Muito mais do que fé
Podemos criticar a atitude de muitos elementos que andam pelos estádios de futebol. Uns membros das claques, outros que se colam aproveitando as massas humanas, outros mesmo que não têm nada a ver com elas. Na década de 90, quando andei muito pelos miseráveis mas míticos estádios nacionais a acompanhar o grande Sporting vi as maiores cenas de violência serem lançadas por sócios de clubes pequenos sentados nas bancadas centrais, sem qualquer ligação a claques. Há gente que não interessa nos estádios? Há. Há gente que não interessa nas claques? Claro que há. Mas escrever o que o Ferreira Fernandes escreveu na altura no DN - em cada gajo que ia na "caixa" até à Luz, um pirómano, um criminoso, um delinquente - é perverso. Não que me sinta atingido - ia no cortejo com o maior orgulho, já não o fazia desde 99/00, não vi uma cena de violência, antes aparato policial desmesurado, que mesmo assim soube atrasar a minha entrada no estádio 45 minutos. Mas porque é injusto para quem anda uma vida nas claques sem desejo algum de fazer negócios, carreira na violência ou currículo no nazismo. A maioria apenas acompanhando o clube todos os domingos, de Israel à Rússia, de Chaves a Faro, do Funchal a Bucareste. E estendo isto a todas as claques que conheço, inclusive algumas internacionais. No caso do Sporting, não tenho dúvidas que aqueles malditos dezoito anos não puderam ser ultrapassados sem o papel da Juventude Leonina. Ela carregou o clube às costas por todo o lado. Quando os doutores do bom comportamento viam a bola em casa, havia uma bandeira, uma faixa, uma massa de adeptos em cada estádio. Semana após semana. Se as claques, com os defeitos que têm, terminarem um dia, os clubes passam a ter apenas adeptos em casa e uns poucos, dos núcleos, aqui e ali. Não vai chegar para levar às vitórias. Não ia sobrar um clube para contar a história.