Velhas glórias*
Sempre me “conheci” como adepto do Sporting, embora não saiba situar na minha infância o clique que me levou a dizer, com convicção, que era leão quando me perguntavam qual o meu Clube.
Numa família onde o lado materno puxava pelo FC Porto e o lado paterno pelo Sporting, confesso que terá jogado a favor de Alvalade o facto de o meu irmão ser um fanático sportinguista e o meu pai ter sido atleta no Sporting.
O meu avô materno, pessoa que recordo com muita saudade, bem que tentou puxar-me para os dragões. Nas minhas temporadas na casa de família junto à Foz, falava-me de José Maria Pedroto, do FC Porto ser o clube mais patriótico de Portugal – uma mentirinha piedosa que eu acreditei durante a minha infância porque via o que achava ser o brasão nacional no símbolo – e falava-me das velhas glórias do norte. Entusiasmado, relatava-me disputas épicas com nomes como Américo, Custódio Pinto e o Festa (os “Magriços das Antas” que jogaram no Campeonato do Mundo de Futebol de Inglaterra, em 1966). E levava-me algumas vezes ver o FC Porto a jogar no estádio.
Porém, nada disso alterou o inevitável. O verde e branco puxava mais forte. Algumas semanas de férias no norte do País não conseguiam superar semanas seguidas de intensa convivência familiar sportinguista. As idas ao estádio, ao velhinho Alvalade, com o meu pai e o meu irmão, as discussões acaloradas sobre tácticas e técnicas consolidaram em mim a convicção que era leão de alma e coração.
Como se costuma dizer, somos fruto das nossas convivências e do meio em que vivemos. Fiquei influenciado pelo anti-benfiquismo do meu irmão e o sportinguismo fervoroso do meu pai. E tornei-me Sporting.
Hoje, tantos anos passados, sinto que o meu avô deixou cá qualquer coisa. Apesar de todas as coisas que nos fazem desconfiar desse clube do norte, olho sempre para o FC Porto com algum carinho e não deixo de recordar o meu avô quando este clube ganha ao SLB. É, naturalmente, a ele que dedico este texto.
*Artigo publicado na edição de hoje do jornal do Sporting