade imensa. Até Julho, estado de graça. Primeira reação do novo presidente: comedida, palavras sensatas. Reação de Couceiro: sportinguismo. Reação de Severino: "ponho tudo do meu programa ao serviço do Sporting" - bonito e que pena não ter sido assim sempre. Um presidente para todos os sportinguistas e para todo o Sporting. Bruno de Carvalho sabe bem que isso vai ser vital. Parabéns.»
A segunda veio do Tiago Loureiro e foi assim: «É a primeira vez que o digo em toda a minha vida: o meu Presidente. Amo-te Sporting!»
A vitória, no entanto, não foi oficialmente confirmada nesse dia. Porque, embora com mais sete mil votos do que o seu principal antagonista, José Couceiro, o indigitado sucessor de Godinho Lopes teria ainda de esperar mais 48 horas pelo apuramento dos votos por correspondência. Sem esperarem pelo veredicto definitivo das urnas, alguns comentadores ferozmente antibrunistas apressaram-se logo nesse dia a lamentar a legítima opção dos sócios, declarando que Bruno de Carvalho jamais os representaria e antevendo um destino negro para o clube. Num sintoma evidente de mau perder.
Reacções localizadas que não se confundiam com a sensação de júbilo maioritária entre os sportinguistas por esta saudável jornada de participação democrática. E que procurei de algum modo resumir nestas linhas: «Bruno de Carvalho é o novo presidente do Sporting - o meu presidente também. Um clube que é dos sócios e não de nenhuma clique. Cumprimentado de imediato com fair play pelos candidatos derrotados, personifica um novo ciclo que arranca sem demora. Agora há que começar a edificar o futuro em Alvalade. Unidos como nunca. E sem olhar para trás.»
Em resposta ao desafio do Pedro Correia fiz o seguinte prognóstico: Marítimo 1-3 SPORTING (1 do Slimani; 1 do Carlos Mané e 1 do Adrien) E o desafiante respondeu-me "Até dá para esticar três dedos, à Jorge Jesus". Não podia estar mais certo pois como é sabido, 3 dedos à JJ quer dizer 4... Que foram os golos legais marcados pelo Sporting, sendo que o do Slimani, para variar, foi anulado. Acertei, portanto, à Jorge Jesus no resultado final (ver http://youtu.be/2E19cD-Fb1E) mas falhei de raspão os marcadores.
Os sportinguistas foram a votos para eleger os novos órgãos sociais do clube. Foi um dos dias mais longos dos últimos anos de história leonina. Um dia que iniciei, aqui no blogue, com estas perguntas para fazer antes de votar:
"Em que candidato mais confio?
Qual deles amará mais o Sporting?
Quem tem uma equipa mais completa?
Quem tem mais capacidade de liderança?
Quem merece mais ter uma oportunidade?
Quem pode ser mais eficaz perante os adversários?
Quem parece mais indicado para levantar o nosso clube?
Qual deles faz mais parte da solução do que do problema?"
Da vitória contra o Marítimo.É um dos clubes mais temíveis a jogar em casa: derrotou portistas e benfiquistas. Mas o Sporting passou com facilidade este teste no Funchal. Ganhámos por 3-1, fazendo ainda melhor do que no jogo da primeira volta, em Alvalade (vítória 3-2). Há três anos que não vencíamos no estádio de Barreiros.
De William Carvalho. Voltou a dar nas vistas, pelos melhores motivos. E desta vez até marcou um golo, numa jogada de ressalto na grande área do Marítimo, após um canto muito bem marcado por Jefferson. Destaca-se em quase tudo: no sentido posicional, na visão periférica, na qualidade de passe. E agora até na pontaria dos seus disparos à baliza.
De Adrien. Grande partida do nosso médio interior: para mim, foi o melhor em campo. Marcou mais um golo (o sétimo) de grande penalidade e foi dele o passe que desmarcou Jefferson para o terceiro golo. Exímio a recuperar bolas e a construir lances ofensivos, ganha estatuto e maturidade de jogo para jogo. Ninguém duvida: conquistou, por mérito próprio, um lugar obrigatório no conjunto de jogadores que Paulo Bento levará ao Mundial do Brasil.
De Jefferson. Segundo golo marcado pelo Sporting. E o primeiro em lance corrido: o anterior tinha sido de grande penalidade, contra o Braga. O nosso lateral esquerdo já merecia há muito este golo: foi um dos melhores reforços desta temporada. É um Leão de corpo inteiro. Tanto a defender como a atacar.
De Carlos Mané. Aposta do nosso treinador para o meio-campo, por impedimento de André Martins. Aposta ganha. Aos dois minutos, já tinha arrancado uma grande penalidade aos insulares. Foi sempre um dos nossos jogadores mais perigosos e activos. E desta vez até se integrou bem nas missões defensivas.
De Heldon. O primeiro jogo em que justificou plenamente a titularidade no Sporting. Foi acutilante, soube desmarcar-se, pôs em sentido a defesa adversária.
Das bancadas. Muitos adeptos do Sporting no "caldeirão" dos Barreiros. Pareciam até ser mais do que os da aquipa anfitriã. Quase como se estivéssemos a jogar em casa...
Da classificação. Já temos 54 pontos. Seguimos em segundo lugar, a quatro pontos (provisoriamente) do Benfica. Quando ainda faltam seis jogos para terminar o campeonato, vamos com mais 24 pontos do que na medíocre temporada anterior que parece ainda arrancar suspiros de saudades de uns tantos masoquistas...
De termos dado mais um passo rumo à Liga dos Campeões. Estamos cada vez mais perto.
Não gostei
Do golo anulado a Slimani.Mesmo vendo e revendo as imagens na televisão, não consigo vislumbrar o menor motivo para o árbitro Jorge Sousa ter invalidado um golo que me pareceu inteiramente legal. E já vão três deste género anulados ao ponta-de-lança argelino...
De Capel. O que se passou com o veloz andaluz neste jogo? Apático, apagado: acabou por ser substituído aos 74' quando já há muito não se justificava a sua presença em campo.
De Carrillo. Substituiu Capel. Mas não aqueceu nem arrefeceu: pareceu sempre alheado do jogo. As suas intermitências, que tanto têm dado que falar, são cada vez mais notórias.
Nota: por motivos de ordem técnica, só agora (16h16) tive possibilidade de pôr em linha este texto, escrito ontem à noite.